DAVID G. STERN
As Investigações Filosóicas tomam a forma, não de um tratado,
mas de um diálogo, uma discussão informal entre várias vozes diferentes, vozes que são raramente identiicadas de forma clara. Ao
invés de simplesmente apresentar a defesa argumentada das conclusões do autor, o livro deixa seu leitor com a tarefa de resolver
quais conclusões tirar dos diálogos ilosóicos que ele contém. As
perspectivas que ele critica não são tratadas como erros sem valor,
mas, antes, como parte integral do processo de busca da verdade.
A ilosoia de Wittgenstein se estabelece a partir de uma extensa
investigação das perspectivas que ele rejeita: “Em certo sentido,
não se pode ser excessivamente cuidadoso ao lidar com equívocos
ilosóicos, eles contêm muita verdade”. Assim, uma das melhores
maneiras de apreciar o que as Investigações Filosóicas têm a oferecer é examinar criticamente diferentes interpretações.
AS INVESTIGAÇÕES FILOSÓFICAS DE WITTGENSTEIN
David G. Stern é professor de Filosoia na Universidade de Iowa,
autor de Wittgenstein on Mind
and Language (1995), editor do
The Cambridge Companion to
Wittgenstein (1996) e co-editor,
com Béla Szabados, de Wittgenstein Reads Weininger: A Reassessment (2004).
DAVID G. STERN
AS INVESTIGAÇÕES FILOSÓFICAS
DE WITTGENSTEIN
UMA INTRODUÇÃO
Nesta apresentação das Investigações Filosóicas de Wittgenstein, David Stern apresenta
ao leitor, ao mesmo tempo,
um grande auxílio ao leitor que
pretende percorrer este que
é um dos principais textos da
ilosoia contemporânea e uma
apresentação cuidadosa dos principais debates e problemas que
ocupam os comentadores das
Investigações. Sua ênfase é no
papel que o diálogo desempenha
no texto e na relevância que a
compreensão disto tem para que
se construa uma perspectiva adequada do texto. De modo mais
especíico, a compreensão deste
caráter dialógico tem como uma
de suas consequências recolocar
o debate sobre a relação entre
Wittgenstein e o pirronismo.
AS INVESTIGAÇÕES FILOSÓFICAS
DE WITTGENSTEIN
UMA INTRODUÇÃO
COLEÇÃO FILOSOFIA E LINGUAGEM
Direção: Marcelo Carvalho, Bento Prado Neto e João Vergílio G. Cuter
Conselho Editorial: André Porto, Arley Moreno, Danilo Marcondes, David Stern, João
Carlos Salles, Luiz Carlos Pereira, Luiz Henrique Lopes dos Santos, Mathieu Marion,
Mauro Engelmann, Philippe Narboux, Silvia Altmann
A Coleção Filosofia e Linguagem se propõe a publicar textos contemporâneos que
se situam em meio ao debate sobre ilosoia e linguagem, em particular no âmbito da
ilosoia analítica e de sua crítica, mas, também, se estendendo para a relação entre as
tradições analítica e continental, em meio às quais se dividia a ilosoia ao longo de boa
parte do século XX. Nesse contexto se situam algumas das obras mais relevantes do
debate ilosóico contemporânea. O debate sobre a linguagem ocupa um lugar central na
ilosoia a partir do inal do século XIX, de tal forma que, ainda que de pontos de vista
distintos, se faz presente nas principais obras ilosóicas do último século.
Neste âmbito, a Coleção Filosofia e Linguagem se propõe a publicar textos que apresentem
de forma elaborada os problemas e concepções que marcam o debate atual da ilosoia,
tanto por meio da traduções de textos consagrados e de comentários a esses textos que
são referências para sua leitura, quanto apresentando textos originais de pesquisadores
brasileiros que se situam de maneira qualiicada em meio a este debate.
Conheça os títulos desta coleção no inal do livro.
DAVID G. STERN
AS INVESTIGAÇÕES FILOSÓFICAS
DE WITTGENSTEIN
UMA INTRODUÇÃO
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação – CIP
S839
Stern, David G.
As Investigações Filosóicas de Wittgenstein: uma introdução. / David G. Stern. Tradução de Marcelo Carvalho e Fernando L. Aquino. – São Paulo: Annablume,
2012. (Coleção Filosoia e Linguagem).
300 p. ; 16 x 23 cm.
Título Original: Wittgenstein�s Philosophical Investigations: an introduction.Cambridge: Cambridge University Press, 2004. 228 pages. (Cambridge Introduction to
Key Philosophical Texts).
