Recap Mensal de Singles AT | Abril (2024)

Recap Mensal de Singles AT | Abril (2024)


A recapitulação mensal contendo os melhores singles do mês.

Nesta recapitulação mensal do Aquele Tuim dos mais recentes singles, temos em Abril, um mês propenso para novos começos, rollouts de novas eras e novas iterações de trabalhos já consolidados, e parece que os artistas realmente se empolgaram com esses temas.




7.
“<Pre 2 : Flower Rhythm>”
ARTMS

Depois do excelente “Birth”, que se esbanjou no primeiro lugar do recap anterior, as gigantes do ARTMS lançam “Flower Rhythm”, uma faixa que incorpora o já caseiro future bass no k-pop, mas sem dar brechas à pouca qualidade. Visualmente, é um refresco de maracujá dos bons, mas sonoramente e esteticamente, a estelar música também deslumbra por completo — mas é claro, às vezes é bom lembrar que algumas das mentes mais brilhantes do pop residem na Coreia. É muitíssimo interessante distinguir o gênio de ARTMS através da sua falta de medo de evitar a repetição quando necessário e de rejeitar a preferência por melodias melosas e de fácil acesso, denota uma criatividade simplista que raramente vemos atualmente, por mais que seja indistinguivelmente k-pop. Estava com saudades de me animar para um lançamento no mundinho pop!

Selo: MODHAUS
Gênero: Música do Sudeste e Leste Asiático / K-Pop, Future Bass




6.
“Good Luck, Babe!”
Chappell Roan

Queridinha da crítica, do tiktok, das rádios, dos gays, das lésbicas, das adolescentes fãs de Olivia Rodrigo e de vários outros demográficos, Chappell Roan lança o que é, provavelmente, o único synthpop revival bom desde Carly Rae Jepsen ou The Weeknd. Ver que uma canção — magistralmente escrita, vale destacar — sobre o ciúme lésbico atingiu o topo das paradas nada me faz além de me encher de orgulho, mas fica melhor ainda ao saber que é totalmente merecido. O refrão, a escrita e a subversão dos valores do pop rock em “Good Luck, Babe!” são todos contagiantes, ímpares e chocantemente queer. Seja para chorar, dançar, experimentar sentimentos profundamente ou apenas se orgulhar de ter uma lésbica liderando o mundo pop, ouça Chappell Roan! Vai ser melhor que Taylor Swift, lhe garanto isso.

Selo: Amusement, KRA
Gênero: Pop / Synthpop Revival, Pop Rock




5.
“Baddy On The Floor”
Jamie xx feat. Honey Dijon

Embora, meritíssimo, eu seja sim culpada de não ouvir the xx, seria ultrajante ignorar “Baddy On The Floor” neste recap. Com uma capa de derreter os sentidos, o single provoca a mais pura das reações físicas através da música house: dançar sem restrições. A produção de Honey Dijon, uma primorosa expoente da cultura ballroom, dá os temperos exatos para que não caia na mesmice, sejam as seções de metais gritantes ou o clipe vocal esplêndido utilizado através da faixa: the baddy is on the floor… baddy on the floor… baddy on the floor. Não tem outra: a faixa é de uma classe, de um refino musical e de uma qualidade sem iguais. Como pode, senhor, tamanho sentimento ser evocado através desses simples arranjos eletrônicos?

Selo: Young
Gênero: Eletrônica / Garage House, Funky House




4.
“MILLION DOLLAR BABY”
Tommy Richman

E é claro que um dos maiores debuts em charts da história da música não poderia ficar de fora do recap (não é brincadeira). Não lembro da última vez em que uma música tão simples e centrada em apelo comercial como “MILLION DOLLAR BABY” foi lançada. Billie Jean, de Michael Jackson, talvez? Exagero, óbvio, mas isso não tira o mérito de Tommy Richman em ter um ouvido para melodias e refrões apuradíssimo ao ponto de que a simplicidade da faixa deixa de ser uma casualidade e se torna o seu próprio nexo. Música pop é sobre isso, afinal. Tem como não se encantar com o mel ghetto-retrô da estética de VHS? Tem como, fisicamente, biologicamente, fisiologicamente falando, resistir a cantar os “hee-hee-hee” e a não se deliciar com as linhas de baixo inebriantes? Pessoalmente, acho impossível. É o hit (e o refrão) do ano!

