Motownphilly’s back again: a música negra e os grupos vocais | by Vinícius Souza | Medium

Motownphilly’s back again: a música negra e os grupos vocais

Vinícius Souza
13 min readJan 18, 2024

Antes do Reino Unido e Coreia do Sul serem referências em boybands e girlbands, grupos afro-estadunidenses tinham carreiras coroadas nos anos 90.

Foto: Capa do single “Baby Baby Baby” do TLC de 1992.

O imaginário popular dos anos 90 é repleto de signos da indústria cultural que representam muito bem este recorte temporal. Pensando na música, boybands e girlbands como Spice Girls, Backstreet Boys e *NSYNC são muito emblemáticos para este momento da cultura. Considerando a cultura negra, a década também é muito relevante para o hip-hop e o R&B. Contudo, além de todo este universo musical preto e os próprios MCs e cantores da época, este momento cultural também teve contribuições de grupos vocais negros. Para pensar sobre isso, é necessário fazer um resgate histórico deste modelo de apresentação musical.

O formato que entendemos hoje em dia como uma boyband ou girlband, começa a tomar forma entre o fim do século XIX e início do XX com a influência da barbershop music, uma modalidade musical puramente vocal com foco em harmonias fechadas, cantada a capella por quartetos e com uma roupagem inspirada pela cultura vaudeville. O número de cantores era importante para manter uma melodia homófona.

O gênero musical foi bastante popular entre 1900 e 1919, perdendo força nos anos 20. Ainda assim, o estilo barbershop de harmonias ficou presente no estilo lírico da música gospel, sobretudo, negra tradicional.

Nos anos 30, quando é de fato classificado, o estilo tem um revival e alguns atos musicais influenciados por ele começam a ganhar notoriedade. Alguns trios femininos brancos como The Boswell Sisters, Three X Sisters e The Andrews Sisters bebem muito desta fonte.

O formato de grupo masculino vocal, como feito pelos barbershop quartets, toma força dentro do doo-wop, gênero musical afro-estadunidense, entre a década de 40 e 50, no ápice da segregação racial nos EUA. Considerando a história da música popular, o gênero marca por ser característico das ruas e por ter sido o primeiro estilo musical negro e jovem que dominou as paradas musicais do país. A forma puramente vocal do gênero, que facilitou a sua ampliação entre a juventude de maneira independente, também pronuncia o raso acesso da população preta a instrumentos musicais. Alguns grupos muito proeminentes do período são The Orioles, The Ink Spots, The Chords, The Drifters, The Harptones, The Ravens, The Penguins, The Swallows, The O’Jays, The Teenagers, The Temptations e The Mills Brothers.

Já na segunda metade dos anos 50, o doo-wop se populariza mais ainda, contemplando então, uma nova audiência na cultura branca e, ampliando-se, significativamente, entre os jovens americanos. Esta fórmula foi replicada pelo país massivamente, o que com o tempo causou a evolução do gênero com a inserção do saxofone e da guitarra. Desta forma, as diferenças entre ritmos como o doo-wop, o rhythm and blues e o rock and roll se fundiram a ponto de conceber o som da música popular pré-invasão britânica.

Paralelo à tomada do mundo pelo The Beatles, o modelo de boyband continua bem estabelecido em atos musicais negros, tendo no final dos anos 60 uma virada significativa com a popularidade do Jackson 5, The Delfonics, The Four Tops e The Dells.

Enquanto isso, entre o fim dos anos 50 e início dos 60, as mulheres negras foram especialmente importantes para o desenvolvimento de girlbands. Misturando o doo-wop, rock and roll e a música pop branca da época, grupos como The Chantels, The Shirelles e The Marvelettes foram muito relevantes. O último foi essencial para a integração racial na música popular justamente por ser gerenciado pela Motown Records, selo musical de proprietários negros. Com esta abertura, a gravadora encabeçaria projetos como Martha and the Vandellas, The Velvettes, e o sublime The Supremes. O grupo de Diana Ross, junto ao The Three Degrees, Honey Cone e Labelle, marcantes por seus figurinos e coreografias, se mantiveram no topo das paradas musicais. Além do mais, várias outras girlbands negras se destacaram bastante na era disco e soul posteriormente como The Jones Girls, The Weather Girls e Sister Sledge.