ISBN 978-85-391-0463-5
1. Filosoia. 2. Lógica. 3. Linguagem. 4. Ontologia. 5. Wittgenstein, Ludwig
(1889 – 1951). I. Título. II. Série. III. Carvalho, Marcelo, Tradutor. IV. Aquino,
Fernando L., Tradutor.
CDU 101
CDD 100
Catalogação elaborada por Ruth Simão Paulino
AS INVESTIGAÇÕES FILOSÓFICAS DE WITTGENSTEIN:
UMA INTRODUÇÃO
Projeto, Produção e Capa
Coletivo Gráico Annablume
Tradução
Marcelo Carvalho e Fernando L. Aquino
Conselho Editorial
Eduardo Peñuela Cañizal
Norval Baitello junior
Maria Odila Leite da Silva Dias
Celia Maria Marinho de Azevedo
Gustavo Bernardo Krause
Maria de Lourdes Sekeff(in memoriam)
Pedro Roberto Jacobi
Lucrécia D’Alessio Ferrara
1ª edição: dezembro de 2012
© David G. Stern
ANNABLUME editora . comunicação
Rua M.M.D.C., 217 . Butantã
05510-021 . São Paulo . SP . Brasil
Tel. e Fax. (5511) 3539-0226 – Televendas 3539-0225
www.annablume.com.br
Para Cheryl
AGRADECIMENTOS
Partes deste livro têm como base trabalhos escritos enquanto fui
Alexander von Humboldt Fellow na Universidade de Bielefeld, Alemanha, durante 1998–9, mas a maior parte dele foi escrito durante
o período em que fui Faculty Scholar na Universidade de Iowa, durante 1999–2002. Gostaria de agradecer à Alexander von Humboldt Foundation e à University of Iowa Faculty Scholar Program por
disponibilizarem o tempo livre de outras responsabilidades que me
possibilitou escrever este livro, e aos Departamentos de Filosoia
das Universidades de Iowa e de Bielefeld por seu generoso apoio.
Eike von Savigny, Joachim Schulte e Hans-Johann Glock me provocaram continuamente a pensar de formas novas sobre Wittgenstein durante o período em que estive em Bielefeld; os estudantes
de minhas aulas sobre Wittgenstein na Universidade de Iowa em
1999, 2001 e 2003 ofereceram a primeira audiência para muitas das
idéias apresentadas neste livro. Sou particularmente grato a Marianne Constable, James Duerlinger, Hilary Gaskin, Cheryl Herr, Joachim Schulte, Hans Sluga, George Wrisley e a um leitor anônimo
da Cambridge University Press por seus úteis comentários a esboços
preliminares do livro. Thomas Williams foi um guia inestimável ao
latim de Agostinho. Gostaria também de agradecer a minha editora, Angela Blackburn, e aos revisores das provas, George Wrisley
e Amber Grifioen, por seu útil e dedicado trabalho sobre o texto.
Ainda que eu seja, em algum sentido, devedor de todos os citados
acima, nenhum deles é responsável pelas concepções apresentadas
neste livro. A responsabilidade é unicamente minha.
O que se segue tem como base, em parte, as seguintes publicações. A permissão dos editores para utilizar este material é aqui
gratamente reconhecida.
“The central arguments of the Philosophical Investigations: an
elementary exposition.” Em Wittgenstein. État des lieux, editado
e traduzido para o francês por Élisabeth Rigal, pp. 169-187. Paris:
Librairie Philosophique J. Vrin, 2008. É a fonte para 1.1-1.3.
‘The Methods of the Tractatus: Beyond Positivism and Metaphysics?’ Em Logical Empiricism: Historical and Contemporary
Perspectives, um volume da série Pittsburgh-Konstanz Studies in the
Philosophy and History of Science, editada por Paolo Parrini, Wes
Salmon, e Merrilee Salmon, 125–56. Pittsburgh, Pittsburgh University Press, 2003. É a fonte para a parte do capítulo 2 sobre a
interpretação do Tractatus.
“How to read the Philosophical Investigations.” Philosophie 86
(2005), 40-61. Em tradução francesa, em um número duplo especial da revista sobre as Investigações Filosóicas. É a fonte para 2.1,
4.3, 5.2.
‘Nestroy, Augustine, and the Opening of the Philosophical Investigations.’ Em Wittgenstein and the Future of Philosophy: A Reassessment after 50 Years, pp. 429–49. Proceedings of the 24th International Wittgenstein Symposium, editado por Rudolf Haller e
Klaus Puhl. Vienna: Hölder-Pichler-Tempsky, 2002. É a fonte para
3.1, 3.2, and 4.1.