"I ain't never rep a set, baby / Ain't doing you wrong /I could clean up good for you / Oh, I know right from wrong / 'Cause I wanna make it, so badly / I'm a million dollar baby / Don’t at me"

Selo: ISO Supremacy, PULSE
Gênero: R&B / R&B Contemporâneo, Phonk, Synth Funk




3.
“Club classics”
Charli XCX

Após “Von dutch”, Charli lança “Club classics” em conjunto com “B2b”, e com esses três singles (quatro com o lançamento de “360” no momento em que escrevo essa lista), já é possível afirmar que o melhor álbum de Charli XCX está a caminho. Charli é excelente, fato, um dos melhores álbuns de pop da década passada, fato, mas não tem comparação com o nível de perfeição que os singles desse novo ciclo da cantora de “Boys” apresenta. O favorecimento da repetição enjoativa em detrimento do aperfeiçoamento, da pureza, da classe é uma excelência em si que ultrapassa a necessidade do fazer artístico. É uma admissão completa da bobice que a música pop e eletrônica pode ser; a bobice que é a corporalidade da experiência da rave.

Para além de uma idealização do que deveria ser, “Club classics” é música como ela é: hodierna, borbulhante, incandescente, radioativa; progresso. Os sintetizadores sórdidos, grandiosos e o baixo escorregadio de bassline (estilo de house) junto com a voz monótona de Charli formam um universo de sentidos físicos e metafísicos (o universo da rave) totalmente único. Para que fazer música pop e eletrônica se não for para ser camp assim? Da forma como estamos recebendo esses singles, não duvido de ter uma faixa de 18 minutos ou mais de electro house. Precisamos da afronta através da repetição que Mr. Oizo trouxe algumas décadas atrás, e Charli XCX é a aposta global para isso.

Selo: Atlantic
Gênero: Eletrônica / Bubblegum Bass, Bassline




2.
“Reaching Out”
Beth Gibbons

O retorno de Beth Gibbons à indústria musical evoca uma névoa de sigilo gelatinosa. A forma como a cantora de Portishead vilipendia a música não tem paralelo nos anais da história, e não porque ela é uma radical, revolucionária, extrema, não, é pelo contexto extraordinariamente específico que a originou como artista. No Classificação AT de trip hop, o contexto é explicado na íntegra, mas, sinceramente, isso pouco importa, pois em ambos os singles que precedem o trabalho Lives Outgrown, que será lançado na sexta que vem, as leituras e releituras de Gibbons sobre a música, pop ou não, são totalmente aliens ao que a mesma fazia em seu grupo passado; isso não significa que não sejam tão sem paralelo quanto.

Em “Reaching Out”, especificamente, isso se dá por meio de um art pop que se inspira menos na tradição katebushiana e vira os olhares ao experimentalismo quase-pop do krautrock, uma “onda” que o revitaliza através do saudosismo. O que — embora eu tenha pouca familiaridade com o gênero — demonstra tanto uma liberdade criativa quanto uma busca poderosa de desconstruir o que é experimental e o que é pop. Sonoramente, a faixa se desenvolve pelos meandros de uma falha, cimentada sobre a repetição proto-cacofônica das guitarras e baterias — estas creio que muito influenciadas por Can —, é como, cinematograficamente, olhar para o mundo despedaçando em sua volta ora em câmera lenta ora em pânico máximo.

Selo: Domino
Gênero: Pop / Art Pop, Krautrock




1.
“TL;DR”
Bladee, Ecco2k & Thaiboy Digital

A Drain Gang se diverte muito fazendo música — é gritante. Em um mundo dominado pelo streaming, pela necessidade aparentemente fisiológica de provar a si mesmo através do mérito artístico arduamente alcançado; em um mundo tão, mas tão sério que todos os pontos em um mapa precisam ter coordenadas, a casualidade de Bladee, Ecco2k e Thaiboy Digital brilha como um raio de sol que atravessa uma lupa. À primeira vista, a posição dessa música em primeiro lugar é uma piada. Entretanto, convido-os ao seu maior trunfo: ela entra por um ouvido e sai pelo outro.

Em outros artistas, isso seria categorizado como “entediante”, pois o esperado de um músico é o empenho máximo para compor um marco artístico gigantesco de sua carreira; para muitos, a música é uma forma de ganhar e aumentar o ego. Na Drain Gang, essa qualidade tem um simbolismo de rejeição ao épico, rejeição ao exagero, à formulação, ao programado; conclui-se que é o epítome da arte livre. “TL;DR” apresenta melodias extremamente suaves, ritmos quase fantasmas e refrões que quase não prendem na cabeça — na verdade, a música inteira é quase um refrão —, ou seja, é uma reunião de quases. É um quase-equilíbrio do hip hop com o alternativo — este com sua popificação basilar —, é unicamente um hino aos ouvintes LGBTs do trio e uma das melhores músicas deste.