Entre os anos 70 e 80 acontece uma significativa adição ao modelo de grupos vocais. Além dos populares grupos norte-americanos, o modelo cresce mais ainda ao redor do mundo e boybands e girlbands também se destacam na América Latina, Europa e Japão. Com isso, novos elementos são adicionados à formatação com danças mais enérgicas e roupas mais extravagantes. Nomes como Menudo, Loco Mía, Dominó, Candies, Pink Lady e Onyanko Club estabeleceram diferentes estruturas dentro do mercado fonográfico dos seus respectivos países de origem, e formas de se comunicar com o seu público-alvo que, sem dúvida, contribuíram muito para a relação de ídolo e fã.

O século XX, como um todo, é muito emblemático para a solidificação da música negra estadunidense e a virada dos 80 para os 90 é um período extremamente rico para o R&B. Ainda mais, para um gênero tão melódico e lírico, grupos vocais, como os antecessores barbershop quartets, se tornaram uma ótima maneira de apresentar novas vozes.

A efusão da cultura hip-hop, ou seja, negra popular, fez com que atos como New Edition, Mint Condition e Salt-N-Pepa, tomassem a atenção do público ainda nos anos 80. Letras românticas, baladas melosas e um som descontraído e dançante foram componentes muito presentes para a consolidação de uma nova apresentação estilística. É este cenário que aquece e se encaminha para o ápice de grupos vocais negros nos EUA, na década de 90, com mais força em sua primeira metade.

A passagem das duas décadas é bastante calcada pelas cores, danças e agitação do new jack swing, gênero musical que relaciona elementos sonoros e de composição do hip-hop e do R&B. Alguns dos mais característicos são o drum sampler e o som de órgão nos fonogramas. Teddy Riley, integrante do grupo Guy, gerou grande contribuição para o desenvolvimento do R&B noventista, assim para com o new jack swing como gênero musical e cultura como representado no filme New Jack City (1991) de Barry Michael Cooper.

E é justamente no ano de lançamento do primeiro álbum do grupo de Riley, importantíssimo para o gênero, que é possível identificar uma organização artística de transição para o R&B da década seguinte. “Guy”, álbum homônimo de 1988, ainda exibe uma estrutura bem oitentista, mas já inserindo os elementos próprios do new jack swing. “Piece of My Love” e “Groove Me” são ótimos representantes dessa passagem evolutiva.

No mesmo ano, o já longevo New Edition, com o seu 5º álbum de estúdio “Heart Break”, apresenta um trabalho com uma lírica e estética mais maduras, uma vez que os membros já tinham se tornado maiores de idade. O disco é muito emblemático por ser o primeiro após a saída de Bobby Brown para seguir em carreira solo, que inclusive lança o seu primeiro trabalho oficialmente fora do grupo — o ótimo Don’t Be Cruel — também em 88, e por ser o primeiro com o recém-integrante Johnny Gill. O álbum é recheado de baladas românticas, marca registrada do conjunto, algumas das músicas mais gostosas são “That’s The Way We’re Livin’”, “If It Isn’t Love” e a gigantesca “Can You Stand The Rain”.

Boybands e girlbands como Tony! Toni! Toné! e Sal-N-Pepa, com “WHO?” e “A Salt With A Deadly Pepa” respectivamente, também aquecem o cenário neste ano. Já em 1989, importantes trabalhos da música negra vêm ao mundo a partir de Janet Jackson (Rhythm Nation 1814), Babyface (Tender Lover) e De La Soul (3 Feet High and Rising). E nesta leva, alguns grupos, After 7 e Troop por exemplo, lançam álbuns que também fecham as portas dos anos 80.

Após o fim das atividades do New Edition, os ex-integrantes Ronnie DeVoe, Ricky Bell e Michael Bivins criam o novo grupo Bell Biv DeVoe em 1990. O conjunto logo apresenta o seu álbum de estreia “Poison” com o alavassador hit homônimo. Vindo do mesmo grupo, Johnny Gill lança um incrível álbum auto-intitulado que denota muito star quality como apresentado nas canções “Rub You the Right Way”, “My, My, My” e “Fairweather Friend”. Em paralelo, o Tony! Toni! Toné! lança o “The Revival” com o dançante e potente single “Feels Good”.

