Kevin de Bruyne: como o belga virou um dos melhores do mundo

Foi na Copa do Mundo da Rússia que Kevin de Bruyne deixou seu nome na história do futebol brasileiro. A bomba no canto direito do goleiro Alisson ajudou a Bélgica a eliminar o Brasil nas quartas de final.

Liderando sua seleção ao 3º lugar e eleito para a seleção de melhores do torneio do site da FIFA, De Bruyne completava ali um ano mágico, de conquistas, de um enorme crescimento dentro de campo, e de afirmação, como um dos melhores jogadores do mundo.

A história do belga até esse posto quase unânime não é das mais tradicionais para o futebol, com seis times na bagagem antes do seu ápice. É só lembrar como Messi, Cristiano Ronaldo, Neymar e Mbappé, para ficar somente em alguns, passaram por somente um ou dois times antes de alcançarem o reconhecimento mundial.

Acontece que, nessa trajetória, De Bruyne foi deixando sua marca pelo futebol europeu. Por onde passou, colecionou títulos e desavenças, quebrou recordes de transferências, recordes de números de assistências e garantiu prêmios individuais diversos. E jogou muita, muita bola.

A História de Kevin De Bruyne na Bélgica

De Bruyne já parecia convicto de seu potencial desde cedo. Do seu time de infância, o Drongen, saiu por achar os treinos fracos demais. Foi parar na base do Gent, um dos maiores Bélgica, e de lá saiu pouco depois, alegando pouca valorização.

Foi no Genk, com “k” mesmo, que “KDB” começou a sua trajetória no futebol profissional. Jogando mais aberto pela esquerda e fazendo parceria com o atacante Benteke, chamou atenção pela batida na bola, tanto em chutes venenosos quanto em lançamentos primorosos, um aperitivo do que faria em seus grandes momentos do futuro.

Até hoje, aliás, a batida de De Bruyne gera um certo fascínio. Os fisiologistas do City, por exemplo, acham um tanto quanto impossível a força que o meia consegue imprimir na bola, em comparação com sua estrutura muscular.

Eles dão o crédito à maneira com que ele bate na bola, de um gesto técnico tão preciso e tão bem feito que é capaz de criar bombas surpreendentes.

O jovem Kevin usou e abusou de sua batida na bola na temporada 2010-11. Nela, fez seis gols, distribuiu 16 assistências e comandou a criação do Genk, o campeão daquele ano.

O seu desempenho fez barulho, e em 2012, depois de uma breve operação de compra e empréstimo, completou sua transferência em definitivo para o Chelsea.

De Bruyne no Chelsea

O período de De Bruyne no Chelsea é a marca negativa na sua trajetória profissional. Somando duas curtas passagens, totalizou oito meses no clube e apenas nove partidas, três delas na Premier League, três na Copa da Inglaterra e alguns minutos no returno da fase de grupos da Liga dos Campeões 2014-15.

Saiu em definitivo depois de uma briga das boas com José Mourinho. Entre discussões por estatísticas, espaço no time e valorização no mercado, o meia encerrou definitivamente seu período londrino em 2015, transferindo-se para o Wolfsburg, da Alemanha.

As premiações de Kevin De Bruyne na Alemanha

A transferência para o Wolfsburg não foi assim, do nada. Antes, na temporada 2012-13, seguindo um caminho de certa forma muito comum entre os jovens do Chelsea, foi emprestado sem nem entrar em campo pelos Blues, para se desenvolver.

Foi parar, então, no Werder Bremen. Os Verde-e-Brancos alemães não tinham lá um timaço, mas ofereciam ótimas condições para um meia-atacante técnico se desenvolver. O brasileiro Diego que o diga.

Titular e valorizado, De Bruyne fez uma boa temporada pelo Werder, até acima da média do time, que não chegou a brigar contra o rebaixamento, mas estava sempre flertando com ele.

Jogou como meia esquerdo, por vezes mais por dentro, outras mais aberto, mas sempre com liberdade para avançar, e sempre pisando bastante dentro da área. Fez dez gols, deu 9 assistências e foi eleito a revelação da Bundesliga 2012-13.

O primeiro “retiro” alemão aumentou não só poder de confiança de De Bruyne, mas a sua confiança, sua convicção em si mesmo. Tanto que na volta ao Chelsea teve a tal briga com o Mourinho.

Confiança teve também o Wolfsburg, que o arrematou na janela de transferências de janeiro de 2014 por 22 milhões de euros, um recorde do clube à época. Em seis meses, ou 16 jogos, somou 11 participações em gols e se garantiu como titular absoluto.

No seu segundo time alviverde alemão, Kevin de Bruyne arrebentou. Já aclimatado à Bundesliga, e com ainda mais liberdade dentro de campo, o belga usou a camisa 14, mas foi o mais próximo de um camisa 10 do que seria em toda a sua carreira.

