Cinderela (A Gata Borralheira) - Conto Original dos Irmãos Grimm | Completo | Fantástica Cultural

Cinderela (A Gata Borralheira) - Conto Original dos Irmãos Grimm | Completo | Fantástica Cultural

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Cinderela (A Gata Borralheira) - Conto Original dos Irmãos Grimm | Completo

Autores Selecionados ⋅ 29 abr. 2023
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Leia a versão original deste clássico conto de fadas da literatura universal.

Cinderela - Arte de Ruth Sanderson
Cinderela - Arte de Ruth Sanderson

A esposa de um homem muito rico adoeceu gravemente. Sentindo que seu fim estava próximo, chamou a filha única ao pé da cama e disse-lhe:

— Querida filha, conserva-te sempre boa e piedosa, assim o bom Deus te ajudará e eu, do céu, velarei por ti e te protegerei sempre.

Pouco depois, fechou os olhos e morreu. A menina ia todos os dias rezar e chorar sobre o túmulo de sua mãe, sempre muito boa e piedosa.

Chegou o inverno, estendendo seu manto branco sobre a sepultura, mas, quando começou a primavera e o sol derreteu o manto branco de neve, o viúvo casou-se novamente.

A segunda mulher trazia consigo duas filhas, bonitas, mas de coração cruel e feio. Começaram, então, dias bem tristes para a pobre enteada.

— Essa estúpida, palerma — diziam as recém-chegadas —, acha que vai ficar na sala conosco? Quem come o pão tem de ganhá-lo! Fora daqui, faxineira!

Tomaram-lhe os belos vestidos, deram-lhe uma roupa cinzenta para vestir e um par de tamancos.

Cinderela - Arte de Kinuko Y. Craft
Cinderela - Arte de Kinuko Y. Craft

— Vejam só! Vejam como está enfeitada a rica princesa! — exclamavam rindo e zombando. Depois, empurraram-na para a cozinha.

Nesse local, tinha que arcar com os serviços mais pesados desde a manhã até a noite. Tinha de levantar-se de madrugada, trazer a água, acender o fogo, cozinhar e lavar a roupa. Ainda por cima, tinha de suportar todas as provocações que as maldosas irmãs não cessavam de fazer-lhe. Esparramavam ervilhas e lentilhas nas cinzas do fogão só para obrigá-la a catá-las uma a uma. À noite, após tamanha canseira, não dispunha de cama para deitar-se e era obrigada a dormir no borralho da lareira, razão por que vivia suja e cheia de cinzas. As outras, então, apelidaram-na de Cinderela.

Certa vez, tendo de ir a uma feira, o pai perguntou às duas enteadas o que desejavam que lhes trouxesse.

— Eu quero belos vestidos — disse a primeira.

— E eu, pérolas e pedras preciosas — disse a segunda.

— E tu, Cinderela, que desejas? — perguntou-lhe o pai.

— Papai, eu quero que apanhes e me tragas o primeiro galho que te roçar o chapéu quando voltares para casa.

O pai, então, comprou lindos vestidos, pérolas e pedras preciosas para as duas enteadas, conforme lhe pediram. Ao regressar para casa, vinha cavalgando por entre algumas moitas e um galho de aveleira roçou-lhe o chapéu, derrubando-o. Quebrou, então, o ramo e levou-o consigo. Ao chegar em casa, distribuiu às enteadas os vestidos e as joias, e à Cinderela deu o ramo de aveleira.

Ela agradeceu muito, depois correu ao túmulo da mãe e plantou o ramo, chorando tanto que as lágrimas o regaram.

Cinderela - Arte de Kinuko Y. Craft
Cinderela - Arte de Kinuko Y. Craft

O ramo cresceu e tornou-se uma linda árvore. Cinderela rezava e chorava sobre a sepultura três vezes por dia e, em todas elas pousava na árvore um passarinho muito branco, o qual, quando ela formulava algum desejo, lhe jogava logo o que pedia.

Ora, aconteceu que o rei daria uma grande festa, que duraria três dias, e convidou quantas donzelas havia no reino a fim de que o filho escolhesse entre elas uma noiva. As duas irmãs, ouvindo que também participariam da festa, ficaram radiantes de alegria e maldosamente chamaram Cinderela, ordenando-lhe:

— Penteia-nos o cabelo, engraxa-nos os sapatos e verifica se as fivelas estão bem seguras, pois temos que ir à festa no castelo do rei.

