O maior desastre climático da história do Rio Grande do Sul não afeta apenas as lavouras e as estradas que escoam a produção. Está também trazendo dificuldades na exportação de soja pelo porto de Rio Grande, que fica na metade sul do estado.

Apesar das chuvas fortes que atingiram a região, a Portos RS, que administra as operações gaúchas, segue divulgando boletins diários para informar que Rio Grande segue funcionando. Porém, desde a noite desta quinta, o informe traz o seguinte texto: “por questões de segurança das manobras, a Portos RS, provisoriamente, anunciou a redução do calado para 12,80 metros na região dos terminais da Bunge, Bianchini e Termasa/Tergrasa, em função das correntezas”.

O AgFeed apurou junto a grandes corretoras que operam o mercado de exportação de soja um movimento forte nos últimos dias de realocação de cargas que iriam para Rio Grande mas agora são desviadas para outros portos.

Pelo menos seis navios já foram cancelados nas últimas semanas, informou uma fonte, que admite a possibilidade de chegar a 12 o número de embarcações de soja realocadas em meio ao cenário atual.

Normalmente os navios de soja em Rio Grande são do tipo que tem capacidade para 65 mil toneladas, podendo variar 10% para mais ou para menos. Se o número se confirmar, seriam pelo menos 780 mil toneladas sendo desviadas para outros portos.

Além da correnteza e operação mais delicada no porto, as maiores dificuldades têm sido relacionadas a logística para que as cargas cheguem até os terminais, à medida que diversas rodovias seguem bloqueadas no Rio Grande do Sul.

Em entrevista recente ao AgFeed, o CEO da 3Tentos, Luiz Dumoncel, disse que a empresa adotou uma rota com 300km adicionais para levar farelo ao porto de Rio Grande.

Algumas das cargas estão sendo direcionadas para os portos de São Francisco do Sul, em Santa Catarina e de Paranaguá, no Paraná.

Uma corretora internacional disse ao AgFeed que pedidos já estão chegando por parte dos importadores com a indicação “No (não, em inglês) Rio Grande”, para deixar claro que aquela oferta não se estende ao porto gaúcho.

Outro agente de mercado relatou que, em alguns casos, o navio sai de Rio Grande com a carga parcial, e passa pelo chamado “top off”, ou seja, é completado em outro porto, como por exemplo em Santos.

A CEO da De Baco Corretora, que faz operações em Rio Grande, Rita De Baco, disse ao AgFeed que normalmente o terminal da Bianchini, por exemplo, operava com 13,6 metros de calado. “Agora todos estão com 12,8 metros, o que limita o volume embarcado para cada navio e também adiciona custos no frete”.

A Bianchini é considerada uma das maiores empresas brasileiras exportadoras de soja. Além das dificuldades em Rio Grande, a companhia teve um armazém alagado na região metropolitana de Porto Alegre, que estava com 100 mil toneladas de soja.

Atualmente, os terminais da Bunge, o cais comercial e da Termasa estão paralisados, afirmou Rita de Baco. Sem dar detalhes, a corretora disse que o Termasa não está operando devido a um incidente na semana passada.  “Sabemos que o período de reparo deve se estender por 10 meses”.

A paralisação da Bunge ocorre desde o dia 9 de maio, confirmou a empresa, em nota, ao AgFeed. A trading informou que a paralisação da esmagadora e do terminal portuário em Rio Grande é uma medida preventiva. “Nossa prioridade é garantir a segurança de cada um dos 305 colaboradores que atuam em nossas instalações locais. As operações ficarão suspensas até que haja possibilidade de retorno seguro”, disse a empresa.

Seguem operando, segundo a corretora, os terminais Tergrasa, Tecon- Terminal de Contêineres e Bianchini. O AgFeed também procurou a Bianchini, mas não teve retorno até a publicação desta reportagem.

No ano passado, segundo dados do boletim logístico da Conab, o porto de Rio Grande exportou 10,6 milhões de toneladas de soja, respondendo por mais de 10% dos embarques no País.

“Este ano não deve passar de 9 milhões de toneladas”, disse Rita De Baco. Na visão da corretora, poderiam ser embarcados 2 milhões de toneladas por mês, mas no mês de abril foram exportadas por Rio Grande 1 milhão de toneladas. Em relação à expectativa inicial de exportação pelo porto, já que o Rio Grande do Sul colheu uma safra bem maior que o ano passado, a quebra seria de 3 milhões de toneladas.

O AgFeed também conversou com o diretor da Anec, Associação Nacional dos Exportadores de Cereais, Sérgio Mendes.

“O pico de exportação de soja por Rio Grande ainda não aconteceu, sem dúvidas que há dificuldades e limitações em chegar com produto ao porto e isso deverá causar um decréscimo nas exportações a curto prazo, considerado a soja que já foi colhida”, afirmou Mendes.

O diretor da Anec lembra que, mesmo que haja normalização na logística, os volumes dos próximos meses também devem ser impactados pela soja que não foi colhida e que foi comprometida pelas enchentes. “É difícil estimar em valores”.

Segundo a Anec, os picos de embarque de soja em Rio Grande historicamente ocorrem no segundo semestre. Em agosto e outubro do ano passado, por exemplo, foram exportadas 2 milhões de toneladas de soja por mês no porto gaúcho.

Mendes informou que no calado normal de 13,60 metros, se embarca até 70 mil toneladas por navio. Já o índice reduzido limitaria em 66 mil toneladas.