Em 1991, há 3 trabalhos de estreia essenciais para a consolidação do R&B noventista. O primeiro deles é o “Meant to be Mint” do Mint Condition com as ótimas “True to Thee” e “Breakin’ My Heart (Pretty Brown Eyes)”. “Forever My Lady” do Jodeci inaugura os trabalhos do grupos com “Forever My Lady” e “My Phone”. O terceiro é “Coolhighharmony” dos relevantes Boyz II Men, no qual em seu primeiro single “Motownphilly” o grupo faz menção à dois marcos da música negra norte-americana: a Motown Records e o gênero philly soul. “End of the Road” é um hino da sofrência da época. Outros grupos como Color Me Badd também apresentam discos neste ano.

O ano seguinte dá continuidade a esta efervescência sonora. Sinal disso é o TLC com “Ooooooohhh… On the TLC Tip (1992)”, com o qual a girlband estadunidense inicia a carreira com leveza, autoconfiança e liberdade. O disco possui ótimas gravações como “Ain’t 2 Proud 2 Beg”, “Hat 2 Da Back” e “Baby-Baby-Baby”. No mesmo ano, SWV chama muita atenção com “Downtown” e “Weak” do álbum “It’s About Time”; Jade encanta com “Don’t Walk Away” do disco “Jade to the Max”; e En Vogue com “My Lovin’” do seu segundo disco “Funky Divas”, que toma como referência girlbands negras dos anos 60.

A boyband Shai estoura com “If I Ever Fall In Love” do álbum de mesmo nome; o Silk estreia com o “Lose Control” trazendo ao mundo “Happy Days”, parceria com o Keith Sweat, “Freak Me”, “When I Think About You” e “Baby It’s You”; e o Hi-Five lança o “Keep It Goin’ On” com destaque à canção “She’s Playing Hard to Get”.

Voltando a considerar os grupos femininos, em 1993, o Xscape estoura com “Just Kickin’ It”, escrita e produzida por Jermaine Dupri, e “Understanding” de seu álbum de estreia “Hummin’ Comin’ at ‘Cha”. Já o Salt-N-Pepa apresenta o aclamadíssimo “Very Necessary” com canções clássicas e bombadíssimas como “Whatta Man”, com o En Vogue, “None of Your Business” e “Shoop”; além das impactantes “No One Does It Better”, “Somebody’s Gettin’ On My Nerves” e “I’ve Got AIDS”.

Já os meninos não ficam pra trás. Despontando ainda nos anos 80, o grupo Levert, no qual dois dos seus integrantes eram filhos de Eddie Levert, membro do grupo The O’Jays décadas antes, fazem o lançamento do álbum “For Real Tho” (1993). O trabalho é recheado de vocais impecáveis e produção musical estonteante como em “Me ’N’ You”, “Clap Your Hands”, “Goold Ol’ Days”, “She All That (I’ve Been Looking For)”, “For Real Tho’”, “My Place (Your Place)” e “Say You Will”.

Além deles, Tony! Toni! Toné apresentam o “Sons of Soul”, disco muito sólido e bem construído, que aponta e acentua uma maturidade sonora e de composição do grupo, visto que é o seu terceiro trabalho. “Anniversary” é uma epopeia romântica muito definidora para o período. O Mint Condition, com “From the Mint Factory”, mostram um lado de referências muito ricas, como exemplificado em “Fidelity”, um canção que resgata o rock como gênero musical negro. Fechando os destaques do ano, o H-Town também se insere ao cenário com o disco de estreia “Fever for da Flavor”.

Apesar de ter trabalhos importantes de solistas como Brandy, Karyn White e Mary J. Blige, 94 é marcado por girlbands. O disco do Zhané, o “Pronounced Jah-Nay”, casa do hit “Sending My Love”; e o álbum homônimo do Changing Faces, que apresenta “Stroke You Up” e “Come Closer”, são interessantes discos de estreia de duos de R&B. Apesar destes grupos não serem formados por muitos membros, eles ainda se destacam como atos musicais não-solo. Simultaneamente, o Boyz II Men promove o “II”, seu segundo trabalho, que tem entre os seus destaques “U Know” e a famosíssima “I’ll Make Love to You”.

