Premiado com o Oscar de melhor roteiro adaptado em 2015, “O Jogo da Imitação” narra a trajetória de Alan Turing, um matemático brilhante, cientista da computação, criptoanalista, maratonista e um dos grandes gênios do século 20, cuja vida foi marcada tanto por contribuições extraordinárias quanto por uma punição injusta. Se há um lugar reservado para aqueles que sofreram injustiças, Turing certamente merece um destaque especial. Ele desenvolveu uma máquina que decifrou os códigos nazistas na Segunda Guerra Mundial, contribuindo significativamente para encurtar o conflito e salvar inúmeras vidas.
Benedict Cumberbatch, já conhecido por interpretar figuras geniais e socialmente desajustadas como em “Sherlock”, dá vida a Turing, cuja biografia permaneceu obscura por muitos anos. Em 1952, Turing foi condenado à castração química devido à sua homossexualidade, considerada crime na Inglaterra daquela época, conforme uma lei de 1885. Forçado a receber injeções de dietilestilbestrol, uma forma de estrogênio sintético, ele sofreu impotência e profunda degradação física e mental. Além de perder seus cargos oficiais e ser banido dos Estados Unidos, ele enfrentou acusações de espionagem. Esse colapso físico e emocional levou Turing ao suicídio por ingestão de cianeto em junho de 1954.
Cumberbatch entrega uma performance que captura tanto a arrogância quanto a vulnerabilidade de Turing, explorando os diferentes estágios de sua vida, desde sua descoberta sexual e relação com Joan Clarke (Keira Knightley), até sua decisiva atuação durante a guerra. O roteiro, em forma de quebra-cabeça, segue três linhas temporais que se entrelaçam para revelar momentos cruciais de sua vida e legado.
A produção se destaca como um thriller envolvente e complexo, que homenageia a genialidade de Turing e suas contribuições científicas, reconhecendo-o como herói. Postumamente, em 2013, a rainha concedeu-lhe o perdão por sua “indecência grosseira”, um reconhecimento tardio da injustiça sofrida. O desenlace de sua vida, muitas vezes parece uma cruel ironia do destino.
Na interpretação de Cumberbatch, vemos um Turing multifacetado, cujas contribuições vão muito além da decodificação de mensagens. Ele é retratado como um pioneiro da informática, cujas ideias formaram a base do que hoje entendemos como computação moderna. A parceria com Joan Clarke não é apenas um aspecto romântico, mas também um reconhecimento da inteligência e capacidade de Clarke em um ambiente predominantemente masculino.
A narrativa de “O Jogo da Imitação” não se limita à luta de Turing contra os códigos nazistas. O filme explora sua batalha pessoal contra um sistema opressor e uma sociedade que o marginalizava por sua orientação sexual. A construção do roteiro reflete essa dualidade, alternando entre momentos de triunfo científico e profundos dilemas pessoais, criando uma experiência cinematográfica rica e complexa.
Os cenários e a direção de arte reforçam a atmosfera da época, transportando o espectador para os bastidores da Segunda Guerra Mundial e o ambiente acadêmico onde Turing trabalhava. A trilha sonora, composta por Alexandre Desplat, complementa a narrativa com uma sutileza que intensifica tanto os momentos de tensão quanto os de introspecção.
“O Jogo da Imitação”, na Netflix, é, portanto, mais do que um retrato biográfico; é uma reflexão sobre os paradoxos da genialidade e da fragilidade humana. A redenção póstuma de Turing e o reconhecimento de sua importância histórica são um lembrete das injustiças que ele enfrentou, mas também um tributo ao impacto duradouro de seu trabalho. A produção nos leva a questionar a maneira como a sociedade trata seus visionários e o preço que muitas vezes pagam por estarem à frente de seu tempo.
O filme serve como um importante lembrete de que o progresso muitas vezes vem acompanhado de sacrifício e incompreensão. A vida de Alan Turing, marcada por grandes vitórias e profundas injustiças, ecoa como uma história de resistência e legado, incentivando-nos a valorizar e proteger aqueles que, como ele, mudam o mundo com suas ideias.
Filme: O Jogo da Imitação
Direção: Morten Tyldum
Ano: 2014
Gênero: Biografia / Thriller/ Drama
Nota: 10/10
