A carioca Yvonne da Silva Lara (13 de abril de 1922 – 16 de abril de 2018) tem um lugar de honra na galeria imortal do samba

Nasceu em Botafogo, na Zona Sul do Rio, filha da costureira Emerentina da Silva e de José da Silva Lara. Ambos tinham intensa vida musical: ela era cantora e ele, violonista de 7 cordas

Sem bonecas, a menina Ivone ganhou um passarinho quando criança. Do encanto com o bichinho, nasceu sua 1ª música

Tiê , tiê , olha lá....Oxá
Tiê , tiê , olha lá....Oxá
Passarinho estimado
Que me deu inspiração
Dos meus tempos de criança
Guardei na lembrança esta recordação

Com a morte do pai aos 3 anos, e da mãe, aos 12, ela foi morar com os tios em Madureira, na Zona Norte, e com eles aprendeu a tocar cavaquinho e a ouvir samba

Em 1947, passou a desfilar na ala das baianas no Império Serrano. Em 1965, quando tornou-se a 1ª mulher a fazer parte da ala de compositores, fez história com
um samba-enredo antológico

Carnaval, doce ilusão
Dê-me um pouco de magia
De perfume e fantasia
E também de sedução
Quero sentir nas asas do infinito
Minha imaginação

Aos 25 anos, casou-se
com Oscar Costa, com
quem teve dois filhos,
Alfredo e Odir

Formada enfermeira em 1942,
profissão que lhe garantiu o
sustento pré-fama, Ivone
também foi assistente social
e trabalhou com pacientes
psiquiátricos por 37 anos

Nas horas vagas, tinha roda de samba com Pixinguinha, Donga, Jacob do Bandolim e outros
nomes do reino do samba

Ao lado do fiel parceiro Délcio Carvalho (1939-2013), compôs o sucesso 'Alvorecer', gravado pela cantora Clara Nunes (1942-1983)

Dois anos depois, o cantor Roberto Ribeiro (1940-1996) estourou com 'Acreditar'

Acreditar, eu não
Recomeçar, jamais
A vida foi em frente
E você simplesmente
não viu que ficou pra trás

Na sequência, Maria Bethânia e
Gal Costa gravaram o samba mais popular do cancioneiro de Ivone com Délcio, 'Sonho meu'

Um samba que mexe o corpo da gente
E o vento vadio embalando a flor
Sonho meu

Em 1977, a enfermeira
Ivone Lara se aposentou.
Foi aos 56 anos que
dedicou sua vida
exclusivamente
à música

Foi quando virou Dona Ivone Lara, incorporando ao nome artístico um prefixo que simbolizava experiência
e reverência

💽 Em 1978, lançou seu primeiro disco 'Samba minha verdade, samba minha raiz'

Compôs mais de 100 sambas e lançou 15 discos. Seus versos falam de amor, de esperança e do orgulho negro

Um sorriso negro
Um abraço negro
Traz felicidade
Negro sem emprego
Fica sem sossego
Negro é a raiz da liberdade

Em 2018, aos 96 anos, a sambista morreu após três dias internada por conta de um quadro de insuficiência cardiorrespiratória

💽 Em comemoração ao seu centenário, foi lançado um EP com 4 músicas inéditas, gravadas nas vozes de Maria Rita, Xande de Pilares, Pretinho da Serrinha,
Dudu Nobre e Fundo de Quintal