Nijinsky – Uma História Real (1980)

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O bailarino russo Vaslav Nijinsky teve uma existência devastada por problemas psíquicos, mas quando subia aos palcos, tornava-se uma figura tão lendária quanto os personagens que interpretava com tanta sensibilidade. Admirado por todos de sua época, tinha em sua lista de fãs artistas como Charles Chaplin, que pensou em fazer um filme sobre ele, jamais iniciado. O mundo de Nijinsky começou a desmoronar quando os primeiros sintomas da esquizofrenia o perseguiram, e após seu casamento com Romola de Pulsky, eles se tornaram cada vez mais acentuados.

Em 1934 sua esposa publicou sua primeira biografia, intitulada Nijinsky, por Romola Nijinsky. O dançarino havia escrito um diário em 1919 em que ele contava um pouco de seu processo psicótico, com várias passagens eróticas em que abordava sua sexualidade. Romola retirou as partes eróticas e publicou o diário em 1936. Apenas muito tempo depois de suas mortes, foi que Tamara Nijinsky, filha de ambos, autorizou a publicação do diário com suas passagens integrais. E foi baseado nos dois livros, escritos por Romola e Nijinsky, que surgiu a proposta da realização de um filme sobre o gênio da dança.

Os direitos da história foram comprados em 1969 por Harry Saltzman. Ken Russell foi convidado para dirigir mas ainda na pré-produção, após uma série de dificuldades, o projeto foi arquivado e só retomado algum tempo mais tarde. Herbert Ross, que tinha tido uma carreira regular até então (dirigiu Sonhos de um Sedutor, com Woody Allen), foi chamado para a direção.


“Nijinsky” abrange o período em que o dançarino passa a morar com o empresário e amante Sergei Diaghilev. Diaghilev foi o primeiro empresário a levar o balé russo para fora da Rússia, e Vaslav Nijinsky foi sua maior criação. O relacionamento quase paternal (os dois tinham uma diferença de 17 anos) entra em conflito com a chegada de Romola de Pulsky, última figura do triângulo. Em uma das cenas, temos Diaghilev a observar jovens em uma praia, e é impossível não comparar com as cenas que temos em Morte em Veneza, clássico dirigido por Luchino Visconti. O empresário tem fascinação pelos homens jovens, e sua ligação com Nijinsky muito tem a ver com a visão grega da pederastia.

É quando entra a figura feminina. Fascinada pela dança de Nijinsky, Romola passa a persegui-lo por onde ele se apresenta, e embora receba apenas o desprezo, continua no intuito de conquistá-lo. E consegue se aproximar quando, em um momento de fraqueza, o jovem bailarino encontra-se fragilizado por pensar ter sido abandonado por seu amante. Os dois se casam e ao perceber que não terá mais contato com Diaghilev, que já o substituiu por outro jovem, o bailarino entra num processo depressivo, entregando-se à doença e sucumbindo à esquizofrenia, de forma irreversível.

O elenco é um dos grandes destaques do filme. Apesar de não ter sido a primeira opção para o papel do dançarino (Mikhail Baryshnikov foi a primeira opção), o dançarino George De La Pena, já na sua primeira participação em filmes, mostra talento, sobretudo nas cenas em que se exige que dance. Como não temos nenhum registro da dança de Nijinsky, temos um vislumbre do que poderia ter sido uma apresentação do mesmo. Alan Bates (Diaghilev) traz um desempenho fascinante do empresário. Leslie Browne também era dançarina, e emprestou sua postura à personagem Romola. Jeremy Irons faz aqui sua estréia nas telas, e já mostra o talento que aflorava no papel do dançarino Mikhail Fokine.

O filme, que no Brasil recebeu o subtítulo de Uma História Real, conta apenas uma parte da realidade, sendo desonesto em muitas passagens e com as personagens de sua história e não é totalmente fiel à história real, e mais se aproxima de um romance de folhetim. Focado sobretudo na relação de Diaghilev com Nijinsky, parece algo superficial e ficamos com a impressão que não estamos a ver a história do dançarino, e sim a que contam sobre ele. A história desse homem fascinante parece ser visto com um lençol à frente e em momento algum conseguimos adentrar em sua personalidade caótica, tendo apenas alguns vislumbres do que ou Diaghilev ou Romola pensam ao seu respeito. Se de um lado temos um homem que cuidou dele, elevando-o ao mais alto patamar e acreditando em suas qualidades, do outro temos uma mulher que aparentemente foi a causa de sua decadência. E nisso o filme direciona totalmente o espectador, quando sabemos que o verdadeiro Nijinsky não foi apenas um joguete nas mãos de um ou de outro e que Romola, apesar de todos os seus problemas emocionais e psíquicos, ficou ao seu lado até sua morte, cuidando de sua doença. Um filme bastante regular, embora tenha uma direção de arte impecável e excelente fotografia, sobretudo nas cenas de dança.

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