Ao Farol - Virginia Woolf
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  • Rayssa Carneiro

Ao Farol - Virginia Woolf


Ao Farol ou Rumo ao Farol é um romance de Virginia Woolf. Virginia foi uma escritora, ensaísta e editora britânica, conhecida como uma das principais escritoras de língua inglesa e também por se destacar na técnica do fluxo de consciência. Sua técnica narrativa e seu estilo poético se destacam como as contribuições mais importantes para o romance moderno.

O fluxo de consciência é uma técnica literária em que se tenta reproduzir o complexo processo de pensamento de um personagem, com o raciocínio lógico não linear e com impressões pessoais. O cenário, as pessoas e o momento histórico são conhecidos e aprofundados pela visão e pensamentos do personagem-narrador do fluxo. Talvez seja pelo uso dessa técnica que, neste livro, podemos nutrir sentimentos opostos por um mesmo personagem, amando-o em umas partes e odiando-o em outras.


Qual é o significado da vida? Isso era tudo – uma questão simples; uma questão que tendia a nos envolver mais com o passar dos anos. A grande revelação nunca chegara. A grande revelação talvez nunca chegasse. Em vez disso, havia pequenos milagres cotidianos, iluminações, fósforos inesperadamente riscados na escuridão; aqui estava um deles.

Ao Farol


No ano de 1941, com o início da Segunda Guerra Mundial, a destruição de sua casa em Londres e a fria recepção da crítica à sua biografia, Virgínia caiu em uma depressão profunda, vindo a cometer suicídio por meio de um afogamento.


Em Ao Farol, Virginia retrata uma discussão familiar sobre a realização ou não de um passeio a um farol, esse plano de fundo serviu para a escritora narrar sua história mais autobiográfica de sua obra, discutindo temas como as lutas de poder entre o homem e a mulher à frente da família.


O livro é dividido em três partes: A janela, O tempo passa e O farol.


No livro acompanhamos uma família inglesa e alguns colegas e conhecidos que estão passando um tempo numa casa à beira-mar. A família pensa em visitar o farol, entretanto a possibilidade de uma tempestade frustra sues planos. Alguns amigos do casal anfitrião são: Lily Briscoe, uma moça que pinta quadros; Willian Blake, que a Sr. Ramsay espera que um dia se case com Lily; Sr. Tansley, um pedante; o Sr. Carmichael, um poeta; Minta e Paul Rayley, um casal no começo de seu noivado. Todas essas pessoas se relacionam de uma maneira conflituosa e verdadeira.


Alguns anos se passam e a Primeira Guerra Mundial parece ter ocasionado mudanças profundas naquelas pessoas, tanto no exterior (casa envelhecendo, pessoas partindo...) como no interior, mostrando o amadurecimento (ou não) dos pensamentos e opiniões dos personagens. As situações descritas no começo do livro parecem alterados em consequência da Guerra e do tempo. O mais interessante é que é por meio do espaço físico que se mostra a passagem do tempo e a transformação do mundo devido à Guerra pois nessa parte da narrativa quase nenhum dos personagens descritos anteriormente aparece. Fazemos, então, um paralelo entre o espaço (casa) e pessoa (personagens, relacionamentos).


A personagem central é a Sra. Ramsay, uma mulher descrita de forma intensa e complexa. A Sra. Ramsay parece ao longo de toda sua história lutar (uma luta inclusive interior) para que sua família, seus amigos e sua rotina sejam mantidos, de forma a sustentar toda a harmonia familiar. O patriarca da família, Sr. Ramsay, é um intelectual e amargo, representa constantemente a solidão dentro da narrativa.


Virginia Woolf é considerada uma escritora feminista, nesse livro conseguimos notar algumas dessas tendências. No casal Ramsay é a matriarca da família que é representada como o elo principal de todas as relações apresentadas na narrativa, também é dela que temos o maior contato por meio do fluxo de consciência e monólogo interior. A Sra. Ramsay é, portanto, a coerência e a identidade de grande parte dos acontecimentos, é o vínculo com o mundo interior existente na narração.


Percebemos a relação com o feminino também com a relação de Lily Briscoe e o Sr. Tasnsley. Lily é uma mulher solteira, independente e artista. Ao longo da obra ela tenta pintar um quadro que represente toda a situação que se passa naquela casa à beira-mar. Apesar de ser retratada como uma artista que necessita de liberdade para se expressar também nos deparamos com opiniões de indiferença. O senhor Tansley deprecia a capacidade intelectual das mulheres e constantemente subestima Lily, lhe avisando: “mulheres não sabem pintar, as mulheres não sabem escrever”. É amargo ler declarações como essas, mas interessante observar como Lily lida com elas.


E, novamente, sentiu-se sozinha na presença de sua velha antagonista, a vida.

Ao farol


Em resumo imagino que podemos dizer que Ao Farol fala sobre ruína e decadência. Decadência das estruturas familiares e amorosas, da relação entre os personagens, dos valores do século. Ruína trazida pela Guerra que desconstruiu diversos valores e pensamentos e possibilitou a alteração da sociedade europeia. A decadência também de um tipo de romance para a criação de uma teoria literária moderna e com novas formas de narrativa e expressão.


Sobre o livro Hermione Lee, professora reconhecida de literatura disse:


Ao Farol é a história de um casamento e de uma infância. É um lamento de dor pela perda de pais fortes e amados. O livro também diz respeito à estrutura de classe inglesa e à radical ruptura com o vitorianismo após a Primeira Guerra Mundial. Ele é a expressão da urgente necessidade de uma forma artística que pudesse registrar e adaptar-se a essa ruptura. Ele é todas essas coisas ao mesmo tempo.


Fica a pergunta: como cada um de nós responde às alterações vigentes na sociedade? E como lidar quando há rupturas em nossas histórias, quando tudo o que conhecemos se transforma e tudo que nos mantêm unidos é perdido? Não é uma leitura fácil, porém é muito recompensadora. É uma leitura densa e que exige do leitor, ao seu final tem-se a sensação de se ter conhecido diversas pessoas, comuns e complexas, revelando uma profundidade que só é possível quando se vive.

 

Em 2005, o romance Ao Farol foi escolhido pela TIME Magazine como um dos cem melhores livros escritos em inglês desde 1923. A lista pode ser acessada aqui (http://entertainment.time.com/2005/10/16/all-time-100-novels/)

 

A Vida de Virginia Woolf é um documentário britânico que aborda algumas questões sobre a vida dessa incrível escritora.

 

Gostou da resenha? Já leu algo de Virginia Woolf? Conhece a técnica do fluxo de consciência?

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Até a próxima!!!




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