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Graça infinita Capa comum – 26 novembro 2014
- Número de páginas1144 páginas
- IdiomaPortuguês
- EditoraCompanhia das Letras
- Data da publicação26 novembro 2014
- Dimensões22.8 x 15.8 x 5.8 cm
- ISBN-10853592504X
- ISBN-13978-8535925043
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Descrição do produto
Resenha Especializada
Sobre o Autor
Detalhes do produto
- Editora : Companhia das Letras; 1ª edição (26 novembro 2014)
- Idioma : Português
- Capa comum : 1144 páginas
- ISBN-10 : 853592504X
- ISBN-13 : 978-8535925043
- Dimensões : 22.8 x 15.8 x 5.8 cm
- Ranking dos mais vendidos: Nº 77.634 em Livros (Conheça o Top 100 na categoria Livros)
- Nº 5.595 em Ficção Literária Literatura e Ficção
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Apesar de tudo isto, Graça Infinita não é uma leitura difícil, requer muita atenção é verdade, mas não é difícil, pelo contrário, é muito prazerosa, permeada por momentos de tristeza e de humor (se bem que negro). É difícil falar desta obra ou mesmo traçar um esboço dela, mas tentando algo bem superficial, apenas para contextualizar minha interpretação: há, grosseiramente, duas narrativas principais: a primeira dos Incadenza; Onde o pai (Sipróprio) produz filmes odiados ou amados pela crítica, dentro do qual está o Graça Infinita V ou VI, o qual quem o assisti não deseja mais nada da vida, apenas assisti-lo novamente e fica assim de certa forma num coma, esperando/desejando apenas assistir mais um trecho. Têm sua esposa (Mães) que é superprotetora e os três filhos: Orin, Mario e Hal. Orin, é um jogador de futebol americano que só se relaciona com mães com filhos; Mario, é um cinegrafista, como o ‘pai’, e também o que tem um coração mais puro e sincero e talvez por isso mesmo ele é deformado, como se sua deformação física fosse uma metáfora sobre os seus sentimentos impossíveis de existir no mundo atual; e Hal, é um estudante jogador de tênis preste a entrar na Universidade, com uma memória e capacidade crítica incrível, sendo o principal responsável pela narrativa neste núcleo. Um olhar rápido pelos irmãos nos trará uma lembrança dos irmãos Karamazov de Dostoievsky, Orin-Dmitri (libertino), Mario-Aliocha (puritano) e Hal-Ivana (niilista), mas essa análise é bem superficial. Ao lado deles, surge outra miríade de personagens, jogadores de tênis de diversas idades cada qual com o seu problema pessoal e seus dilemas.
A segunda narrativa tem por foco principal Don Gately e a casa de reabilitação para AA/NA e o que se desenvolve aqui não fica atrás da primeira narrativa, pois os personagens expõem seus medos, dúvidas, anseios e lutas, com cenas épicas e diálogos mais épicos ainda.
Disse que essas eram, grosseiramente não esqueçam, as principais, mas o livro é repleto de narrativas que parecem não ter ligação com a estória central, como a célula terrorista atrás de uma cópia de Graça Infinita, uma conspiração política um tanto infantil, bebês gigantes, etc..., até que se percebe que a estória central, como as narrativas paralelas, não está ali para levar o leitor de um ponto A a um ponto B, mas sim para fazê-lo se perder nos muitos dilemas e questionamentos do sentido de ser humano e é assim que pode surgir as mais variadas leituras do livro que vão desde a questão do suicídio, passando pelas drogas/dependência, entretenimento, relacionamentos, sociedade, estupro, incesto e etc.
Há um filme de Sipróprio (em uma das notas há uma descrição de cada filme produzido por ele) chamado Jaula III que para mim foi uma chave para tentar unir as estórias em torno de um tema comum. Neste filme, as pessoas na rua são convidadas a assistir, gratuitamente, num palco atores que se machucam/matam e os telespectadores aos poucos vão se tornando olhos gigantes, então, à medida que os atores vão sendo descartados, os panfletistas abordam as pessoas para atuarem num palco onde a plateia aos poucos vão se tornando grandes olhos. E assim ficam todos presos nesse círculo vicioso kafkiano - por sinal há muito do absurdo de Kafka neste livro.
Tendo este filme como chave, o que a obra parece me dizer é que será que não estamos presos nesse teatro? Talvez como ator, talvez como telespectador, já não importa. Talvez tudo que procuramos: dinheiro, droga, álcool, entretenimento, sexo, talvez todas essas coisas sejam jaulas que acreditamos poder escolher, mas, tomando como exemplo as reuniões do AA/NA que o livro aborda, não temos escolhas, o livre arbítrio se foi e viramos escravos do prazer e quando escolhemos recusar talvez, também neste caso, estejamos num outro tipo de jaula, mas esta é uma jaula escolhida por nós. E o filme Graça Infinita parece representar bem essa dependência: existe a escolha de assistir, ao menos a primeira vez, mas uma vez assistido a escolha se foi e você é apenas um corpo à deriva do que te proporcionam.