Jogando como um ponta de lança, atrás do centroavante Bas Dost, De Bruyne só não fez chover.

Especialista em contra-ataques, somando seus passes e poder de decisão com uma habilidade incrível em achar os espaços e acelerar o jogo, o meia conduziu os Lobos à vice do Campeonato Alemão e às taças da Copa da Alemanha e da Supercopa da Alemanha.

Fez 18 gols e distribuiu 28 assistências, 21 delas na Bundesliga – um recorde no ano de 2015 – e garantiu, aos 24 anos de idade, o prêmio de Melhor Jogador da Alemanha.

Novamente o desempenho de Kevin de Bruyne fez barulho na Inglaterra, só que dessa vez a proposta veio do Manchester City, que o fez, à época, o segundo jogador mais caro da Premier League, por 55 milhões de libras, ou 75,5 milhões de euros.

Dizem os analistas que a temporada inteira no Wolfsburg foi decisiva para essa transação, mas esse jogo em especial, contra a Inter de Milão, na Europa League, foi o divisor de águas:

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A trajetória de de Kevin de Bruyne no Manchester City

De Bruyne chegou em agosto de 2015 no Manchester City. Um ano antes, portanto, da chegada de Pep Guardiola, o homem que mudaria não só sua carreira, como todo o seu clube. Mas já vamos chegar lá.

Na temporada de 2015-16, aquela do título de Leicester, KDB teve um desempenho bastante satisfatório, ainda mais para quem, de certa forma, estreava na liga, e num time notavelmente em fim de ciclo.

Em 41 partidas, foram 28 participações diretas em gols, sendo 15 gols e 13 assistências. O seu grande momento foi numa noite europeia, marcando o gol da vitória contra o PSG, levando os Citizens às semis da Champions League. 

Então, Pep Guardiola chegou. Com muito trabalho a ser feito e entre muitas ideias, incertezas e adaptações, o espanhol tinha uma convicção: Kevin de Bruyne.

Na temporada 2014-15, ou seja, antes de ambos o belga e o espanhol se transferirem para a Inglaterra, duas partidas sacramentaram a enorme admiração do treinador para com o jogador.

A primeira foi em janeiro de 2015, quando De Bruyne fez “só” dois gols e deu uma assistência no Wolfsburg 4 x 1 Bayern, que tirou a invencibilidade dos bávaros na Bundesliga.

Depois, na que seria uma das últimas partidas do meia em solo alemão, a decisão da Supertaça da Alemanha, novamente Wolfsburg x Bayern, novamente com assistência de De Bruyne e novamente com a glória dos Verde-e-Brancos.

Por isso que Guardiola foi tão natural ao falar para seu novo jogador, na primeira conversa entre eles: “Escuta. Você pode ser facilmente um dos cinco melhores do mundo. Top 5. Fácil”.

Kevin De Bruyne e Pep Guardiola durante um treino do Manchester City.
A dupla que mudou a história do Manchester City (Foto: Gazeta/AFP)

No primeiro ano da dupla formada, a visão do treinador não se cumpriu. A temporada 2016-17 foi de transição, de muitos testes e com um elenco longe do que Guardiola acreditava ser ideal.

Tanto que De Bruyne foi colocado em diversas posições, da ala esquerda à ponta direita, e ficou longe de ter o impacto esperado pelos dois. Ainda assim, foram 23 assistências do belga, somando todas as competições.

Em retrospectiva, De Bruyne diz que passar por várias funções o ajudou ser um melhor jogador, um melhor organizador dentro de campo.

O “estágio”, somado ao posicionamento em que atuou numa goleada da Bélgica pelas eliminatórias para a Copa do Mundo de 2018, foram as bases do seu repaginamento no City, o primeiro passo para se tornar um dos melhores meias do futebol mundial.

O Maestro Kevin De Bruyne

Foi logo na estreia da Premier League 2017-18 que tanto o Manchester City quanto Kevin De Bruyne mostraram o que estaria por vir.

O documentário All Or Nothing, produzido pela Amazon Prime, retrata bem os bastidores, a emoção e a importância que foi a vitória contra o Chelsea, o campeão da edição anterior do Campeonato Inglês.

Mas o que importa é dentro de campo. Lá, De Bruyne deu show, conduzindo os Citizens como um verdadeiro maestro, com toques curtos, movimentação inteligente e uma visão completa de todo o jogo.

Quando o negócio apertou, lá estava ele para fazer o gol da vitória, num belo chute de esquerda, depois de tabelar com Gabriel Jesus.

Começa nessa partida a versão de Kevin De Bruyne que até hoje encanta os gramados ingleses, a fase final da transformação preparada por Pep Guardiola.

O treinador espanhol pegou um jogador com já excelentes atributos técnicos, como os passes e chutes que dava no Campeonato Belga, com uma visão, um posicionamento e um poder de decisão acima da média, desenvolvidos no Campeonato Alemão, e o fez enxergar o jogo como ele.

