6 eventos que precederam a Marcha sobre Washington por direitos civis - Revista Galileu | História
  • Marilia Marasciulo
Atualizado em
6 eventos que precederam a Marcha sobre Washington (Foto: Wikimedia Commons)

6 eventos que precederam a Marcha sobre Washington (Foto: Wikimedia Commons)

A Marcha sobre Washington por Emprego e Liberdade foi uma manifestação popular pacífica em 28 de agosto de 1963 que marcou o auge do Movimento Pelos Direitos Civis americano. Entre 200 mil e 300 mil pessoas compareceram à capital federal dos Estados Unidos para reivindicar direitos civis e econômicos à comunidade afro-americana. O momento foi marcado pelo discurso histórico “Eu Tenho Um Sonho”, proferido por Martin Luther King Jr. em frente ao Lincoln Memorial.

“Eu tenho um sonho que meus quatro pequenos filhos um dia viverão numa nação onde não serão julgados pela cor da pele, mas pelo conteúdo do seu caráter. Eu tenho um sonho hoje”, proclamou o líder ativista. Apesar do protagonismo de MLK, a marcha foi organizada pelos ativistas Asa Philip Randolph e Bayard Rustin.

Como resultado, a marcha incentivou ações do governo federal para os direitos civis. Teve influência direta na criação da Lei dos Direitos Civis de 1964 (que pôs fim às leis de segregação racial) e da Lei dos Direitos de Voto de 1965 (que garantiu o direito ao voto das minorias raciais). Também consolidou a liderança de Martin Luther King Jr., o que lhe rendeu, em 1964, o Prêmio Nobel da Paz.

Para entender melhor o contexto, relembre 6 eventos que precederam a Marcha sobre Washington.

1. Leis Jim Crow
As Leis Jim Crow foram um conjunto de leis locais estaduais criadas para estimular a segregação racial na região Sul dos Estados Unidos. Após a Guerra Civil, que durou de 1861 a 1865, os Estados Unidos entraram em um período de reconstrução econômica e social. Com a abolição da escravidão, leis federais foram criadas para garantir direitos civis aos negros recém libertos. Porém, estados sulistas começaram a aprovar leis locais estimulando a segregação como forma de neutralizar os avanços garantidos aos negros. Sob a doutrina jurídica do “separado, mas igual”, passou a ser legalmente possível estabelecer a segregação racial em espaços públicos, escolas, universidades e hospedarias, por exemplo.

2. Marcha de 1941
No início da década de 1940, os Estados Unidos viveram um uma retomada econômica pós-Depressão. O momento foi impulsionado principalmente pela indústria da defesa, a fim de atender às necessidades da Europa na Segunda Guerra Mundial. Mas essas oportunidades não chegaram aos trabalhadores negros, discriminados no mercado de trabalho. Em protesto, duas lideranças sindicais negras, A. Philip Randolph e Bayard Rustin, convocaram 100 mil trabalhadores a marcharem sobre Washington em 1º de julho de 1941. Pressionado, o presidente Franklin D. Roosevelt publicou uma ordem executiva 5 dias antes banindo as contratações discriminatórias na indústria da defesa. Em contrapartida, Randolph e Rustin cancelaram a marcha.

6 eventos que precederam a Marcha sobre Washington (Foto: Wikimedia Commons)

6 eventos que precederam a Marcha sobre Washington (Foto: Wikimedia Commons)

3. Brown v. Board of Education
O processo judicial de Oliver Brown contra o Conselho de Educação do distrito de Topeka, no Kansas, foi uma das primeiras vitórias do Movimento pelos Direitos Civis. O processo foi iniciado em 1951, após o distrito ter se negado a matricular a filha de um morador negro em uma escola próxima a casa deles, obrigando-a a tomar um ônibus para estudar em uma escola segregada mais distante. O caso foi parar na Suprema Corte que, em 1954, por unanimidade, decidiu que a segregação racial em escolas públicas era inconstitucional. Durante a presidência do juiz Earl Warren, a Suprema Corte dos Estados Unidos protagonizou uma “revolução constitucional” que ajudou a abolir a segregação racial no país.

4. Linchamento de Emmett Till
Em 1955, Emmett Till, um jovem negro de 14 anos de Chicago foi visitar seus parentes em Money, Mississippi. Depois de supostamente interagir com Carolyn Bryant, uma mulher branca, em uma mercearia, ele foi acusado de violar a cultura da região. Por isso, foi linchado e morto pelo marido e pelo cunhado de Carolyn. O cadáver do adolescente só foi encontrado três dias depois. A mãe de Emmett, Mamie Till, levou o corpo de volta para Chicago, onde promoveu um funeral com o caixão aberto “para deixar as pessoas verem o que eu vi”. A imagem crua da violência cometida contra os negros repercutiu em todo o país, mobilizando a comunidade negra. Hoje, a decisão da mãe é tida como uma das fagulhas que acenderam os protestos pelos Direitos Civis.

5. Boicote aos ônibus em Montgomery
O Movimento pelos Direitos Civis se espalhava pelos Estados Unidos com a organização de protestos, boicotes, desobediência civil e atos não-violentos. Em Montgomery, Alabama, a ativista negra Rosa Parks se recusou a ceder seu assento a um branco no ônibus. Sua prisão fez com que lideranças afro-americanas locais criassem um comitê de resposta. Neste grupo estava o pastor batista Martin Luther King Jr., que se tornou um dos mentores e a principal liderança do boicote ao sistema de transporte público da cidade, em que três quartos do total de passageiros era de negros. O boicote durou até 20 de dezembro de 1956, e culminou na abolição da segregação nos ônibus no Estado do Alabama.

6. Escalada das tensões e a reação de Kennedy
Os protestos não-violentos e atos de desobediência civil por todo o território americano começaram a dar lugar a tensões raciais. Notícias de confrontos entre ativistas negros e brancos começaram a se tornar mais comuns no início da década de 1960. Julgando que a comunidade negra “estava levando a situação longe demais”, a administração Kennedy promoveu, em 24 de maio um encontro com intelectuais negros para discutir a questão racial. O encontro encorajou Kennedy a dar maior atenção aos direitos civis. Em 11 de junho, o presidente enviou uma força militar ao Alabama para permitir a matrícula de dois estudantes negros na Universidade do Alabama, bloqueada pelo governador George Wallace. Na mesma noite, Kennedy fez um discurso televisionado, no qual lamentou a “onda crescente de descontentamento que ameaça a segurança pública” e conclamou o Congresso a aprovar uma nova legislação de direitos civis.