(PDF) MERCANTILISMO E COLONIZAÇÃO: COLÔNIAS DE EXPLORAÇÃO E DE POVOAMENTO | Maurício Waldman - Academia.edu
1 MERCANTILISMO E COLONIZAÇÃO: COLÔNIAS DE EXPLORAÇÃO E DE POVOAMENTO MAURÍCIO WALDMAN 2 “Na organização social brasileira as institiççes econômicas aitam deniro de tm sisiema global orieniado mtiio mais para a preservação do status quo do qte para a gesiação do ftitro. Daí tma série de fósseis hisióricos qte jtncam a irilha da economia nacional criando, por vezes, difíceis coniradiççes iniernas ao se chocarem com o strio inovador dos últmos decnnios e, principalmenie, com a inirodtção de novas institiççes ot novas iecnologias.. “O qte é possível é qte as novas geraççes, pressionadas por problemas de escala mtndial, percebam a necessidade de mtdar radicalmenie esses padrçes arcaicos e abrir tm caminho mais frme e mais largo para o ftitro. A longa vivnncia das noççes e prátcas mercantlisias ntm coniexio de capiialismo indtsirial parece esiar ligada no Brasil aos esirangtlamenios do mercado inierno, agravados por iodo o sisiema de monopólio e de conceniração da propriedade e da renda. A rtpitra das esirtitras de monopólio é o passo imporianie para galgarmos tma eiapa na socialização dos rectrsos e do bem-esiar. E ainda na redtção dos ctsios sociais do desenvolvimenio qte oneram pesadamenie as classes assalariadas e o stbproleiariado. No enianio, a imagem do Esiado paiernalisia e colonizador parece difícil de extrpar da menialidade das nossas eliies. E, na medida em qte permanece, difctlia a partcipação ampla das massas no processo econômico e sta promoção polítca e social.. José Arihtr Rios A Tradição Mercantlisia na Formação Brasileira, 1972, páginas 255 e 272 1 2 INTRODUÇÃO No contexto da expansão europeia, a análise dos espaços gravados pela dominação colonial é inseparável da era mercantlista ou capitalismo comercial, que corresponde aos primeiros momentos do que viria confgurar a moderna economia de mercado. Ganhando corpo paralelamente à decadência do sistema feudal, o mercantlismo se refere a diversas doutrinas de cunho econômico que vigoraram nos países europeus, tendo como nota comum, a exaltação do fortalecimento do Estado nacional. Enquanto tal, esta premissa estabelecia a expansão do comércio como forma de obter os recursos necessários a tonifcáálo, sendo uma das suas pedras de toque a balança de comércio favorável, desdobramento do princípio pelo qual a riqueza de um país consista na disponibilidade de metais preciosos e do numerário entesourado na forma de moeda. Neste cenário, a expansão marítma e comercial e na sequência, o início da colonização da América pelos europeus, permite identfcar, no solo americano, duas modalidades de colonização: as Colônias de Exploração e as Colônias de Povoamento, diferenciação que confgura peça fundamental não só para a compreensão do antgo sistema colonial, como também, revelar as estacas profundas que marcaram a história de todas as nações do contnente americano. Sublinheáse que do mesmo modo, uma coleção de aspectos do mundo atual, a começar pela inserção desigual dos países com histórico colonial no âmbito atual ordem global, não tem como serem explicados desconsiderando a empreitada mercantlista, cujos óbices, seriam mais adiante acirrados pelo novo colonialismo da era industrial. Em linhas gerais, esta atualidade do tema se vincula ao que podemos defnir como formas de inserção periférica no sistema econômico global ou mais simplesmente, como subdesenvolvimento. A este respeito, atenteáse que desde os anos 1980, passou a ser veiculada a tpologia “países em desenvolvimento” em substtuição à terminologia países subdesenvolvidos. Noteáse que a nova proposta de denominação não consttui mero modismo semântco. Propor “em desenvolvimento” implica em admitr que todos os países podem, em algum 3 momento, alcançar uma situação de afuência. Ou seja, o subdesenvolvimento não seria um dado estrutural, mas sim transitório, um desvio passível de correção. Tal ponto de vista não é compartlhado por este texto, que subentende a ação de estruturas que induzem e reproduzem situações de desigualdade em todos os planos e contextos, fenômeno que refete os desajustes estruturais da ordem construída pelos países da Europa Ocidental a partr do Século XV. Assim sendo, ambas as terminologias explicitam em si mesmas o caráter contraditório que marca a expansão do Ocidente ou Modernidade, dinamizada por um processo de mundialização que impôs a civilização ocidental ao conjunto do Planeta (Box). O QUE É MODERNIDADE? Numa defnição sumária, retenhaáse que as ciências sociais defnem a Modernidade ou Ocidente como uma sociedade surgida na Europa ocidental a partr da Baixa Idade Média, formando um sistema cujas dinâmicas técnicas e unifcadoras conquistaram crescente supremacia, embaladas pela radicalização crescente das suas demandas civilizatórias. Neste sentdo, o Ocidente respalda um sistema que desvencilhou, de um modo que não têm precedentes, a Humanidade dos modos tradicionais de ordem social. A Modernidade se caracteriza pela autonomia do econômico como princípio regulador, sendo lógica da produção a diretriz básica da economia, matriz de uma série de intercorrências cruciais da vida contemporânea. Nesta, padrões de excelência técnica controlam os ambientes materiais, culturais, polítcos, econômicos e sociais do mundo contemporâneo. Diante ordenações de valores criadas pela Modernidade, a religião perdeu prestgio, sobrepujada que foi por modelos abstratos que fundamentam relações impessoais, dominantes no trato social (Vide POLANYI, 2000: 47, GIDDENS, 1991: 14á19 e GOUREVITCH, 1975). A mais ver, demonstram a notória capacidade das desigualdades serem recompostas e repaginadas, conquistando novas roupagens e formas de expressão, perpassadas por engrenagens de exploração e dominação recombinadas a partr de uma herança histórica anterior a elas, perceptvel nos vínculos que associam a realidade colonial desigual aos tempos presentes, marcados por desigualdades e confitos novos, mas enraizados no passado histórico. 4 Não há dúvida alguma, desenvolvimento e subdesenvolvimento consttuem demarcações socioeconômicas que no tocante à cartografa geoeconômica do contnente americano, estão inseparavelmente conectadas às duas modalidades básicas de estruturação do antgo sistema colonial no contnente americano: de um lado, as colônias de exploração, e de outro, as de povoamento. Analisemos então os dois distntos modelos de colonização tal como nos revela a história dos assentamentos europeus criados a partr do Século XVI no contnente americano, um episódio marcante que tpifca a expansão mercantlista. 5 COLÔNIAS DE EXPLORAÇÃO Este tpo de colônia foi artculado em todas as áreas do Novo Mundo com potencial para implantação de um modelo produtvo habilitado a garantr lucro rápido e de vulto para as mother countries, “nações mães” ou “mãeápátria” à testa do sistema. Estas formavam as metrópoles, Estadosánações como Portugal e Espanha num primeiro momento, e a partr dos fnais do Século XVI, incluindo a GrãáBretanha, Países Baixos e a França, países com presença expressiva na América e em outros teatros da expansão europeia. Embora pouco citadas ou sequer recordadas, outras nações, tais como Suécia, Curlândia, Dinamarca e Brandemburgo, igualmente partciparam na experiência colonial. Mas nem de longe com a mesma projeção que os países com protagonismo central neste processo. Na realidade, a empresa mercantl colonialista foi monopolizada por um restrito conjunto de monarquias nacionais localizadas na fachada atlântca do contnente europeu, viga mestra da artculação do sistema mercantlista na escala global, em cujo proveito atuava o mecanismo do exclusivo comercial, vigorando em quase totalidade da extensão das Américas e ao mesmo tempo, mantendo forte interação com as possessões europeias na África. Neste cenário, retenhaáse para algumas exceções a esta regra, caso da Rússia Czarista. No início do Século XVIII, o território do Alasca e das ilhas Aleutanas foi explorado, a mando dos imperadores russos, pelo dinamarquês Vitus