Destacar palavras-chave em um texto, escrever resumos, fazer e refazer exercícios. São inúmeras as estratégias usadas pelos estudantes. E qual a eficiência de cada uma destas técnicas?

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Um estudo feito por pesquisadores de quatro universidades norte-americanas, publicado no jornal da Associação pela Ciência Psicológica no início deste ano, classificou essas estratégias tão corriqueiras na vida de vestibulandos como pouco eficientes. O trabalho avalia 10 técnicas de estudo, escolhidas por sua facilidade de aplicação, e apresenta recomendações a respeito da efetiva utilidade dos processos.

A meio ano de prestar seu terceiro vestibular para Medicina, a porto-alegrense Alice Ribes, 18 anos, diz seguir uma rotina bem organizada, com horários para rever cada matéria. Entre as técnicas que mais utiliza, estão resumir, sublinhar trechos importantes e fazer esquemas.

– Para história e geografia, procuro ler e fazer resumos, o que me ajuda a memorizar. Em algumas matérias, uso apenas o livro, aí sublinho trechos importantes. Isso me ajuda tanto a localizar as informações quanto a decorá-las. São etapas de um processo – explica a estudante.

Conforme a pesquisa, distribuir os conteúdos ao longo de um período – não deixando tudo para poucos dias antes da prova – e fazer testes práticos são as maneiras mais eficazes de aprender. No entender dos pesquisadores, um teste não se limita a um instrumento de medição de conhecimento sobre um assunto.

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Coordenada pelo professor John Dunlosky, do Departamento de Psicologia da Kent State University, o trabalho envolveu pesquisadores das universidades Duke, Wisconsin-Madison e da Virgínia. As 10 técnicas de estudos consideradas foram classificadas em três categorias de utilidade: baixa, moderada e alta. Na avaliação dos pesquisadores, muitas das práticas mais comuns, como fazer resumos, sublinhar e organizar palavras-chave, não trazem benefícios significativos para uma aprendizagem duradoura.

Na opinião de Dunlosky, os resultados não significam que os alunos devam reaprender a estudar.

– Eu não tiraria os marcadores de texto dos estudantes, mas diria para que os usassem de maneira diferente. Não basta sublinhar e ponto. É necessário voltar às marcações e estudá-las usando estratégias eficazes, como testes práticos e estudo distribuído – recomenda o pesquisador, em entrevista por e-mail ao caderno, explicando que as melhores técnicas não são mais difíceis de aplicar, embora demandem uma agenda bem organizada para distribuir as sessões de estudo ao longo do ano.

Dunlosky ainda ressalta que distribuir as horas de estudo não significa, necessariamente, mais tempo diante dos livros:

– Em vez de empilhar oito horas de estudo na noite anterior a um teste, só precisam distribuir essas oito horas ao longo de algumas semanas. Preparação dividida em várias etapas.

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Autor do livro Revolução no Aprendizado – Autonomia e Método de Estudo, o professor de filosofia Fábio Mendes entende que as técnicas de estudo não devem ser consideradas de modo excludente. Para ele, as conclusões da pesquisa norte-americana são o resultado de um olhar que considera as estratégias independentes umas das outras:

– O aprendizado vem da compreensão geral de um conteúdo, da seleção dos itens importantes, da elaboração desses itens pelo estudante e da testagem desta elaboração. Fazer um resumo, por exemplo, é apenas uma destas quatro etapas – explica.

Na opinião de Mendes, a prática distribuída de estudo é a aquisição do hábito de estudar.

– O que se tira desta pesquisa é que não adianta só sublinhar ou só resumir. Estudar tem vários momentos e vários passos.

Conheça as técnicas e a avaliação dos pesquisadores

Baixa utilidade

Fazer resumo: é a produção de um novo texto, mais curto, que identifique o que é importante e como ideias diferentes se conectam. Bons resumos identificam os pontos mais importantes e capturam a ideia central, excluindo material repetitivo. Avaliação: pode ser uma boa técnica para estudantes que já dominam o processo de resumir. Em geral, crianças, alunos de Ensino Médio e mesmo da graduação precisam de treinamento extensivo para produzir um bom resumo.

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Destacar ou sublinhar trechos: procedimento adotado por muitos alunos, trata-se de selecionar informações relevantes em um texto. Avaliação: na maior parte das situações examinadas, destacar trechos melhora muito pouco a performance. Pode até ajudar em textos difíceis, contudo, pode atrapalhar a compreensão para tarefas que exigem que os estudantes façam inferências.

Palavra-chave mnemônica: consiste em produzir listas de palavras que se relacionam, com o objetivo de memorizá-las. Criando imagens mentais, pode ser usada no estudo de vocabulário de uma língua estrangeira, para decorar capitais de estados, a ordem dos planetas, ou mesmo na compreensão de textos. Avaliação: pode ser útil para alguns conteúdos, mas não é altamente eficiente, em termos de tempo necessário para treino e geração das palavras-chave. Não costuma gerar conhecimento duradouro. Além disso, não está claro se estudantes realmente se beneficiam quando eles mesmos têm de criar as palavras-chave.

Usar imagens: enquanto leem ou escutam uma explicação, os estudantes criam imagens mentalmente ou desenham figuras que representem o conteúdo em foco. Avaliação: os benefícios do uso de imagens para estudar por meio de texto é restrito a alguns conteúdos e a testes de memória. Porém, ainda são necessárias demonstrações da eficácia da técnica para retenção de conteúdos por longos intervalos.

Releitura: ler novamente um texto inteiro, alguns trechos ou anotações é um dos métodos mais populares entre os estudantes. Avaliação: embora os benefícios da releitura tenham sido demonstrados para uma vasta gama de materiais, quase não há pesquisas envolvendo estudantes em idade escolar. A maioria dos efeitos foram detectados em medições de memória, ao passo que o benefício para a compreensão é menos verificável.