Cinderela obedeceu com a mesma bondade de sempre, mas não podia conter as lágrimas pois também gostaria de ir ao baile, portanto, Você também pode gostar: Rapunzel - Conto Original dos Irmãos Grimm foi pedir à madrasta que lhe desse permissão para ir, mas esta exclamou:

— Tu! Cinderela! Mas se estás sempre tão suja e cheia de cinzas, como pretendes ir à festa? Não tens vestidos nem sapatos e queres ir dançar?

A moça, porém, voltou a insistir e a madrasta acabou dizendo:

— Despejei um prato de lentilhas na cinza. Se dentro de duas horas conseguires catá-las todas, poderás ir.

A menina dirigiu-se para a horta atrás da casa e aí chamou:

— Queridas pombinhas, e vós mansas rolinhas, e vós pássaros que voais pelo céu, vinde ajudar-me a catar as lentilhas.

— As boas no prato,
as ruins no papo.

Logo entraram pela janela da cozinha duas pombas brancas, depois as rolinhas e, por fim, esvoaçando, entraram todos os passarinhos do céu, indo colocar-se todos juntos da cinza. As pombinhas acenaram que sim com as cabecinhas e puseram-se pic, pic, pic, pic, começaram a catar. Então, os outros imitaram-nas, e, pic, pic, pic, pic, recolheram no prato todos os grãozinhos melhores. Antes que tivesse decorrido uma hora, tinham terminado a tarefa e saíram voando por onde tinham vindo.

Cinderela - Arte de Janet e Anne Grahame Johnstone
Cinderela - Arte de Janet e Anne Grahame Johnstone

Cinderela, felicíssima, foi correndo levar o prato à madrasta, certa de poder ir ao baile, mas a madrasta disse-lhe:

— Não podes ir, Cinderela, não tens vestido e não sabes dançar. Todos zombariam de ti.

Cinderela desatou a chorar. Então, a madrasta disse-lhe:

— Se conseguires numa hora catar das cinzas dois pratos cheios de lentilhas irás também. — Pensou consigo mesma: "Não o conseguirá nunca!"

Depois que a madrasta despejou os dois pratos de lentilhas nas cinzas, a moça foi à horta atrás da casa e chamou:

— Queridas pombinhas, e vós mansas rolinhas, e vós pássaros que voais pelo céu, vinde ajudar-me a catar as lentilhas.

— As boas no prato,
as ruins no papo.

Cinderela - Arte de Ruth Sanderson
Cinderela - Arte de Ruth Sanderson

E pela janela da cozinha entraram voando duas pombas brancas, depois as rolinhas e por fim, esvoaçando, todos os passarinhos do céu, indo colocar-se todos junto das cinzas. As pombinhas acenaram que sim com as cabecinhas e, pic, pic, pic, pic, começaram a catar. Os outros então imitaram-nas e, pic, pic, pic, pic, em breve recolheram os grãos melhores nos pratos. Em menos de meia hora estava terminada a tarefa e saíram voando pelo mesmo caminho por onde vieram. A moça, radiante de alegria, levou os pratos à madrasta, certa de que agora poderia ir à festa. Mas a madrasta disse-lhe:

— É tudo inútil, Cinderela. Não podes ir conosco, porque não tens vestidos e não sabes dançar. Tu nos envergonharias a todos.

Deu-lhe as costas e saiu apressadamente, acompanhada de suas orgulhosas filhas.

Tendo ficado só, Cinderela correu para o túmulo da mãe e sob a aveleira exclamou:

— Minha árvore amada,
Agita teus ramos e
Cubra-me de ouro e prata!

O pássaro, então, que estava pousado na árvore, atirou-lhe um lindo vestido de ouro e prata e sapatinhos bordados de seda e prata. Com a maior rapidez, ela vestiu-se e foi à festa. Estava tão linda que as irmãs e a madrasta não a reconheceram e julgaram que fosse uma princesa desconhecida, assim trajada de ouro e prata.