“A verdade liberta, mas só depois de acabar com você”.
Quanto ao romance muito já foi falado de David Foster Wallace e pouco eu teria a acrescentar. O que posso dizer é que exige uma leitura mais atenciosa, deve se ler Graça Infinita como se lê textos do tipo dissertativos, artigos e ensaios. A leitura no entanto é recompensatoria e gratificante. Cada capítulo e cada sessão de capítulo neste livro vale como uma história auto contida ao mesmo tempo que se conecta a uma trama maior. Minha dica é se deixar levar pela narrativa de David Foster Wallace que quando te aperta não quer mais te largar pra fazer qualquer coisa diferente do que ler este livro.
Galindo tem se revelado um grande tradutor e só pega obra complexa e de fôlego; sua tradução é muito boa. Creio que veste bem o estilo de David Foster Wallace.
Inevitável pensar em Ulisses quando comecei a ler Graça Infinita: a linguagem inventiva, as variações de nível de discurso.
Ainda não terminei de ler, mas estou gostando! Uma grata surpresa. Aguardo ansioso pelo Pale King, último livro de David, que Galindo está traduzindo.
Quanto ao livro, "Graça Infinita" é um bom exemplo de literatura experimental e suas sequelas físicas não vão além de um torcicolo causados por 1100 páginas que exibem o dobro de palavras usualmente empregadas, afora 388 notas, imprescindíveis para o entendimento da história. Uma odisseia que requer um leitor experiente e um bom dicionário, apesar de algumas palavras serem invenções do próprio Wallace.
Por sinal, considerado um dos escritores mais talentosos de sua geração, DFW é capaz de abordar diferentes gêneros e estilos com raro virtuosismo. Infelizmente, aos 33 anos, ele se enforcou durante uma crise de abstinência provocada pela supressão de um antidepressivo que suspeitava ser a origem de um bloqueio criativo.
Publicado originalmente em 1994, esse romance levou vinte anos para ser lançado no Brasil e Caetano Galindo levou cerca de dois, para apresentar uma impecável tradução. Indubitavelmente, um trabalho hercúleo, a medida que trata-se de um compêndio enciclopédico criado sob o parâmetro de "quanto maior, melhor". Nada mais nada menos do que uma confusão psicodélica de tudo o que surgia na cabeça de Wallace com direito a inúmeras personagens, bons casos, piadas, monólogos além de trechos desafiadores que assemelham-se a delírios alucinógenos.
Sua história é ambientada num futuro onde Estados Unidos, México e Canadá passaram a ser um único país, a Organização das Nações da América do Norte (ONAN). Dominada pelo comércio, a região apresenta até os anos patrocinados por marcas famosas, por exemplo, o "Ano da Fralda Geriátrica Depend" centraliza a maior parte da trama. A própria Estátua da Liberdade virou garota-propaganda e, ao invés de erguer a tocha, exibe produtos que vão de hambúrguer a sabão em pó.
As estranhezas não param por aí, rebanhos de hamsters selvagens cortam o país e a Nova Inglaterra foi transformada num lixão de residuos tóxicos produzidos por um novo tipo de energia, a fusão anular. Indubitavelmente, a população de Quebec não anda satisfeita com a incômoda vizinhança e um grupo separatista radical está disposto a obter a cópia mestre do tal filme para transformá-lo numa arma capaz de dizimar toda a população ianque.
Desaparecido sem deixar vestígios, o paradeiro desse cartucho acaba envolvendo a própria família do cineasta que, há poucos anos, resolveu explodir a cabeça num forno de micro-ondas. Dela, fazem parte a viúva, Avril Incandenza, proprietária da "Academia de Tênis Enfield", e seus três filhos: Orin, um ídolo do futebol americano, Mario, um jovem seriamente deformado, e Hal, candidato a futuro ídolo do tênis, se não for pego em algum exame antidoping...
Com várias subtramas, uma boa parte acontece na "Casa Ennet de Recuperação de Drogas e Álcool". Aí, quem rouba a cena é Don Gately, um ladrão viciado em narcóticos orais que frequenta os "Alcóolicos Anônimos" e tem sérias dúvidas sobre a existência de um Ser Superior.
Com uma estrutura complexa, esse livro não é indicado para o leitor tradicional, acostumado com conexões narrativas e histórias com começo, meio e fim. Se esse não for o seu caso, aceite o desafio de encarar um romance genial, laborioso e viciante. Aliás, o vício, suas causas e consequências são o fio condutor dessa jornada labiríntica que também aborda assuntos como tênis, entretenimento, publicidade, cinema, relações familiares e políticas. Boa sorte!