Arquitetura e espaços

Richard Rogers: o arquiteto que trouxe as estruturas para o primeiro plano

Do Pompidou ao Millennium Dome, examinamos as obras do pioneiro que transformou a paisagem de diversas cidades

Após conhecer as características de um projeto de Richard Rogers, você não consegue esquecê-las. Vagando pelas ruas de um grande centro urbano comercial como Londres ou Paris, estamos acostumados a ver torres de vidro e concreto, de design simples e limpo.

Basta virar uma esquina, no entanto, para dar com um edifício invertido: compridos poços de elevadores e tubulações sinuosas serpenteiam pelo exterior da construção. Este é o trabalho de Richard Rogers e seus colaboradores: chamar a atenção para a estrutura de um edifício através da cor e da forma ou expor serviços como tubulação para o público.

Aqui, após a notícia de sua morte aos 88 anos, celebramos o impacto de Rogers na arquitetura ao examinar sua vida e projetos icônicos, incluindo o Millennium Dome e o Centro Pompidou.

Centro Pompidou, Paris, via RG72/Wikimedia Commons
Centro Pompidou, Paris, via RG72/Wikimedia Commons

Rogers foi um dos pioneiros da chamada arquitetura high-tech, também conhecida como expressionismo estrutural. Edifícios desse estilo tendem a exibir suas funções internas com orgulho e ousadia como parte do projeto.

Surgida na década de 1970, à medida que avançavam as técnicas que utilizavam concreto e aço, a tecnologia de materiais também foi uma característica importante. Mas a jornada de Rogers rumo à consagração foi tão complexa quanto o encanamento do Pompidou...

Aeroporto de Barajas, Madri, via Jean-Pierre Dalbéra/Wikimedia Commons
Aeroporto de Barajas, Madri, via Jean-Pierre Dalbéra/Wikimedia Commons

Primeiros passos

Nascido em 1933 em Florença, Itália, Richard Rogers cresceu sob a ditadura de Mussolini, da qual sua família fugiu quando ele tinha seis anos. Estabelecendo-se no Reino Unido, a vida mudou dramaticamente, pois sua nova casa possuía apenas um cômodo. Rogers frequentou a escola, mas enfrentou dificuldades, percebendo somente mais tarde que tinha dislexia não identificada.

A vida mudou quando Rogers conseguiu uma vaga na Architectural Association School de Londres. Embora continuasse a receber críticas por seu trabalho, estava determinado a prosseguir e partiu para um mestrado em Yale, nos Estados Unidos.

Ali conheceu Norman Foster, que também se tornaria um dos arquitetos mais influentes do mundo. Ao lado de Su Brumwell e Wendy Cheesman, os dois fundaram uma empresa chamada Team 4, onde seu estilo começou a tomar forma. Rogers acabaria se casando com Brumwell, enquanto Foster se casaria com Cheesman.

Os quatro não haviam concluído os estudos na época, por isso convenceram a irmã de Cheesman - uma arquiteta graduada - a juntar-se a eles. Um dos primeiros trabalhos da Team 4 foi o projeto de uma nova casa para os pais de Brumwell, que ganhou um prêmio RIBA (Instituto Real de Arquitetos Britânicos na sigla em inglês).

Lloyds Building à direita, Londres, via Colin/Wikimedia Commons
Lloyds Building à direita, Londres, via Colin/Wikimedia Commons

Arquitetura High-Tech

Ao longo de seu trabalho na Team 4 e nos próprios projetos, Rogers desenvolveu uma "voz" única que ecoou em suas criações. A transparência contrastava com materiais rígidos e o equilíbrio entre produção em massa e personalidade deu vida a seus edifícios.

Colaborando com Renzo Piano, ele venceu o concurso para o Centro Pompidou, em Paris, e o primeiro grande edifício com estrutura aparente foi inaugurado em 1977. Isso, aliado a muitos outros projetos, transformou-se num legado de obras empolgantes que transformaram edifícios públicos em espaços funcionais e belos que a população local podia desfrutar.

