CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB
A Comissão Episcopal para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-Religioso da CNBB realiza o Encontro Nacional de Formação e Convivência Ecumênica, entre os dias 13 e 15 de setembro deste ano, em Jundiaí (SP). A atividade terá como tema "De Nicéia, caminhando juntos: rumo à unidade"
O Seminário terá como temática principal "A importância da Catequese na formação do futuro presbítero" e será realizado na Casa Dom Luciano, em Brasília (DF), de 15 a 17 de julho. Seu objetivo é o de reforçar o espaço que a Iniciação à Vida Cristã e a dimensão catequética ocupam na formação dos candidatos ao presbiterato

ARTIGOS DOS BISPOS

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte (MG)

A catástrofe climática no Rio Grande do Sul é estrondoso grito que deve alertar a sociedade brasileira para a necessidade de mudanças no tratamento dedicado ao meio ambiente. Com a tarefa da reconstrução, é muito necessária uma análise crítica inadiável sobre as legislações vigentes, em nível federal e nos âmbitos estaduais. Sabe-se que a lógica cega e perversa do lucro, com justificativas de desenvolvimento econômico, preside escolhas políticas e até decisões judiciais.

Com facilidade, anuncia-se o fim de práticas que ameaçam o meio ambiente, mas o que se verifica é uma simples substituição por outros procedimentos igualmente prejudiciais. Essas substituições são anunciadas como se fossem benéficas a partir de pesado investimento midiático e se efetivam com manipulações nas instâncias decisórias. Nessa lógica, propagandeia-se que o simples tratamento de uma nascente compensa graves prejuízos provocados a um determinado sistema hídrico, desconsiderando sua fundamental importância no abastecimento de água. Justifica-se o dano causado ao meio ambiente defendendo a geração de empregos, mas são desconsideradas as perdas maiores causadas pelo assoreamento e a extinção dos cursos d’água. Ainda há, pois, uma incompreensão a respeito do que significa ecologia integral.

A ecologia integral deve constituir um estribilho que precisa ser cantado diariamente, na contramão de uma busca por excessivo lucro que, apesar de parecer caminho para o desenvolvimento, apenas enriquece oligarquias, deixa rastro de destruição que leva a catástrofes climáticas, a incontáveis tragédias. Reconhecer o significado de ecologia integral é perceber que cada intervenção no meio ambiente desencadeia muitas transformações, pois tudo está interligado.

Quando essa verdade é reconhecida, percebe-se que nada pode justificar um procedimento minerário que ameaça bacias hídricas, por exemplo. Mas grande parte dos megaempreendimentos não considera as relações entre os seres vivos e o planeta. Por isso, convive-se com a gestação silenciosa de catástrofes, acentuando ainda cenários de exclusão social. Uma sociedade, para sobreviver, deve criticamente discernir sobre seus modelos de produção e consumo. Esse discernimento exige honestidade nas considerações e na apresentação de projetos ligados à exploração da natureza.

A sociedade brasileira ainda tem muito a aprender sobre a sua relação com o meio ambiente, para inspirar mudanças na conduta cidadã e nas legislações vigentes. O Papa Francisco, na Carta Encíclica Laudato Si’ – sobre o cuidado com a casa comum, faz importante advertência: conhecimentos fragmentários e isolados podem se tornar ignorância. É preciso reconhecer que, no planeta, tudo se interliga, inclusive as relações.

Nesse sentido, a economia não pode ser considerada como uma realidade separada das relações ambientais, sob pena de contaminações perigosas, prejuízos graves, com consequências irreversíveis, principalmente a perda de vidas. Deve-se levar em conta a íntima relação entre crise ambiental e crise social, conforme ensina a Laudato Si’. Os sistemas naturais estão conectados com os sistemas sociais. Dissociá-los leva a escolhas equivocadas, a permissividades que se desdobram em manipulações. O que se vive na atualidade é uma crise não simplesmente social ou ambiental, mas socioambiental. A superação dessa crise exige, pois, um abrangente entendimento sobre o conjunto de problemas para que sejam alcançadas propostas de soluções.

Imprescindível e honesto é considerar o impacto ambiental de um empreendimento a partir da necessária capacidade para ouvir: abrir-se à consideração de pesquisadores, ao diálogo transparente envolvendo diferentes públicos e à sensibilidade de cada cidadão. Deve-se reconhecer também o que ensina o Papa Francisco – cada organismo é essencial por ser criatura de Deus.

Da mesma forma, deve-se considerar o conjunto harmônico dos organismos. Criar desarmonia entre os elementos que integram o planeta traz consequências para a existência humana e pode configurar catástrofes. Essencial é valer-se dos recursos naturais de modo sustentável, o que exige considerar a capacidade regenerativa de cada ecossistema. O crescimento econômico não pode ser uma prioridade formatada com sacrifícios ao meio ambiente. Proteger o meio ambiente é um imperativo na garantia do desenvolvimento econômico sustentável.