“Wittgenstein’s critique of referential theories of meaning and
the paradox of ostension.” Em Wittgenstein�s Enduring Arguments,
editado por Edoardo Zamuner e D. K. Levy, pp. 179-208. Routledge, 2009. É a fonte para 4.2-4.4.
‘Sociology of Science,Rule Following and Forms of Life.’ Em
History of Philosophy of Science: NewTrends and Perspectives, pp.
347–67, editado por Michael Heidelberger e Friedrich Stadler.
Dordrecht: Kluwer, 2002. Uma fonte para a discussão sobre Winch
e Kripke no capítulo 6.
‘The Practical Turn.’ In The Blackwell Guidebook to the Philosophy of the Social Sciences, pp. 185–206, editado por Stephen P.
Turner e Paul Roth. Oxford: Blackwell, 2003. Uma fonte para a
discussão sobre Winch e Kripke no capítulo 6.
ÍNDICE
AgrAdecimentos
7
Prefácio à edição BrAsileirA
13
notA soBre o texto
17
introdução
23
i
investigAções filosóficAs §§1-693:
umA exPosição elementAr
35
1.1 “O método do §2”
35
1.2 Os argumentos centrais das Investigações Filosóicas
42
1.3 Considerando as Investigações Filosóicas como um diálogo 49
ii do trActAtus As INVESTIGAÇÕES FILOSÓFICAS: dois Prefácios
2.1 Considerando as Investigações sob “a luz adequada”
2.2 Pirronismo no Tractatus
2.3 Pirronismo nas Investigações Filosóicas
61
61
75
83
iii A ABerturA dAs INVESTIGAÇÕES FILOSÓFICAS: o mote
3.1 Começando pelo começo
97
97
3.2 O mote como um guia para o texto:
Leituras genéticas,leituras imanentes, e mais além
101
iv A críticA às teoriAs referenciAis do significAdo e o
PArAdoxo dA ostensão: §§1-64
4.1 Agostinho e o aprendizado da linguagem: §1
4.2 Jogos de Linguagem: §§1-25
4.3 O paradoxo da deinição ostensiva: §§26-38
4.4 A sublimação dos nomes: §§39-64
120
120
139
143
155
v A críticA de teoriAs do significAdo BAseAdAs em regrAs
e o PArAdoxo dA exPlicAção: §§65-133
5.1 A forma geral da proposição e o
paradoxo da explicação: §§65-88
5.2 A sublimação da lógica: §§89-133
5.3 Uso metafísico e cotidiano e o
paradoxo da intencionalidade: §§89-133 e §§428-36
167
167
184
199
vi A críticA dAs teoriAs do significAdo BAseAdAs em regrAs
e os PArAdoxos de seguir regrAs: §§134-242
209
6.1 Os paradoxos de seguir regras
209
6.2 A sublimação das regras
225
vii A críticA de umA linguAgem PrivAdA e o
PArAdoxo dA ostensão PrivAdA: §§243-68
7.1 Sobre a própria ideia de
uma linguagem privada: §§243-55
7.2 O paradoxo da ostensão privada: §§256-68
251
255
conclusão
271
notAs de trAdução
273
leiturAs recomendAdAs
275
referênciAs BiBliográficAs
285
251
PREFÁCIO À EDIÇÃO BRASILEIRA
N
A introdução A este livro eu suBlinHo dois temAs Princi-
pais que animam esta discussão das Investigações Filosóicas:
a estrutura argumentativa das Investigações Filosóicas e a
relevância do papel do diálogo no livro. Leitores das Investigações
Filosóicas que se atêm em seus argumentos raramente fazem justiça
ao caráter dialógico do livro; leitores que abordam o livro como
um diálogo raramente fazem justiça aos vários argumentos que ele
contém. Meu objetivo ao escrever meu livro foi oferecer uma introdução às Investigações Filosóicas que pudesse ajudar os leitores a ver
que estes aspectos do livro, longe de serem alternativas exclusivas,
são de fato complementares.
Meu livro anterior, Wittgenstein on Mind and Language, publicado em 1995, considerou o caminho que conduziu do Tractatus
Logico-Philosophicus às Investigações Filosóicas, e se concentrou em
delinear as continuidades e descontinuidades no desenvolvimento
de seu pensamento, fazendo um amplo uso de seus manuscritos
e tiposcritos. Ao mesmo tempo, também escrevi um capítulo sobre a disponibilidade da ilosoia de Wittgenstein (“The Availability of Wittgenstein’s Philosophy”) para o Cambridge Companion
to Wittgenstein, publicado em 1996, o qual apresenta um esboço
da relação entre o material publicado e os escritos não-publicados.
