D. Maria II

(1819-1853)

Patrono do Curso de 2012

 

Quando, a 4 de abril de 1819, nasceu no Rio de Janeiro D. Maria da Glória, futura Rainha D. Maria II, filha do então Infante D. Pedro, que seria o Rei D. Pedro IV de Portugal, e da arquiduquesa Dona Leopoldina de Áustria, o Reino encontrava-se ainda a recuperar da devastação provocada pelas Invasões Francesas, que tinha motivado a deslocação, em 1808, da Casa Real Portuguesa para o Brasil. A possibilidade dessa colónia caminhar para a independência, levam D. João VI, avô de D. Maria, a retardar o regresso da Corte à Europa. Contudo, em 1821, apesar desta divisão de interesses e vontades, agravada pelo conflito entre liberais e absolutistas, que lacerava a própria Casa Real, a Coroa acaba por regressar a Portugal.

É nesta complicada teia política e com apenas sete anos, que o seu pai abdica, em abril de 1826, do trono de Portugal a seu favor, numa tentativa de evitar o confronto entre as fações liberais e absolutistas que dividiam, na época, o Reino e a Europa. Neste sentido, estava previsto que a futura rainha, logo que tivesse maior idade, casasse com o seu tio, D. Miguel, entretanto nomeado, em julho de 1826 regente e lugar-tenente do Reino. Contudo, após este assumir a regência ao chegar a Lisboa, em janeiro de 1828, o projeto de matrimónio depressa foi esquecido. Perante a perspetiva de fracasso do acordo, D. Maria, que tinha permanecido no Brasil, viajou para a Europa em julho de II - 18 1828, mas com os grupos políticos, entretanto em confronto, viu-se impossibilitada de entrar no seu futuro Reino. Só a 23 de setembro de 1834, com o fim da Guerra Civil e já com quinze anos de idade, é que pisa pela primeira vez solo português e inicia o seu reinado.

Casa em 1 de dezembro 1834 com Augusto de Leuchtenberg, neto da Imperatriz Josefina, primeira mulher de Napoleão Bonaparte, mas este viria a falecer logo em março do ano seguinte. Volta a casar em 9 de abril de 1836, com Fernando de SaxeCoburgo-Gotha, irmão de Leopoldo I, rei dos Belgas e primo do príncipe Alberto, marido da Rainha Vitória da Inglaterra.

Ao longo de quase todo o reinado sucederam-se graves acontecimentos políticos, tendo D. Maria II, logo de início, se deparado com um reino mergulhado em antagonismos ideológicos e ambições rivais que originavam fraturas sociais e crises políticas profundas.

Neste complexo ambiente sociopolítico, a monarca entre cedências e resistências, e mesmo perante todas as adversidades, demonstrou sempre grande firmeza e habilidade política na defesa das prerrogativas reais e a legalidade constitucional.

Apesar de todas as dificuldades, esta também foi uma época em se deu uma modernização marcante de Portugal, bem visível nas políticas de saúde e de obras públicas de Costa Cabral, na remoção das antigas estruturas feudais, nas importantes reformas do ensino e instrução, na abertura económica e na internacionalização do País, nos projetos coloniais e marítimos de Sá da Bandeira, na estabilização política e no início de um dos períodos mais prósperos de Portugal com a Regeneração, em 1851. D. Maria II foi cognominada de A Boa Mãe, em face da aprimorada educação que dispensou aos seus sete filhos ou de A Educadora, devido às grandes reformas que tiveram lugar durante o seu reinado no campo do Ensino e da Educação.

Entre essas alterações destaca-se a criação de um ensino técnico e politécnico e a profunda reforma do ensino naval com a instituição da moderna Escola Naval. Esta reforma iniciou-se em 1836, após a Revolução Setembrista ter colocado no poder Sá da Bandeira e Passos Manuel, os quais deram início a uma série de mudanças estruturais. É neste âmbito que, em 11 de janeiro de 1837, foi criada a Escola Politécnica, em substituição da Academia Real da Marinha, situação que originaria nos anos seguintes um aceso debate entre aqueles que queriam dar maior enfâse na teoria e os que consideravam mais importante a formação no campo da liderança e do comando de um navio de guerra, perto das lides marítimas e da hierarquia da Marinha.

É então nomeada uma comissão que acaba por propor o fim do modelo existente, incluindo a extinção da Academia Real dos Guardas-Marinhas e a criação de um novo modelo de ensino. Assim, por decreto de D. Maria II promulgado a 23 de abril de 1845, nascia a "Escola Naval", cuja respetiva estrutura e normas de funcionamento foram promulgadas alguns dias depois, mais concretamente a 19 de maio. A nova escola dos futuros oficiais de Marinha a situar no Terreiro do Paço, na antiga Ribeira das Naus, local simbólico associado aos Descobrimentos e às Navegações Portuguesas, seria chefiada por um diretor, dotado de largos poderes administrativos e disciplinares, acompanhado de um corpo docente estabilizado, formado por oficiais e civis dotados de elevado prestígio académico e científico.

Desta forma, D. Maria II ficará indelevelmente, associada a uma das maiores e mais fecundas reformas do ensino naval que tiveram lugar em Portugal.

A Rainha veio a falecer ao dar à luz o seu décimo primeiro filho, a 15 de novembro de 1853, tendo sido considerada uma perda irreparável pelas suas qualidades de mãe e soberana, numa altura em que o País tinha finalmente entrado numa fase de tranquilidade e desenvolvimento.


António Manuel da Fonseca / CC BY-SA (https://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0