Dezembro 2022

Numa altura em que se antecipa um agravamento da crise da habitação, seria de esperar que o governo repensasse prioridades e, em vez das políticas de estímulo imobiliário, privilegiasse o investimento público em habitação. Mas não. O rentismo imobiliário vai de vento em popa. Os rendimentos da população não acompanham a escalada dos preços. Pagar a renda da casa ou os juros do crédito à habitação angustia boa parte da população. «Vistos Gold», regimes fiscais especiais para residentes não habituais, «nómadas digitais»: a discrepância entre o estímulo ao investimento externo e o investimento público em habitação previstos para os próximos anos é notória e insustentável.→

Em contexto de financeirização e rentismo imobiliário, agravado pela perda de rendimentos e pelo aumento dos juros, garantir o direito à habitação sem sobrecarregar de forma inaceitável as taxas de esforço exige um mercado de arrendamento urbano acessível e condigno. O problema não é já exclusivo das grandes cidades, como Lisboa ou Porto. O que pode ainda ser feito em termos de políticas públicas?→

Que escolhas políticas estão presentes na adopção de um modelo e não outro de «transformação digital»? Tal como tem sido apresentada, esta transformação parece não ter alternativa que não seja beneficiar transferências externas e monopólios a nível global. Mas o investimento público acertado poderia promover crescimento da economia e do emprego em Portugal, reduzindo dependências externas e criando um potencial de exportação de serviços de alto valor acrescentado.→

Qual o papel que a ciência — genética, melhoramento de plantas e animais — desempenhou nos regimes fascistas? Qual a sua relação com a exploração, a expropriação e o genocídio? Que contributo pode dar a revisitação desse passado para pensar o papel da ciência no neoliberalismo, mais ou menos autoritário? Uma reflexão a partir da obra de Tiago Saraiva.→

A crise energética que se seguiu às sanções ocidentais contra a Rússia não fez apenas fez cair o poder de compra dos europeus e enfraquecer o Velho Continente. Ela revela com crueza o fracasso da liberalização do mercado da electricidade em França e, sobretudo, a obstinação dos diferentes governos em prosseguir esta política, seja a que preço for.→

Durante muito tempo, os poderes públicos protegeram os trabalhadores da inflação através de um mecanismo de indexação das remunerações. Os governos afirmam agora que proceder dessa forma seria o mesmo que aumentar a pressão para um forte aumento dos preços, o que contradiz um estudo recente do Fundo Monetário Internacional (FMI). A regra estabelecida pelos ministérios da economia e finanças não valem, contudo, para toda a gente.→

Enfrentando manifestantes que continuam a mostrar-se determinados, o regime iraniano optou pelo método da dureza para fazer regressar a calma. Mas uma parte da hierarquia religiosa lamenta a ausência de mecanismos conciliadores entre o poder e a contestação.→

No concerto europeu de apoio à Ucrânia, a Hungria segue a sua própria partitura. Ao mesmo tempo que denuncia a agressão russa, o primeiro-ministro Viktor Orbán defende uma via de compromisso com Moscovo. Esta singularidade, que o afasta dos seus vizinhos, responde sobretudo a considerações ideológicas e de política interna. Para os nacionalistas húngaros, o futuro joga-se a Leste.→