Mikel Arteta, hoje técnico do Arsenal e na época assistente técnico de Guardiola, dizia que antes De Bruyne era capaz de achar um espaço livre no campo e acelerar o jogo.
Daquele jogo contra o Chelsea em diante, ele passou a criar esses espaços, e ter seis marchas para escolher, para acelerar, cadenciar, controlar o jogo.

Esse seu segundo ano de City, assim como foram seus segundos anos na Bélgica e na Alemanha, foi de um desempenho avassalador. Sob sua regência dentro de campo, os azuis de Manchester pareciam uma máquina, envolvendo adversários e marcando gols com enorme facilidade.

Assista ao seu espetáculo na goleada do City contra o Leicester por 5 a 1, em que fez um hat-trick de assistências e deu mais cem toques na bola:

O saldo de 2018-19: 52 jogos, 12 gols, 21 assistências, e o melhor jogador de um Manchester City campeão da Copa da Inglaterra e da Premier League, com inigualáveis 100 pontos.

Só não ficou com o prêmio de Melhor do Ano porque o egípcio Mohamed Salah, do Liverpool, marcou incríveis 32 gols e quebrou o recorde de artilharia num único Campeonato Inglês.

A Copa do Mundo e as lesões de Kevin De Bruyne

Todo auge, infelizmente, tem o seu declínio. Para De Bruyne, ele foi físico. Depois de um bom desempenho na Copa da Rússia, com tamanho nível de entrega que motivou o City a adiar a sua volta aos gramados – perdendo, inclusive, a Community Shield 2018-19 – o meia sofreu com seguidas e intermináveis lesões.

Mal participou da campanha do bi da Premier League, atuando em apenas 19 jogos, poucos deles por mais de de 60 minutos, e menos ainda nos 90 minutos completos. Ao todo, foram 29 jogos fora.

Nos 32 em que esteve presente, foram seis gols e onze assistências. E mesmo assim, conseguiu ser decisivo, com um gol, uma assistência e regência da goleada do City sobre o Watford na final da Copa da Inglaterra, o título que garantiu ao Manchester City o inédito feito de conquistar todos os campeonatos nacionais em uma única temporada inglesa.

Na Copa do Mundo de 2022, a Bélgica de De Bruyne não conseguiu ter o mesmo bom resultado que em 2018 e terminou sendo eliminada ainda na primeira fase.

O futuro de Kevin De Bruyne

2019-2020 definitivamente não foi dos melhores anos do City. Pior: foi o ano do Liverpool, seu rival em forças há pelo menos dois anos, e que confirmou o título da Premier League, depois de uma fila de 30 anos.

Mas foi o ano de Kevin De Bruyne. Melhor adaptado à nova condição física, o meia voltou a jogar tudo o que sabe, com muita inteligência, passes e decisão.

Bateu um recorde de assistências na Inglaterra, ao distribuir mais de 15 delas por três anos consecutivos. Já passou de 30 a sua soma de participações diretas em gols, e igualou as 20 assistências de Thierry Henry numa única edição do Campeonato Inglês.

E tem ainda a Liga dos Campeões. O Manchester City esteve muito próximo de ganhar a competição pela primeira vez em sua história. Na ocasião, foi na temporada 2020/21, mas perdeu para o Chelsea na decisão por 1 x 0.

Já na 2022/2023, o belga finalmente venceu a competição pela primeira vez em sua carreira e também a do clube. O Manchester City venceu a Inter de Milão na decisão em Istambul e ficou com o título.

Na mesma temporada, a equipe azul conquistou também a Premier League e a Copa da Inglaterra. Dessa forma, vencendo a tríplice coroa, igualando o feito do rival, Manchester United, que levou as três competições na temporada 1998/1999.

 

Tudo sobre Kevin De Bruyne: times, títulos e prêmios

Times:

  • Genk (2008-2012)
  • Chelsea (2012-2014)
  • Werder Bremen (2012-2013)
  • Wolfsburg (2014-2015)
  • Manchester City (2015 -)

Títulos:

  • Campeonato Inglês (2018, 2019, 2021, 2022, 2023)
  • Campeonato Belga (2011)
  • Copa da Inglaterra (2019, 2023)
  • UEFA Champions League (2023)
  • Copa da Liga Inglesa (2016, 2018, 2019, 2020, 2021)
  • Copa da Inglaterra (2019, 2023)
  • Copa da Alemanha (2015)
  • Copa da Bélgica (2009)
  • Supercopa da Inglaterra (2019)
  • Supercopa da Alemanha (2015)

Prêmios

  • Melhor Jogador da Alemanha (2015)
  • Revelação Alemanha (2013)
  • Equipe do Ano da UEFA (2017, 2019, 2020)
  • Jogador do ano da Premier League (2020, 2022)

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