Jonassen Bering (o “Colombo dos Czares”), marco inicial da colonização russa desta parte da América. Mais adiante, costeando o litoral do Pacífco, o império russo chegou a instalar um forte na baía de São Francisco (Figura 1), bem a vista de domínios então subordinados à coroa espanhola. Entretanto, este trecho Nordeste da América do Norte, igualmente conhecido como América Russa, destoava do modo de funcionamento clássico do sistema colonial mercantlista. A presença dos russos nesta parte do contnente era mais que tudo, um prolongamento do processo de expansão que a partr de Moscóvia, alcançou o Oceano Pacífco através 6 das extensões geladas da Sibéria ao cabo de 150 anos, embalado por expectatvas e sistemátcas econômicas em nada semelhantes à empreitada mercantlista clássica. FIGURA 1 - Selo comemoratvo do ano de 2012 da Federação Rtssa, qte reprodtz antgos croqtis de Fori Ross, o mais meridional dos esiabelecimenios rtssos, consirtído na face Norie da Baía de São Francisco (Fonie: < https://www.kcei.org/siies/kl/fles/ihtmbnails/image/siampoofortssiao2012onoo163333oforiorosso0.jpg >. Acesso: 033-09-2018). Estruturalmente, a investda colonial russa se resumiu a feitorias dedicadas à obtenção e comércio de peles de abrigo e outros produtos com origem na caça, não se traduzindo numa efetva nova fronteira econômica atada aos ciclos econômicos globais. A escassa importância destas possessões para o império russo justfcou inclusive a venda do Alasca e do arquipélago das Aleutas para os Estados Unidos em 1867, que desde então, passaram a integrar a federação americana. Noteáse que o colonialismo mercantlista frmavaáse por um leque muito mais complexo de inferências econômicas, sociais e polítcas, a começar pelo chamado pacto colonial, que na realidade, resultou não de uma concertação, mas antes de uma imposição das novas potências marítmas à forma como estruturalmente os territórios conquistados deveriam interagir com os centros de poder localizados na Europa. 7 As colônias eram enquadradas por um sistema de exclusivo comercial, legitmado por uma série de leis, normas e obrigações pelas quais as metrópoles impunham às regiões coloniais um papel subordinado, cabendoálhes fornecer produtos cuja circulação e destnação estavam por defnição, controladas por uma distante e altva “nação mãe”, fundamento de sua grandeza, prestgio e poder (Figura 2). FIGURA 2 - A alegoria acima expçe sinietcamenie a mairiz do sisiema colonial mercantlisia. À iesia da mesa, a meirópole, a “nação mãe., tma monarqtia nacional rica e poderosa, servida por tm séqtiio de serviçais, as colônias, qte lhe irazem otro e praia, gnneros agrícolas e maiérias primas (Fonie: Philip Dorf e John Thomas Farrel, Our Early Heritage: Ancient and Medieval History, 1940). Refexo direto de um período marcado pela consttuição de monarquias nacionais, que surgem da aliança dos reis com a cada vez mais poderosa burguesia comercial, o sistema capitalista em expansão tnha nesta estrutura polítca e ideológica a ferramenta básica para abrir caminho e robustecer a acumulação de capital, contando para tanto com a formação de novos espaços econômicos, garantndo, pois a expansão da economia de mercado. 8 Este propósito tnha por pressuposto implantar esquemas de dominação nos territórios submetdos ao domínio europeu a partr da expansão marítma e comercial. Iniciada no Século XV, com marco inicial na tomada da cidade de Ceuta pelos portugueses em 1415 3, as explorações marítmas tveram ápice na chegada das caravelas de Cristóvão Colombo ao Novo Contnente em 1492. Embora as navegações tenham se concentrado até fnais do Século XV no litoral africano, seguidas da fundação de fortalezas, feitorias, pontos de apoio e ancoradouros ao longo do périplo africano, trajeto de circunavegação da África com vistas a alcançar as Índias, a colonização mercantlista, contudo, diz respeito ao espaço que passou a ser reconhecido por heterogênea gama de especialistas á historiadores, sociólogos, cientstas polítcos e geógrafos á como América Latna (Vide Box). AMÉRICA LATINA: TERMINOLOGIA CONTROVERSA Numa defnição corriqueira, América Latna diz respeito a todos os países localizados ao Sul do Rio Grande, que demarca a fronteira entre os Estados Unidos e o México. Retenhaáse, não obstante a designação de “latna”, que muitas nações desta região consttuem espaços colonizados por países que como a Inglaterra, não são latnos nem na língua, nem na história e sequer na cultura. Nações de língua inglesa das Antlhas, do Caribe e a Guiana, assim como as de língua ofcial holandesa Suriname e as Antlhas holandesas, se enquadrariam, por exemplo, nesta ponderação. Além do mais, a massa da população latnoáamericana é de origem indígena, africana e/ou por ampla tpologia de mestços. Daí que mais acertadamente, estaríamos diante de uma realidade contnental que poderia ser mais bem defnida como IndoáAfroáLatno América, realidade marcada por intensa mestçagem cultural. Embora nos momentos iniciais das grandes descobertas a África fosse observada como um troféu, por consttuir um majestoso manancial de riquezas (principalmente o ouro), passíveis de recompensar os enormes investmentos necessários para tornar possíveis as navegações, nos moldes da divisão internacional do trabalho engendrada pelo sistema mercantlista, o contnente terminou ajustado à função de área fornecedora de força de trabalho, e não de produção de valores de troca 4. 9 Assim, partcularmente no contexto espacial latnoáamericano, o mercantlismo priorizou estas terras como fonte de acumulação de capital, de início assenhoreandoáse da posse de regiões detentoras de acervo minerário, cobiçadas por confgurarem um verdadeiro sinônimo de afuência e poderio polítco. Áreas ricas em gemas e pedras preciosas (como esmeraldas e diamantes), jazidas de ouro (auríferas) e de prata (argentferas), localizadas no México, Colômbia, Peru, Colômbia, Bolívia (Vide Box) e no Brasil 5, foram, portanto, alvo de persistente atenção por parte do poder colonial com o fto de assegurar, excluindo qualquer obstrução, a abdução das riquezas minerais. POTOSÍ: OPULÊNCIA E OPRESSÃO COLONIAL Potosí, nos Andes bolivianos, tornouáse conhecida no século XVI pelas minas de prata, as maiores do mundo. Fundada em 1545, Potosí rapidamente tornouáse a mais populosa cidade das Américas, com uma população que excedia duzentas mil almas. A extração recorreu largamente ao trabalho servil dos indígenas, com base na mita, sistema de exação de trabalho compulsório da máquina de dominação do extnto Império Inca que o poder colonial castelhano colocou a seu serviço. Porém, os espanhóis fzeram uso desta prátca numa escala inimaginável, provocando incessante mortandade. Deste modo, os gestores coloniais passaram a importar escravos de origem africana, igualmente em grande número. Famosa por sua riqueza, Potosí foi, portanto, um calvário para centenas de milhares de indígenas e africanos. Todavia, a busca por pepitas de ouro e minérios valiosos não monopolizava totalmente as atenções do projeto mercantlista. Ademais, também constava na pauta do poder metropolitano o estabelecimento de sistemas de cultvo em larga escala de gêneros tropicais, como as que tpifcaram a monocultura canavieira, cujo símbolo mais acurado foi o engenho de açúcar, cultura introduzida no Século XVI nas Antlhas e no Nordeste Brasileiro. O projeto monocultor açucareiro contou com a experiência acumulada nas ilhas do Cabo Verde, na África, onde a monocultura açucareira ensaiou seus primeiros passos, vindo a consttuir numa verdadeira marca social, polítca, cultural e econômica de vastas partes da América Latna. 