José Bonifácio, o conselheiro da independência – A resenha de hoje - Banzeiros

18 de abril de 2024

José Bonifácio, o conselheiro da independência – A resenha de hoje

Por José Carlos Sá

“[Bonifácio tinha] uma cabeça vulcânica a despeito de seus cabelos brancos]”, escreveu um diplomata francês acreditado no Brasil (Ilustra Litografia de Sisson, melhorada com recurso iloveimg)

Soube da existência de José Bonifácio de Andrada e Silva ainda no grupo escolar quando a professora falou sobre a Proclamação da Independência do Brasil. Mas soube muito pouco. Ele aparecia na História do Brasil ali pelo capítulo que falava da Independência.

Sem maiores explicações, José Bonifácio era apontado, junto com a esposa de D. Pedro, princesa Leopoldina, como aqueles que incentivaram – através de cartas – o príncipe regente a proclamar a independência do Brasil de Portugal. Depois Bonifácio aparece como tutor do jovem D.Pedro II, futuro imperador. Aí o homem desaparece como surgiu: do nada.

A leitura do livro “História dos fundadores do Império do Brasil – Volume I – José Bonifácio” (Edições do Senado Federal, Brasília, 2015) foi esclarecedora, pois a ele é atribuída uma alta responsabilidade – influenciar no rompimento de uma colônia com o país que a dominava – e eu não sabia nada sobre esse personagem.

Apesar de o autor Otávio Tarquínio de Souza ser um admirador confesso de José Bonifácio, a biografia mostra fatos comprovando a grandeza e o caráter da pessoa, sem enaltecê-lo. Nascido em Santos (SP), em 13 de junho de 1763, ele recebeu o nome de José Antônio, e depois o trocou para José Bonifácio. O pai detinha a segunda maior fortuna da vila, proveniente dos bens deixados pelo avô, vindo de uma família de muitas posses em Portugal.

José Bonifácio foi estudar em São Paulo e teve a oportunidade de ler bons livros das bibliotecas de padres-professores onde aprendeu noções de lógica, metafísica, retórica e língua francesa. O pai o enviou a Portugal, e foi admitido no curso de direito da Universidade de Coimbra, onde também frequentou os cursos de filosofia e matemática. 

Homenagem a José Bonifácio pelo Correio de Portugal, por ocasião dos 150 anos da Independência do Brasil, em 1972 (Reprodução)

Após ter se formado em filosofia e leis, Bonifácio não quis seguir a carreira jurídica e, através de um parente remoto, “no ca…lhésimo grau”, conforme ele registrou em uma carta, conseguiu ser indicado para uma viagem de estudos pela Europa, às custas do governo português. Essa oportunidade foi importante para a formação científica do jovem santista, que se especializou em metalurgia e mineralogia.

O retorno ao Brasil se deu 36 anos depois da partida, após exercer vários cargos no Reino de Portugal, especialmente trabalhando em sua especialidade, como intendente-geral das Minas e Metais do Reino e como professor da cátedra de metalurgia, na Universidade de Coimbra.

Em 1819, com 56 anos, José Bonifácio era um nome respeitado na Europa como cientista e esta fama o antecedeu no Brasil. Ao rever sua terra natal, o Rio de Janeiro tinha ares de metrópole devido à vinda da Corte para cá, e os problemas que ele já detectara antes de ir para Portugal: “a civilização dos índios e a abolição do tráfico e da escravidão dos negros”. E foi justamente essa segunda preocupação que o levou à desgraça e à prisão anos depois. 

 

“Descoberto” por D. Pedro

Enquanto descansava, como era sua vontade, José Bonifácio era consultado e dava palpites sobre qualquer assunto, desde as vestimentas que os brasileiros usavam e eram impróprias para o clima, passando pela alimentação dos soldados, até a defesa da proibição da faca de ponta e da cachaça. 

Com a partida da família real de volta para Portugal, o movimento pela independência do Brasil tomou vulto e José Bonifácio foi aclamado como vice-presidente da Província de São Paulo e nessa condição sugeriu linhas de ação aos deputados paulistas que seriam enviados como representantes provinciais junto às Cortes em Lisboa. Depois, foi um dos redatores de uma carta em que os paulistas pediam ao Príncipe Regente que desobedecesse às ordens vindas d’álem mar. Foi nesta condição que D. Pedro o conheceu pessoalmente.

A relação ficou estreita entre eles e José Bonifácio se tornou o conselheiro mais próximo, caindo também nas graças da futura imperatriz, que também se interessava por geologia. Esse namoro não foi muito longo. Durou de janeiro de 1821 a julho de 1823, quando Bonifácio foi afastado do cargo de ministro do Império e dos Estrangeiros. Mais tarde ele seria preso e banido, passando outros seis anos no estrangeiro.

Quando da abdicação de D. Pedro I em 1831, foi dado a José Bonifácio a responsabilidade de ser o tutor do futuro imperador e das irmãs dele. Na nova função, Bonifácio reacendeu antigas antipatias e foi vítima de mais um conchavo, que não só o destituiu do cargo, como o manteve em prisão domiciliar. José Bonifácio Andrada e Silva morreu no dia 6 de abril de 1838, aos 74 anos. Pediu que na sua sepultura fosse gravado o seguinte epitáfio, que é um verso do poeta Antônio Ferreira: “Eu desta glória só fico contente,/ Que a minha terra amei e a minha gente.

Ao longo da vida José Bonifácio colecionou desafetos, sendo os principais e quem mais o prejudicou foram o seu irmão de Maçonaria Gonçalves Ledo (citado 30 vezes no livro) e D. Domitila de Castro, marquesa de Santos e amante ostensiva do imperador. Na briga com os dois, Bonifácio saiu perdendo.

Curiosidade satisfeita.