Os dramas de John Travolta: depressão, bullying, seita e as mortes trágicas do filho e da esposa

Os caminhos questionáveis seguidos por Travolta podem ser explicados, em parte, por uma série de tragédias em sua vida pessoal. O intérprete de Danny Zuko sofria bullying e, desde cedo, teve problemas com depressão e ansiedade. Além disso, o ator acompanhou a morte de pessoas queridas e buscou forças em uma crença ridicularizada por muitos.

Conheça os principais dramas da vida de John Travolta.

Bullying

Diferente de muitas estrelas de Hollywood, John Travolta não precisou lidar com problemas familiares quando era criança. Isso não significa que os primeiros anos de vida do astro tenham sido tranquilos. Justamente por receber apoio dos pais para seguir os próprios interesses, o ator desenvolveu uma personalidade diferente da maioria dos seus colegas. Assim, ele teve dificuldades para se adaptar e acabou sendo excluído do convívio com outras crianças.

A revelação foi feita na biografia 'John Travolta: Back in Character', escrita por Wensley Clarkson. No livro, Travolta foi descrito como uma pessoa tímida, muito apegado à mãe e indiferente aos estudos.

“Eu voltava da escola e assistia a uma gravação de um musical da Broadway em vez de correr para fazer minha lição de casa”, o próprio ator afirmou. “Isso me fez diferente dos meus colegas. Minha realidade era muito diferente da realidade deles. Eu estava interessado no show business, e eles não”.

O bullying na escola fez com que John voltasse para casa chorando em diversas ocasiões. Embora tenha descoberto sua vocação antes mesmo da adolescência, o astro desenvolveu ansiedade e criou barreiras para “se relacionar com pessoas do mundo exterior”, segundo Clarkson.

A primeira grande desilusão amorosa

A proteção dos pais e os problemas para interagir com o mundo fora de sua redoma também serviram para deixar Travolta despreparado para as decepções da vida real. O ator conheceu Denise Wurms, seu primeiro grande amor, aos 13 anos de idade.

O relacionamento durou cinco anos e não teve o fim esperado por John. Conforme ele avançava na carreira e participava de filmagens para comerciais, as viagens para outras cidades e estados se tornaram mais comuns. A ruptura definitiva aconteceu quando o ator deixou Englewood, em Nova Jersey, para morar em Nova York.

Ellen, irmã de Travolta, revelou como foi a ligação que encerrou o namoro: “Ela disse a Johnny que queria terminar. Ele ficou devastado”. Após o término, segundo Clarkson, o astro criou um bloqueio para construir novos relacionamentos.

A história ainda teve um último capítulo quando Wurms foi assistir uma apresentação da peça ‘Grease’, estrelada por John, em São Francisco. O ator imaginou que sua ex-namorada gostaria de continuar o romance, mas sua intenção era apenas revelar que se casaria com outro homem em breve.

Primeiro contato com a cientologia

John Travolta não teve vida fácil durante as filmagens de ‘A Chuva do Diabo’, seu primeiro grande trabalho no cinema. Atuando ao lado de William Shatner, Tom Skerritt e Ernest Borgnine, o astro se sentia solitário e enfrentou condições ruins de trabalho no México — local escolhido para as filmagens.

Joan Prather, que também estava no elenco do longa-metragem, foi a grande salvação para Travolta. Ele não sabia que a companhia da atriz mudaria sua vida para sempre.

“Ele precisava de amigos e estava deprimido, assim como eu”, a atriz relatou. “Nós dois éramos as únicas pessoas jovens lá. Foi um período muito solitário para ele. Os amigos que ele tinha estavam fazendo dele um capacho”.

Em meio a tantas fraquezas, Prather apresentou a cientologia ao amigo. A misteriosa e polêmica religião que atraiu outras celebridades de Hollywood, como Tom Cruise, conquistou Travolta em um piscar de olhos.

Segundo Joan, o ator agradeceu por levá-lo a este novo universo. “Essa é a primeira vez que alguém realmente me ajudou sem pedir algo em troca,” ele teria dito. Prather afirmou: “Eu comecei a mostrar meus livros de cientologia a ele, e ele não conseguia parar de ler”.

A morte de Diana Hyland

Durante a produção do longa-metragem 'O Menino da Bolha de Plástico', John Travolta conheceu Diana Hyland, intérprete da mãe de seu personagem. Os papéis familiares no enredo e a diferença de idade de 18 anos não impediram os atores de iniciarem um romance.

Ainda superando o choque da primeira decepção amorosa, Travolta teria feito uma promessa à irmã dele, Ellen. "Se eu entrar neste relacionamento, irei até o final. Tenho muito medo. Não quero me machucar de novo", o astro teria dito, segundo Wensley Clarkson.

O ator voltou a sofrer, mas por um motivo ainda pior que um simples coração partido. Hyland foi diagnosticada com câncer de mama e chegou a realizar uma mastectomia parcial. Antes de finalizar as filmagens de 'Os Embalos de Sábado à Noite', Travolta foi a Los Angeles, onde fez companhia para a namorada no último dia de vida dela, em março de 1977.

