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Rui Costa demite-se se perder Schmidt

Opinião de João Rosado. Ao mostrar-se disponível para falar se for visto como o problema, o alemão deixa é o presidente sem saída.
Rui Costa demite-se se perder Schmidt
CARLOS COSTA

É a frase do ano, vinda da boca de Roger Schmidt. A frase deste ano, bem entendido. Ao admitir no final do duelo com o Arouca que estava na disposição de falar com Rui Costa se o problema do clube tivesse que ver com a atual orientação técnica, o alemão fechou o campeonato em casa como o iniciou, soprando um desabafo capaz de abalar a estrutura.

Alan Harvey - SNS Group

Na véspera da receção ao Estrela da Amadora, a contar para a segunda jornada da Liga e em contagem decrescente para a estreia na Luz, Schmidt já tinha surpreendido tudo e todos com o sacrifício mediático de Odysseas Vlachodimos.

“Ody podia ter feito muito melhor”, sentenciou o treinador ainda no rescaldo da derrota por 3-2 no Estádio do Bessa ante um Boavista que neste momento nem sequer garantiu a manutenção.

Confortado pela vitória na Supertaça discutida com o FC Porto, naquela que acabaria por se revelar a única conquista da temporada, Rui Costa anuiu aos caprichos e deslizes públicos do míster, refugiando-se num silêncio que deixou claro quem tinha maior margem de manobra.

Rui Costa, presidente do Benfica
SL Benfica

Na verdade, nada disso mudou verdadeiramente, apesar dos fracassos anunciados com pompa, circunstância e muito dinheiro mal aplicado. O investimento na renovação daquele que se arrisca a ser considerado o melhor ala-esquerdo da Europa (Grimaldo, campeão na Alemanha) foi zero, o guarda-redes Bento Matheus não passou de um nome nas sondagens, Jurasek não passou de um desperdício de 14 milhões de euros, Juan Bernat não deveria ter passado nos exames médicos e Rafa passou metade da festa de despedida a estudar os convites do Médio Oriente.

A juntar a tudo isto, o Benfica foi incapaz de encontrar uma alternativa para Alexander Bah, conseguiu contratar três pontas de lança que não se impuseram e, conforme se popularizou entre dentes nos gabinetes de maior responsabilidade, conseguiu utilizar Fredrik Aursnes em quase todas as posições exceção feita à baliza e ao banco de suplentes... até o calendário reservar um desnivelado confronto com o Vizela.

NEVES FORA E MAIS NADA

Há dois meses, pondo fim a uma impressionante série de 501 dias e 70 desafios cumpridos na condição de titular, o versátil norueguês foi excluído do onze que defrontou o primeiro clube a ser despromovido à II Liga e logo no âmbito de uma das raras ocasiões em que Roger Schmidt deu sentido à palavra rotatividade. Além de Aursnes, também António Silva e Di María foram poupados a um esforço de 90 minutos, com a curiosidade de o defesa-central nem sequer ter sido chamado a jogo como que prenunciando um final de época algo distante de todo o talento e potencial revelados em idade precoce.

João Neves
MANUEL DE ALMEIDA

Um pouco à semelhança de João Neves (durante algum tempo remetido à condição de falso lateral-direito), também António Silva acabou por ser engolido pela irregularidade da equipa e colocou em causa a possibilidade de entrar na linha inicial de Roberto Martínez. Não sendo crível que o selecionador de Portugal prescinda destes benfiquistas no lote de 26 atletas que vai elaborar para o Campeonato da Europa, é indisfarçável que em comparação com o triunfal voo das águias vislumbrado há um ano baixaram as hipóteses de a SAD encarnada encaixar dois jackpots em simultâneo.

António Silva
JOSE SENA GOULAO

Como é evidente, e isso vale para qualquer clube, as certezas não são absolutas e as megaoperações no mercado de verão estarão muito dependentes daquilo que acontecer no Euro germânico. Nesta altura e tendo em consideração tanto o rendimento coletivo como individual, é mais sensato para os vice-campeões nacionais admitirem “apenas” a venda frutuosa de Neves mesmo que o jovem médio e/ou a seleção portuguesa não confirmem em junho as credenciais com que se vão apresentar no torneio.

Em certo sentido, também a cinzenta campanha do Benfica em 2023-24 redundou nesse outro grande contratempo, relacionada com a perda do brilho de diamantes como António Silva. O lado positivo desta descida no ranking dos mais apetecíveis é que qualquer treinador rejubilaria com a notícia da permanência no plantel de um defesa com as características daquele que há largos meses foi apontado no Seixal como o substituto de Rúben Dias.

UM REBENTO DE BOCA

Face à experiência e carisma de Otamendi e à previsível disputa de um lugar entre Morato e Tomás Araújo, o eixo da defesa constituiria a última preocupação para quem tem de tomar decisões no balneário. O mesmo se aplica à Direção desportiva, departamento de scouting incluído. Sem a noção dos lugares que importa efetivamente preencher com reforços dignos desse nome, o caminho para o primeiro lugar fica demasiado minado.

É neste campo que Schmidt deveria centrar as suas observações sobre a ampla conveniência de um Benfica unido. Focar-se nas desvantagens que resultam da crítica feroz de parte da massa adepta só recolhe validade levando em conta repetidas e intoleráveis atitudes de repúdio.

Por outro lado, a cedência que aparentemente o alemão está a fazer perante este género de manifestações só fragiliza... Rui Costa. Caso optasse pelo despedimento de alguém com quem renovou contrato só porque a ala dura dos adeptos assim o exige, o presidente benfiquista revelar-se-ia completamente vulnerável às influências externas, consentindo que os projetos estruturais fossem desenhados pelos arquitetos da pirotecnia.

Obviamente, o antigo “maestro” não pode agora dar-se ao luxo de dizer adeus a quem há um ano lhe deu o campeonato com requintes de bom futebol. Bastaria ao sucessor de Luís Filipe Vieira olhar para o outro lado da Segunda Circular para ver o exemplo de um líder que se recusou a ser refém de grupos mais radicais.

A distância que Frederico Varandas impôs a certa zona da bancada também faz parte dos segredos de um Sporting duas vezes campeão nos últimos quatro anos, da mesma forma que a excessiva ligação de Pinto da Costa ao chefe da claque derreteu de forma substancial os argumentos para um mandato até aos 90 anos.

ANTONIO PEDRO SANTOS

Varandas, à partida, não quererá imitar o seu velho adversário. Para já vai só pedindo 90 pontos no fim do campeonato e uma vitória no próximo dia 26 no Jamor. “Uma final não apenas para ganhar mas para rebentar com eles!”, soltou de maneira efusiva o presidente leonino no jantar de celebração do título.

E a esta frase do ano nem as duas de Roger Schmidt conseguem dar resposta.

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