Batman: Arkham Knight - Review

Entrei na feira da fruta

Santa recauchutagem, Batman! Na nova geração de videogames, o Cavaleiro das Trevas chega chutando a porta com os dois pés, dando um soco na boca do estômago de capangas desavisados e ainda tem tempo para dar um rolê por Gotham City em seu batmóvel, uma das novidades de Batman: Arkham Knight. O game é intenso.

O teste do jogo foi realizado no Xbox One e não foram encontrados problemas como os da versão de PC.

O jogo não traz inovações quando o compararmos com os três títulos anteriores da franquia da Warner Games. Entretanto, ele se utiliza dos melhores elementos de gameplay criados para a franquia e os aprimora, colocando-os em um ambiente extremamente detalhado, fruto das capacidades gráficas do PC, Xbox One e PS4.

A soma disso tudo é um game do Homem-Morcego robusto, com muito conteúdo para explorar em um mundo aberto e com uma história excelente, que me "obrigou" a esquecer as dezenas de boas missões secundárias apenas para saber o que iria acontecer em seguida. É o game que todo o fã da série Arkham esperou, além de ser um título digno da nova geração de consoles.

Tá a mando do Bátima?

Em Batman: Arkham Knight, o herói está bem mais experiente depois dos eventos do primeiro e do segundo jogos da franquia -- e também se contrapõe ao personagem no início de carreira de Arkham Origins, a "prequel" da série.

Você já começa o game poderoso, repleto de habilidades dos títulos anteriores, como o propulsor do bat-gancho para poder planar por mais tempo e o lançador de cabo, para atravessar uma corda entre dois pontos e dar uma vantagem estratégica no combate. E, claro, há o batmóvel, que funciona mais ou menos como um acessório do cinto de utilidades do personagem, sobre o qual falarei mais adiante.

O nível de detalhamento do Cavaleiro das Trevas é incrível. O uniforme é repleto de apetrechos e, já que não para de chover em Gotham City, o traje está sempre molhado -- o efeito usado para mostrar as gotas da chuva na capa é perfeito. Assim como nos títulos anteriores, a roupa do Morcego começa a ficar toda marcada, cortada e esburacada como resultado das centenas de batalhas durante toda a aventura. A sensação é a de que eu realmente estava assistindo a um filme, tamanha a complexidade visual.

Contra os capangas, os movimentos do herói são sempre os mesmos, e as lutas coreografadas exigem pressionar os botões de ataque e de contra-ataque nos momentos certos para criar longos combos. Em Arkham Knight, os combates não mudam de modo significativo. Há, no entanto, maior fluidez de movimentos e maior precisão na hora de selecionar os inimigos a serem atacados. Há um novo movimento que permite nocautear até quatro inimigos rapidamente e sem ativar o alerta quando uma barra especial fica preenchida -- lembrando que o Batman não mata ninguém. É um bom modo de entrar em uma área difícil de ser atravessada.

Estão de volta os combates dentro de ambientes, que permitem usar recursos do Homem-Morcego para deixar os adversários com medo. O gameplay não mudou, e você ainda terá de usar o gancho para mudar de posição no alto do cenário a todo o instante, mas o design destes níveis é outro. Há locais com menos lugares para se esconder e outros em que os inimigos estão tão bem posicionados que é difícil traçar a estratégia para eliminá-los. Por conta desse novo design, fiquei um pouco confuso em saber o que fazer, algo que não se tornou problema ao jogar o game por mais tempo. A curva de aprendizado é boa: quem já tem experiência na série não terá dificuldade alguma e quem é novato tem um excelente título para começar. Quem sabe a Rocksteady não decide lançar uma versão remaster com os três games anteriores para você curtir toda a saga?

Claro que, conforme se completa missões principais, secundárias e outros objetivos, o jogador ganha pontos para aprimorar habilidades e bugigangas do herói. Novos acessórios também aparecem conforme a aventura avança, o que "obriga" o jogador a voltar em áreas anteriores para desbloquear extras do jogo e novos objetivos.

Também está de volta um modo bem interessante de Arkham Origins: a reconstrução da cena de crimes usando recursos virtuais que recriam a cena. Batman mostra porque é o maior detetive do mundo, buscando pistas que são difíceis de serem vistas sem toda a tecnologia do personagem. É instigante procurar por evidências e, em uma cena específica, ver como um determinado personagem consegue escapar de um acidente.

Este documento não prova nada

Dizem que sou um cara que conta "spoilers" demais. Por isso, vou evitar falar muito sobre o enredo do game aqui. Direi apenas que Batman estava em mais uma típica noite de combate ao crime quando fica sabendo que o Cavaleiro de Arkham (a tradução de Arkham Knight) quer a sua pele. O personagem-título é um ser misterioso que já tem um passado com o herói e está aliado ao Espantalho -- esse, por sua vez, um vilão que combina com o clima da nova história.

