Parlamento britânico aponta resposta do governo à pandemia como um dos maiores fracassos do Reino Unido | Blog da Sandra Cohen | G1

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Por Sandra Cohen

Especializada em temas internacionais, foi repórter, correspondente e editora de Mundo em 'O Globo'


Boris Johnson, primeiro-ministro do Reino Unido, participa de coletiva de imprensa sobre a pandemia em Londres nesta terça-feira (26( — Foto: Justin Tallis/Pool via Reuters

O primeiro veredito sobre a resposta do governo britânico à pandemia do novo coronavírus é contundente: trata-se de um dos maiores fracassos da saúde pública de todos os tempos, de acordo com um relatório parlamentar de 150 páginas divulgado nesta terça-feira (12).

O gabinete liderado por Boris Johnson demorou a agir e a determinar o primeiro bloqueio, controles de fronteiras e rastreamento do vírus, causando mais mortes do que o necessário. O documento foi publicado um ano após a comissão composta por 12 deputados conservadores, oito trabalhistas e dois nacionalistas escoceses ter sido anunciada.

Eles integram o Comitê de Saúde, Assistência Social, Ciência e Tecnologia do Parlamento britânico e apontaram o caminho errado traçado pelo governo: tentar controlar a situação, alcançando a imunidade de rebanho.

Parlamento britânico aponta 'fracasso' do governo ao evitar lockdown no início da pandemia

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Enquanto vizinhos europeus enfrentavam o confinamento, o Reino Unido procurava administrar o surto do novo coronavírus como se fosse uma gripe. Esta abordagem lenta e gradual claramente mostrou-se ineficaz, já que o vírus se propagou rapidamente, custando milhares de vidas, segundo explicita o texto:

“Havia um desejo de evitar um bloqueio por causa do imenso dano que isso causaria na economia, nos serviços normais de saúde e na sociedade. Na ausência de estratégias, como isolamento rigoroso de casos, um teste significativo, operações de rastreamento e controles de fronteira robustos, um bloqueio total era inevitável e deveria ter ocorrido antes.”

Baseado em depoimentos de 50 testemunhas, o documento procura não apontar culpados. Eles deverão surgir na investigação de uma comissão independente de inquérito, prometida pelo premiê britânico para ser lançada no primeiro semestre de 2022.

Esta comissão deverá ser liderada por um juiz, a ser nomeado até o fim do ano, e terá formato diferente em relação ao comitê parlamentar: tem mandato para obter qualquer documento oficial e obrigar o comparecimento de testemunhas.

Pessoas chegam para tomar vacina contra Covid-19 no Poet’s Corner, dentro da Abadia de Westminster, em Londres, em foto de 10 de março — Foto: Stefan Rousseau/PA via AP

Johnson se fia no sucesso da segunda etapa da pandemia, com bloqueios efetivos e vacinação em massa, para obter o perdão dos britânicos.

O Reino Unido contabiliza 150 mil mortos por Covid-19, seus indicadores ficam aquém dos de vizinhos. O relatório redigido pelos parlamentares evidencia que o Reino Unido desperdiçou sua liderança, transformou a crise sanitária em permanente, calcado na ideia do anglocentrismo, que induzia a resultados melhores em relação a outros países.

A resposta lenta, aliada a falhas na máquina do governo, demonstrou que o rumo se mostrou inverso ao programado. E, ao mesmo tempo, equivocado.

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