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Histórias da cidade: jogos de hóquei enchiam a nave do Palácio de Cristal

  • Paulo Alexandre Neves

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Guilherme Oliveira

As grandes competições de hóquei em patins estão de volta ao Porto, mais concretamente ao Super Bock Arena – Pavilhão Rosa Mota, com a realização, este fim-de-semana, da Liga dos Campeões Europeus de hóquei em patins. A última grande competição mundial ali disputada, de uma das modalidades mais queridas dos portugueses, tem mais de 30 anos.

Na altura, no chamado Pavilhão Rosa Mota, disputou-se o Mundial de 1991. Antes, tinha recebido idêntica prova em 1952, 1956, 1958 e 1968. Uma curiosidade: nos cinco mundiais que recebeu, alguns coincidentes também com edições do campeonato da Europa, Portugal saiu sempre como vencedor.

O Porto tem, pois, já uma longa ligação ao hóquei em patins. As primeiras referências à modalidade apontam para a primeira década de 1900, com registo de jogos nas instalações da Auto-Motora (Rua Heróis de Chaves, n.º 369). Mais tarde, em 1914, é construído junto ao atual campo da Constituição, pertença do FC Porto, um ringue de patinagem, já, então, para servir o clube da cidade.

Para a história fica o registo do primeiro jogo de hóquei em patins, no Porto: 11 de junho de 1922, nave central do Palácio de Cristal, Hóquei Clube de Portugal e Lisboa Ginásio Club exibem-se, num jogo de demonstração da modalidade.

O marco histórico de 1952

Mas foi o Campeonato do Mundo de 1952 que catapultou a cidade para os grandes momentos do hóquei português. Ainda não havia televisão. A rádio era a única oportunidade para seguir, a par e passo, a prova, para quem não conseguia ver, ao vivo, os hoquistas. A competição inaugurou o novo espaço desportivo, na altura Pavilhão dos Desportos, acabando Portugal por se sagrar campeão mundial (o 5.º até então), com Itália a ficar em segundo lugar e Espanha em terceiro.

Curiosidades desse Campeonato do Mundo (a 8.ª edição, disputada simultaneamente com a 18.ª do Campeonato da Europa): decorreu entre 28 de junho e 7 de julho, num pavilhão ainda com a abóbada incompleta. Isto porque a fachada principal do antigo Palácio de Cristal ainda estava de pé e não tinha havido tempo para acabar a obra.

O torneio decorreu, por isso, ao ar livre, com jogos interrompidos por causa da chuva, alguns a serem transferidos para Matosinhos, mas com a nossa seleção a superar todas as dificuldades. Campeões do Mundo de 1952: Cruzeiro, Jesus Correia, Emídio, Correia dos Santos, José Dias, Raio, Edgar, Cipriano. Era selecionador nacional Sidónio Serpa.

A primeira cidade a receber o Mundial, dois anos consecutivos

Os campeonatos do mundo teriam continuidade, na cidade, em 1956 e 1958. O primeiro realizou-se entre 26 de maio e 2 de junho. Caracterizou-se por ser o último de uma série de 10 edições em que o torneio foi disputado anualmente (1947-1956) e, também, a última vez em que o Campeonato do Mundo coincidiu com o Europeu (1936, 1947-1956). Portugal venceu, com o segundo lugar a ser ocupado pela Espanha e a medalha de bronze a ser conquistada pela Itália. A seleção tinha como selecionador, Leonel Costa, e era composta por Matos, Vilaverde, Edgar, Figueiredo, Cruzeiro, Virgílio, Jesus Correia, Correia dos Santos, Perdigão e Lisboa.

Já o Mundial de 1958 foi disputado entre 24 e 31 de maio. A televisão (RTP) já esteve presente. Uma prova dura que obrigou à disputa de nove jogos em oito dias. Pela primeira vez (e só até 2015 inclusive), a mesma cidade foi palco de duas edições consecutivas do torneio. Portugal venceu, com o segundo lugar a ser conquistado pela seleção espanhola e a medalha de bronze a ir para a equipa italiana. Seriam campeões do mundo, sob a liderança de Emídio Pinto: Moreira, Vaz Guedes, Adrião, Bouçós, Velasco, Matos, Bernardino, Edgar, Perdigão, Trabazos e Mário Lopes.

As recordações de Paulo Alves

O Campeonato do Mundo só voltaria ao Porto em 1968. Portugal terminou, então, o torneio invencível, vencendo com três pontos de avanço sobre a Espanha. Solipa, Rendeiro, Adrião, Casimiro, Livramento, Jorge Vicente, entre outros, não deram hipóteses às outras nove seleções presentes (Alemanha ocidental, Argentina, Espanha, Estados Unidos, Itália, Japão, Nova Zelândia, Holanda, Suíça).

A 30.ª edição do Campeonato do Mundo decorreria, em 1991, no Porto e Braga, entre 19 e 27 de julho. Dozes países participaram do torneio, divididos em dois grupos de seis cada na primeira rodada. A final foi disputada pelas seleções de Portugal e Holanda, com a vitória a sorrir para as cores, por um expressivo 7-0. Golos marcados por Paulo Alves, Paulo Almeida, Victor Hugo, L. Ferreira, Neves e Realista (dois). A medalha de bronze foi para a equipa argentina. Alguns dos sticks da prova foram oferecidos à Câmara Municipal do Porto (foto).

Franklim Pais, Paulo Alves, Realista, Luís Ferreira, Vítor Hugo, Paulo Almeida, Tó Neves, Pedro Alves, Vítor Bruno e Chambel fizeram parte da seleção. Ora, para Paulo Alves, este título foi o mais significativo na sua carreira, como confessou, recentemente, em entrevista ao site da Ágora. "O maior orgulho? Campeão do Mundo por Portugal em 1991, aqui mesmo, no Pavilhão Rosa Mota. Nos anos 90 ganhámos tudo o que tínhamos a ganhar, na Europa e no Mundo, enquanto seleção", afirmou.

Mais tarde, em 1999/2000, o pavilhão receberia a final da Liga dos Campeões, jogo entre o FC Porto e o Barcelona, que, na altura, acabou por cair para o lado dos espanhóis. A Liga dos Campeões volta a ser o primeiro grande evento desportivo desde a remodelação do recinto, que reabriu portas em 2019, como Super Bock Arena - Pavilhão Rosa Mota, e que tem servido, sobretudo, de palco para espetáculos e congressos.