Glória Groove fala sobre preconceitos, carreira e orgulho LGBTQ+: ‘Resistir e ser o que você é já é maravilhoso' | Campinas e Região | G1

Por Victória Cócolo*, G1 Campinas e região — Campinas


Com 23 anos, a cantora e drag queen Glória Groove trabalha com entretenimento há 15 anos — Foto: Rodolfo Magalhães/Arquivo pessoal

A cantora Glória Groove se apresenta em Campinas (SP) neste sábado (30), em um show intitulado “Pré Parada”, em referência a Parada LGBTQ+ que acontece no domingo (1º). Em conversa ao G1, a drag queen fala de carreira, preconceito e representatividade, e aproveita o Dia do Orgulho LGBTQ+, celebrado nesta quinta-feira (28), para destacar a importância da comunidade de ser forte em sua luta.

“Resistir e ser o que você é já é maravilhoso, já é o que você deveria ser”, diz.

A apresentação deste sábado antecede a parada em Campinas e que, para Glória, é essencial que aconteça. "O que uma parada LGBT representa é muito maior do que parece. A gente tá ali celebrando a nossa vida e isso é maravilhoso. Imagine o que a gente teve que passar até chegar ali. É o nosso jeito de dizer estamos aqui, existindo e resistindo."

Paulistana de nascimento, Glória diz estar feliz por se apresentar em Campinas. "Gosto muito desse lugar e tenho muito carinho pelas as pessoas, que são muito queridas".

Aos 23 anos, a cantora que bombou com o hit “Dona”, em 2017, ficou mais conhecida neste ano depois de estourar com “Bumbum de Ouro”. Mas engana-se quem pensa que a carreira no mundo da música é curta. Já são 15 anos no mundo do entretenimento. Ela chegou a participar até do elenco de uma das gerações do programa “Balão Mágico”.

Influenciada pela cultura hip hop, bem presente em sua infância, em São Paulo, Glória se destaca pelo o uso do rap em suas canções. E para quem achava que rap "era coisa de menino", a drag queen conta que o surgimento de figuras como a cantora Nicki Minaj a deixaram "maluca".

"Ela era drag queen e fazia o que os caras faziam. Depois conheci Flora Matos, Karol Conka e a partir disso percebi que o rap não pertencia a ninguém, porque até então eu tinha essa visão esteriotipada sobre o rap ser coisa menino", conta.

Apesar de ter se feito como "drag rapper’, a artista diz que deseja ser reconhecida pela versatilidade. "Ser uma drag cantora e entregar tudo o que posso no mundo do entretenimento".

Glória Groove faz show em Campinas (SP) neste sábado — Foto: Cesar Fonseca/ Arquivo pessoal

Representatividade

Em um data para celebrar o orgulho LGBTQ+, Glória Groove aproveita para comentar como a representatividade teve um grande papel em sua vida. "Quando percebi que Rupaul era drag queen, uma empresária de sucesso e mundialmente conhecida, importou”, diz, referindo-se a drag queen conhecida pelo reality show Rupaul's Drag Race.

“Quando você olha pra alguém e se vê, você pensa: 'meu Deus, eu existo'. Imagina como é essa sensação de não se conhecer até alguém te mostre. Olhar para alguém e ver um espelho, isso é algo que a gente sentia falta até pouquíssimo tempo atrás”, afirma.

Mais experiente e segura, Glória acredita que entender que poderia falar "sua verdade" e defender uma comunidade foi o que mudou sua vida e hoje se vê como uma figura de representatividade no meio LGBTQ+.

“Eu acho que me entendo LGBTQ+ desde os quatro ou cinco anos de idade. A minha vida, a minha arte e os ensinamentos que eu tento passar não teriam proporções tão fortes se eu não fizesse parte deste grupo”.

A cantora afirma que se fosse heterosexual ou se escondesse sua identidade, trabalharia no ramo e que também seria interessante, mas acredita que fez a "escolha certa" ao unir suas convicções e carreira "de forma revolucionária".

“Não me vejo fazendo de outro jeito. Até pouco tempo atrás não era nem possível se ter uma carreira de sucesso quando se era LGBTQ+, então é importante.”

Glória Groove fala da importância da representatividade — Foto: Rodolfo Magalhães

Parceria com Anitta

Glória Groove falou também sobre a parceria que fez com Anitta, regravando o sucesso "Show das Poderosas", single lançado pela cantora em 2013. O projeto faz parte da campanha de uma gravadora internacional pelo mês do orgulho LGBTQ+. Ela se diz lisonjeada e agradecida pelo convite.

“Está muito legal! A Anitta, mulher, jovem, empresária, é uma inspiração para todas nós da indústria da música. Ela revolucionou o mercado pop. Estou muito grato por fazer parte disso. Em 2012 eu era a própria bicha que estava tirando a coreografia para dançar a música na boate e agora faço parte um um projeto tão icônico”, brinca.

Vida e família

Glória conta que revelou para a família que era gay aos 14 anos. Ela afirma ter tido uma trajetória complicada, com direito a questionamentos e pressão vinda da família, que ele chama de "clichês da vida de todos os homossexuais".

"Quando você é adolescente, em casa, começam os bafafás. Costumo dizer que fui arrancado do armário".

A artista diz que se sentiu pressionada a contar que era gay. "Eu acho que é muito cedo para sentir essa sensação de encurralamento. Isso não se faz, o mínimo que a gente precisa ter é respeito pelas pessoas pelo o que elas são. Além disso, quando a pessoa estiver preparada, vai contar”, diz.

Glória Groove conta que já se definiu como um homem gay, mas afirma que atualmente se identifica mais com o gênero "queer", o "Q" de LGBTQ+, que está atrelado a uma identidade de gênero não binária, isto é, que não se identificam com a definição de masculino ou feminino.

“Hoje eu entendo que a leitura que a sociedade faz de mim não é mais a de um homem gay. Às vezes não estou nem montada, no aeroporto, e as pessoas me chamam de moça ou senhora. Então eu sinto que estou mais ao ‘Q’ do LGBTQ+”, afirma.

Serviço

  • Show Glória Groove - "Pré Parada do orgulho LGBTQ+"
  • Data: Sábado (30)
  • Horário: 22h
  • Local: Ark Club, Rua Paschoal Carlos Magno, Jardim do Lago 2

*Sob supervisão de Fernando Evans

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