Crítica


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Sinopse

Anualmente, durante o Natal, Brad e Kate viajam a algum lugar ensolarado, fugindo das neuroses de suas famílias. Mas, depois de uma nevasca e de serem flagrados pela TV, eles terão de finalmente encarar os parentes nas festas.

Crítica

Apesar de não ser o maior país católico do mundo*, os Estados Unidos costumam dar muita atenção a festas religiosas como o Natal. Talvez seja o lado comercial, imagino. Porque simplesmente não consigo pensar em outro motivo para um filme tão tolo quanto este Surpresas do Amor ter feito tanto dinheiro nas bilheterias senão o fato de ser uma opção familiar perfeita para a época. Tudo é tão mal feito e descartável que é de se perguntar em qual lado da tela é possível encontrar menos diversão!

Pra começar, praticamente não há uma história. Tudo o que acontece é só desculpa para uma sucessão de tombos, batidas, empurrões e outras grosserias, como se só isso fosse engraçado nos dias de hoje. O fiapo de enredo trata de um casal que odeia passar as festas de final de ano junto às suas famílias – assim, todo ano inventam uma desculpa diferente para poderem viajar sozinhos. Só que desta vez, e os dois são pegos na mentira – e em cadeia nacional! Assim, precisam se redimir visitando os parentes, que são os pais deles mesmos, todos separados – contabilizando os ‘quatro natais’ do título original (Four Christmases).

Deste ponto em diante é aquela velha história de ‘reconhecer as diferenças uns dos outros para, no final, reforçar ainda mais o amor que sentem entre si’. O pai dele é um bruto egoísta, a mãe dela é uma alienada religiosa, a mãe dele é uma hippie apaixonada por um rapaz com a metade da idade e o pai dela, por incrível que pareça, é o único normal – uma providência interessante ele aparecer somente na conclusão, quando tudo o que precisam é de paz e harmonia para um legítimo “final feliz”! E, como em toda comédia romântica que se preze, é óbvio que lá pelas tantas os namorados irão brigar e ir um para cada lado, só para se reunirem da forma mais patética possível logo em seguida. Resultado? Surpresa zero (ô título infeliz este nacional, vamos combinar!)!

Reese Witherspoon, que estreou tão bem no cinema, se destacando com boas interpretações em filmes como A Vida em Preto e Branco (1998), Eleição (1999), Psicopata Americano (2000) e Legalmente Loira (2001), teve seu ápice em Johnny & June (2005), quando faturou o Oscar de Melhor Atriz. Desde então, foi só ladeira abaixo. Outro que precisava desesperadamente recuperar seu “momento” é Vince Vaughn, já que os sucessos de Penetras Bons de Bico (2005) e de Separados pelo Casamento (2006) parecem cada vez mais distantes. O problema é que os dois simplesmente não funcionam juntos. Até são bons no improviso, e conseguem salvar alguns diálogos com tiradas inteligentes. Mas isso é muito pouco. Não combinam fisicamente, e há boatos de que se desentenderam durante as filmagens. Isso até pode ser mentira, mas que esta impressão é perceptível na tela, não há como negar. Já o elenco de apoio tem pouco o que fazer. O desconhecido diretor Seth Gordon consegue a façanha de juntar quatro vencedores do Oscar como as figuras paternas – Robert Duvall, Mary Steenburgen, Sissy Spacek e Jon Voight – e dar-lhes poucas oportunidades. Imenso desperdício que só é meramente minimizado pelas aparições esporádicas de Jon Favreau – muito melhor diretor (Homem de Ferro, por exemplo) do que ator, mas que aqui se sai razoavelmente bem.

Surpresas do Amor teve sua estreia mundial – EUA, Inglaterra e Canadá – no dia 26 de novembro de 2008, logo após do Feriado de Ação de Graças e exatamente um mês antes do Natal. Período perfeito para capturar as atenções dos desavisados cansados das compras natalinas e desesperados por um descanso qualquer na sala de cinema. Com esse lançamento bem estratégico, digamos, o filme conseguiu ir muito bem junto ao público norte-americano, faturando impressionantes US$ 120 milhões – mesmo que praticamente todas as críticas tenham sido negativas, apontando como principais falhas a falta de química entre os protagonistas, a falta de tom entre os coadjuvantes e o roteiro equivocado que atropela intenções com feitos mal planejados. Desastre completo! Já aqui no Brasil não há desculpa - o Natal passou faz tempo, e tudo o que este filme merece agora é o total descaso. E que fique o alerta!

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.

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