10 Na medida em que o pacto colonial tnha por defnição o objetvo de obter o máximo de lucros das colônias, fca claro então que a atvidade agrícola deveria necessariamente ter por base a monocultura. Isto porque o projeto econômico mercantlista centrava as atenções no produto que conjunturalmente oferecia cotações mais promissoras no mercado. Neste quesito se enquadrariam a produção açucareira, o algodão, tabaco, sisal e produto raramente lembrado, o índigo 6. Numa perspectva geral, uma vez que o sistema produtvo, fosse minerário ou agrícola, estava associado à demanda dos centros consumidores da Europa, as diretrizes da vida econômica das colônias mantnha clara dependência para com as metrópoles. Em paralelo, como desdobramento desta relação com o universo metropolitano, a economia das colônias de exploração não tnha como escapar de um caráter complementar e extrovertdo. Numa lógica diferenciada, mantendo uma relação acessória ou coadjuvante às atvidades econômicas de base do sistema colonial, a pecuária bovina, pratcada em moldes extensivos, fornecendo peles, couros, sebo e charque para consumo local e regional, eventualmente exportados para a Europa ou abastecendo o comércio intercolonial, sempre desfrutando de proeminência para um incipiente sistema local de trocas. A criação de bovinos gerou uma subcultura centrada no cotdiano dos peões e vaqueiros em quase todas as partes da América Latna. Os boiadeiros, sendo distantes do poder colonial e abertos a novos horizontes, tendiam a se diferenciar dos camponeses por serem mais independentes. Daí terem protagonizado papel atvo nas independências e no período republicano em muitos países da região. Outro item importante foi a pecuária suína. Permitndo criação em qualquer canto de terreno, o suíno, pela versatlidade e rapidez em prover a população de proteína animal, tornouáse ingrediente universal na culinária latnoáamericana. No que trai os vínculos da criação do leitão com as camadas menos favorecidas arregimentadas em regiões com passado monocultor ou minerador (tal como nas Minas Gerais), a carne de porco tornouá se inseparável da gastronomia local. Também merece menção especial a criação de lhamas e mulas, vitais para o transporte de mercadorias a longas distâncias. Atenteáse que até o advento das estradas de ferro, as tropas de lhamas (nos países andinos), e de mulas ou muares (no Brasil, Cuba, México, Argentna e países platnos), eram o principal esteio para escoar a produção no contexto interáregional e para alcançar os portos. 11 Estes animais de carga, dotados de grande resistência fsica e interagindo bem com a ecologia local (partcularmente as lhamas, camelídeo natvo da América do Sul), eram verdadeiramente insubsttuíveis para vencer declives montanhosos, alttudes de monta e longas distâncias, tornandoáos verdadeiramente indispensáveis. Em paralelo, ganharam proeminência bens obtdos do extratvismo, tais como as drogas do sertão, categoria que inventariava amplo leque de artgos, consttuindo um termo genérico para identfcar espécimes da fora apreciadas em diversas fnalidades, em especial no âmbito culinário, usadas na conservação, tempero e preparo dos alimentos. Catalogadas como especiarias, estes produtos eram extraídos do “sertão”, basicamente se referindo à Amazônia, especialmente durante a época das entradas e das bandeiras. Estes produtos eram natvos do Brasil, por muitos autores considerados como novas especiarias. Isto porque se contrapunham às antgas especiarias, no caso, as que desde o Século XV, eram tradicionalmente obtdas na Ásia. As drogas do sertão abarcavam heterogêneo emolumento de produtos: cacau, guaraná, salsaparrilha, pauácravo, anil, salsa, urucum, noz de pixurim, baunilha, castanhaádoápará e raízes aromátcas, produtos com alto valor de revenda na Europa. Para efetvar o controle das drogas do sertão, Portugal optou por delegar a exploração desses gêneros às missões jesuítcas, que catequizavam e empregavam mão de obra indígena na condição de servos ou escravos. Esta atvidade recorreu do mesmo modo à escravidão dos africanos, que no exercício do extratvismo ganharam familiaridade com as matas, origem de quilombos até hoje presentes no espaço amazônico. Observeáse que estes gêneros foram o eixo da presença portuguesa na região Norte do Brasil, cujo marco emblemátco foi a fundação em 1616, por Francisco Caldeira Castelo Branco, do Forte do Presépio na foz do Amazonas, dando origem à atual cidade de Belém, que desde o início posicionouáse como centro administratvo de toda a Amazônia, mantendo relação muito mais próxima de Portugal do que com os demais domínios portugueses na América do Sul. Outra atvidade que surge ao largo das diretrizes matriciais da economia colonial foi o apresamento baleeiro, pratcado em muitos sítos da orla marítma brasileira (Figura 3). A captura do cetáceo, com foco nas armações, instalações que sazonalmente processavam as baleias, animava um comércio de proteína, ossos e do chamado óleo ou azeite de 12 peixe, utlizado em larga escala para iluminação e como componente da argamassa nas edifcações, de durabilidade e efcácia comprovadas. FIGURA 33 - Nesie mapa, com foco na área baleeira do Esiado de São Patlo, esião desiacadas as principais armaççes em ftncionamenio no Séctlo XVIII. As armaççes tnham qte obier licença para o exercício da atvidade, pois a capitra da baleia constitía tm monopólio real. Esias insialaççes eram partctlarmenie atvas nos meses de maio, Jtnho e Jtlho, qtando os ceiáceos procediam à reprodtção da espécie. O processamenio das capitras era em grande parie realizada por escravos e em menor proporção, por irabalhadores livres, qte desempenhavam a ftnção de feiiores e iarefas especializadas em alio-mar. O irabalho das armaççes basicamenie benefciava a gordtra dos ceiáceos para obier óleo ot azeiie de baleia, qte segtia enião em barricas para a Etropa e ceniros disiribtidores como Sanios e Rio de Janeiro (Fonie: ELLIS, 1969: 64a). De mais a mais, produtos da caça, oferecendo ao mercado proteína animal, peles de abrigo e animais exótcos de companhia; a exploração madeireira, através das retradas de lenhos tntoriais como o pauábrasil e de madeiras apropriadas para tanoaria, indústria naval e de construção; produtos da pesca e mariscos; de produtos cerâmicos (lajotas, adobes e recipientes): e mesmo uma metalurgia de pequeno vulto (ainda que clandestna 13 por ser proibida pela administração colonial), cumpriam signifcatva função acessória na economia colonial. Estes e outros artgos, embora considerados “secundários” frente à monocultura, nem por isso deixaram de marcar a história, cultura, geografa e a organização polítca de diversas plagas da América colonial, auferindo projeção, mesmo que de modo eventual e em menor grau, na pauta econômica nas colônias latnoáamericanas, modulados ao sabor da procura nos mercados locais e internacionais. Confraáse: numa coleção de conjunturas, os produtos do extratvismo, por implicarem numa logístca menos onerosa e ajustada à heterogeneidade crescente das sociedades coloniais, conformaram o marco inicial das atvidades econômicas em muitos espaços latnoáamericanos, caso do pauábrasil, considerado, lado a lado com ressalvas pontuais (Vide Box), como o primeiro ciclo econômico do Brasil. EXTRATIVISMO FRAUDULENTO No dizer do antropólogo Câmara CASCUDO (2001), e de outros especialistas, a segunda indústria extratva no Brasil foi a coleta do jimbo nas praias atlântcas do Nordeste. Nesta região, nidifcava um molusco cuja concha era extremamente semelhante ao cauri, que circulava na condição de moeda em muitas partes da África, como o Congo, Gabão, Cabinda e Angola. Portugal lotava caravelas com estas carapaças, introduzindo assim um dinheiro falsifcado no outro lado do Atlântco, conseguindo lucros polpudos e ao mesmo tempo, ao infacionar as economias africanas, erodia a capacidade de resistência dos locais às investdas do colonialismo português. É também importante frisar que visões adereçando o mercantlismo de inclinação ou afeição ao imobilismo devem ser recebidas com reservas. Enquanto modelo econômico, a fase mercantlista foi movida por um dinamismo diferente das etapas que se seguiram da economia de mercado. Todavia, também foi conotado por transformações específcas na escala do tempo e do espaço. Certo é que o mercantlismo era muito menos marcado pelo empreendedorismo que vitaminava a índole do capitalismo industrial, que imprimiu ritmo bem mais acelerado à 14 economia e todas as demais esferas da vida social. Mas nem por isso o consttuía sistema estátco, aferrado a estruturas e ciclos produtvos inalteráveis. Entendaáse que a economia colonial na América notabilizouáse por múltplas mudanças de orientação ao longo de mais de três séculos de vigência, que conquistaram dinamismo próprio ao largo dos chamados “grandes ciclos econômicos”, constatação patenteada em inúmeras análises e em levantamentos geoeconômicos, tais como os passíveis inclusive de serem conferidos relatvamente ao Brasil (Figura 4). FIGURA 4 - Mapa da economia colonial brasileira no Séctlo XVIII. Como é iransparece nesia caria, o ciclo minerador e da agroindúsiria açtcareira foi sectndado por atvidades adjtnias de exirema imporiância para a ftitra confgtração ierriiorial do país, rompendo a linha do Traiado de Tordesilhas, garantndo a octpação do hinterland (Fonie: Pinieresi: < https://br.pinieresi.com/ >. Acesso: 04-09-2018). 