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Utilidade moderada

Questinamento elaborativo: instiga estudantes a gerar uma explicação para um fato. Busca respostas para questões como “por que isso faz sentido?”, “por que é verdade?” ou simplesmente “por quê?” Avaliação: os benefícios da técnica são mais limitados conforme os níveis de conhecimento dos alunos. Estudantes jovens ou com pouca noção do tema estudado tendem a ter algumas dificuldades para elaborar explicações. Além disso, a técnica é mais indicada para se trabalhar com assuntos factuais, sendo menos útil em tópicos complexos.

Elaborar explicação própria: demanda que os estudantes reflitam sobre como uma nova informação está relacionada com uma informação que já conhecia ou que expliquem as medidas tomadas durante a resolução de determinados problemas. Avaliação: um fator positivo é que os efeitos desta técnica já foram demonstrados com conteúdos diferentes. Contudo, ainda são necessárias novas pesquisas para estabelecer até que ponto estes efeitos não se devem ao nível de conhecimento dos estudantes.

Estudo intercalado: em vez de organizar uma cronograma de estudos que priorize um conteúdo determinado, que só é substituído depois de totalmente revisada, os estudantes intercalam conteúdos e matérias à sua rotina. Avaliação: de um lado, o estudo intercalado mostrou proporcionar bons resultados na aprendizagem de matemática, entre outras habilidades cognitivas. Do outro, a literatura científica a respeito da técnica ainda é pequena.

Alta utilidade

Testes práticos: visto como “mal necessário” por muitos estudantes, afinal, costumam ser aplicados como meio de avaliar a aprendizagem. Esta visão, contudo, é inadequada, pois os testes também melhoram a aprendizagem. Avaliação: os efeitos dos testes foram demonstrados em grande escala em diversos formatos, tipos de material e faixas etárias. Por isso, testes práticos têm ampla aplicabilidade. Comparado a outras técnicas, não toma muito tempo e pode ser implementado depois de pouco treino.

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Estudo distribuído: estudantes tendem a revisar conteúdos às vésperas das provas, crendo que a estratégia seja eficaz. Embora seja melhor do que nada, o resultado é mais positivo quando a mesma quantidade de tempo gasto em um “mutirão de última hora” é distribuída ao longo de um período. O benefício de retenção dos conteúdos em longo prazo é maior. Avaliação: funciona com estudantes de idades diferentes, com grande variedade de conteúdos, mesmo depois de grandes intervalos. É fácil de implementar, embora exija algum treinamento. Pesquisas sugerem que o estudo distribuído também funciona com conteúdos complexos.

Entrevista com um dos autores da pesquisa

John Dunlosky coordenou uma pesquisa sobre métodos de estudo Membro do Departamento de Psicologia da Kent State University sobre métodos de estudo que avaliou como pouco eficazes algumas estratégias bastante populares, como fazer resumos, sublinhar e reler. Em entrevista por e-mail ao caderno Vestibular, Dunlosky explica que não é necessário reaprender a estudar para melhorar os resultados, mas organizar bem o tempo diante dos livros.

Algumas técnicas de aprendizagem populares, como reler, sublinhar e resumir, são avaliadas como de baixa utilidade na sua pesquisa. Os estudantes precisam reaprender a estudar?

Não acho que precisem reaprender a estudar, porque, na maioria dos casos, os estudantes não tiveram aulas formais sobre como fazer isso melhor. Então, eles adotam técnicas que parecem razoáveis – como reler e sublinhar – embora existam indícios de que essas técnicas não são as melhores. Sabendo disso, contudo, eu não tiraria os marcadores de texto dos estudantes, mas diria para que os usassem de maneira diferente. Não basta sublinhar e ponto. É necessário voltar às marcações e estudá-las usando estratégias eficazes, como testes práticos e estudo distribuído.

As técnicas mais eficientes são testes práticos e prática distribuída. Isso significa que estudantes deveriam se preocupar em estudar durante todo o ano letivo, em vez de apenas às vésperas das provas?

Os estudantes devem se esforçar para distribuírem seu aprendizado ao longo do tempo. Então, depois de uma prova, deveriam começar a estudar para a próxima, com uma meta de rever e fazer testes práticos sobre os conteúdos mais importantes em diversas sessões de estudo antes do exame seguinte.

A boa notícia é que eles não precisam, necessariamente, estudar por mais tempo. Em vez de empilhar oito horas de estudo na noite anterior a um teste, só precisam distribuir essas oito horas ao longo de algumas semanas. Fazer isso vai dar um grande impulso na retenção a longo prazo, muito além da próxima prova. Os estudantes precisam focar mais em organizar seu tempo, mas eu recomendo muito que usem uma combinação de testes e práticas distribuídas para aprenderem as informações mais importantes de que precisarão nas aulas futuras, na vida e no trabalho.

O que você recomendaria aos estudantes que sempre utilizaram técnicas de baixa utilidade? Qual é a maior dificuldade que eles enfrentariam para mudar seu modo de estudar?

Que criem coragem, pois, se eles usaram apenas as técnicas relativamente ineficientes, provavelmente estão um pouco desanimados. Eles estão, é claro, se esforçando bastante, mas não estão usando seu tempo da maneira mais eficaz e talvez não estejam tão bem quanto gostariam na escola. Mas, se eles simplesmente adotarem algumas estratégias mais eficientes (e desenvolverem o uso delas), vão começar a tirar notas melhores e, às vezes, muito melhores. Felizmente, as técnicas de maior utilidade não são mais difíceis de usar do que as menos eficazes. Apenas precisariam de um cronograma bem esquematizado para organizar as sessões de estudo.

Destaques do NSC Total