A ossada de um rei foi descoberta embaixo de um estacionamento na Inglaterra. Depois de exames cuidadosos, a identificação foi concluída: era Ricardo III, um rei notório pela crueldade.
Ele sempre foi pintado ao longo da história como um homem cruel, capaz de matar os próprios sobrinhos para subir ao trono. Ricardo III, um dos reis mais famosos da Inglaterra. Foi o último monarca britânico morto em um campo de batalha. E era o único rei desde a Idade Média que tinha o destino do corpo ignorado.
O mistério terminou na última segunda-feira. Arqueólogos de Leicester, 140 quilômetros ao norte de Londres, encontraram os restos mortais do rei enterrados, sem identificação, sem o respeito devido a um monarca.
Ricardo III reinou por apenas dois anos: de 1483 a 1485. Ele foi retratado numa das peças mais famosas de William Shakespeare. Escrita mais de um século depois da morte dele, ela mostra um rei perverso, deformado, capaz dos atos mais cruéis para chegar ao poder.
Ricardo III era irmão do rei Eduardo IV, que morreu deixando dois filhos. Eram eles, sobrinhos de Ricardo III, que deveriam herdar o trono. A lenda, criada com a peça de Shakespeare, conta que Ricardo aprisionou e depois matou os meninos no alto da torre de Londres. E assim tomou o trono da Inglaterra para si, mas isso nunca foi comprovado.
A peça atualmente é considerada uma propaganda anti-Ricardo III. Ela teria sido escrita para agradar à família Lancaster, que venceu a Guerra das Rosas, conflito que botou frente a frente Ricardo III, da Casa dos York, que usava uma rosa branca como símbolo, e os Lancaster, representados pela rosa vermelha.
O reinado terminou de forma trágica nesses campos, na Batalha de Bosworth. Por ter sido derrotado durante uma batalha, Ricardo III caiu em desgraça perante os súditos. O vencedor, Henrique VII, mandou expor o corpo dele durante três dias na cidade de Leicester como sinal de fracasso.
Só depois o corpo foi enterrado nos fundos de um monastério. O problema é que o prédio foi demolido em 1538 e a sepultura ficou perdida por quase cinco séculos. Só foi encontrada onde hoje é um estacionamento, no ano passado.
Os arqueólogos compararam o DNA dos restos mortais encontrados com o DNA de um parente do rei, um marceneiro canadense, descendente da irmã de Ricardo III. E, usando tomografia computadorizada, confirmaram que Ricardo III realmente tinha uma escoliose severa, por isso caminhava meio torto.
A tecnologia também permitiu construir o que teria sido o rosto do rei - as pinturas existentes foram feitas anos depois da morte dele. A imagem computadorizada - feita a partir do crânio - mostra uma face bem mais simpática. “Era muito mais bonito do que se pensava”, reconhece a pesquisadora.
O crânio também revelou que o ferimento fatal foi um golpe atrás da orelha direita. Isso causou um traumatismo.
Com uma réplica da caveira na mão, o prefeito de Leicester se orgulha da descoberta. “Agora, vamos poder faturar turisticamente”, diz ele. O prefeito se apressou em inaugurar um museu sobre o rei, antes que a cidade de York fizesse algo parecido.
York, 150 quilômetros ao norte de Leicester, também reivindica o direito de sepultar os restos mortais de Ricardo III, isso porque o rei era da Casa de York. “Vamos ganhar essa batalha contra York e vamos enterrar os restos mortais de Ricardo III embaixo dessa lápide, em uma cerimônia à altura da realeza”, diz o cônego.
Na peça de Shakespeare, Ricardo III é famoso pela frase: “Um cavalo, meu reino por um cavalo”. O rei estava sozinho no meio da batalha e o cavalo dele, morto. Ele tinha que fugir, mas acabou brutalmente assassinado. Agora, finalmente encontrado, o rei só precisa de um lugar para descansar para sempre.