O advogado que fundou o seu próprio partido e chegou a primeiro-ministro três vezes corre risco de vida depois de ter sido baleado esta quarta-feira após uma reunião do executivo em Handlova.
Robert Fico nasceu em 1964 em Topoľčany, na antiga Checoslováquia, filho de pais da classe operária. Formou-se em Direito pela Universidade Comenius, em Bratislava, com especialização em Direito Criminal, a que se seguiu um doutoramento cuja tese incidiu sobre pena de morte.
Politicamente ativo desde os tempos de faculdade, altura em que se filiou no Partido Comunista, Robert Fico foi advogado do Governo até à queda do regime.
Advogado do Partido Comunista
Chegou ao parlamento esloveno em 1989 como deputado do Partido da Esquerda Democrática (SDL), sucessor do Partido Comunista, e exerceu o cargo de vice-presidente do partido durante um ano, antes de se afastar para fundar a sua própria força política, em 1999.
Robert Fico cria então o partido de esquerda SMER (Direção – Social-Democracia), inicialmente apelidado “partido da terceira via", que em apenas três anos se torna o principal partido da oposição contra o governo de centro-direita.
Entrada na UE
Em 2006 o SMER ganha as eleições em coligação com o Partido Popular e o Partido Nacional Eslovaco. O primeiro mandato de Fico como primeiro-ministro fica marcado pela entrada da Eslováquia na zona euro.
Robert Fico é reconduzido primeiro-ministro em 2012, ano em que o SMER se torna o primeiro governo eslovaco a obter maioria absoluta no Parlamento.
Jornalista assassinado
Depois de falhar uma a candidatura à Presidência, Fico é reeleito chefe do governo em 2016 mas demite-se na sequência do homicídio do jornalista Ján Kuciak e da sua namorada.
Jan Kuciak, de 27 anos, estava a investigar ligações do poder político à máfia e ao crime organizado quando foi baleado com dois tiros no peito no sótão da casa que dividia com a namorada, também assassinada.
Aliança com a extrema-direita e posições pró-Rússia
Como líder da oposição nos anos que se seguiram, Fico questionou o efeito das vacinas anti-Covid-19 e as restrições associadas à pandemia e explorou o descontentamento gerado pela inflação e descida do poder de compra.
Foi eleito novamente primeiro-ministro no ano passado, depois de uma campanha marcada por posições nacionalistas, pró-Rússia e pró-Putin, contra os direitos LGBTQ+ e contra a política de migração e asilo da UE. A coligação com a extrema-direita, que António Costa descreveu como uma "linha vermelha", valeu-lhe a suspensão dos socialistas europeus.
Um dia depois do seu executivo tomar posse, Fico anunciou o fim do envio de armas para a Ucrânia, limitando o apoio dos eslovacos a "ajuda humanitária”.
As políticas do país mudaram muito desde aí e sucedem-se as polémicas, como a ordem de encerramento da Procuradoria Anticorrupção, que investigava casos ligados ao SMER, e intenção de fechar a rádio e televisão públicas.