Parte da dor sentida pelo astro foi transferida para sua performance como Tony Manero. "Minha namorada tinha acabado de falecer, e eu não percebi que ainda estava tomado pelo luto. Na cena em que a garota me beija na bochecha, eu começo a chorar. A ternura dela me fez chorar", John declarou em entrevista ao Daily Beast.

John Travolta não sabia que a mãe dele estava com câncer

A angústia de Travolta não cessou após a morte de Diana Hyland. Em 1978, a mãe do ator, Helen, lidava com câncer em estágio avançado. Ela havia recebido o diagnóstico antes mesmo da morte da nora, mas a família optou por não dar a notícia a John.

Em dezembro daquele ano, veio o novo choque: Helen faleceu. Travolta cancelou a participação que faria em 'Gigolô Americano' e demonstrou estar abalado em entrevistas e ações promocionais de outros projetos.

"Era uma verdadeira dicotomia. Eu tinha muito sucesso e, ao mesmo tempo, a tragédia e uma tristeza enorme", o ator afirmou sobre o período. "Muitas pessoas ficaram frustradas quando meu luto se tornou público. Elas diziam: 'Só porque você é famoso, a sua perda é mais importante do que a nossa'", completou.

Os holofotes continuaram voltados à família do astro. Seis meses após a morte de Helen, Salvatore, pai de John, casou com a enfermeira que cuidou de sua esposa anterior nos momentos finais da vida dela.

A morte do filho

John Travolta seguiu a vida após a perda de Diana e Helen. Em 1991, ele casou com a atriz Kelly Preston. Juntos, tiveram três filhos, incluindo o primogênito Jett Travolta, nascido em 1992.

Ainda criança, Jett foi diagnosticado com a rara doença de Kawasaki, que tem como sintomas febre alta e descamação da pele. Em 2009, quando a família estava de férias nas Bahamas, o jovem de 16 anos teve uma convulsão, bateu a cabeça e morreu.

"A verdade é que eu não sabia se iria sobreviver", John afirmou à BBC em 2014. "A vida não era mais interessante para mim. Precisei de muito tempo para me sentir melhor. Serei eternamente grato à cientologia por me apoiar durante dois anos inteiros, de segunda a domingo".

A cobertura da mídia sobre a morte de Jett não agradou o ator. Diversos veículos apontaram que a crença na cientologia teria impedido um tratamento convencional para a doença. O site da religião — ou seita, como é considerada por diversos países — indica que os adeptos têm liberdade para procurar a medicina tradicional, mas a prática é vista como "danosa".

Somente um episódio específico, no entanto, conseguiu tirar Travolta do sério. Ainda durante o luto da família, alguns portais publicaram o relato de um homem que afirmava ter um relacionamento romântico com o astro.

"As alegações foram ainda mais ofensivas considerando a morte do meu filho. Nunca tinha me sentido tão mal. Senti que a imprensa — não toda a imprensa, mas uma parte dela — foi muito baixa nessa história. Consigo lidar com o resto, mas aquilo me fez questionar tudo", relatou ao Daily Beast.

Julgamento por extorsão

Além do espetáculo midiático acerca da morte de Jett, John Travolta precisou reviver os últimos dias de vida do filho durante um julgamento. Um médico e um senador das Bahamas foram acusados de extorquir cerca de US$ 25 milhões da família do ator.

Poucos detalhes foram revelados, mas a acusação teria partido de outro político, que é amigo da família e alegou que "alguém estava fazendo algo muito desagradável".

Após idas e vindas judiciais, o caso foi encerrado a pedido de John. "A família Travolta disse que este assunto causou dor e estresse inacreditáveis a eles. O único desejo é deixar tudo isso para trás", o advogado do astro declarou.

A morte da esposa por câncer

Mais uma vez, a família de Travolta foi acometida com uma doença grave. Em 2018, Kelly Preston foi diagnosticada com câncer de mama. A esposa do astro morreu dois anos depois, em julho de 2020. Além do marido, ela deixou dois filhos: Ella Bleu e o caçula Benjamim.

Após um período de privacidade para enfrentar o luto, John falou abertamente sobre a perda e a dificuldade para explicar a situação a Ben, que tinha apenas 10 anos quando a mãe dele faleceu.

"Eu disse: 'Ben, você sempre amou a verdade, e eu vou te contar a verdade sobre a vida. Não sabemos quando vamos embora ou até quando ficaremos aqui... Eu poderia morrer amanhã. Você também. Qualquer pessoa pode morrer. Só fazemos o melhor para viver o máximo possível'", o astro revelou no podcast Hart to Hart.

Após tantas perdas dolorosas, Travolta ainda detalhou o que descobriu sobre o luto em entrevista à Esquire: "Eu aprendi que lamentar a morte da alguém, viver o luto, é algo muito pessoal. A dor é individual, e experienciar sua própria jornada é o que pode te levar à cura".