15 Todavia, nada na ótca que garante visibilidade para a capacidade da economia colonial efetvar adaptações e assumir direções que de um modo ou de outro, contrariavam o prontuário metropolitano omite a consideração de que concretamente, a matriz dos grandes ciclos econômico consttuiu, de igual modo, o nexo que estaqueou a artculação de espaços estanques e autocentrados, formatando “espaços ladrilhados” que passaram a ser a tônica nas territorialidades latnoáamericanas. Com efeito, a extroversão das economias, artculada com eixo na produção de bens que atendiam ao mercado externo, derivou em economias “arquipélago” ou em “mosaico”, dispostas preferencialmente na costa oceânica, separadas entre si por extensões apenas nominalmente sob mando do poder colonial, entendimento central para a compreensão, por exemplo, dos embaraços que impregnaram a vida polítca de todas as novas nações independentes na consecução de uma pretendida unidade nacional (Vide Box). A ANEXAÇÃO DA AMAZÔNIA Numa das muitas contestações possíveis às mitologias históricas auferidas de realdade por conta da omissão das narratvas insttucionais, importaria ressalvar que a administração colonial portuguesa no Brasil não se materializou numa entdade geográfca e administratva única, entendimento que consttui uma soberba simplifcação. Entre 1621á1822 o país esteve dividido em duas jurisdições coloniais: o Estado do Maranhão ou do Grão-Pará, abrangendo a Amazônia e parte do Nordeste, com capital em São Luís, e o Estado do Brasil, compreendendo o Nordeste açucareiro, Sudeste e Sul, com capital em Salvador, separação que fnda tão só com o processo de independência, que soldou estas duas realidades num espaço nacional novo, o Brasil. Neste senso, a região amazônica terminou por ser integrada ao Império do Brasil, resultando na assimilação do Estado do Maranhão e Grão-Pará no interior de uma governança inteiramente inédita. Aos olhos dos amazônidas, isto signifcou um rebaixamento do status do GrãoáPará, agora uma longínqua província de um novo e pouco familiar centro de poder, sediado no Rio de Janeiro, peça factual que contribui para explicar as crispações que induziram a contestação ao poder imperial na Região Norte, evidente em rebeliões como a Cabanagem (1835á1840), intemperança sufocada pelo exército imperial ao custo do extermínio de 40% da população da agora província do Império do Brasil. 16 Contudo, classicamente a organização da produção ocorria nos moldes da monocultura realizada a partr da grande propriedade de terra, o latfúndio, garantndo produção abundante de mercadorias que viabilizavam expectatvas de ganhos extraordinários, diretriz essencial para obter numerário através do intercâmbio comercial. Este quadro de referências formava o chamado tripé, corporifcado no latfúndio, na monocultura e pelo trabalho escravo, tpifcando o sistema de plantation, que funcionou durante mais de trezentos anos nas colônias de exploração. Substantvando uma lógica processual, o imperatvo do trabalho escravo se artculava funcionalmente à subordinação das colônias às metrópoles, pois com o escravismo, era assegurada a limitação do mercado consumidor nos países coloniais, refreando assim o surgimento e expansão de uma categoria de consumidores e por extensão, de uma classe burguesa local, concorrente com a da Europa. Ademais, o escravismo garantu ponderável fonte de renda para os trafcantes europeus, que em princípio, controlavam o comércio de escravos (ou “negreiro”), a partr de um colar de feitorias sob bandeira metropolitana na costa africana, na África Bantu e no Golfo da Guiné, que interagindo com as realezas e chefarias locais, as cooptaram para apresar e fornecer escravos 7. Contudo, atenteáse que esta narratva é simplista, e portanto, merecedora de reparos. Notação quase sempre pouco comentada ou simplesmente omitda, durante o período colonial se fez valer, por exemplo, um intercâmbio secular induzindo o amalgamamento de economias como a brasileira e a africana. Acatando orientação LesteáOeste, essa rede comercial, que transformou as águas do Atlântco numa estrada líquida, foi pouco a pouco desembaraçada da gestão portuguesa e cooptada pelos colonos brasileiros, que a colocaram sob seu controle direto. Nas suas últmas consequências, com base numa relação transoceânica capitaneada por brasileiros, essa evolução permite dar como certo que Angola e muitos entrepostos africanos se tornaram, após 1648, ao fnal do domínio espanhol em Portugal, colônias de facto do Brasil, uma das várias nuanças de uma relação com o contnente africano que não tem sido levada na devida consideração (Box). Nesta linha de argumentação, devemos atnar, por exemplo, que o tráfco negreiro foi bem mais do que um malfeito europeu. Além da partcipação de trafcantes brasileiros, 17 muitas famílias tradicionais do Caribe, de Cuba, Venezuela e Colômbia, dedicaramáse no passado ao comércio escravista. Assim, no debate relacionado a este nefando mercadeio de seres humanos, com toda certeza deveriam ser convocadas, junto com seus parceiros europeus, para o julgamento da história. O INTERCÂMBIO SECULAR ENTRE BRASIL E ÁFRICA Observeáse que embora consttuídas no âmbito da ordem implantada por Portugal no Atlântco, as interações comerciais entre o Brasil e a África, contrariando alegação que por força da repetção, terminou sacramentada com uma verdade, não tnham no tráfco negreiro sua atvidade exclusiva. Ao longo de quatrocentos anos, o comércio BrasiláÁfrica foi paulatnamente se diversifcando, com uma heterogênea pauta de bens animando um próspero segmento mercantl nos dois lados do oceano, corporifcado em opulentas casas comerciais. No Século XIX, transitavam do Brasil para o contnente africano: açúcar, tabaco, cachaça, arroz, metais preciosos, carneáseca e tecidos; da África para o Brasil: algodão, arroz, marfm, cera, resinas, enxofre, panos da costa, sabão, manteiga de carité, azeite de dendê e nozádeácola. Esse comércio tnha por interlocutores nas costas africanas e brasileiras membros das mesmas famílias e redes sociais. Dentre estes atores se notabilizaram os brasileiros ou retornados, tal como eram conhecidos os exá escravos do Brasil que seguiram para o Golfo da Guiné. Esse grupo fundou nos portos dos atuais Togo, Gana, Nigéria e Benim, poderosas dinastas comerciais, ora imiscuindoáse aos potentados africanos natvos e/ou integrandoáse à burguesia mercantl local. Logo, bem mais complexa do que geralmente é registrada nos livros escolares, a relação BrasiláÁfrica é um dos temas que merecem revisão e releitura por parte da academia, dos educadores e do conjunto da sociedade brasileira. Todavia, na sua concretude social mais pungente, este modelo, independentemente do papel desempenhado pelos diferentes atores na estruturação do escravismo, estava calçado na antnomia que opunha a casa grande, residência dos senhores de terras, à senzala, alojamento que abrigava os escravos, expressões icônicas dos contrastes que distnguiam os dois grupos sociais (Figura 5). Com base nos diferentes desdobramentos deste gabarito social, é possível compreender o tpo de estratfcação de classes, normas e valores, as modalidades de imigração e o 18 comportamento