De problema a milagre: John Kennedy vira herói e entra na história do Fluminense | fluminense | ge

Por Bruno Murito — Rio de Janeiro


Algumas pessoas têm uma aura diferente. John Kennedy provou ser uma delas na trajetória do Fluminense na Libertadores. O atacante fez jus àquela máxima da ficção: personagem que supera problemas e se torna um herói.

Diniz abraça John Kennedy

Diniz abraça John Kennedy

Na campanha do título inédito do Fluminense, John Kennedy foi herói no estilo perfeito. Na hora certa, no lugar certo. Em branco na fase de grupos, na maioria das vezes vindo do banco, o atacante marcou gols em todas as fases do mata-mata. Algo inimaginável para quem começou o ano na Ferroviária, clube do interior paulista para o qual foi emprestado após caso de indisciplina. A mudança foi graças ao treinador Fernando Diniz, que previu gols dele na semifinal contra o Inter e na final contra o Boca.

Diniz e John Kennedy se abraçam após apito final

Diniz e John Kennedy se abraçam após apito final

Na volta contra o Argentinos Juniors, nas oitavas de final, o camisa 9 do Fluminense, nos cinco minutos finais, deu assistência para o gol salvador de Samuel Xavier e matou o jogo no fim da partida. Nas quartas de final, abriu o placar contra o Olimpia, na volta no Paraguai, no momento de mais pressão do time da casa. Na histórica virada da semifinal contra o Internacional, empatou o jogo no fim e deu o corta-luz para Cano fazer o da vitória, que garantiu a equipe na final.

Na final deste sábado, John Kennedy foi celebrado desde o início. Ao ser anunciado no telão, entre os reservas, teve o seu nome muito gritado pela torcida do Fluminense, como o de um protagonista. E todos sabiam que ele seria, no momento certo.

Festa no Maracanã: em ritmo de Samba, Diniz faz até selfie com a torcida

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O atacante do Fluminense entrou aos 34 minutos do segundo tempo, sob o aviso de Diniz que ele decidiria a partida. Imediatamente, recolocou a equipe no jogo, em um momento de domínio do Boca após o empate. John Kennedy inflamou a torcida com uma caneta em seu primeiro toque, mas não teve a chance de acabar com a partida no tempo regulamentar, como Diogo Barbosa teve e desperdiçou no último minuto.

No entanto, aos oito minutos do primeiro tempo da prorrogação, John Kennedy fez o que todos pareciam saber que aconteceria no Maracanã e decidiu a Libertadores. No maior estilo possível do atacante do Fluminense, o camisa 9 fez um golaço, foi para a torcida e foi expulso.

Aos 8 min do 1º tempo da prorrogação - Golaço de John Kennedy! Diogo Barbosa lança Keno, que ajeita de cabeça para o jovem atacante soltar a bomba

Aos 8 min do 1º tempo da prorrogação - Golaço de John Kennedy! Diogo Barbosa lança Keno, que ajeita de cabeça para o jovem atacante soltar a bomba

Até os jogadores do elenco sabiam que ele seria decisivo. Diogo Barbosa, que protagonizou o lance que poderia ser o gol do título do Fluminense, disse que o destino era John Kennedy ser o herói.

- Tentei finalizar, faltou um pouco de calma para mim, mas acho que estava tudo escrito para o John sair como herói da noite. Ele merece, por tudo que vivenciou e passou na vida dele - disse o lateral após a partida.

Fernando Diniz, então, é quem sabe há pelos menos um ano e meio. Responsável por abraçar o jogador, quando o treinador retornou ao Fluminense, Diniz previu os dois gols mais importantes do jovem nesta caminhada. O da semifinal, contra o Internacional, e o do título, contra o Boca Juniors, antes da entrada do atacante em campo.

Diniz preve gol de John Kennedy antes da entrada do atacante no jogo

Diniz preve gol de John Kennedy antes da entrada do atacante no jogo

Sempre no momento certo, na hora certa. Mas a linha do tempo de John Kennedy no Fluminense não foi apenas de glórias.

Jhon Kennedy comemora gol do Fluminense — Foto: André Durão

A origem

Decisivo desde a base, carrasco em Fla-Flus, John Kennedy foi lançado ao profissional do Fluminense em 2021. Sua primeira noite de protagonismo no clube foi justamente no primeiro clássico contra o Flamengo, num roteiro de filme. O atacante marcou dois gols na vitória por 3 a 1. Na época, era a terceira opção do ataque tricolor, atrás de Fred e Bobadilla, e recebeu titularidade no clássico na ausência dos outros dois.

