As origens do Palácio Nacional de Queluz remontam a um período conturbado da História de Portugal. Foi construído para ser a casa de campo de D. Cristóvão de Moura, o primeiro Marquês de Castelo Rodrigo, que se tornou Vice-Rei de Portugal durante a regência de Filipe II, no período de domínio espanhol. Mas logo após a Restauração da Independência, em 1640, a propriedade foi-lhe confiscada, tal como as de outros apoiantes da causa espanhola.

As propriedades reunidas serviram a D. João IV para constituir a Casa do Infantado, em 1654. Entendia este que os segundos filhos dos reis de Portugal deveriam possuir dotações e um conjunto de bens dignos do seu estatuto de infantes, para não cederem à tentação de lutas fratricidas pelo trono – consta, igualmente, que o rei já adivinhava a incapacidade do herdeiro do trono, D. Afonso VI, para o desempenho das funções que o aguardavam e quis fortalecer o estatuto do seu filho mais novo, o infante D. Pedro.

Assim, o (futuro) Palácio de Queluz foi-lhe atribuído, tal como o título de primeiro Senhor do Infantado. D. Pedro viria, efetivamente, a tornar-se regente e rei de Portugal (D. Pedro II), após o golpe de Estado de 1668 e a morte do seu irmão, Afonso VI, década e meia depois. Foi, no entanto, outro Pedro, D. Pedro III, que a partir de 1747 foi o responsável pela transformação da então Quinta de Queluz no imponente palácio que hoje conhecemos, ao encarregar o arquiteto Mateus Vicente de Oliveira de projetar a ampliação do chamado “Paço Velho”.

Depois do terramoto de 1755, Queluz ganhou ainda mais importância – com muitos dos palácios na capital destruídos e a cidade ainda a reerguer-se, as quintas de recreio em redor da cidade tornaram-se a residência principal das famílias nobres.

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Assim, o anúncio do casamento de D. Pedro III com a sua sobrinha, a princesa D. Maria – necessário para assegurar a continuidade da dinastia da Casa de Bragança –, motivou novas obras de ampliação. Com Mateus Vicente de Oliveira ocupado com a reconstrução de Lisboa, foi contratado para o efeito o arquiteto e ourives francês Jean Baptiste-Robillion. É a ele que se deve a imponência e o aparato que hoje encontramos, por exemplo, na Sala do Trono, a maior do Palácio – conhecida, nem de propósito, por Sala Grande.

Decorada em madeira dourada, em estilo rococó, com esculturas e lustres enormes, era aqui que a corte de D. Pedro III e D. Maria I organizava as grandes festas e recepções, com música, banquetes e oratória. Quando a Capela se revelava pequena para as cerimónias, as funções religiosas aconteciam nesta sala, que só anos mais tarde passou a ser usada como Sala do Trono, designação que manteve até aos dias de hoje.

Apesar da importância do Palácio para a corte portuguesa, a mudança definitiva para Queluz só se deu no final do século XVIII, após o incêndio da Real Barraca da Ajuda, em 1794. Antes, era usada sobretudo como residência de Verão. A partir desse momento, várias salas mudaram de funções e designação: por exemplo, a antiga Sala das Colunas ou dos Serenins, passou a Sala dos Embaixadores, muito usada por D. João VI para o beija-mão, ocasião em que os membros da nobreza e do corpo diplomático se deslocavam à residência oficial do Rei para lhe beijar a mão, prestar homenagem e pedir a sua atenção para questões do seu interesse.

Foi de Queluz que a família real partiu para o Brasil, durante as Invasões Francesas, para evitar ser deposta por Napoleão, no célebre episódio “ficaram a ver navios”. O General Junot chegou a considerar tomar Queluz para residência oficial do seu imperador, mas os planos saíram gorados pela brevidade da ocupação.

Depois do regresso da corte a Portugal, a vida no Palácio não voltaria a ser como dantes. Foi nele que se exilou D. Carlota Joaquina, acusada de conspiração contra o marido, D. João VI – que escolhera habitar o Palácio da Bemposta –, e que morreu o seu filho D. Pedro IV, aos 36 anos, no mesmo quarto onde nascera, o Quarto D. Quixote – batizado dessa forma pelo conjunto de pinturas que retratam cenas da vida da mais famosa personagem de Cervantes.

Distinguido como Monumento Nacional em 1910, ano da Implantação da República, o Palácio Nacional de Queluz não voltaria a ser residência real, mas continuaram a passar por lá as mais distintas figuras do Estado – e de outros Estados, destacando-se a primeira visita dos monarcas britânicos em 1957. Passou a ser residência dos Chefes de Estado estrangeiros em visita oficial a Portugal que, nessas ocasiões, desde a década de 1940, ficavam hospedados no Pavilhão D. Maria I, ala concluída em 1784, para alojar a monarca que lhe dá o nome. Eisenhower, Franco, José Sarney e os reis de Espanha Juan Carlos e Sofia foram algumas das personalidades que usufruíram das instalações.

Nos belíssimos jardins do palácio, desenhados por Robillion, inspirados não nos de Versailles, mas nos do Castelo de Marly, residência de férias de Luís XIV, sediou-se em 1979 a Escola Portuguesa de Arte Equestre, dedicada à promoção do ensino, prática e divulgação dessa arte tradicional e do cavalo lusitano, seguindo os princípios estabelecidos pela Real Picaria, fundada por D. João V. Para complementar o trabalho da escola, existe no Palácio a única biblioteca nacional dedicada exclusivamente ao tema – onde constam cerca de 2000 publicações, gravuras, pinturas e objetos. Essa biblioteca tem o nome de D. Diogo de Bragança, VIII Marquês de Marialva.

O Palácio Nacional de Queluz é gerido desde 2012 pela Parques de Sintra, que se tem empenhado no seu restauro e requalificação, tendo, por exemplo, devolvido o azul original às fachadas ou reabilitado o Jardim Botânico onde, durante o reinado de D. Pedro III, plantavam ananases, um fruto muito apreciado pela família real. Tanto os jardins como o Palácio – separadamente ou em conjunto – podem ser visitados todos os dias entre as 9h e as 18h, no caso do Palácio, e as 18h30, no caso dos Jardins (último bilhete e respetiva entrada às 17h30). Recomenda-se a compra de bilhete antecipadamente, no site da Parques de Sintra.

Para ficar a saber mais histórias sobre o Palácio Nacional de Queluz, oiça aqui o episódio dedicado a este monumento no podcast Sintra em Cinco Séculos, com os convidados António Nunes Pereira (diretor dos Palácios geridos pela Parques de Sintra), Ana Sanches (arquiteta paisagista responsável pelos Jardins do Palácio Nacional de Queluz) e João Pedro Rodrigues (mestre picador chefe da Escola Portuguesa de Arte Equestre).