A ilha intocada de areia branca que é um “paraíso perdido” nas Caraíbas – NiT

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A ilha intocada de areia branca que é um “paraíso perdido” nas Caraíbas

A ilha Franklin, que faz parte do território dos Guna Yala, é um tesouro por descobrir. Não há wi-fi e a eletricidade só é ligada à noite.
Visitou a ilha Franklin.

Quando a tripulante de cabine Andreia Pinelas começou a procurar um destino para passar férias em março deste ano, sabia que queria um lugar ainda intocado, com praias de areia branca e águas cristalinas, mas sem grandes enchentes de turistas. A tarefa não se revelou assim tão fácil.

A jovem de 32 anos, que cresceu numa “aldeia com apenas três ruas” em Alcochete, Fonte da Senhor, tabalha na companhia Hi Fly há cerca de três anos como hospedeira de bordo, um emprego que lhe permitiu conhecer o mundo. Para quem, em miúda, achava as viagens um sonho distante, hoje são uma realidade diária.

“Lembro-me que na minha infância nunca fui de férias e os meus horizontes não eram alargados a nível de viagens. Tudo mudou quando viajei pela primeira vez para França. Comecei a gostar muito desta sensação de descoberta”, conta à NiT.

Já desbravou 37 países, mas a vontade de conhecer mais e melhor continua bem presente. Foi precisamente essa paixão pelo desconhecido que a levou até à ilha Franklin, um “paraíso perdido no mar das Caraíbas” que pertence ao território dos Guna Yala, o grupo indígena que habita o arquipélago de San Blás, no Panamá. 

“Escolhi ir de férias para o Panamá porque tem cidade, praia e montanha, e ainda não é muito explorado pelo turismo. Queria ter uma viagem tranquila e evitar aqueles sítios carregados de gente”, admite. Quando a tripulante de cabine começou a pesquisar o melhor destino de praia no país, nada lhe parecia agradar. “Nenhuma me dava aquele clique. Queria mesmo ir para um paraíso e não me conseguia decidir”, revela.

A pesquisa intensa, através de vídeos no YouTube e blogs de viagens, levou-a a encontrar uma ilha chamada Franklin, de águas cristalinas e areia branca, tal como idealizava. Era tão perfeita, confessa, que chegou a pensar não ser real. “Encontrei imagens lindas e perguntei-me: até que ponto é que isto existe realmente? Então comecei a pesquisar mais e realmente batia tudo certo. Parecia ser o paraíso”, diz.

@diary_of_anphi

Estadia Ilha Franklin 🥥🌴 Apresento-vos a estadia numa das 365 ilhas dos Guna Yala! #travelvlog #vlog #sanblas #sanblaspanama #sanblasislands #panama

♬ som original – Andreia Pinelas

 

Encontrou o site da ilha e contactou-os através do WhatsApp para fazer a tão esperada reserva de três dias, de 10 a 13 de março. Tinha acabado de marcar “a experiência mais incrível de sempre”, mas ainda lhe esperava uma longa viagem para lá chegar.

Da Cidade do Panamá são cerca de quatro horas de caminho de jipe, por “estradas cheias de buracos, a subir e a descer, com curvas e contracurvas”, até chegar ao porto de onde partirá o barco. Em cerca de 20 minutos, com algumas paragens pelo meio, chega-se então à intocada ilha — tão pequena que pode ser percorrida a pé em 10 minutos. “Dá para ver exatamente onde começa e onde termina. No horizonte, vemos todas as outras pequenas ilhas à volta”, revela. Afinal, o arquipélago de San Blás é constituído por 378 ilhas.

No caso de Franklin, este paraíso perdido nas Caraíbas, também chamado de Tubasenika, começou a receber hóspedes em 2008. Está dividido entre duas famílias, pelo que de um lado estão as cabanas da Isla Franklin e do outro as Cabanas Senidup, mas os turistas podem circular livremente entre os dois locais. Andreia ficou hospedada na primeira. Assim que chegou, percebeu que tudo o que tinha visto anteriormente na Internet era mesmo real.

“Estava com uma ansiedade e uma adrenalina tão grande. Só queria pisar a areia, sentir a temperatura da água”, recorda. Antes disso, entrou numa pequena cabana para fazer o check-in, onde lhe explicaram tudo: não havia eletricidade, nem Wi-Fi, e as casas de banho eram partilhadas. Só a partir das 18 horas é que ligavam os geradores para que pudessem carregar os telemóveis. 

Assim que os Guna Yala lhe deram a pulseira que provava que estava hospedada ali, indicaram-lhe o caminho para o quarto onde ficaria nos três dias seguintes. Esta parte da ilha oferece um total de 21 cabanas— nove delas com chão de madeira e 12 com chão de areia —, todas elas em frente ao mar. “A ideia é termos uma experiência como se lá morássemos realmente”, diz. 