polítco, social, cultural e ideológico que tomaram forma nas colônias de exploração. FIGURA 5 - Refeição de família senhorial no Rio de Janeiro, reiraiada na celebrada prodtção de 18339, de atioria de Jean-Baptsie Debrei (Fonie: Pinieresi: < https://br.pinieresi.com/ >. Acesso: 04-09-2018). Consttuindo sociedades agrupando num extremo uma elite de origem europeia e no outro, uma ponderável massa de escravos de origem africana ou indígena (cenário este matzado por brancos pobres, mestços, negros alforriados e outros estratos carentes de infuência e de bens), as colônias de exploração substantvavam manifesta imobilidade social, com uma “linha de cor” adereçando rigidamente os papéis sociais. No plano comportamental, uma vez que o relacionamento social se realizava nos marcos que atavam poderosas famílias proprietárias patriarcais umas às outras, o aristocratsmo imperava como padrão social por excelência, regrando o comportamento dos grupos 19 dominantes, mas, igualmente repercutndo como modelo procedimental para os demais integrantes da sociedade colonial. O trabalho manual era estgmatzado como sendo da alçada dos baixos escalões da sociedade. Portanto, culturalmente desvalorizado diante de um padrão elitsta pelo qual viver de rendas ou do trabalho de terceiros consttuía um estlo de vida modelar. Na sequência, o estudo, a erudição, o ensino e o conhecimento técnico eram ignorados enquanto eixo de aprimoramento dos membros da sociedade, consttuindo a posse da terra o supremo, senão único, indicador de sucesso social. Esta postura marcou de modo profundo e indelével a psicologia das relações de trabalho. Objetvamente, ao longo do tempo histórico revelouáse enquanto poderoso entrave na transição do escravismo para relações de produção baseadas no chamado trabalho livre e assalariado, fundamental para pavimentar caminho rumo ao industrialismo. No tocante ao pertencimento social, tal noção seguia, nas colônias de exploração, motes muito singulares. Consttuindo assumidamente sociedades ancoradas na exceção e no privilégio, inexista o conceito de igualdade jurídica extensível a toda população. O código legal, ou ao menos o que se aproximaria deste conceito, era antes um instrumento de punição e de opressão senhorial, com objetvo precípuo em impor a obediência aos grupos socialmente dominados, partcularmente os escravos (Figura 6). Na medida em que a colônia de exploração tnha por mandato prioritário a meta de gerar lucro, a imigração acontece na maior parte dos casos tendo por base indivíduos isolados, embalados pelo sonho do enriquecimento rápido, quase sempre movidos pelo desejo de retorno à Europa e de reinserção nas camadas ricas da sociedade metropolitana. Esta postura derivava no transoceanismo, fortemente enraizado no imaginário dos que buscavam ascensão social, calcado na ausência de relações afetvas para com a realidade das novas terras. Daí que os sentmentos de associação e identfcação com a sociedade local dos países coloniais se estabelecem precariamente, a despeito e não como préá requisito das motvações originais que induziram os deslocamentos demográfcos. A sociedade mestça que surge no espaço americano é resultante de relações informais pratcadas em larga escala entre europeus do sexo masculino com profusão de mulheres indígenas, negras e miscigenadas. Unicamente a ttulo excepcional ocorriam matrimônios 20 consagrando uniões multrraciais e quando aconteciam enquanto iniciatva do elemento masculino dominante. FIGURA 6 - Escravo castgado por tm feiior ntma propriedade rtral, imagem de atioria de Jean-Baptsie Debrei , sem daia (Fonie: Pinieresi: < https://br.pinieresi.com/ >. Acesso: 04-09-2018). Contrariamente aos que identfcam no passado as raízes de uma suposta “democracia racial”, a sociedade colonial irrompe na prátca sob o estgma da dominação latfundista, da opressão cultural, do mando patriarcal e da ideologia racista, consumando um arsenal de proposições excludentes que vitaminou durante séculos, os mecanismos de sujeição dos segmentos marginalizados, tanto antes quanto depois das independências. De mais a mais, em face da dependência estrutural para com a metrópole, as colônias de exploração enfrentaram difculdades para desenvolver propostas de cunho nacionalista e 21 de autodeterminação polítca. Estas ocorrem tardiamente e mesmo assim, sob o signo do exclusivismo social. Os sentmentos natvistas, por exemplo, apenas se afrmam de modo mais incisivo no Século XVIII. Entretanto, sempre mantdo sob a égide da elite rural ou mineradora, que modelou a seu gosto o imaginário social, o programa polítco e as ideações referentes às novas nacionalidades. Deste modo, o modelo da colônia de exploração é origem a uma série de sequelas que ainda hoje marcam a sociedade latnoáamericana, afetando profundamente a evolução econômica, cultural, social e polítca, problemátca comum às nações que vivenciaram esta modalidade de colonização. 22 COLÔNIAS DE POVOAMENTO Na seção setentrional das chamadas Treze Colônias britânicas da América do Norte, que originariam os EUA (Figura 7), em especial em estabelecimentos como Massachusets, Connectcut, Rhode Island e o New Hampshire (Northern Colonies), desenvolveuáse um modelo colonizador distnto do que foi implantado na América tropical. FIGURA 7 - Em vermelho, esião desiacadas no mapa da exiensão contnenial contnta dos aitais EUA, as 133 Colônias Briiânicas da América do Norie, qte se esiendiam pela fachada ailântca no Lesie, alcançando os Monies Apalaches, a Oesie (Fonie: Pinieresi: < https://br.pinieresi.com/ >. Acesso: 04-09-2018). Basicamente, a colonização originou colônias de povoamento, tpologia que em moldes assemelhados, também desenvolveuáse nos domínios franceses do Canadá, em especial no vale do rio São Lourenço e junto à costa atlântca deste país. Neste partcular, seria meritório sublinhar que tanto a Suécia quanto os Países Baixos encetaram experiências de povoamento na parte Nordeste dos atuais Estados Unidos, que, entretanto, foram suplantadas pelos ingleses ao longo de guerras ou negociações territoriais. 23 Com isso, a implantação de colônias de povoamento nesta parte da América do Norte teve clara fsionomia britânica, que modelou profundamente muitos aspectos da personalidade cultural do povo norteáamericano. Mas, rubriqueáse que a porção meridional das Treze Colônias vivenciou outra realidade socioeconômica. Nestes territórios, imperou a colonização de exploração, que sob vários ângulos foi próxima do colocado em prátca nos marcos mercantlistas clássicos (Figura 8). Salvaguardeáse que desde o princípio da colonização dos EUA, as Treze Colônias foram mesmerizadas por amplo leque de disparidades econômicas, sociais, culturais e polítcas, que imprimiram uma personalidade singular nos assentamentos coloniais ingleses. Assim sendo, estabelecimentos como a Carolina, Virgínia, Geórgia e Maryland (Southern Colonies), materializaram sociedades capitalistas por sua predisposição ao lucro. Mas, tocadas por um aristocratsmo propenso a normas de convivência, estlos de pensamento e um imaginário do trabalho não condizentes com modalidades mais progressivas da sociedade capitalista moderna. Afora dessimetrias estruturais entre os estabelecimentos nortstas e sulistas, havia uma certa diferenciação quanto às Colônias Centrais (Middle Colonies), caso do Delaware, New Jersey, Nova York e Pennsylvania. Contudo, peculiaridades a parte, o grupo das Colônias Centrais compartlhava na polítca, sociedade e na economia elementos comuns com a porção setentrional das Treze Colônias, dado que explica a imantação polítca, econômica e cultural com o Norte no comparatvamente ao Sul. Por sinal, estes elementos de base foram origem de uma trajetória diferenciada no espaço econômico do que viriam a ser os Estados Unidos da América (EUA), assim como raiz de confitos como a Guerra da Secessão (1861á1865), opondo o Norte e o Sul dos EUA, e de muitas outras variáveis culturais e polítcas que partcularizam, até os dias de hoje, este segmento do espaço norteáamericano no conjunto da federação americana 8. Numa perspectva global, retenhaáse que historicamente, os modelos de colonização de povoamento consttuem um nexo explicatvo fundamental para entender o surgimento dos novos polos dinâmicos da economia mundial a partr dos fnais do Século XVIII. 