Um disco de missões aparece quando se pressiona o direcional da direita, permitindo selecionar o que fazer em seguida e, desse modo, obter uma indicação no mapa. Você pode fazer apenas a missão principal, no topo deste disco, ou tentar algumas do Charada, do Azrael e de outros personagens, salvar bombeiros em perigo, fazer missões de realidade aumentada (que dão mais pontos de experiência e liberam novos atributos para o herói e seus gadgets) ou até resolver crimes paralelos. Há ainda bombas para desarmar e, conforme se intercepta o rádio da polícia ou dos inimigos, surgem objetivos curtos e rápidos para se cumprir, como impedir um roubo, por exemplo. São estes elementos a mais que expandem a vida útil do jogo. O interessante é que, toda a vez que o jogador seleciona uma missão, o Batman faz um comentário específico, inclusive na versão dublada, trazendo o herói para mais perto do jogador.

Gotham City está bem detalhada e o efeito das luzes dos neons dos prédios na "lente" da câmera do game são bem intensos, criando um ar decadente mas ao mesmo tempo futurista para a ambientação. Ainda sinto falta dos cidadãos andando livremente pela cidade, mas, assim como nos outros games, o contexto da história -- no caso deste jogo, a metrópole está em estado de sítio -- tira as pessoas das ruas, que ficam dominadas por vilões.

A dupla dinâmica?

O modo chamado de dual play tem sua estreia em Arkham Knight e, embora seja muito bom ao permitir que joguemos com outros personagens além do Batman, ele não é inovador e não acrescenta na jogabilidade.

Em determinados momentos e em certas missões, algum personagem irá interagir com o herói e os dois terão de enfrentar uma boa quantidade de capangas. Com isso, ao pressionar LB (no Xbox One, ou L1 no PS4), o jogador pode trocar de personagem e ter seu controle, conhecendo golpes e habilidades de Mulher-Gato e Robin, por exemplo.

O jogo indica os momentos em que a troca é possível e quando ataques em dupla acontecem, no melhor estilo "tag team" do wrestling da WWE ou do TNA. São momentos visualmente incríveis, mas você pode ficar apenas jogando com o Batman que não haverá nenhuma mudança na partida.

O camburão está esperando

Desde os primeiros testes do jogo que incluíam o batmóvel, ficou claro que, ao mesmo tempo em que o veículo seria uma tentativa de inovar a franquia, poderia ser um tiro no pé. A inclusão muda o gameplay, oferecendo combates contra tanques e helicópteros, o que é muito legal e empolgante, mas quebra toda a mecânica da stealth, marca registrada da série. O veículo também faz o jogador usar menos o "voo" de Batman por cima dos prédios, já que a locomoção é mais rápida, mas menos divertida. Além disso, com ele, os inimigos que estão nas ruas fogem, e você perde as lutas que garantem pontos de experiência.

Para dar mais ênfase à introdução do veículo no jogo, o estúdio o tratou como se fosse mais um acessório do bat-cinto de utilidades do herói. Ele é usado para resolver algumas das centenas de quebra-cabeças espalhadas por parte de Gotham City em que o game acontece. O carro tem um gancho com um cabo que derruba paredes ou puxa o asfalto para criar rampas e até desativar bombas. O gancho também conduz eletricidade, gerada quando o jogador acelera o motor do veículo, para desarmar bombas, uma das missões secundárias do título.

O fato de se poder controlá-lo remotamente também abriu um leque de possibilidades aos desenvolvedores de criar quebra-cabeças de fritar o cérebro. Batman pode estar longe e seguro enquanto o veículo enfrenta ameaças ou até abre caminho para o herói. Quando você o controla nesse modo, no entanto, a tela fica mais turva e com uma leve estática na imagem, justamente para diferenciar o visual de quando Batman está no volante.

O estúdio Rocksteady optou por fazer do batmóvel um tanque de guerra, mas os controles poderiam ser mais amigáveis. Não é nenhum problema poder usá-lo para destruir drones terrestres e aéreos do Cavaleiro de Arkham usando um canhão ou uma metralhadora, mas é o modo como o jogador ativa este recurso que atrapalha. Ingenuamente, talvez, foi escolhido que pressionar e segurar o gatilho da esquerda seria o comando para que o carro mudasse de forma e se torne uma máquina de guerra. Entretanto, este é o comando de 99% dos jogos de corrida, o que provoca uma série de erros por parte do jogador nos momentos mais cruciais. O botão X (quadrado no PS4) é o freio, enquanto o gatilho da direita é o acelerador. A opção foi por criar um estilo de controle similar aos dos FPS, em que o gatilho da esquerda ativa a mira do carro. Na minha opinião, seria melhor e mais intuitivo pressionar o X para ativar e desativar o modo de combate.