A tripulante de cabine optou por ficar nas que têm chão de madeira. No interior, existia apenas uma cama e uma pequena bancada para colocar os artigos de higiene e a mala, bem como uma varanda onde podiam estender a roupa, com escadas que dão diretamente para a praia. 

Na ilha de Franklin, todos os turistas fazem as refeições juntos e à mesma hora. A chamada para o pequeno-almoço, às sete horas, para o almoço, ao meio-dia, e para o jantar, às 18 horas, era sempre feita por um búzio gigante. “A primeira vez fiquei pasmada a tentar perceber que barulho era aquele, mas é o chamamento dos Guna Yala. Também tocavam o búzio quando tínhamos alguma excursão”, conta.

Sem cafés nem restaurantes, a única opção para comer fora destes horários é mesmo a mercearia local, que tem bolachas, batatas fritas, chocolates e bebidas. “Jantamos um pouco mais cedo do que é habitual em Portugal, mas começamos logo a adaptar-nos ao estilo de vida delas. À noite costumam fazer uma fogueira na praia para as pessoas irem socializar, mas tirando isso não há muito que possamos fazer, por isso também nos deitamos cedo”, explica.

Apesar da ilha ser pequena, não faltam atividades. Logo no primeiro dia de estadia, Andreia embarcou numa tour para conhecer as piscinas naturais das redondezas, a ilha Nognudub e a de Perro Chico. “As piscinas são realmente algo incrível. Basicamente saltamos do barco e estamos com a água a dar-nos pela cintura, no meio do mar das Caraíbas, e vês toda uma imensidão, com água super transparente e estrelas do mar. Foi mágico”, confessa.

O segundo ponto de paragem foi a Nugnudub, uma “ilha mais jovem”, com bares e música. A única maneira de passar lá a noite, por enquanto, é em tendas de campismo. O último destino da tour foi a ilha Perro Chive, cuja principal atração é o snorkeling, onde é possível ver vestígios de um barco que se afundou em 1958. É, também, a mais movimentada de todas. “Adorei ficar na ilha Franklin porque queria algo mais privado e acabou por ser uma experiência completamente diferente. Estavam umas 10 pessoas no máximo”, diz.

@diary_of_anphi

Isla Perro Chico 🌞 | Estadia Ilha Franklin – Parte 4 📍visita a Perro Chico, uma das ilhas que conhecemos no nosso primeiro dia em San Blas 🌴🥥 #travelvlog #sanblas #sanblasislands #viagemdossonhos #ilhadossonhos #viagem #carabean #vlog #panama

♬ som original – Andreia Pinelas

O pior, para Andreia, foram mesmo os lagartos que teimavam aparecer na cabana, algo natural no meio da natureza ainda intocada. “Tenho uma fobia enorme e quando entrei estavam uns seis ou sete lá dentro. Não foi fácil de ligar, mas conseguimos espantá-los”, conta. 

Outro desafio é escapar aos coqueiros espalhados pela ilha, que podem ser um perigo, uma vez que os cocos podem cair a qualquer momento. “Um senhor que estava connosco disse-nos que se nos acertarem na cabeça, podemos morrer.”

Andreia saiu da ilha Franklin sã e salva, mas o mesmo não aconteceu a uma turista vizinha, que estava prestes a entrar na cabana quando um coco caiu e acertou-lhe na mão. “Aconteceu tudo em segundos, ainda gritei para ela ter cuidado, mas já não fui a tempo. Ficou ali à rasca, com dores no pulso”; recorda. 

A tripulante de cabine adianta ainda que a ilha Franklin não é, de todo, um “destino para quem procura luxos”. “É uma experiência incrível, mas há que ter em mente que pode não ter as melhores condições. As casas de banho são modestas e a comida é muito simples. É disto que devem estar à espera”, sublinha.

Quanto a preços, Andreia pagou 510€ (duas pessoas) para três noites. O valor inclui ainda o jipe desde a Cidade do Panamá até ao porto, as taxas para entrar no território dos Guna Yala, a viagem de barco, as refeições e a tour. As reservas devem ser feitas para o número de Whatsapp +507 6848-7580.

Como lá chegar

Para chegar à Cidade do Panamá, encontra bilhetes de ida e volta, com partida de Lisboa, desde 554€. Se embarcar no Porto, há voos a partir de 578€. Depois segue-se uma viagem de jipe de quatro horas até chegar ao porto, de onde partirá o barco para a ilha Franklin.

Carregue na galeria para conhecer melhor este paraíso perdido no meio das Caraíbas.

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