24 FIGURA 8 - Comércio de escravos no Esiado da Lotisiana em 1850 (Fonie: < https://www.express.co.tk/lifesiyle/iop10facis/6233459/Top-ien-facis-aboti-slavery >. Acesso: 04-09-2018). Fato que não admite objeções, além dos Estados Unidos, todos os países organizados como colônia de povoamento integram hoje em dia, sem nenhuma exceção, os espaços afuentes ou centrais do mundo globalizado (Vide Box). Quanto aos Estados unidos, a explicação para o surgimento desta modalidade de realidade colonial, adotando a porção Norte das Treze Colônias do Reino Unido como 25 referência, o primeiro ponto merecedor de refexão seria o fato de que neste espaço a metrópole, a Inglaterra, tnha pouco à mão para proporcionar uma projeção econômica ou em outras palavras, promover a acumulação de capital. COLONIAS DE POVOAMENTO NO CENÁRIO GLOBAL Fora do teatro contnental americano, dois países da Oceania, Austrália e Nova Zelândia, consttuem exemplos emblemátcos de colônias de povoamento. No contnente africano, dentro de certos limites, este seria o caso da colonização holandesa na Província do Cabo, na África do Sul. Finalmente, considereáse que uma vertente de historiadores tem proposto a Argentna como um exemplo de colônia de povoamento. Todavia, o tema é controverso pelos vínculos mantdos por esta tese com ideários que buscam atestar uma especifcidade cultural “europeia” do país no mosaico latnoáamericano, o que conota uma averbação claramente conotada por apensos ideológicos. Esta porção da América do Norte, conhecida não por acaso como Nova Inglaterra, era ostensivamente carente de metais e pedras preciosas. Além disso, as condições naturais se assemelhavam às que vigoravam na metrópole. Isto equivale considerar que não era possível artcular, tal como nas terras da latnoá americanas e caribenhas, um sistema agrícola fornecedor de gêneros tropicais altamente rentáveis. Tampouco obter ouro e prata, de resto inexistentes. Deste modo, a formação da Nova Inglaterra primou pelo descolamento frente ao poder colonial britânico, desdobrando caminhos específcos para a evolução da economia e da sociedade norteáamericana. Atenteáse que junto à materialidade social, o pacto colonial foi implantado apenas superfcialmente nesta região, atendendo em especial à esfera do polítco. Mas, marcado por lacunas na dimensão da economia, da cultura e da sociedade. Devido ao relatvo desligamento para com a metrópole, surge uma economia autônoma, mercantl e manufatureira, pivoteada pelo trabalho livre e assalariado, aquinhoada de dinamismo próprio e dissociada numa multplicidade de ângulos do modelo colonialista clássico. 26 Uma vez que não foi implantado um sistema de produção voltado para a perspectva de gerar lucros extraordinários para a metrópole, nem o latfúndio, nem a monocultura e tampouco o trabalho escravo encontraram ambiente favorável para prosperar de forma plena, completa e cabal. Assim, disseminouáse o trabalho livre e assalariado, gerando um mercado consumidor autóctone e uma economia introvertda. Isto é, associada aos interesses, aspirações e demandas locais. A agricultura, ao contrário das colônias de exploração, não estava afeita ao padrão mercantlista do plantation, nem atendia aos mercados externos. Antes, materializouáse numa policultura lastreada no trabalho agrícola dos núcleos familiares. Logo, a unidade de produção modelar foi, grosso modo, a propriedade de pequeno e médio porte, sendo o acesso à propriedade da terra uma opção e não uma restrição. Na medida em que o acesso à terra era facilitado, as possibilidades econômicas estavam abertas, ao menos em tese, a todos os indivíduos, favorecendo uma sociedade mais fexível e dinâmica, incentvadora do progresso, do empreendedorismo individual e dotada de mobilidade social. Noteáse que a imigração de indivíduos isolados ocorria a ttulo excepcional. Grosso modo, a ocupação do território e as vagas de colonização foram dinamizadas por grupos familiares detentores de certo conhecimento técnico e bagagem cultural, à qual poderia ser somada uma étca de fundamento religioso para a qual, o trabalho possuía valor intrínseco. Este foi o caso icônico dos puritanos, grupo que se destacou na colonização da Nova Inglaterra (Figura 9). A infuência destes imigrantes para a consttuição do ethos 9 norteá americano, tornouáos uma das vertentes mais vigorosas que lastrearam o que tem sido denominado de “espírito americano” 10, encarnado na nova elite WASP, que se tornaria cultural e politcamente hegemônica nos Estados Unidos, um grupo White, Anglo-Saxon and Protestant (Branco, AngloáSaxão e Protestante). Com base nestas premissas, a integração dos imigrantes com a realidade local é imediata. O imigrante radicaáse com sua família com a intenção assumida de permanecer na nova terra e não de retornar à Europa. Logo, não ocorre o fenômeno do transoceanismo. 27 FIGURA 9 - Represeniação alegórica dos Ptriianos desembarcando do Mayflower em 1620. Conhecidos como Pilgrims (Peregrinos), na hisioriografa esiadtnidense, o grtpo primeiramenie ftgit para a Holanda, de onde partram enião para o Novo Mtndo. O Mayflower era tm navio inglns qte iransporiot os primeiros ptriianos ingleses, do porio de Plymotih, Inglaierra, para Massachtsetts (Fonie: Pinieresi: < https://br.pinieresi.com/ >. Acesso: 04-09-2018). Em suma: a pretensão de construir uma nova pátria foi indissociável do ideário dos colonos americanos, decorrendo no advento de um forte senso identtário, ensejando um nacionalismo precoce perpassado por sentmentos de orgulho natvista, que ensaia suas manifestações já nos momentos iniciais da história das Treze Colônias. Uma vez que a intenção é permanecer na América e inexistem preconceitos ou objeções ao trabalho resultante do esforço pessoal, a dedicação, o estudo e a disciplina profssional passam a consttuir regras de conduta culturalmente dominantes. Este código de valores abre caminho para consolidar uma formação social centrada na valorização do sucesso econômico e nos direitos individuais, tendo por resultado direto a aspiração de uma autodeterminação polítca como forma de dar livre curso às tendências que emergiam no cenário das Treze Colônias. Daí a propensão em romper os laços, de 28 resto frágeis, que conectavam as colônias americanas com a metrópole europeia, a Grãá Bretanha. À vista disso, não deve ser fator de assombro a independência precoce dos EUA, iniciada no ano de 1775, e tampouco a prosperidade dos colonos. Seria meritório registrar que no momento da independência, se fazia presente um forescente comércio intercolonial acompanhado da expansão do mercado, com saltos sensíveis na produção manufatureira e presença naval em altoámar. Fora do âmbito territorial das Treze Colônias a atvidade marítma norteáamericana se fazia notar na América Central, Atlântco Norte e na África. Documentos atestam, por exemplo, a atuação de baleeiros norteáamericanos no litoral brasileiro e vívida atvidade mercantl em vários pontos do Mar das Antlhas, registrada desde o Século XVII. Sabeáse que no momento em que a luta antcolonial eclode nas Treze Colônias, um terço da frota inglesa era na realidade formada por barcos americanos que navegavam sob bandeira britânica, concorrendo com sucesso com a navegação comercial do Reino Unido. Objetvamente, um confito de interesses irrompe e recrudesce na medida em que os estabelecimentos americanos conquistam maior força econômica, da qual a comentada proeminência naval foi um desdobramento direto. Ainda que parte ponderável da população americana fosse, na aurora da independência, consttuída de fazendeiros, uma operosa burguesia natva, concentrada nos animados portos da orla costeira como da Filadélfa, Baltmore, Boston e Nova York, estava em franco progresso, assumindo papel importante no processo de autodeterminação e na quebra dos vínculos coloniais. Situação muito diferente do que ocorreu nas colônias de exploração, onde a aristocracia rural deteve o comando do processo independentsta em suas mãos, sucedendo aos antgos senhores europeus na função do comando polítco. Claro está, que as vicissitudes históricas que sucederam aos fatos basilares dos dois modelos de colonização, interagiram e responderam a contextos inéditos, colocando a prova toda leque de ordenamentos históricos primordiais. Contudo, seria mister registrar o caráter altamente resiliente dos mesmos, que aparte alterações e adaptações, de resto inevitáveis no frigir da história, não deixaram de 29 estampar uma herança de condicionamentos que o tempo demonstrou possuir caráter fortemente inercial. 