Para o cenário do R&B, os discos de solistas de 95 também são muito relevantes para a história do gênero. O aclamadíssimo D’Angelo junto à Faith Evans, Monica e Tony Thompson são nomes que representam essa parcela de produção artística do dado ano. Ademais, apesar de menos populares, e com trabalhos não tão impactantes para o período, grupos como Kut Klose, Brownstone e All-4-One lançam projetos musicais no mesmo ano.

Um outro destaque é o “Off The Hook” do Xscape, trabalho alavancado pelo single “Who Can I Run To”, regravação do The Jones Girls, uma girlband de décadas anteriores. A canção, mesmo repaginada, é tão tocante e linda como a original. Outros destaques são “Can’t Hang”, “Feels So Good”, “Hard To Say Goodbye”, “What Can I Do” e “Do Like Lovers Do”.

Já em 1996, há o lançamento do primeiro álbum da girlband Total, agenciadas pela Bad Boy Records do Diddy. Dada a largada com “Can’t You See”, parceria com o The Notorius B.I.G, o disco do trio é guiado com atitude e auto-confiança. Ouça “No One Else (feat. Da Brat)”, “Who Is It? (Interlude)” e “Spend Some Time”. 702 se destaca com a sua estreia “No Doubt”, no qual promovem “Get It Together” e “Steelo”; e o Blackstreet estoura com “No Diggity”, parceria com Dr. Dre e Queen Pen, canção que mescla ainda mais elementos do hip-hop, do álbum “Another Level”.

1997 é marcado com ótimos álbuns de alguns duos como Changing Faces e Zhané, com “All Day, All Night” e “Saturday Night”, respectivamente. O primeiro tem uma produção refinadíssima e uma melodia ornamental. Charisse e Reefy parecem brincar com suas vozes no meio de composições poéticas e dramáticas, falando sobre amor, relacionamentos como uma confissão entre amigas no meio da madrugada. “G.H.E.T.T.O.U.T.”, “Thinkin’ About You”, “All of My Days” com Jay-Z, “All Day, All Night”, “I Got Somebody Else” e “No Stoppin’ This Groove” simbolizam com muita clareza, não só o momento do R&B neste ano, que se distancia do gênero do início dos anos 90 que evoca muito as baladas oitentistas, como o ápice da evolução do estilo musical denotando o que mais se destacaria no final da década. Outro destaque é o “This Time It’s Personal” do Somethin’ For The People, com “My Love Is the Shhh!” em parceria com o também duo feminino Trina & Tamara; e a estreia do Next com “Rated Next”.

Atingindo a maturidade de sua nova fase, o R&B é posto à prova em 1998 com sonoridade e imagem bem distintas do início da década, que ainda era bem oitentista. Pensando nas boybands e girlbands, isso fica claro com o lançamento de Traces Of My Lipstick do Xscape, álbum que é integrado por Softest Place On Earth, a música de putaria mais delicada aos ouvidos do mundo. Além disso, o Dru Hill apresenta o seu segundo álbum Enter The Dru, referenciando Bruce Lee. O trabalho é repleto de boas canções, mas “How Deep Is Your Love”, “I’ll Be The One” e “This Is What We Do”, parceria com o Method Man, merecem a sua escuta.

O ano também tem como destaque o disco de estreia do Destiny’s Child, assim como o álbum homônimo da solista Tamia com os hinos “So Into You”, “Imagination” e “Falling For You”.

Em 1999, o cenário da música popular anglófona dá espaço para a consolidação do pop característico dos anos 2000. Nomes como Britney Spears, Backstreet Boys, Christina Aguilera e Five indicam o caminho para a virada do milênio. Dentro do R&B, solistas como Mariah Carey, Ms. Lauryn Hill, Ginuwine, Jennifer Lopez, Whitney Houston e Missy Elliott apresentam discos que acabaram se tornando cânones para o gênero. Contudo, os trabalhos lançados, especificamente, por girlbands são tokens da história da música afro-estadunidense, incorporando mais ainda a tecnologia e um imaginário moderno, precedendo o que hoje chamamos de afrofuturismo.

As veteranas do TLC atingem mais um ponto alto de sua carreira com o lançamento do álbum “Fanmail”, visto a explosão de singles como “Unpretty” e “No Scrubs”, que é quase como uma “Evidências” do R&B. O Destiny’s Child ascende mais com o sucesso de “Bills, Bills, Bills” e “Say My Name” do “The Writing’s On The Wall”.

