O Esquadrão Suicida - Review

Descompromissado, exagerado e deliciosamente tosco, filme escrito e dirigido por James Gunn é ponto mais alto dos heróis no cinema em 2021 e traz DC em sua melhor forma desde Cavaleiro das Trevas

O Esquadrão Suicida de James Gunn não está nem aí. Nem aí em ser tosco, exagerado, simples e, principalmente, em ser uma obra que, assumidamente, adapta uma história em quadrinhos. Disponível na HBO Max desde o último domingo (12) após lançamento nos cinemas brasileiros, resolvi conferir -- a expectativa, que já estava alta, conseguiu ser superada, e os mesmos heróis improváveis que salvaram o dia, me tiraram do tédio dominical.

Descompromissado, o resultado é um filme divertido e interessante do começo ao fim, na melhor versão da DC Comics no cinema desde Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008) e, possivelmente, o ponto alto quando falamos de cinema de heróis em 2021. Eternos e Venom: Tempo de Carnificina que deem um jeito para fazer tão bonito quanto!

Já nos minutos iniciais, O Esquadrão Suicida se mostra como um filme recheado de violência tarantinesca e que tira sarro de si mesmo e do conturbado antecessor (para não dizer outra coisa), lançado em 2016. A propósito, para quem tinha dúvida: não é nem uma continuação nem um reboot, e está mais para um híbrido, que bate no peito, assume a bronca, mistura personagens que apareceram no anterior com novos rostos e só segue em frente.

Exceto um ou outro, os integrantes do grupo liderado por Amanda Waller são dignos de riso, a receita ideal para o fracasso. Ironicamente, é com os personagens de quinto escalão que a DC acaba de encontrar o sucesso definitivo no cinema. A batalha inicial em Corto Maltese choca tanto quanto diverte, com decisões corajosas do diretor e roteirista James Gunn, mais à vontade e com mais liberdade para pirar do que nunca.

O roteiro deste Esquadrão Suicida é muito simples, básico do básico. A mando de Amanda Waller (Viola Davis, mais intimidante do que nunca), o grupo vai para uma missão de infiltração em Colto Maltese, país da América do Sul que acaba de sofrer um golpe militar. Entre o objetivo principal, surgem submissões de resgate, como nos melhores jogos de mundo aberto. A genialidade está em como Gunn decide contar a história, indo e voltando no tempo com criativos recursos gráficos, ao melhor estilo abertura de capítulo de um gibi. O recurso é mais inteligente e funciona melhor do que, por exemplo, cansativos e manjados flashbacks.

A narrativa é um show à parte e anda de mãos dadas com o elenco, em perfeita sintonia. Da "velha guarda", merecem destaque Rick Flag (Joel Kinnaman) e Arlequina (Margot Robbie). Nem no filme "mais solo", Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa, ela esteve tão... emancipada.

A Harley de Robbie nem precisa dividir tela com outros personagens para contagiar quem assiste com a imprevisibilidade de uma bomba-relógio. A cena em que ela, sozinha, combate um pelotão e troca os litros de sangue por flores está nas mais bonitas já vistas do gênero. Por si só, já vale o ingresso -- ou, no contexto moderno, o play no streaming.

Imagem: Warner/DC

Liderado por Sanguinário (Idris Elba, badass como sempre), cada membro do novo Esquadrão tem seu momento para brilhar. A Caça-Ratos 2 (Daniela Melchior) e seu fiel ratinho Sebastian são puro coração na equipe; Tubarão-Rei (Sylvester Stallone) é uma constante ameaça à equipe ao protagonizar alguns dos momentos mais hilários -- e eu não sabia que era possível amar ainda mais o Sly. Nanaue, por favor, volte.

Atormentado pela mãe, cuja mesma piada consegue funcionar em três ocasiões, Bolinha (David Dastmalchian) é aquela pessoa silenciosa que surpreende toda vez que abre a boca; Elba assume com elegância o papel de líder que antes era do Pistoleiro (Will Smith) e o Pacificador de John Cena, capaz de matar qualquer um em nome da paz, preenche todos os requisitos de um bom lunático.

A competitividade entre Pacificador e Sanguinário, personagens idênticos na descrição, é ótima desde que eles trocam as primeiras palavras, sendo um dos grandes atrativos da trama fanfarrona, mas na medida exata. Uma das cenas mais memoráveis do filme é fruto justamente desse embate para ver quem é mais casca grossa -- no linguajar para maiores do filme, diríamos "fod**", no aumentativo mesmo.

Aliás, mordi a língua e fiquei com vontade de ver a série solo do Pacificador para ontem! E olha que não vi motivo para a existência dela quando foi anunciada pela Warner e HBO Max. Cena é o brutamontes que profere os maiores absurdos e comete as maiores atrocidades do filme, e certamente queremos ver mais disso. Quem diria.

John Cena rouba a cena como o lunático Pacificador. Imagem: Warner/DC

O ritmo de O Esquadrão Suicida jamais oscila, e quando você pensa que não dá para ficar mais escrachado, Starro, o Conquistador entra em cena. Sim, aquela estrela-do-mar gigante que foi o primeiro vilão da Liga da Justiça nos quadrinhos. Quando que a gente sonhou em ver isso em live-action? Ainda mais um retrato ameaçador do vilão, que de fato é poderosíssimo.

Pena não ter visto este novo Esquadrão Suicida no cinema, por conta do lançamento em um período cujo país ainda não está completamente vacinado contra a Covid-19 e mais variantes parecem surgir a cada semana. Talvez role relançamento no futuro, mas ainda assim não será o primeiro impacto.

Espetáculos visuais merecem todo o capricho e carinho possíveis. E, tenha certeza: O Esquadrão Suicida é uma exibição de gala comandada especialmente por Nanaue, Milton, Arlequina e o Pacificador, para rever sempre que quiser se lembrar por que as histórias em quadrinhos são tão fascinantes.

O Veredicto

Lembra quando a DC Comics era taxada como sombria, taciturna, séria e adultona, o completo oposto da proposta mais colorida e infantil (sem conotação pejorativa, por favor) do concorrente MCU? Esses dias ficaram para trás. Somente em 2021, a DC teve duas redenções, com o Snyder Cut de Liga da Justiça e, agora, O Esquadrão Suicida definitivo. Lembra aquele Esquadrão, de 2016? Pois é, também não me recordo muito. Aquilo está mais para um borrão... Fato é que a DC finalmente se estabeleceu como a adversária de peso do MCU, em concorrência cada vez mais similar com a trajetória de ambas as editoras nos quadrinhos. Coringa, Esquadrão (e, possivelmente, o futuro Batman de Robert Pattinson) são provas de que a DC tem mesmo é que deixar o universo compartilhado de lado e focar em histórias individuais, fórmula que consagrou a editora com graphic novels clássicas. Nunca estivemos tão bem servidos de ambos os lados no cinema.

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Review: O Esquadrão Suicida

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Obra-prima
Tosco, divertido e deliciosamente exagerado, como nos bons gibis, O Esquadrão Suicida de James Gunn é o filme de heróis do ano.
O Esquadrão Suicida
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