30 SOCIEDADE, MODELOS DE COLONIZAÇÃO E ECONOMIA Com base nos pressupostos que amealhamos, caberiam reparos, adendos e advertências, mormente em razão da tendência própria do senso comum em frmar ou recair em abordagens simplistas e esquemátcas. Uma notação fundamental estaria dirigida à admoestação de que na América Latna, a consttuição e persistência de estruturas econômicas refratárias às formulações com maior aderência à economia de mercado não é consequência de um suposto estreitamento do horizonte técnico, religioso e cultural dos colonialistas portugueses e espanhóis. Fundamentalmente, a realidade que se descortnou foi um resultado direto do modelo de colonização aqui implantado, afrmação válida para o Brasil assim como para todas as antgas colônias de exploração. Pois então, embora fatores de ordem cultural e religiosos possam ser aventados para explicar a realidade latnoáamericana, sem dúvida alguma os fatos do universo da economia cumpriram papel matricial e determinante. Recordeáse que no passado, um bom número de possessões inglesas foram moldadas como colônias de exploração. Este é o caso de nações insulares da América Central, da Jamaica, Belize, TrinidadáTobago e de todas as pequenas Antlhas anglófonas (de língua inglesa) e na América do Sul, da República Cooperatva da Guiana, países que nos dias de hoje, pespontam no mundo global no status de países periféricos. O mesmo pode ser dito de colônias da França como o Hait, Guiana francesa e as ilhas do Caribe sob seu domínio; de possessões dinamarquesas no arquipélago das Ilhas Virgens 11 ; dos territórios controlados pela coroa espanhola, que em partcular cobriam ostensiva proporção da América Latna; e por fm, dos domínios portugueses na América do Sul. Salienteáse que os holandeses 12, frequentemente cortejados e entronizados como uma classe de colonizadores mais aptos, refnados e progressistas, não deixaram modelos econômicos mais evoluídos como legado em nenhuma das regiões que estveram sob seu domínio colonial direto. 31 Prova contundente desta afrmação seriam o Nordeste Brasileiro e o Suriname, ao qual podem ser somadas os ilhéus e arquipélagos do teatro antlhano como Aruba, Saba, São Martn, São Eustáquio, Curaçao e Bonaire, antgas possessões dos Países Baixos e que hoje, de igual modo a outras exádependências coloniais (incluindo a Indonésia, situada na Ásia), integram o Terceiro Mundo. Portanto, não há como pretender que o Brasil seria uma nação desenvolvida com base no argumento reducionista de que o país estaria privado de mazelas e inclusive, seria uma nação desenvolvida na hipótese dos colonizadores serem ingleses, franceses ou holandeses. Tampouco a religião poderia consttuir elemento plenamente fátco. Paralelamente ao pressuposto que prescreve as correntes reformadas do cristanismo como incentvadoras do progresso econômico e do empreendedorismo, entendaáse que o Canadá e os EUA reúnem, por exemplo, considerável população católica, ao mesmo tempo em que muitas das Antlhas são protestantes numa proporção idêntca ou maior do que os EUA ou o Canadá 13. Logo, apelar para a origem étnica e fliação religiosa como explicação dos fatos do mundo é uma tentação permanente numa coleção de análises a respeito do passado colonial, confgurando um pressuposto confesso nas explanações de senso comum. Daí que a realidade histórica, nesta, como em todas as demais situações, fala bem mais alto do que qualquer outra ordem de explicações. Sintetzando: a peça explicatva central do contexto latnoáamericano reside acima de tudo no modelo de colonização posto em funcionamento pelos colonizadores europeus. Apenas a partr deste dado de base, estaqueado por ignominiosa trajetória de violências e barbaridades (Figura 10), é que uma fundamentação histórica quanto à evolução social, polítca, cultural e econômica das nações coloniais obtêm legitmidade. Assim, supondo que os holandeses mantvessem o Nordeste sob seu domínio, poderiam até mesmo abonar um legado de feitos e estruturas compatveis com uma formação social e econômica mais sofstcada do que a portuguesa. 32 FIGURA 10 - Na obra A Chegada de Cortés, do mtralisia mexicano Diego Rivera (Palácio Nacional do México, 1951), o artsia reiraia a opressão e os méiodos irtctlenios qte caracierizaram a implaniação do sisiema colonial no México, ctjas prátcas, foram absoltiamenie análogas às colocadas em ação no conjtnio das naççes dominadas pelo mercantlismo ocidenial (Fonie: Pinieresi, < https://br.pinieresi.com/ >. Acesso: 9-072018). Mas isto não seria sufciente, como de fato não o foi noutras colônias dos Países Baixos, para engendrar uma realidade econômica que habilitasse inserção em molduras mais diferenciadas e prestgiadas na economia internacional. Pari passu, anoteáse que em moldes prestgiados ou não, os processos consttutvos da realidade global são em si mesmos, perpassados por contradições. 33 Por exemplo, tanto as colônias de exploração quanto as de povoamento implicaram no genocídio das populações indígenas, cuja existência era entendida como incompatvel diante das expectatvas geradas pela expansão do capitalismo na escala mundial. Por sua vez, o tecido social nos dois modelos, aparte notória diferenciação, sempre foi marcado pela existência de pobres e de excluídos num extremo da escala social, e de elites mais bem aquinhoadas no outro. Certo é que pode ser argumentado que nos assentamentos de povoamento exista um prognóstco e uma expectatva de ascensão social. Todavia, isso não permitria negar a existência de grupos de pobres e marginalizados. Isto posto, ainda que os modelos de colonização demarquem realidades extremamente diferenciadas no passado e no presente, permanece para o plano futuro o anseio em borrar crispações que teimam em imiscuiráse na tecedura histórica atual. Para o Brasil, colocaáse a essencialidade de rever todo um arcabouço de ideações que mutatis mutandis, persistem ensombradas pelo modelo mercantlista, ao qual se fliam a discriminação racial, cultural e social, o Estado clientelista, o deboche da inovação e sumamente, o vazio identtário, a reforçar e escorar as demais incompletudes. Tarefa complexa e difcultosa, mas que se faz necessária com a partcipação de todos os expoentes de diferentes grupos, segmentos e ordenações sociais, abrindo assim caminho para um novo horizonte de expectatvas, anseios e projetos para a comunidade nacional. 34 BIBLIOGRAFIA AZEVEDO, Elizabeth R. et HERBOLD, Hildegard. 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Rio de Janeiro (RJ): Biblioteca NacionaláFundação PróáMemória. 1982; WEBER, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. São Paulo (SP): Livraria Pioneira Editora. 