Além disso, o 702, grupo que foi trend do TikTok recentemente, apresenta o seu álbum homônimo com os hits “Where My Girls At” e “You’ll Just Never Know”. Ouça também “Make Time” e “Seven”. O ano também é o da estreia do grupo Blaque que emplacou canções como “808” e “Bring It All to Me”, parceria com o *NSYNC. Falando dos meninos, há trabalhos do 112 e Blackstreet, que apesar de menos populares, são fundamentais para o fechamento da década.

Entre os milênios há uma escalada de grupos britânicos e americanos, racialmente mistos, com grande influência da sonoridade das bandas negras anteriores. Os britânicos Spice Girls, Take That, Sugababes, All Saints e Girls Aloud; e os norte-americanos *NSYNC, Backstreet Boys e The Pussycat Dolls são responsáveis por simbolizar muitos aspectos do que classificamos como a música pop da passagem e início de milênio.

Apesar da tomada do imaginário popular de boybands/ girlbands por grupos majoritariamente brancos, neste período novos grupos negros também obtiveram sucesso como 3LW, Cherish, Mis-Teeq e B2K, já numa evolução sonora e estética do R&B. Os mais veteranos como Blackstreet, Boyz II Men e Dru Hill continuam produzindo, mas com uma diminuição significativa de sua popularidade. O grupo que melhor se sai nesse período inicial do milênio é o Destiny’s Child. Depois disso, o que vem de mais notório dentro do gênero são de artistas solos, alguns até advindos de grupos de sucesso.

No início dos anos 2000, o modelo tem um breve revival no Brasil, enquanto que se mantém até a metade dos anos 10 no circuito anglófono com muita popularidade, principalmente no Reino Unido, com grupos como The Wanted, One Direction e Little Mix. No entanto, essa tendência decai no ocidente, e na segunda metade da última década, o k-pop toma proporções globais.

Formada nos anos 90, a música pop sul-coreana é influenciada, principalmente, pelo hip-hop e R&B do período. Muitas canções dos grupos pioneiros Seo Taiji and Boys, Fin.K.L, S.E.S., Baby V.O.X, H.O.T., JINUSEAN, SHINHWA, 4MEN e god se assemelham e evocam a música negra estadunidense da época. O movimento vai se transformando até tomar as proporções atuais, com autenticidade e um certo experimentalismo não tão presente no pop em inglês, mas sempre deixando visível a influência negra.

Embora a força sul-coreana seja inegável hoje em dia, fato interessante é que atualmente o Reino Unido tem exportado excelentes boybands e girlbands, em sua maior parte racializadas, que referenciam muito o R&B noventista (com menos elementos de trap comparado ao R&B atual), como No Guidnce, com “If Only You Knew”, “Is It A Crime?” e “Committed”; FLO com Cardboard Box”, “Walk Like This” e “Fly Girl”; e Say Now com “Better Love”.

Inclusive, atos musicais similares também têm crescido nos EUA, como Most Wanted com a ótima “Tropic Thunder”; Boys World com “So What” e “Gone Girl”; e o Citizen Queen com as incríveis “So Special” e “Watchu Want”.

No fim do dia, apesar da problemática da classificação racista e limitante que a indústria fonográfica impõe sob gêneros musicais negros, o R&B e a música popular como um todo são um panelão cheio de fatores sociais, econômicos e culturais, e não são coisas estáticas.

Foi no período expandido da década de 90, abrangendo o final dos 80 e início dos 2000, que o R&B contemporâneo, de fato, materializou aspectos e estilos de composição e de vocal que hoje reconhecemos como elementos do gênero. E parte dessa modulação é estabelecida com os trabalhos destas várias boybands e girlbands negras.

Mesmo com o passar do tempo, com os momentos de alta e de baixa do modelo de grupos vocais no R&B, é revigorante ver nossos grupos surgindo neste meio, ainda mais com pessoas não-brancas, tendo este momento tão definidor do gênero musical como referência mor. Mesmo que estes sejam pouco conhecidos, quando comparado com a massiva produção artística do k-pop, é onde pode-se identificar o reforço da contribuição cultural negra no modelo, saudando-a.

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