Torre Kabuki-Cho, Tóquio, via @rogersstirkharbour no Instagram
Torre Kabuki-Cho, Tóquio, via @rogersstirkharbour no Instagram

Virando a opinião pública do avesso

Muitos dos edifícios de Rogers enfrentaram controvérsia e rejeição na fase de construção e inclusive depois. Quando ficou responsável pelo Centro Pompidou, Rogers era um desconhecido, e a estrutura inusitada foi recebida com grande ceticismo.

Da mesma forma, o Millennium Dome recebeu críticas negativas e baixo número de visitantes, embora quem o conheceu de perto tenha emitido opiniões positivas. Desde então, ambos abrigaram museus e exposições significativas, além de cafés, restaurantes, cinemas e salas de concerto, e são considerados parte importante da paisagem urbana de suas respectivas cidades.

Alguns dos projetos de Rogers eram tão radicais que foram rejeitados ou cancelados devido problemas de planejamento. Talvez seja mais importante do que nunca, portanto, preservar as estruturas bizarras e incríveis que se materializaram.

The O2, anteriormente conhecido como Millennium Dome, Londres, via Alexander Baxevanis/Wikimedia Commons
The O2, anteriormente conhecido como Millennium Dome, Londres, via Alexander Baxevanis/Wikimedia Commons

Estruturas surpreendentes ao redor do mundo

Com o tempo, o trabalho de Rogers apareceu ao redor do mundo. Em 2005, o Aeroporto Barajas, em Madri, na Espanha, foi ampliado com seu quarto terminal: uma onda ondulante de bambu e um arco-íris de pilares de aço, com frestas de luz para iluminar o espaço.

Enquanto isso, o 3 World Trade Center é o nono edifício mais alto de Nova York e o International Towers Sydney forma vilas verticais onde negócios, lazer e serviços de saúde coexistem. Cada edifício possui uma escala enorme, mas, ainda assim, transmite algo lúdico e envolvente devido ao uso de cores e materiais.

Legado

A Richard Rogers Partnership foi fundada em 1977 e tornou-se a Rogers Stirk Harbor and Partners em 2007. Em 2022, a empresa removerá seu nome conforme acordado em sua constituição e uma nova identidade surgirá.

Ao longo de sua vida, Rogers recebeu diversos prêmios, incluindo o Prêmio Pritzker e uma Medalha de Ouro e o Sterling Prize da RIBA. Nos últimos anos de sua carreira, ele se tornou cada vez mais apaixonado pela sustentabilidade e passou a aconselhar vários prefeitos sobre a melhoria dos ambientes urbanos.

Rogers tinha grandes sonhos para o futuro de Londres e queria garantir que os espaços fossem usados de forma eficaz para melhorar a qualidade de vida dos habitantes.

Tribunal Europeu de Direitos Humanos, Estrasburgo, via Gzen92/Wikimedia Commons
Tribunal Europeu de Direitos Humanos, Estrasburgo, via Gzen92/Wikimedia Commons

Raramente voltando atrás em suas decisões, Rogers fez questão que seus edifícios continuassem a surpreender e encantar, mesmo no final de sua carreira. Construções como o 3 World Trade Center, abaixo, têm fachadas mais simples, mas mantêm características arrojadas que nos lembram das estruturas escondidas em seu interior.

Rogers foi uma engrenagem essencial na máquina da Modernidade Tardia, mudando a arquitetura urbana para sempre. Ao decidir revelar radicalmente a aparência de um edifício, ele certamente continuará inspirando muitas gerações de arquitetos.

Three World Trade Center, Nova York, via Kidfly182/Wikimedia Commons
Three World Trade Center, Nova York, via Kidfly182/Wikimedia Commons

Qual é seu prédio favorito de Rogers? Deixe sua resposta nos comentários!

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Crédito da imagem da capa: @rogersstirkharbour via Instagram (foto de perfil); design de @maja_dabek.

Versão em português de @ntams.

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