Atriz francesa Juliette Binoche se emocionou ao entregar a Palma de Ouro honorária à norte-americana Meryl Streep -  (crédito: CHRISTOPHE SIMON/AFP)

Atriz francesa Juliette Binoche se emocionou ao entregar a Palma de Ouro honorária à norte-americana Meryl Streep

crédito: CHRISTOPHE SIMON/AFP

 

O 77º Festival de Cannes estendeu o tapete vermelho para as mulheres nessa terça-feira (14/5), com discursos de reivindicação feminista e uma homenagem emocionante à atriz americana Meryl Streep, contemplada com a Palma de Ouro honorária.

 


"Os encontros profissionais noturnos nos quartos de hotel de senhores todo-poderosos" acabaram em Cannes, assegurou Camille Cottin, apresentadora da cerimônia de abertura de um dos eventos cinematográficos mais importantes do mundo.


Foi uma alusão direta à principal luta que abala o mundo do cinema desde que o movimento #MeToo começou nos Estados Unidos em 2017, com as denúncias contra o produtor Harvey Weinstein.


O cinema francês está imerso em uma onda de denúncias, principalmente por mulheres aspirantes a atriz ou trabalhadoras do setor, que acusam – aberta ou anonimamente – figuras masculinas poderosas da indústria de estupros, agressões e abusos de poder.


Violência sexual

Na véspera, cerca de 100 personalidades, incluindo Isabelle Adjani e Juliette Binoche, assinaram manifesto pedindo uma lei abrangente contra a violência sexual no mundo do entretenimento na França.


E nove mulheres denunciaram, em reportagem publicada pela revista Elle, o produtor Alain Sarde, de 72 anos, a quem acusam de décadas de abusos. Por meio de sua advogada, ele negou categoricamente.

 

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A opinião pública francesa também está de olho na série de acusações contra uma de suas grandes lendas, o ator Gérard Depardieu, que enfrenta vários processos judiciais.


Apesar disso, o delegado-geral do festival, Thierry Frémaux, garantiu que o evento se manteria afastado dessas polêmicas.


Atual líder do movimento no país, a atriz Judith Godrèche, que afirma ter sido estuprada por dois famosos diretores no início de sua carreira, apresentará nesta quarta-feira (15/5) um curta-metragem com depoimentos coletados no último ano.


A lendária Meryl Streep recebeu na cerimônia de abertura do festival a Palma de Ouro honorária para imortalizar seu "lugar indelével na história do cinema".


"Você mudou nossa maneira de ver as mulheres no mundo do cinema (...) Nos deu uma nova imagem de nós mesmas", disse a atriz francesa Juliette Binoche, incapaz de conter as lágrimas, ao entregar o prêmio a Streep.


"The queen Meryl", de 74 anos, já acumula praticamente todas as distinções possíveis, incluindo o recorde de 21 indicações ao Oscar e três estatuetas. Em Cannes, porém, não aparecia há 35 anos.

 

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A Palma recompensa a prolífica carreira da atriz, iniciada em 1977 com "Julia", seguida por "Kramer vs. Kramer", seu primeiro Oscar (1979).


O segundo veio com "A escolha de Sofia" (1983), interpretando uma sobrevivente do Holocausto, e o terceiro dando vida à ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher em "A Dama de Ferro" (2011).


Fuga de Rasoulof

Além das reivindicações feministas, esta edição de Cannes chega carregada de estrelas de Hollywood e expectativas políticas, após a fuga do Irã do diretor Mohammad Rasoulof, um dos 22 concorrentes à Palma de Ouro.


Rasoulof é o autor de "The seed of the sacred fig" (A semente do figo sagrado, em tradução livre), um filme rodado apesar do assédio constante do regime dos aiatolás, que colocou o diretor na prisão entre 2022 e 2023 e que recentemente voltou a condená-lo, agora a cinco anos.

 

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Ele revelou que está escondido na Europa. "A comunidade cinematográfica mundial deve garantir um apoio claro aos realizadores" que sofrem perseguição, pediu em um comunicado esse diretor já premiado em Cannes.


Rasoulof pode aparecer em Cannes, onde a exibição de seu filme está programada para o meio da semana que vem.


Brasil na disputa

O Brasil marca presença na disputa pela Palma de Ouro com o filme "Motel destino", do diretor Karim Ainouz.


A competição oficial conta com nomes ilustres, começando por Francis Ford Coppola, 85 anos, responsável pela trilogia "O poderoso chefão", com uma história em torno de um arquiteto visionário, "Megalopolis".


E também Paul Schrader, de 77 anos, autor de "American gigolo", que retorna a Cannes com Richard Gere no longa "Oh, Canada". Ou David Cronenberg, com outra história inquietante, "The Shrouds", e o excêntrico Yorgos Lanthimos, novamente com sua musa Emma Stone.


Greta Gerwig, a estrela

George Lucas, de 80, também receberá sua homenagem em uma cerimônia especial, enquanto Kevin Costner apresentará um faroeste fora de competição, "Horizon: An american saga", e George Miller estreará "Furiosa", novo episódio da saga "Mad Max".


A atriz e cineasta americana Greta Gerwig, presidente do júri, também foi uma das protagonistas da noite, aplaudida por sua carreira, coroada pelo sucesso de "Barbie". (AFP)