Repercussão de mapa-múndi do IBGE com Brasil no centro mostra ‘poder da cartografia’, diz especialista
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Por — Rio de Janeiro

“Grande sucesso.” Nem em anúncio de censo demográfico o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) costuma ser tão efusivo, mas foi esta a expressão usada para anunciar que seu novo mapa-múndi, colocado à venda na terça-feira, esgotou em menos de 24 horas na loja on-line. Novamente disponível, agora em vários tamanhos, o mapa apela ao patriotismo. Com o Meridiano de Greenwich um pouco à direita do usual, ele “mostra o Brasil no centro do mundo”, como sublinhou o presidente do IBGE, Marcio Pochmann, nas suas redes sociais.

E foi nas redes que o assunto bombou, turbinado pela já mapeada polarização política. Houve críticas (“lacração geográfica!”), elogios (“ícone decolonial!”) e ironias de ambos os polos (de “que tal trabalhar?” a “qual o problema, não era ‘Brasil acima de tudo’?”).

Incluída na nova edição do “Atlas geográfico escolar”, editado pelo IBGE, a novidade chega em momento estratégico, quando o governo Lula busca reposicionar o Brasil não só no mapa-múndi, mas no cenário global. Em novembro, o Rio vai sediar a cúpula do G20, grupo das 20 maiores economias do mundo. Em nota, o IBGE afirma que “o mapa é uma oportunidade de mostrar o país de forma singular em relação a esse grupo de países (o G20) e ao restante do mundo”.

Para o historiador inglês Jerry Brotton, professor na Queen Mary University of London e autor de “Uma história do mundo em doze mapas” a repercussão mostra “o poder da cartografia”.

— Ninguém ligaria se uma autoridade declarasse “o Brasil está no centro do mundo. Mas mostrar o mapa e dizer “olhe, aqui está o Brasil, bem centro do mundo”, é algo palável, poderoso, mexe com a imaginação — diz Brotton, ressaltando que o país não é o primeiro nem será o último a se colocar no meio do mapa.

Questão de ponto de vista

Desde que o mundo é mapa, as nações buscam passar mensagens pela representação geográfica. Na época do Império Romano, por mais terras que os legionários conquistassem e encontrassem, Roma, “a cidade eterna”, nunca saiu do centro do planisfério. Depois, com a ascensão do Cristianismo e do Islamismo, eram Jerusalém e Meca que se revezavam no ponto central.

Mais tarde, a descoberta da América trouxe um dilema aos cartógrafos: havia todo um Novo Mundo ao Oeste, mas o Velho Mundo precisava continuar em destaque. Resultado: por séculos, os mapas-múndi mostravam uma Europa maior do que é — nem que fosse preciso espremer a América e o Oriente, como em um conhecido mapa alemão de 1507.

Já no século XX, com novos países disputando o protagonismo internacional, foram surgindo mapas como os desta página e da anterior, que rompiam com o modelo eurocêntrico. Na Rússia é popular o planisfério que desloca Greenwich para a esquerda, traz Moscou para o centro e inventa um oceano entre a Sibéria e o estado americano do Alaska, na realidade seprados por meros 80 km. A Marinha da Argentina virou o globo, pondo o Sul no centro, e o mapa-múndi do Japão mostra o país no centro e o Pacífico por inteiro. Já a China criou um (à direita) que mescla projeções para fazer jus seu nome tradicional: “Império do Meio”.

Para além da cartografia, um ícone das artes é a “América invertida” (1943) do uruguaio Torres Garcia, que traz o mapa sul-americano com o sul no topo.

— Como a Terra é uma esfera, o centro de qualquer mapa-múndi é uma escolha. Inclusive, o meridiano zero só passa por Greenwich, em Londres, graças ao lobby do Império Britânico quando o traçado foi definido, em 1884 — explica Brotton, que em setembro lança o livro “Four points of the compass” (“Quatro pontos da bússola”, em tradução livre).

Política externa

Lobby por lobby, Roberto Olinto Ramos, presidente do IBGE entre 2017 e 2019, lembra que o próprio órgão já havia colocado o Brasil no centro do globo. Foi na 4ª edição do atlas do instituto, de 2007:

— Não é inédito destacar o seu país em um mapa-múndi, tanto que já fizemos.

Na época, o Brasil vivia o segundo mandato de Lula, que tinha e ainda mantém sua intenção de conseguir para o Brasil um assento no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). Note-se que em sua postagem sobre o nova carta geográfica, o presidente do IBGE usa uma expressão popularizada pelo antigo Ministro das Relações Exteriores de Lula, o até hoje influente Celso Amorim: “A emergência do Sul Global acompanha o reposicionamento do Brasil no mapa-múndi”, escreveu Márcio Pochmann.

Paulo Marcio Leal de Menezes, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenador do GeoCart (Laboratório de Cartografia), concorda. Para ele, o mapa “brasilcêntrico” pode favorecer o país de maneira mais ampla.

— Este novo mapa-múndi modifica a visão eurocêntrica. Dará uma posição melhor do Brasil para o mundo.

Professor do Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio, Márcio Scalercio conta que se surpreendeu ao saber que “um material didático e, agora, decorativo” estava gerando polêmica.

— No fim, são representações. Tem mapa com a Austrália no centro do mundo. Você imagina a Austrália no centro de alguma coisa? — diz Scalercio.

Em tom mais sério, o professor da PUC-Rio destaca que o novo mapa traz uma “motivação política clara”.

— Ali estão representadas características da política externa do Lula. Vemos os países onde o Brasil tem representação diplomática, uma cobertura que ele ampliou. Também traz o Estado da Palestina ao lado de Israel, bandeira histórica do Itamaraty. E, importante para as relações regionais, mostra como território da Argentina as Ilhas Malvinas (chamadas de Falklands pelos britânicos, que asseguraram o domínio do arquipélago após uma guerra em 1982).

Jerry Brotton ressalta que, na prática, os mapas mais usados no cotidiano já têm centro personalizado: o que surge na tela do celular.

— O centro do mapa é que indica o nosso GPS — diz o historiador. — Mas, mesmo na era do Google Maps, os mapas ainda mantêm o seu valor simbólico.

Colaborou Filipe Vidon

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