Ainda é considerável a distância entre a busca pelo desenvolvimento econômico e a adequada postura diante da necessidade de se preservar o meio ambiente. Pode até ser mais fácil visar somente o lucro, mas, cedo ou tarde, a desconsideração sobre a natureza irá trazer consequências na saúde das instituições, pois impacta gravemente na vida humana. Inteligente e interpelante, conforme sublinha o Papa Francisco, é reconhecer que tudo que fere a solidariedade e a amizade cívica provoca danos ambientais. Assim, é preciso reconfigurar legislações levando-se em conta a ecologia integral, para corrigir descompassos agravados por manipulações, interesses egoístas e exercícios inadequados do poder.

As violações do meio ambiente continuam perpetradas sob a “vista grossa” de legislações permissivas e insuficientes, com autoridades “mudas”, em uma sociedade ainda despreparada para zelar adequadamente por seu patrimônio ambiental. É necessário investir na educação ecológica enquanto se trabalha para reconstruir aquilo que já foi destruído. Isto significa buscar aprender mais sobre a melhor forma de se relacionar com a natureza, cultivando a humildade para tratar o meio ambiente com reverência. Um caminho essencial para vencer a sedução do lucro que impõe sacrifícios ao planeta e qualificar o exercício da cidadania.

 

Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo (RS)

O Tempo da Páscoa culminou com a festa de Pentecostes, que faz memória do envio do Espírito Santo prometido por Jesus que faz compreender tudo que foi ensinado por ele e orienta sempre para Deus e ao próximo. A liturgia da Igreja prevê nos próximos dias três solenidades: Santíssima Trindade, neste domingo; na próxima quinta-feira Corpus Christi e na semana seguinte a festa do Sagrado Coração de Jesus.

Cada uma destas solenidades evidencia uma perspectiva do Mistério da fé cristã: ou seja, a realidade de Deus Uno e Trino, o Sacramento da Eucaristia e o centro divino-humano da Pessoa de Cristo. São aspectos do Mistério da Salvação, que num certo sentido resumem a vida de Jesus Cristo: o Natal, a pregação misericordiosa, a morte de cruz, a Ressurreição, a Ascenção e o dom do Espírito Santo.

A solenidade da Santíssima Trindade conduz o fiel a mergulhar na intimidade de Deus revelado por Jesus Cristo. Insistentemente Jesus afirmou que foi enviado pelo Pai, realizava a sua vontade, que era a imagem do Pai e que o Espírito Santo é enviado por ambos para continuar a mesma obra.

Por fim, quando Jesus Cristo confia aos apóstolos a mesma missão que estava realizando, ordena: “Portanto, ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei! Es que estarei convosco todos os dias, até o fim do mundo” (Mateus 28, 19-20).

“Para quem tem fé, todo o Universo fala de Deus Uno e Trino. Desde os espaços interestelares até às partículas microscópicas, tudo o que existe remete a um Ser que se comunica na multiplicidade e variedade dos elementos, como numa imensa sinfonia. Todos os seres são ordenados segundo um dinamismo harmonioso que, analogicamente, podemos definir “amor”.

Mas somente na pessoa humana, livre e racional, que este dinamismo se torna espiritual, se faz amor responsável, como resposta a Deus e ao próximo, num dom sincero de si. Neste amor o ser humano encontra a sua verdade e a sua felicidade” (Mensagem de Bento XVI, na Festa da Santíssima Trindade -11/06/2006).

O cristão crê e afirma que “Deus é amor” (1 João 4,8). É fonte de vida que se doa, se comunica sempre e “nele vivemos, nos movemos e existimos” (Atos 17,28). Diante disso, cada pessoa e, e com maior responsabilidade, cada cristão deve viver em relação para amar e ser amado.

Neste tempo de catástrofes, focando particularmente o Rio Grande do Sul, percebemos que somente o amor salva, pois forma comunidade e nos faz responsáveis pelo outro. A opção pelo outro sempre deve ser livre e racional para ser verdadeiro amor. Cria-se comunhão, pois todos pertencemos uns aos outros. Não somos estranhos ou inimigos dos conhecidos ou desconhecemos, dos distantes ou dos próximos, mas somos todos irmãos.

O Papa Francisco, na carta ecncíclica Fratelli Tutti sobre a amizade social, escreve: “Desejo ardentemente que, neste tempo que nos cabe viver, reconhecendo a dignidade de cada pessoa humana, possamos fazer renascer, entre nós, um anseio mundial de fraternidade. Entre todos: Aqui está um ótimo segredo para sonhar e tornar a nossa vida uma bela aventura. Ninguém pode enfrentar a vida isoladamente; precisamos duma comunidade que nos apoie, que nos auxilie e dentro da qual nos ajudemos mutuamente a olhar em frente”. […] Sonhemos como uma única humanidade, como caminhantes da mesma carne humana, como filhos desta mesma terra que nos alberga a todos, cada qual com a riqueza da sua fé ou das suas convicções, cada qual com a própria voz, mas todos irmãos (n. 8).”Cuidar do mundo que nos rodeia e sustenta significa cuidar de nós mesmos. Mas precisamos de nos constituir um ‘nós’ que habita a casa comum” (n.17).