No livro que se apresenta aqui, em contraste, iz relativamente pouco
uso explícito de materiais não publicados, e apenas um uso ocasional
de outros textos publicados de Wittgenstein. Eu o iz desta forma
por acreditar que uma abordagem acadêmica seria inapropriada para
uma introdução concebida para encorajar o leitor ou a leitura a se
envolverem por si mesmos com o texto das Investigações Filosóicas.
No capítulo três, discuti o conlito entre leitores genéticos do livro, que
airmam que ele só pode ser entendido nos termos das intenções do
autor, tal qual apresentadas em seus escritos prévios, e, em particular,
em seu trabalho preliminar no livro, e leitores imanentes, que preferem uma reconstrução racional dos argumentos do texto publicado.
Depois de considerar a gênese do mote do livro com algum cuidado, e
a considerável luz que ele lança sobre as intensões do autor, argumento que é tão importante ver o mote no contexto do livro como um
todo, quanto vê-lo como um questionamento sobre como melhor
compreender uma sentença, como o próprio mote, que é tirada de
um contexto e colocada em outro. Ainda que informações sobre a
gênese das sentenças das Investigações Filosóicas possam oferecer indicações valiosas para a interpretação, elas também podem conduzir
a grandes equívodos. Wittgenstein com frequência muda de opinião
após escrever seus primeiros rascunhos; as concepções expressadas nos
escritos do “período intermediário” são em geral um guia bem pouco
coniável para as Investigações Filosóicas.
Desde que escrevi este livro eu retornei repetidamente à questão sobre a relação entre as interpretações genéticas e imanentes
das Investigações Filosóicas, e à questão relacionada a esta, sobre a
relação entre as fontes das Investigações Filosóicas nos escritos de
Wittgenstein nos anos 1930 e o texto inal. É disto que trato em
“Wittgenstein in the 1930s”, minha contribuição para a segunda
edição do Cambridge Companion to Wittgenstein. A vasta maioria do
trabalho que tem sido feito a respeito dos escritos de Wittgenstein
pós-Tractatus e pré-Investigações têm sido guiados pelo objetivo de
identiicar a primeira formulação das posições do “período intermediário” que podem ser atribuídas às Investigações Filosóicas e, assim,
airmar as continuidades entre os escritos de Wittgenstein nos anos
14
1930 e as Investigações Filosóicas. Ao procurar por passagens que
marcaram a transição de uma posição anterior para uma posterior,
os intérpretes procuraram por um processo estável de desenvolvimento no conteúdo das concepções de Wittgenstein. De fato, esta
investigação conduziu, em sua maior parte, a leituras das posições
de Wittgenstein apresentadas nos anos 1930 como formulações
preliminares das principais ideias das Investigações Filosóicas. Este
foco nas continuidades do vocabulário pode negligenciar grandes
descontinuidades no uso destas palavras em contextos iniciais e posteriores. Por exemplo, a estratégia de Hacker de usar evidência de
fontes manuscritas para interpretar que as Investigações Filosóicas
são comprometidas com certas concepções, como o individualismo a respeito do signiicado, depende da suposição de que há uma
continuidade de base entre as anotações selecionadas e aquelas que
foram excluídas, uma suposição que não é capaz de levar suicientemente a sério o ato autoral de selecionar os textos.
Os três congressos de uma semana de duração a respeito do
Wittgenstein Intermediário, organizados com autoridade por João
Vergílio Gallerani Cuter, Bento Prado Neto, Ludovic Soutif e Luiz
Carlos Pereira em 2007, 2010 e 2012, cada um deles realizado em
um local remoto do Brasil particularmente adequado a uma discussão ilosóica prolongada, desempenharam um papel inestimável no
desenvolvimento de meu pensamento sobre esses tópicos. Aprendi muito com aquelas conversas. Aproveito esta oportunidade para
agradecer a eles e a todos os outros ilósofos que participaram, não
apenas pelas conversas que tivemos, mas também pela conexão e
troca de ideias que resulto daquelas conferências. Por esta razão, sou
particularmente grato a Marcelo Carvalho por conduzir o projeto
de traduzir meu livro para o protuguês, e espero sinceramente que
esta tradução conduza a novos diálogos.
15