Selo: Trash Island
Gênero: Hip Hop / Dark Plugg, Cloud Rap



Menções Honrosas:


“Embalo”
Ryu, The Runner, Yunk Vino & Teto

Não tem ninguém que se compare ao Ryu na atualidade. Bem, isso, é claro, considerando o tamanho de sua fama. Sabemos que existem incontáveis atos — para dar nome a alguns dos bois: Putodiparis, Big Rush e akajuug — da cena do trap underground brasileiro que exibem produtos que batem no peito para combater as convenções do hip hop e pop, mas, dentro do cenário “mainstream”, Ryu é, de longe, o rapper que mais avança as discussões estéticas no trap. “Embalo” é uma espécie de plugg-cloud que confunde a própria proposta e exalta, maravilhosamente, a futilidade do trap enquanto uma produção psicodélica sem paralelos entre os maiores nomes que temos. Matuê está morto, dê boas vindas à Ryu.

Selo: Som Livre
Gênero: Hip Hop / Plugg, New Jazz, Cloud Rap




“Knock Yourself Out XD”
Porter Robinson

Mesmo que evidentemente mais fraca que “Cheerleader”, o outro single da nova era de Porter Robinson, “Knock Yourself Out XD” representa, igualmente, uma evolução artística pitoresca e despretensiosa — é lindo! Abraçar a falta de seriedade, como Porter o fez em “Cheerleader”, prezar pela trivialidade, pelo caricato, é tudo muito distante do que o cantor já ousou fazer, mas ele consegue manter a qualidade de escrita e significado do mesmo jeito. Se você não está ansioso pelo próximo álbum, está louco.

Selo: Mom+Pop, Sample Sized
Gênero: Pop / Eletropop, Bitpop




“Midas Touch”
KISS OF LIFE

Ao experimentar reinserir o new jack swing à fórmula do k-pop, KISS OF LIFE criou um grande hit, embora não tenha o nível de excelência dos atos mais consagrados de ambos gêneros. A estrutura é previsível? Sim. As performances vocais são fracas? Talvez, contudo, não sei até que ponto isso importa. Só de representar um possível retorno do new jack swing e à genialidade do que um dia foram os Seo Taiji and Boys já é o suficiente!

Selo: S2
Gênero: Música do Sudeste e Leste Asiático / K-Pop, New Jack Swing




“Problemas de um Milionário”
WIU & Teto

“Problemas de um Milionário” leva tempo para fazer efeito, mas quando faz, catalisa uma brisa que vai alterar a química do seu cérebro por, no mínimo, algumas horas. Para além dos elementos aprisionantes da faixa, o esforço lírico de WIU e Teto em afastar a ostentação e tipificação social advinda do trap e seus ganhos da que é advinda da burguesia hereditária é, no mais nível mais básico, interessante. Não só com flows estonteantes, o destaque lírico da faixa dá uma camada hipnotizante a mais. Escute e vicie-se!

"Ela acha que eu sou playboy / Eu sou só um jovem milionário"

Selo: 30PRAUM
Gênero: Hip Hop / Trap




“Suffocate”
Knocked Loose feat. Poppy

Da série “músicas de metal que são diferentes o suficiente para figurar nos recaps”, “Suffocate” apresenta um desejo real de fazer diferente; entretanto, isso não significa que vá muito longe. É mais boba que o normal, e, por isso, tem um apelo maior, oferecendo como guarnição uma aparição deliciosamente agridoce de Poppy. Independentemente, porém, não é um breakdown mal cozido de “reggaeton” que vai tornar um metalcore que se leva a sério menos pior.

Selo: Pure Noise
Gênero: Rock / Metalcore




“WEIGHTLESS!”
femtanyl

“WEIGHTLESS!” é mais uma prova de que femtanyl é a nova cara da música eletrônica do ciberespaço. Repletos de carisma, seus sintetizadores de videogame combinam quase que humorísticamente bem com o inventário de elementos presentes na faixa. Sejam os kicks de footwork, os breaks do jungle, o baixo cáustico, os vocais de hardcore digital ou o psicodelismo quase-dub do drum and bass atmosférico, tudo parece mesclar perfeitamente sob a ótica de femtanyl, que pelo visto se tornou um dos nomes mais animadores da música eletrônica nos últimos anos. Para ela, é mamão com açúcar, para nós, é o futuro.

Selo: SpikeChain
Gênero: Eletrônica / Footwork Jungle, Acid Breaks



Ouça a playlist:


Sophi

Sophia, 18 anos, estudante e redatora no Aquele Tuim, em que faço parte das curadorias de Rap e Hip Hop e Experimental/Eletrônica e Funk.

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