Morreu Harper Lee, a autora de "Não Matem a Cotovia"

Morreu Harper Lee, a autora de "Não Matem a Cotovia"

por RTP

A escritora Nelle Harper Lee morreu aos 89 anos, confirmaram esta sexta-feira várias fontes em Monroeville, cidade natal da autora, citadas pelo site local Al.com. A norte-americana recebeu o Prémio Pulitzer em 1961 pela obra "Não Matem a Cotovia", um sucesso mundial.

Harper Lee ficou mundialmente conhecida pelo primeiro romance da sua autoria - "Mataram a Cotovia" ou "Não matem a Cotovia", consoante os editores - publicado em 1960 e que registou grande sucesso nos Estados Unidos.

O livro aborda a justiça racial numa pequena aldeia do Estado do Alabama e vendeu mais de dez milhões de cópias, tornando-se numa referência literária e uma das obras mais ensinadas nas escolas.

A notícia do falecimento da escritora chegou por intermédio do sobrinho, Hank Conner, que garantiu que a tia morreu durante o sono, num lar de idosos. O sucesso de "To Kill a Mockingbird" trouxe o Prémio Pulitzer à escritora, vivia-se o ano de 1961, tornando Lee numa celebridade literária nos Estados Unidos, rótulo com o qual a norte-americana nunca conseguiu conviver, por o achar opressivo.

Em outubro de 2015, foi publicado em Portugal "Vai e Põe uma Sentinela", o segundo livro de Harper Lee. Há 50 anos que a escritora não publicava.
Das páginas do livro para a tela de cinema

Harper Lee viu o seu génio criativo ser exponenciado pela produção cinematográfica de "To Kill a Mockingbird", uma das obras mais aclamadas de sempre da filmografia norte-americana.

Passava o ano de 1962 e Robert Mulligan realizou o filme que retratava um ambiente de injustiça social no sul norte-americano escrito dois anos antes, com o papel principal a ser protagonizado por Gregory Peck, como Atticus Finch.

Trata-se da história de um advogado do Alabama, no final dos anos 30, que defende um homem negro falsamente acusado de violar uma mulher branca. A população de uma pequena cidade, racialmente dividida, tenta demover o advogado de continuar a defesa, mas sem efeito.

O romance escrito por Harper Lee foi inspirado na pequena cidade de Monroeville, onde a escrita norte-americana nasceu.Meio século de expectativas

Depois do grande sucesso alcançado com "Mataram a Cotovia" esperava-se que a autora continuasse a escrever mais romances. No entanto, a norte-americana "desapareceu" e não se mostrou durante 55 anos.

"Nunca esperei ter sucesso com o livro", revelou Harper Lee em 1964. "Esperava por morte rápida e piedosa às mãos de críticos ao mesmo tempo que pensei que alguém pudesse gostar para me encorajar a continuar. Em vez disso, recebi muita atenção e pareceu-me tão ou mais assustadora como a morte rápida que tinha previsto".

Harper Lee enclausurou-se a tal ponto que as raras aparições públicas para receber distinções eram tratadas como notícia.

As palavras dirigidas aos meios de comunicação também eram escassas, pautando-se por simples agradecimentos pelas agraciações.

Em julho de 2015, e para espanto de todos, Harper Lee voltou a publicar um romance: "Go Set a Watchman". Instantaneamente o novo livro da escritora norte-americana tornou-se num sucesso, com mais de dois milhões exemplares vendidos.
A infância ao lado de Truman Capote
Harper Lee nasceu em 1926, no dia 28 de abril, em Monroeville, no Estado do Alabama. 'Nelle' era a mais nova de quatro irmãos.

O pai, Asa Coleman Lee, era advogado e foi usado como modelo para a personagem de Atticus Finch. A mãe, Frances Finch Lee, era conhecida por ser uma mulher "obesa e emocionalmente frágil", recordada por tocar piano durante horas seguidas.

Harper Lee andou numa escola metodista para mulheres, mudando-se depois para a Universidade do Alabama para estudar Direito, por influência paterna. Após um ano em Oxford, a escritora desistiu da faculdade e mudou-se para Nova Iorque para se tornar numa escritora.



Enquanto crescia teve a companhia de um outro grande vulto da literatura norte-americana, Truman Capote, celebrizado por várias obras, entre as quais "A Sangue Frio". Os dois cresceram lado a lado e tornaram-se amigos, cruzando histórias e criando personagens inspiradas um no outro.

Capote - que inspirou uma das personagens de "Não Matem a Cotovia" - convidou Harper Lee para ser sua assistente na investigação de um homicídio chocante de uma família do Texas.

Lee aceitou o repto e relatou anos depois à Newsweek que os crimes intrigavam Capote e que ela própria ficou curiosa com a proposta. Durante meses, a escritora acompanhou Truman Capote em entrevistas à polícia e locais do Kansas.

Harper Lee escreveu vários relatórios sobre as suas impressões durante a investigação, que serviriam depois a Truman Capote. "In Cold Blood" ("A Sangue Frio") seria publicado em 1966 e aclamado pela crítica.
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