Forma como Sars-CoV-2 atinge mitocôndrias explicaria casos graves - Revista Galileu | Ciência
  • Redação Galileu
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Forma como Sars-CoV-2 atinge mitocôndrias explicaria reação imunológica grave (Foto: NIAID)

Buscando entender por que a Covid-19 é capaz de suprimir a resposta imunológica do nosso corpo, uma nova pesquisa da Universidade do Sul da Califórnia, nos Estados Unidos, sugere que as mitocôndrias são uma das primeiras linhas de defesa contra a infecção pelo novo coronavírus. O estudo publicado na última sexta-feira (8) no Scientific Reports identifica as principais formas como o Sars-CoV-2 afeta os genes mitocondriais quando infecta as células.

Essas características podem fornecer explicações sobre por que adultos mais velhos e pessoas com disfunção metabólica têm respostas mais graves ao vírus, fornecendo um ponto de partida para abordagens mais direcionadas de tratamentos. “Se você já tem disfunção mitocondrial e metabólica, então pode, como resultado, ter uma primeira linha de defesa ruim contra a Covid-19", afirmou Pinchas Cohen, coautor do estudo, em comunicado. "Trabalhos futuros devem considerar a biologia mitocondrial como um alvo de intervenção primária para o Sars-CoV-2 e outros coronavírus."

O estudo se baseou em uma vasta quantidade de dados públicos coletados nos primeiros dias da pandemia e realizou análises de sequenciamento de RNA para comparar as interações mitocondriais do Sars-CoV-2 com as de outros três vírus. Segundo os cientistas, a pesquisa identificou três maneiras pelas quais o novo coronavírus silencia a resposta protetora celular de forma diferente em relação aos outros microrganismos.

“Já sabíamos que nossa resposta imunológica não estava montando uma defesa bem-sucedida contra a Covid-19, mas não sabíamos por quê”, explicou Brendan Miller, líder do estudo. “O que fizemos de maneira diferente foi observar como o vírus atinge especificamente as mitocôndrias, organela celular que é uma parte crucial do sistema imunológico inato do corpo e da produção de energia.”

De acordo com a equipe, a principal descoberta é que o Sars-CoV-2 reduz os níveis de um grupo de proteínas mitocondriais conhecidas como Complexo Um, que são codificadas pelo DNA nuclear. É possível que esse efeito "relaxe" a produção metabólica da célula e a geração de espécies reativas de oxigênio, que produzem uma resposta inflamatória capaz de matar os vírus quando funcionam normalmente.

O estudo também revelou que o Sars-CoV-2 não altera os níveis da proteína mensageira (o mRNA da proteína de sinalização antiviral mitocondrial), que geralmente informa à célula que um ataque viral aconteceu. Normalmente, quando essa proteína é ativada, ela funciona como um sistema de alarme e avisa a célula que ela precisa se autodestruir para que o patógeno não possa se replicar.

Por fim, os estudiosos descobriram que os genes codificados pelas mitocôndrias não estavam sendo ativados ou desativados pelo Sars-CoV-2 nas taxas esperadas. Esse processo é importante pois acredita-se que ele produza energia que pode ajudar a célula a se livrar de um patógeno.

“Esse estudo adiciona a um crescente corpo de pesquisas sobre as interações mitocondria-Covid e apresenta os tecidos e efeitos específicos de células que devem ser cuidadosamente considerados em experimentos futuros”, comentou Cohen.