Kondzilla: “A pirâmide inverteu, quem dita as tendências, agora, é a base” | Exame

Kondzilla: “A pirâmide inverteu, quem dita as tendências, agora, é a base”

Ele é dono do maior canal brasileiro do Youtube, da série mais assistida do Netflix e estuda o mercado financeiro. Konrad Dantas é um fenômeno dos negócios. Em entrevista a Mano Brown, no podcast Mano a Mano, Kondzilla abre o jogo sobre empreendedorismo, racismo e o futuro do entretenimento

Kondzilla: “Não é sempre que o bem vence o mal. É como as máscaras no avião, primeiro coloca em você, depois no outro. O impacto social vem quando a gente tem sustentabilidade” (Kondzilla/Divulgação)

Kondzilla: “Não é sempre que o bem vence o mal. É como as máscaras no avião, primeiro coloca em você, depois no outro. O impacto social vem quando a gente tem sustentabilidade” (Kondzilla/Divulgação)

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Rodrigo Caetano

Publicado em 2 de junho de 2022 às 11h24.

Última atualização em 3 de junho de 2022 às 10h57.

Kondzilla é dono de um império. Seu canal no Youtube possui 65 milhões de assinantes, o maior da América Latina e quarto maior do mundo. Se formassem um país, seus fãs seriam o 23º mais populoso, à frente da Itália. A série Sintonia, que produziu, foi a mais assistida do Brasil no Netflix, em 2019, ano de lançamento, e a terceira do mundo, atrás dos sucessos La Casa de Papel e The Witcher. Kond é o produtor musical mais bem-sucedido do país atualmente, sempre voando abaixo do radar do mainstream.

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Do seu radar, no entanto, pouca coisa escapa. Ele percebeu cedo o impacto das plataformas digitais na indústria do entretenimento. Viu que havia espaço para novas linguagens, mais jovens, e possibilidades de remuneração. Soube acompanhar os ciclos econômicos da última década e adaptar seu conteúdo para as demandas do momento. Agora, percebe que o mercado financeiro começa a se movimentar em direção ao setor, e se prepara para entrar na onda.

“A pirâmide inverteu, quem dita as tendências, agora, é a base”, afirmou Kond, em entrevista ao rapper Mano Brown, fundador dos Racionais MCs, no podcast Mano a Mano, que Brown apresenta no Spotify. A frase tem mais de um significado. Ela diz respeito à nova ordem da comunicação digital, em que o público, um consumidor passivo na era analógica, se torna protagonista. “Não é mais um cara lá em cima que define o que as pessoas vão ouvir ou assistir”, explica.

Empoderamento periférico

Diz respeito, também, ao movimento negro e periférico, que, ao se organizar, passa a compreender seu poder político e econômico. Kond é responsável pela disseminação da frase “a favela venceu”, utilizada por muitos artistas, especialmente da linha do funk ostentação. No episódio anterior de Mano a Mano, Sueli Carneiro, uma das mais importantes intelectuais do movimento negro, considerou a afirmação neoliberal. Ele não nega a superficialidade da frase, mas diz que foi necessária em dado momento.

O mainstream do audiovisual, diz ele, fechou as portas para seu trabalho por diversas vezes. “Se Sintonia não fosse um sucesso, as oportunidades para artistas de periferia iriam regredir uma década”, afirma. Para quem vem da periferia, não há segunda chance. Ou explode, ou é descartado. É vencer ou vencer. Nesse sentido, se autoafirmar como vencedor é um ato de resistência.

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5% noção e 95% razão

Kondzilla, no entanto, está longe de um lugar de conforto. Nem confia cegamente em seus instintos. Para se manter à frente das tendências, ele investe em plataformas de inteligência que calculam o potencial de sucesso das músicas com base em dados. Kond assinou um contrato, por exemplo, com o artista Max Único, que possui impressionantes 33 ouvintes mensais no Spotify. Esse número deve subir. Para ele, a fórmula para o sucesso é 5% noção, e 95% razão.

O pragmatismo e a capacidade de planejamento Kondzilla atribui à sua mãe, Áurea, que morreu em 2008. Como herança, deixou para os dois filhos três seguros de vida. “Acho que ela sabia que ia morrer”, diz ele. Com o dinheiro, Kond e seu irmão, Kauê, pagaram seus estudos. O mais novo se tornou dentista, também bem-sucedido, e Kondzilla se encontrou em cursos de computação gráfica e cinema 3D.

“Me inscrevi num curso do Google chamado ‘Do Zero ao Curta em 1 Ano’. Eu era o mais jovem da classe, o único que não tinham morado fora e não falava inglês. Se a galera tinha uma dúvida, podia pesquisar em sites gringos. Eu não. Precisei ser mais objetivo, não podia perder tempo”, conta.

Ao mesmo tempo em que compreende a sua história de superação, ou justamente por isso, Kondzilla não se considera um exemplo de autodeterminação. Em um evento fora do Brasil, ele se encontrou com representantes do governo, que usavam sua história para justificar o desmonte das políticas de incentivo cultural. “No início, eu também estava com fome”, afirma. “Não é sempre que o bem vence o mal. É como as máscaras no avião, primeiro coloca em você, depois no outro. O impacto social vem quando a gente tem sustentabilidade”.

O episódio de Mano a Mano com Kondzilla está disponível exclusivamente no Spotify. Para quem gosta de música e negócios, é imperdível.

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