A festa da Santíssima Trindade e todas as relações ajuda com o próximo, em tempos de catástrofes ou na rotina da vida, sejam de grande porte ou pequenas, são um apelo de conversão para o “nós”. O oposto que é o individualismo, a indiferença, a frieza agride e destrói.

Dom João Santos Cardoso
Arcebispo de Natal (RN)

Em preparação ao Jubileu de 2025, com o tema “Peregrinos da Esperança”, este ano está sendo dedicado à oração. O Papa Francisco, em suas catequeses nas Audiências Gerais de 2020-2021, oferece valiosos ensinamentos sobre a oração que podem nos ajudar a celebrar o ano jubilar.

Em sua catequese de 21/04/2021, o Papa Francisco nos ensina que a oração é um diálogo com Deus. Este diálogo não se limita a momentos específicos, mas permeia toda a existência, transformando cada alegria e cada tristeza em temas de nossa conversa com Deus. A Palavra divina se fez carne e, na carne de cada ser humano, a palavra retorna a Deus pela oração.

A primeira oração do ser humano é sempre vocal, e embora saibamos que rezar não signifique simplesmente repetir palavras, a oração vocal é a forma mais segura e sempre disponível para todos e pode ser praticada a qualquer momento, proporcionando segurança nas dificuldades. Entretanto, rezar não é uma tarefa fácil! Na catequese de 19/05/2021, o Papa Francisco identifica as principais dificuldades na oração, como a distração, a aridez e a acídia.

Na distração, a mente humana tende a se dispersar, e manter a concentração na oração pode ser um grande desafio. Na aridez, são comuns períodos de secura espiritual, onde a oração parece desprovida de consolação. As razões para a aridez podem ser variadas e muitas vezes desconhecidas, podendo depender de nós ou de Deus. A vida de fé alterna entre momentos de consolação e desolação. Sentir-se abatido é comum, mas o perigo reside em permitir que essa sensação cinzenta tome conta do coração, impedindo a oração e a consolação.

Durante esses tempos, a fé pura e a perseverança são fundamentais para superar a aridez e manter o coração aberto para receber a luz do Senhor, aguardando-a com esperança. A acídia, ou preguiça espiritual, é a principal tentação contra a oração. Trata-se de uma espécie de depressão que surge do relaxamento da ascese, frequentemente alimentada pela presunção, e que pode levar à morte da alma.

Para superar essas dificuldades, é necessário: manter a fidelidade na oração, mesmo quando é difícil ou parece infrutífera; buscar a oração comunitária, pois essa pode fortalecer a experiência individual e ajudar a manter a constância; e ter humildade, reconhecendo nossas limitações e nos abrindo à graça de Deus para sustentar nossa vida de oração.

O Papa Francisco aborda várias formas de oração. Na catequese de 28 de abril de 2021, ele discorre sobre a oração de meditação e nos lembra que a sua prática não é exclusiva do cristianismo. A meditação pode ser encontrada em várias religiões e até entre pessoas que não têm uma concepção religiosa da vida, pois todos têm a necessidade de meditar e refletir.

No entanto, a meditação cristã possui uma especificidade: ela é um encontro com o Outro, Deus, através de Jesus Cristo. Diferente de uma busca introspectiva, a meditação cristã envolve a reflexão sobre a Palavra de Deus e busca um encontro profundo com Cristo, guiado pelo Espírito Santo. A prática da meditação cristã pode assumir vários métodos, todos importantes, desde que ajudem a pessoa a se relacionar integralmente com Deus, envolvendo mente, coração e vontade.

Na oração de contemplação, cessam as palavras. Ela se baseia na certeza de que nossa vida está cercada pelo amor fiel de Deus. É semelhante a um ato de fé e amor, um “respiro” da nossa relação com Deus, que purifica o coração e ilumina o olhar, permitindo que vejamos a realidade sob uma nova perspectiva. Na catequese do dia 05/05/2021, o Papa Francisco afirma que “ser contemplativo não depende dos olhos, mas do coração.

E nisto entra em jogo a oração, como um ato de fé e amor, como um ‘respiro’ da nossa relação com Deus”. Citando o Catecismo, ele lembra um famoso testemunho do Santo Cura d’Ars: «A contemplação é o olhar da fé, fixado em Jesus. ‘Eu olho para Ele e Ele olha para mim’ – dizia, no tempo do Santo Cura, um camponês d’Ars em oração diante do sacrário. […] A luz do olhar de Jesus ilumina os olhos do nosso coração; ensina-nos a ver tudo à luz da sua verdade e da sua compaixão para com todos os homens» (Catecismo da Igreja Católica, 2715). Esse olhar de amor mútuo, onde “eu olho para Ele e Ele olha para mim”, transforma a vida e revela um amor fiel que nos rodeia e do qual nada pode nos separar. A contemplação difere da meditação. Enquanto a meditação envolve a mente e a reflexão, a contemplação é uma expressão do coração que se sente visto e amado por Deus.

À medida em que se aproxima o Jubileu de 2025, que este ano dedicado à oração nos conduza ainda mais à intimidade com Cristo, renove nosso coração e alimente nossa esperança.

 

 

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