Xhaka, sobre sua recuperação no Arsenal: "Futebol não é só subir, às vezes você também precisa cair"
Premier League

Xhaka, sobre sua recuperação no Arsenal: “Futebol não é só subir, às vezes você também precisa cair”

Três anos depois de perder a braçadeira e ser vaiado pela torcida, Xhaka vira um dos destaques no sucesso recente do Arsenal

A maneira como Granit Xhaka reconstrói a sua carreira no Arsenal é exemplar. Basta lembrar que há três anos o volante parecia encerrar seu ciclo no clube. Capitão nos tempos de Unai Emery, ele saiu vaiado durante um empate contra o Crystal Palace em novembro de 2019. Respondeu com palavrões às provocações da torcida, atirou sua camisa longe e depois escreveu uma carta pouco convincente nas redes sociais para se desculpar. Em consequência, o suíço perdeu a braçadeira e quase deixou os Gunners, mas recobrou seu espaço principalmente após a contratação de Mikel Arteta. Atualmente, o meio-campista é uma figura central no sucesso dos londrinos na Premier League e agradece o apoio do treinador em sua retomada.

É importante notar como a recuperação de Xhaka atravessa as últimas temporadas. Ele já vinha respaldado na equipe titular desde o início de 2020 e, no meio do caminho, ainda fez uma grande Eurocopa com a seleção da Suíça. Entretanto, sua importância se elevou nos últimos meses. O volante participa ativamente dos ótimos resultados do Arsenal em 2022/23, formando uma dupla consistente ao lado de Thomas Partey. Pode não carregar as expectativas de outros tempos, mas chegará à Copa do Mundo respaldado como uma liderança dos suíços – e muito graças ao que apresenta com os Gunners.

“Estive muito, muito perto de sair. Quando eu digo isso, era como se eu precisasse só pegar minhas coisas e sair pela porta. Mikel foi o cara que me impediu de sair. Tive uma boa conversa com ele, nunca tinha o visto antes. Disse a ele desde o primeiro encontro que eu queria ir embora. Não era contra ele, mas pela história que tinha acontecido, eu achava que não podia jogar novamente com essa camisa”, afirmou Xhaka, à BBC Sport.

“Mas eu sabia que, com Mikel e sua equipe, poderia mudar as coisas. Eu me preparei para isso. Não estou aqui porque meu pai é o técnico e ele sempre escolhe seu filho o tempo todo, acho que tenho qualidade para ser um bom jogador para este clube. Quero dar algo de volta. Futebol não é só subir, às vezes você também precisa cair”, complementou o meio-campista.

A preferência de Arteta por Xhaka se nota pela própria aposta na polivalência do suíço, que chegou a atuar como zagueiro e lateral esquerdo sob as ordens do treinador. Entretanto, também é necessário valorizar a atitude do jogador, que deixou a vaidade de lado após o conflito com a torcida: “Logicamente que depois das vaias eu tinha uma opção, que era sair, porque aquilo era demais para mim. As pessoas que estiveram lá me apoiando nos primeiros três anos não estavam mais comigo. Como eu lidei com isso? No momento, fui muito forte. Não queria voltar e sentir a mesma dor que senti. Mas fui muito forte”.

Já o sinal maior da reconciliação aconteceu recentemente, no início de outubro. Depois de grande atuação contra o Brentford, Xhaka teve seu nome cantado pela torcida e se emocionou. Também ganhou elogios de Arteta: “Acho que ele sente agora que o amor e o respeito vão nos dois sentidos. Você vê nossos torcedores e a maneira como estavam cantando para Granit. Isso o deixa emotivo. Isso o faz tentar dar ainda mais e estou muito feliz porque ele merece totalmente. O que explica sua fase? A consistência, o comportamento diário, o que aprendeu na carreira e a vontade de tentar melhorar, de olhar para frente. Quando você faz isso, normalmente coisas boas acontecem”.

Xhaka atravessa uma temporada de muita produtividade ofensiva, acima de sua média. O volante tem três gols e três assistências em 14 aparições na temporada. Nesta quinta-feira, inclusive, garantiu a vitória por 1 a 0 sobre o PSV na Liga Europa com um chute cruzado de primeira. Além disso, na ausência de Martin Odegaard, o suíço voltou a usar a braçadeira de capitão com frequência na competição continental. Deixadas as feridas para trás, o meio-campista se transforma num dos jogadores de confiança da torcida. E muito por seu empenho para mudar essa história.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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