1967. Mercantlismo e Colonização: Colônias de Exploração e Colônias de Povoamenio, ISBN: 12330000888899, é um ttulo primeiramente disponibilizado na Plataforma Kobo pela Ediiora Koiev (Koiev ©) em Janeiro de 2016. Em Setembro de 2018, este material foi transformado em texto de acesso livre na Internet em Formato PDF. Mercantlismo e Colonização: Colônias de Exploração e Colônias de Povoamenio, incorporado à Série Edtcação Poptlar, integra a Trilogia Expansão Ocidenial: Coniradiççes e Contntidades. Consttui publicação de caráter introdutório a um tema complexo e de grande interesse para o conhecimento da realidade brasileira e do cenário global da atualidade. Tem por meta expor, questonar e inventariar os motvos que diferenciaram a evolução econômicoásocial na América Latna e na América Angloásaxônica, temário que compila determinações geográfcas, históricas, econômicas, culturais, sociais e polítcas. Texto que resulta, por parte do autor, de muitas interações em palestras e em sala de aula, no ensino médio, no campo da Educação de Jovens e Adultos (EJA), em cursos de capacitação e em vários outros espaços pedagógicos, Mercantlismo e Colonização: Colônias de Exploração e Colônias de Povoamenio é um texto de linguagem direta, confeccionado enquanto subsídio para alunos e professores na promoção de debates e construção de uma visão crítca da história colonial. Paralelamente à exposição de dados consensuais, o ttulo incorpora apensos crítcos e informações que comumente, são ignorados pela visão clássica deste tema. A edição em curso deste texto pela Ediiora Koiev agrega cautelas de estlo e notas editoriais, explicatvas e bibliográfcas, com 10 imagens inéditas. Acatando reconfguração normatva e ajustes de programação inerentes ao formato PDF, Mercantlismo e Colonização: Colônias de Exploração e de Povoamenio é um material complementar, concebido para suscitar interação com diversas disciplinas e para informação do público interessado. Propõe um debate parceiro da interdisciplinaridade, tendo por mote central o debate dos fatos que infuenciaram e infuenciam a dinâmica do mundo global, que justamente surge como resultado direto da expansão do Ocidente. A presente edição contou com a Assistência de Editoração, Pareceres Técnicos e Tratamento Digital de Imagens do webdesigner Francesco Antonio Picciolo, Eámail: francescoaantonio@hotmail.com; HomeáPage: www.harddesignweb.com.br. Mercantlismo e Colonização: Colônias de Exploração e de Povoamenio é um material gratuito. Vedada a reprodução comercial e também, divulgação sem aprovação prévia da Ediiora Koiev. A citação de Mercantlismo e Colonização: Colônias de Exploração e de Povoamenio deve obrigatoriamente incorporar referências ao autor e apensos editoriais conforme padrão modelar que segue: WALDMAN, Maurício. Mercantilismo e Colonização: Colônias de Exploração e de Povoamento. Série Educação Popular Nº 2. São Paulo (SP): Editora Kotev. 2018. 2 Matrício Waldman é antropólogo, jornalista, pesquisador acadêmico e professor universitário. Militante ambientalista histórico do Estado de São Paulo, Maurício Waldman somou a esta trajetória experiências insttucionais na área ambiental e uma carreira acadêmica com contribuições no campo da antropologia, geografa, 1 sociologia e relações internacionais. Nos anos 1970 e 1980, atuou como professor de geografa e de história em escolas da rede partcular da capital paulista e como Diretor da Escola e dos Cursos Profssionalizantes da Fundação Estadual do Menor (FEBEM) e do Serviço SOS Criança (1997á2000). Waldman foi colaborador de Chico Mendes, Coordenador de Meio Ambiente em São Bernardo do Campo (SP) e Chefe da Coleta Seletva de Lixo na capital paulista. Nos anos 1990, partcipou no CEDI (Centro Ecumênico de Documentação e Informação, São Paulo e Rio de Janeiro), em movimentos em defesa da Represa Billings no Grande ABC Paulista e em diversas entdades ecológicas, dentre as quais o Comitê de Apoio aos Povos da Floresta de São Paulo, também partcipando do Comitê de Fiscalização do Reator Nuclear do Projeto Aramar, em Iperó (SP). Autor de 18 livros e de mais de 700 artgos, textos acadêmicos e pareceres de consultoria, Waldman é autor, dentre outras obras, de Ecologia e Lutas Sociais no Brasil (Contexto, 1992), Antropologia & Meio Ambiente (SENAC, 2006), primeira obra brasileira no campo da antropologia ambiental e de Lixo: Cenários e Desafios - Abordagens básicas para entender os resíduos sólidos, obra fnalista do Prêmio Nacional jabut de 2011 ( Cortez Editora. 2010). Maurício Waldman é graduado em Sociologia (USP (1982), licenciado em Geografa Econômica (USP, 1983), Mestre em Antropologia (USP, 1997), Doutor em Geografa (USP, 2006), Pós Doutor em Geociências (UNICAMP, 2011), Pós Doutor em Relações Internacionais (USP, 2013) e Pós Doutor em Meio Ambiente (PNPDáCAPES, 2015). Mais Informação: Porial do Professor Matrício Waldman: www.mw.pro.br Matrício Waldman - Texios Masierizados: htp://mwtextos.com.br/ Ctrríctlo Plaiaforma Lattes-CNPq: htp://lates.cnpq.br/3749636915642 474 Verbeie Wikipédia (BrE): htp://enº.wikipedia.org/wiki/MauricioaWaldman Coniaio Email: mw@mw.pro.br 3 Situada no litoral do Marrocos, a cidade ainda está mantda sob comando europeu, hoje sob soberania espanhola. 4 O contnente só viria a ser um polo econômico de produção material a partr do fnal do Século XIX, em paralelo à expansão do capitalismo industrial e da Partlha da África. 5 Até o Século XIX, o Brasil foi o maior produtor mundial de ouro, superado apenas com o funcionamento de novas minas na África do Sul. 6 Corante de cor azul, mais especifcamente anil, obtdo a partr de certos espécimes da fora. Originariamente obtdo no Velho Mundo, no período colonial se tornou objeto de cultvo de mote comercial em várias partes da América Central. 7 Entretanto, esta cooptação enfrentou resistência em muitas seções das sociedades africanas, originando confitos e guerras que perduraram por décadas. Em Angola, por exemplo, a rainha Nzinga (1582á1663), fazendo uso do modelo do quilombo, enfrentou o colonialismo português com sucesso, também inspirando a reprodução desta estratégia no Brasil colonial. 8 Depois da independência dos EUA até cerca de 1850, as distâncias entre o Norte, que ingressava rapidamente na industrialização e o Sul, que seguia essencialmente agropecuário, se acentuaram ainda mais, com o crescimento econômico mantendoá se concentrado nos Estados do Norte. Apesar dos sulistas terem parceria neste processo, o progresso foi mais lento do que nos Estados nortstas. Estas diferenças entrariam numa espiral de radicalização em torno da questão da escravidão, induzindo choques entre nortstas e sulistas, cujo epítome foi a Guerra da Secessão, claro sinal das diferenças e divergências irremediáveis oriundas de modelos distntos de colonização. 9 Palavra com origem no antgo léxico grego, signifcando caráter, crenças, valores e/ou ideais estruturantes da identdade de comunidades, nações e povos. Origem da palavra ética, ou seja, aquilo que pertence ao ethos. 10 Os puritanos consttuíam grupo religioso conservador inglês de matriz protestante, inspirado nas ideias de João Calvino (1509á1564). Rejeitavam tanto o catolicismo quanto a confssão anglicana, religião ofcial do Reino Unido. Entrando em atrito polítco com a monarquia britânica, foram perseguidos e muitos optaram pela imigração para a América. 11 A Dinamarca tnha sob seu controle a fração central do arquipélago das ilhas Virgens, situado no centro do Caribe, próximo a Porto Rico. Este território consttuía uma dependência do Reino da Dinamarca até 1917, ano em que os ilhéus foram vendidos para os EUA e rebatzados como Ilhas Virgens Americanas. A Groenlândia, uma secular possessão dos daneses, permanece ligada ao Reino da Dinamarca na condição de região autônoma. 12 Retenhaáse que embora coloquialmente o termo holandês seja corriqueiro para identfcar os nacionais dos Países Baixos, na realidade diz respeito aos habitantes da Holanda, uma das províncias formadoras do Reino dos Países Baixos ou Províncias Unidas. 13 A boa sociologia adverte que o protestantsmo, partcularmente sua vertente calvinista e presbiteriana, gerou uma ideação favorável ao empreendedorismo, que, no entanto, não se restringe unicamente aos chamados protestantes. Católicos, judeus, muçulmanos e membros de qualquer outra denominação religiosa podem, independentemente do protestantsmo, compartlhar deste mesmo ideário (passim WEBER, 1967). CONHEÇA A SÉRIE EDUCAÇÃO POPULAR http://mwtextos.com.br/serie-educacao-popular/ LIVROS NOVOS DO MESMO AUTOR, LANÇADOS EM OUTUBRO DE 2017 http://mw.pro.br/mw/africanidade_espaco_e_tradicao.pdf http://www.mw.pro.br/mw/o_mapa_de_africa_em_sala_de_aula.pdf CONHEÇA A EDITORA KOTEV. VISITE NOSSA HOME PAGE: http://kotev.com.br/