Barry Gibb, o último dos Bee Gees, volta em novo álbum - Jornal O Globo
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Barry Gibb, o último dos Bee Gees, volta em novo álbum

Autor de músicas que marcaram a era disco, cantor de 74 anos regravou seus hits no estilo que melhor o define: ‘Serei sempre um cantor country’
O cantor Barry Gibb, no jardim de sua casa em Miami Foto: Rose Marie Cromwell / New York Times
O cantor Barry Gibb, no jardim de sua casa em Miami Foto: Rose Marie Cromwell / New York Times

NOVA YORK - Barry Gibb tinha uma lancha batizada de Spirits Having Flown, em homenagem a um álbum dos Bee Gees de 1979, que vendeu mais de 25 milhões de cópias. Com ela, o músico costumava passear e ter ideias. Mas, às vezes, ele nem precisava da lancha. Um dia, o empresário do grupo, Robert Stigwood, ligou. Ele estava produzindo a versão cinematográfica do musical “Grease” e precisava de uma nova canção-título. Mas Barry não tinha visto o filme.

— Como você consegue compor uma música chamada “Grease” (brilhantina)? Lembro-me de estar andando pelas docas quando, de repente, percebi que essa era só uma palavra, e que eu só precisa escrever sobre essa palavra — diz o artista, cuja “Grease”, gravada em 1978 pelo cantor Frankie Valli, logo alcançou o primeiro lugar na parada Billboard Hot 100.

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A canção foi o sétimo nº 1 da autoria de Gibb aquele ano, depois de “How deep is your love”, “Stayin’ alive”, “Night fever” e “If I can’t have you” (todos da trilha sonora de “Os embalos de sábado à noite”), mais “Shadow dancing” e “(Love is) thicker than water”, singles solo que Barry ajudou a compor para seu irmão Andy Gibb. No Hot 100 da semana de 3 de março de 1978, as músicas dos irmãos Gibb eram três das cinco melhores.

Lançamento em janeiro

Hoje, Barry Gibb tem 74 anos e sua lendária juba de leão é grisalha e rala, espalhada sob um chapéu de couro estilo australiano. Seu mais recente álbum, “Greenfields: The Gibb Brothers Songbook, Vol. 1”, gravado em Nashville, será lançado em janeiro, precedido este mês pelo documentário para a HBO Max (não disponível no Brasil) “The Bee Gees: How can you mend a broken heart”.

No início do filme, dirigido por Frank Marshall, vemos Gibb e seus irmãos Maurice e Robin da maneira como a maioria das pessoas se lembra deles — em camisas de gola aberta de prata cintilante, medalhões brilhando intensamente em seus peitos.

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Mas desde então, Barry perdeu três irmãos. Andy — o mais jovem, que foi lançado como artista solo sob sua tutela e que lutou contra o vício em drogas — se foi primeiro, em 1988, aos 30 anos, de miocardite. Maurice faleceu em 2003, por complicações de uma obstrução intestinal. Robin morreu em 2012, depois de um câncer e de uma cirurgia no intestino.

Isso deixou Barry Gibb como o administrador de um catálogo de canções que se tornaram standards. É difícil imaginar um mundo em que ninguém canta mais as canções dos Bee Gees, mas Barry viveu o suficiente para saber que nada é para sempre.

— A missão é manter a música viva. Independente de nós, independente de mim — diz. — Um dia, assim como meus irmãos, não estarei mais aqui, quero que a música dure.

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As primeiras memórias de Barry são de grupos vocais, como os Everly Brothers e os Mills Brothers. Mas, depois disso, o que entrou em sua cabeça foi a música country — e ele diz que sempre houve country no som dos Bee Gees. Enquanto estiveram exilados das paradas nos anos 1980, Barry e seus irmãos compuseram inúmeros sucessos no estilo. O mais famoso foi “Islands in the stream”, cantado por Kenny Rogers e Dolly Parton.

A ideia de fazer um álbum inteiro de música country foi um desejo que ele só pôde realizar quando assinou contrato com a Capitol Records. No disco, o cantor se reencontrou com Dolly Parton e os dois regravaram juntos “Words”, hit dos Bee Gees de 1968. Não é surpreendente que ele tenha encontrado seu caminho no country. Na nova versão de “To love somebody”, por exemplo, Barry começa com uma voz roufenha e firme e depois sai disparando notas agudas e requintadas.

Voz para canções tristes

É uma voz feita para cantar country porque é feita para canções tristes. E Barry compôs muitas. Só em 1964, seus direitos autorais como compositor incluíam canções chamadas “Scared of losing you” e “This is the end”. E, no fim da década, por mais imersos que estivessem nas boas vibrações do momento, os álbuns dos Bee Gees foram permeados por uma tristeza trêmula e aguda, que parece ser só deles.

Aí, nos anos 1970, depois de se mudarem para Miami por sugestão do amigo Eric Clapton, os Bee Gees começaram a gravar alguns dos maiores hits de todos os tempos. Músicas como a sublime “Jive talkin’” tinham uma batida mais pesada do que qualquer coisa que eles tinham feito antes.

Oa irmãos Robin (à esq.), Barry e Maurice Gibbs, os Bee Gees, em plena era disco Foto: Divulgação
Oa irmãos Robin (à esq.), Barry e Maurice Gibbs, os Bee Gees, em plena era disco Foto: Divulgação

Gibb pensou nessa fase como um movimento em direção ao r&b. Mas sua contribuição para “Os embalos de sábado à noite” (a segunda trilha sonora mais vendida de todos os tempos, só atrás de “O guarda-costas”, de Whitney Houston) redefiniria o grupo. No minuto em que John Travolta desceu por Bay Ridge ao som da linha de baixo de “Stayin’ alive”, eles viraram uma banda da discothèque:

— Fomos sugados pela disco. Estávamos apenas fazendo os álbuns que amávamos. Na verdade, nem sequer os chamávamos de discothèque. “How deep is your love” não era uma canção disco. Mas você era classificado assim.

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Hoje em dia, Barry não espera mais conquistar as paradas pop. Fazer mais álbuns como este novo seria o bastante para o artista:

— Serei para sempre um cantor country. Consegui me livrar de todas as outras coisas. Nem tenho mais um terno branco.