Cinderela - Arte de Ruth Sanderson
Cinderela - Arte de Ruth Sanderson

Nem de longe pensaram em Cinderela, julgando-a em casa, em meio à sujeira, catando lentilhas da cinza. O filho do rei foi ao seu encontro e, tomando-a pela mão, dançou com ela a noite toda. Não quis dançar com nenhuma outra, não abandonou sua mão e, quando alguém a convidava para dançar, ele dizia:

— Não, esta é minha dama.

Cinderela dançou até bem tarde, depois quis ir-se embora, mas o príncipe disse:

— Vou acompanhar-te. — Isso porque desejava saber de onde vinha tão encantadora moça.

Ela, porém, conseguiu desvencilhar-se e pulou para o pombal. O príncipe esperou o pai dela chegar e contou-lhe que a linda desconhecida se meteu no pombal. O rei pensou: "Seria por acaso Cinderela?", e mandou trazer um machado para derrubar o pombal, mas dentro dele não encontraram ninguém. Quando as outras chegaram em casa, Cinderela já estava encolhida no borralho, metida nos seus farrapos sujos. Uma lamparina ardia fraca sobre a lareira.

Ela havia saído pelo lado de trás do pombal e, correndo, fora para a aveleira. Lá, tirou os ricos trajes e os deixou sobre o túmulo, onde o passarinho foi buscá-los. Depois, enfiando novamente sua imunda roupa parda, fora deitar-se nas cinzas do borralho.

No dia seguinte, tendo recomeçado a festa, os pais e as irmãs foram-se, deixando sozinha Cinderela. Esta voltou ao túmulo e de novo, sob a aveleira, disse:

— Minha árvore amada,
Agita teus ramos e
Cubra-me de ouro e prata!

Cinderela - Arte de Kinuko Y. Craft
Cinderela - Arte de Kinuko Y. Craft

O pássaro, então, deixou cair um traje ainda mais bonito que o primeiro. E quando, assim enfeitada, apareceu no baile, todos ficaram completamente admirados pela sua beleza. O príncipe esperava que ela comparecesse e, vendo-a, tomou-a pela mão e dançou somente com ela. Quando alguém a convidava, ele dizia:

— Não, esta é minha dama.

Chegando a meia-noite ela foi-se embora. O príncipe seguiu-a para ver onde ela entrava, mas, com uma rapidez incrível, a moça fugiu para o jardim. Havia lá uma bela árvore muito alta da qual pendiam magníficas peras. Com a ligeireza de um esquilo, ela subiu na árvore, escondendo-se entre a galharia, e o príncipe não conseguiu ver por onde ela desaparecera. E quando viu o pai dela chegar, disse-lhe:

— A jovem desconhecida fugiu e subiu na pereira.

O pai ficou pensativo: "Seria Cinderela?" Então mandou que trouxessem o machado e cortassem a árvore, mas não havia ninguém lá em cima.

Quando as outras entraram na cozinha, viram Cinderela deitada como de costume nas cinzas do borralho. É que ela havia pulado pelo outro lado da árvore e, correndo, fora à sepultura. Deixara ao pássaro seus ricos trajes, sob a aveleira, e vestira rapidamente a suja roupa parda.

No terceiro dia, quando os pais e as irmãs se foram para a festa, Cinderela tornou a voltar à sepultura da mãe, dizendo à aveleira:

— Minha árvore amada,
Agita teus ramos e
Cubra-me de ouro e prata!

E o pássaro prontamente atirou-lhe um vestido tão magnífico e reluzente como nunca tinha vestido, além dos sapatinhos que eram de ouro. Quando ela surgiu na festa, assim enfeitada, os convidados ficaram mudos de admiração.

O príncipe dançou somente com ela e, se alguém a convidava, dizia:

— Não, esta é minha dama.

Cinderela - Arte de Kinuko Y. Craft
Cinderela - Arte de Kinuko Y. Craft

À meia-noite, Cinderela teve de ir embora e o príncipe quis acompanhá-la, mas ela fugiu tão velozmente que não lhe foi possível segui-la. Entretanto, usando de astúcia, o príncipe mandara passar uma camada de piche na escada, de modo que, quando a moça fugiu, seu sapatinho esquerdo ficou grudado. Ele o apanhou: era um minúsculo sapatinho elegante e inteiro de ouro. Na manhã seguinte, foi à casa do pai das moças e disse:

— Só me casarei com a moça à qual servir este sapatinho de ouro.