A boa notícia é que você pode mudar esse esquema. Depois de ir à sede da polícia da Gotham pela primeira vez, vá aos menus e mude a opção Battle Mode Toggle, fazendo o RB (ou R1) ser o botão que ativa a mudança do carro para tanque, tornando o gatilho da esquerda o freio. Mas mesmo assim, o controle do carro deixa a desejar.

Os combates com o Batmóvel têm bons efeitos visuais -- as partículas e faíscas voam pelos ares -- e parece que estamos dentro da armadura do Homem de Ferro: aparecem traçados dos tiros dos adversários, o que permite poder desviar deles, pistas a serem seguidas e o caminho para se chegar à missão. Mas mesmo com dezenas de veículos para abater, os combates se tornam repetitivos e, mais pra frente no game, usei o batmóvel apenas quando fui obrigado. Preferi ficar voando com o morcegão.

Modere o seu linguajar, por favor

É inquestionável que o uso dos dubladores oficiais dos super-heróis nos desenhos e filmes em vez de atores, cantores ou humoristas aumenta muito a qualidade do que ouvimos no game. É muito bom ver adaptações de termos e brincadeiras do que apenas uma tradução simples, sem nenhuma entonação ou emoção. Se eu tivesse que dar um exemplo do que é uma bom trabalho neste quesito para alguém, mostraria Arkham Knight, Arkham Origins e Injustice.


Experiente, o dublador Ettore Zuim retorna ao papel depois de fazer a voz de Christian Bale na saga Cavaleiro das Trevas no cinema e o próprio Homem-Morcego em Batman: Arkham Origins. Minha impressão é a de que ele mudou um pouco o tom do herói, sendo mais parecido com seu trabalho em Injustice: Gods Among Us do que em Arkham Origins, que ficou mais parecido com a dublagem da trilogia de Christopher Nolan.

Márcio Simões volta como o Coringa, dando aquele ar de louco que só ele sabe fazer desde que dublou o Gênio no desenho Aladdin. A química entre os dois é perfeita e fica bem distante de se estar assistindo à Sessão da Tarde. O novo jogo lembra mais um filme da Tela Quente ou do Telecine Pipoca.

O baile dos enxutos

Com tudo o que o jogo oferece de conteúdo, de história -- e pelo menos para mim, de visual --, Batman: Arkham Knight tem um bom custo-benefício pelos R$ 250 que a Warner Games cobra. Caso você goste deste tipo de jogo e da série, você terá muito o que fazer por um longo tempo explorando a cidade e realizando missões paralelas -- e o pacote já traz a história paralela da Arlequina. Jogar com ela é uma experiência muito legal e diferente do herói e ficamos sabendo de algumas coisas que não são tão bem explicadas no enredo principal.

No mais, Arkham Knight é um game que todos os fãs da série certamente vão gostar, mesmo com seus pequenos deslizes. Fica difícil imaginar o que mais vão inventar para explorar a franquia no futuro.

Para quem é este jogo

Quem gosta de games de ação e pancadaria, curtiu os títulos anteriores, é fã de Batman ou quer um bom game para seu videogame de nova geração deve jogar Batman: Arkham Knight. Se você se enquadra em algum desses quesitos, não vai se arrepender.

Prós

  • Gráficos de primeira
  • História interessante
  • Bat-equipamentos
  • Combates mais fluidos
  • Dublagem brasileira

Contras

  • Controle do Batmóvel
  • Pouca inovação

O Veredicto

Melhorando as mecânicas conhecidas da série, usando visual de nova geração e com uma história intensa, Batman: Arkham Knight traz todos os elementos que se esperava e ainda consegue surpreender, mesmo que o batmóvel quebre um pouco da parte furtiva do título. Os jogadores acompanharão o enredo vendo o herói se fortalecer ao longo da história, enquanto tentam segurar seus queixos a cada cena e a cada combate, que tem mais fluidez ao ser comparado com os títulos anteriores. Para incrementar o pacote, a dublagem em português supera a do título anterior da franquia, só aumentando o valor agregado.

Neste Artigo

Batman: Arkham Knight

Rocksteady Studios | 23 de Junho de 2015
  • Plataforma / Tópico
  • PC
  • PS4
  • XboxOne

Review: Batman Arkham Knight

9
Incrível
Com os melhores elementos dos títulos anteriores e visual de nova geração, este é o melhor game de Batman já lançado.
Batman: Arkham Knight
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