Os gols de Fluminense 3 x 1 Flamengo pela 28ª rodada do Brasileirão 2021

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Ali, o jovem de 19 anos despertou algo diferente na torcida do Flu. A esperança de estar surgindo o sucessor de Fred, por exemplo, em mais uma cria revelada em Xerém.

John Kennedy, do Fluminense — Foto: Felipe Siqueira

Após uma boa Copinha pelo Fluminense, o ano de 2022, nos profissionais, não começou bem. Depois da eliminação na competição de base, o atacante ganhou alguns dias de férias em janeiro antes de se reapresentar aos profissionais. Mas sofreu uma lesão no quinto metatarso do pé direito durante uma pelada e precisou passar por cirurgia.

Em março, JK retornou aos treinamentos, mas no começo de maio, um carro que pertencia ao jogador foi apreendido pela Polícia Militar. O jogador não estava no veículo no momento da apreensão, mas teve o nome estampado em manchetes policiais por ter que comparecer à delegacia.

Veículo de John Kennedy no pátio da delegacia — Foto: Divulgação

Abraço de Diniz e virada de chave

Depois de a chegada de Fernando Diniz ao Fluminense, John Kennedy voltou a ter algumas oportunidades e foi abraçado pelo treinador, que desde o início mostrou-se disposto a recuperar o jogador.

- Já perdemos muitos John Kennedys por aí e continua perdendo. Eu vou fazer de tudo para ajudá-lo para ele poder ter uma vida digna no futebol. Principalmente quando parar, para que ele viva daquilo que construiu no futebol. Essa é a minha intenção com ele - disse o técnico.

Fernando Diniz fala sobre John Kennedy e afirma: "Fazer de tudo para ajudá-lo"

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- É um grande talento e mais um daqueles jogadores, que, por trás, tem uma história de vida que, no futebol, ao invés da gente acolher a pessoa como um todo, a gente acolhe só o jogador. Essa é uma falha gigantesca que tem no futebol brasileiro - afirmou Diniz, em maio do ano passado.

No entanto, em setembro, mais um episódio negativo. Sem atuar nas partidas dos profissionais, o jogador parou de treinar com o time principal no CT Carlos Castilho por questões disciplinares, como por exemplo atrasos e falta de comprometimento. Os casos de indisciplina fizeram que ele voltasse a treinar na base.

Em dezembro de 2022, o Fluminense acertou empréstimo de John Kennedy para a Ferroviária-SP. A ideia de emprestá-lo para outro estado foi vista com bons olhos pela diretoria tricolor, que esperava que viver longe de casa o fizesse amadurecer mais rápido, ao ter que assumir mais responsabilidade.

John Kennedy celebra um de seus gols no Paulistão pela Ferroviária — Foto: Tiago Pavini/Ferroviária SAF

E deu certo. O atacante foi o artilheiro da equipe e o terceiro com mais gols na primeira fase da competição. Em seu retorno ao Fluminense, o jovem recebeu o assédio de times do Estados Unidos, mas o clube negou propostas por ele.

Enfim, foi chegada a hora certa de John Kennedy no Fluminense. E ele e a torcida pareciam saber exatamente disso, como em sua volta ao clube, na goleada por 7 a 0 contra o Volta Redonda. Nas semifinais do Carioca, o atacante teve o nome gritado pelos torcedores mesmo no banco de reservas.

Ou quando o atacante de 20 anos viralizou nas redes sociais, em fevereiro, ao aparecer respondendo perguntas nas redes sociais. Em uma delas, um torcedor previu o gol do atacante no título da Libertadores.

John Kennedy reagindo a mensagem sobre Fluminense na web — Foto: Reprodução / Instagram

Fernando Diniz e o Fluminense abraçaram John Kennedy, e o atacante deu o maior presente possível para quem sempre apostou nele: a Glória Eterna.

Aos 21 anos, John Kennedy conquistou a América e agora buscará o mundo. Apontado como "milagre" pelos companheiros de time, tornou-se acima de tudo um exemplo em que as coisas são possíveis.

É o herói "provável", com aura de decisivo, mas com um quê de uma irresponsável impulsividade, como na comemoração em que levou vermelho. É o herói dos roteiros inéditos, históricos e inesquecíveis. John Kennedy fez o gol do título e retribuiu o abraço da torcida, que o acolheu e acreditou nele. Hoje, é ídolo do clube que o revelou, xodó das crianças e está definitivamente na história do Fluminense, onde surgiu para brilhar.

John Kennedy Fluminense gol Boca Juniors — Foto: Sergio Moraes/Reuters

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