As duas irmãs ficaram loucas de alegria, pois tinham o pé bastante pequeno. A mais velha, então, levou o sapato para o quarto e tentou calçá-lo diante da mãe, mas o dedo polegar não cabia dentro do pequeno sapatinho. Então a mãe deu-lhe uma faca e disse:

— Corta o dedo, minha filha. Quando fores rainha não terás mais que andar a pé.

A moça cortou o dedo, enfiou o pé no sapato, disfarçou a dor e foi ao encontro do príncipe. Este, então, levou-a no seu cavalo como noiva. Ao passarem perto da sepultura, duas pombinhas brancas, que estavam pousadas na aveleira, disseram:

— Olha lá, olha lá,
Sangue no sapato há.
A verdadeira noiva
Ainda em casa está.

Cinderela - Arte de Anne Anderson
Cinderela - Arte de Anne Anderson

O príncipe, voltando-se, olhou para o pé da noiva e viu sangue escorrendo. Então virou o cavalo e reconduziu a falsa noiva para sua casa, dizendo que não era aquela, e mandou que a irmã calçasse o sapato. Ela foi para o quarto e conseguiu enfiar os dedos. O calcanhar, porém, era muito grosso e não podia entrar. A mãe, então, deu-lhe uma faca e disse:

— Corta um pedaço do calcanhar, minha filha, pois, quando fores rainha, não precisarás mais andar a pé.

A moça cortou o pedaço do calcanhar, comprimiu o pé dentro do sapato, disfarçou a dor e foi ao encontro do príncipe. Este colocou-a sobre o cavalo como uma noiva e foi-se embora. Ao passar sob a aveleira, as duas pombinhas lá pousadas disseram:

— Olha lá, olha lá,
Sangue no sapato há.
A verdadeira noiva
Ainda em casa está.

Ele, então, olhou para o pé e viu sangue escorrendo no sapato e nas meias brancas. Então voltou com o cavalo e reconduziu a falsa noiva para casa.

— Esta também não é a verdadeira — disse. — Não tendes outras filhas?

Cinderela - Arte de Kinuko Y. Craft
Cinderela - Arte de Kinuko Y. Craft

— Não — respondeu o homem. — Temos aí apenas uma pequena Cinderela franzina, filha da minha primeira mulher, mas essa de maneira alguma poderá ser a noiva.

O príncipe desejou vê-la e mandou que a chamassem, mas a madrasta respondeu:

— Ah, não, anda sempre tão suja que não pode apresentar-se!

O príncipe não se convenceu, quis absolutamente vê-la e tiveram, pois, de chamá-la. Cinderela primeiro lavou bem as mãos e o rosto e depois foi fazer uma reverência ao príncipe. Este apresentou-lhe o sapatinho de ouro, Cinderela sentou-se num banquinho, tirou do pé o pesado tamanco e com a maior facilidade calçou o sapatinho. Servia-lhe como uma luva. Quando ela se levantou, o príncipe olhou bem para o seu rosto e logo reconheceu a jovem com quem havia dançado.

— É esta a verdadeira noiva! — exclamou ele satisfeito.

A madrasta e as irmãs, pálidas de espanto e de raiva, viram-no colocar Cinderela sobre o cavalo e levá-la para o palácio. Ao passarem junto da aveleira, as duas pombinhas brancas lá pousadas disseram:

— Olha lá, olha lá,
Sangue no sapato não há.
A verdadeira noiva
Já contigo está!

Depois desceram voando e pousaram nos ombros de Cinderela, uma de cada lado.

No dia do casamento, as falsas irmãs, querendo compartilhar de sua sorte, acompanharam-na. A caminho da igreja, a mais velha colocou-se à direita da noiva, e a mais nova, à esquerda. As pombas, então, arrancaram um olho de cada uma. Quando saíram da igreja, a irmã mais velha colocou-se à esquerda da noiva, e a mais nova, à direita. As pombas então arrancaram de cada uma o outro olho.

Assim foram punidas, com a cegueira, para o resto da vida, por terem sido tão falsas e perversas.

cinderela sapatinho

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