O ex-presidente da Câmara dos EUA Kevin McCarthy anunciou, nesta quarta-feira, que vai renunciar ao mandato como deputado e se aposentar da vida política no fim deste ano, deixando o cargo antes do tempo para o qual foi eleito. Caso mantenha a decisão, McCarthy será a segunda baixa para o Partido Republicano na Casa do Congresso onde detém maioria, uma semana após o deputado George Santos, ter o mandato cassado.
Eleito em janeiro para liderar uma sigla dividida, após uma sucessão de eleições sem que se chegasse a um entendimento, McCarthy ficou marcado por ser o primeiro presidente da Câmara a ser deposto em toda a História dos EUA. Ele entrou na mira da ala radical do partido, ligado ao ex-presidente Donald Trump, após negociar uma medida bipartidária provisória sobre financiamento, apoiada pela Casa Branca para evitar uma paralisia do governo, o que desencadeou a fúria da ala ultraconservadora do partido.
Com a renúncia de McCarthy, a vantagem já estreita do Partido Republicano diante dos democratas na Casa fica ainda menor. A saída do ex-presidente da Casa e a cassação de Santos por uma série de denúncias de desvio e uso indevido de verbas eleitorais deixa uma margem de apenas sete votos (219 a 212), ao menos temporariamente. Os assentos precisarão ser preenchidos em uma eleição suplementar.
"Independentemente das probabilidades ou do custo pessoal, fizemos a coisa certa. Isso pode parecer fora de moda em Washington hoje em dia, mas a entrega de resultados para o povo americano ainda é celebrada em todo o país. É com este espírito que decidi deixar a Câmara no final deste ano para servir à América de novas maneiras. Sei que meu trabalho está apenas começando", escreveu McCarthy, em artigo publicado no The Wall Street Journal.
Embora tenha saído da presidência da Câmara por meio de uma ação coordenada por companheiros de legenda — o pedido de abertura do processo para troca da liderança partiu do deputado republicano Matt Gaetz, da Flórida, e recebeu oito votos de aprovação de correligionários —, o experiente deputado da Califórnia afirmou que pretende continuar a trabalhar pelo Partido Republicano.
"Continuarei a recrutar os melhores e mais brilhantes do nosso país para concorrer a cargos eletivos. O Partido Republicano está a expandir-se todos os dias e estou empenhado a emprestar minha experiência para apoiar a próxima geração de líderes", escreveu.
Nas redes sociais, Gaetz fez uma postagem em tom irônico logo após a notícia da renúncia de McCarthy ser publicada. "McLeavin", escreveu o deputado, em um trocadilho com a palavra em inglês para "ir embora". Nos comentários à publicação, republicanos se dividiram entre comemorar a renúncia, inclusive parabenizando Gaetz por seu papel no enfraquecimento do ex-presidente, e questionar o parlamentar sobre o risco que representaria para a maioria na Casa Legislativa.
Depois de ser destituído da presidência, em outubro, McCarthy deu uma resposta inconclusiva sobre se permaneceria no Congresso. “Vou dar uma olhada nisso”, disse ele, à época. Mais tarde, num esforço para rebater relatos e rumores de que partiria imediatamente, ele disse aos repórteres que ficaria e até planejava concorrer à reeleição.
McCarthy foi eleito deputado pela primeira vez em 2007. Ele se apresentava como parte de uma geração emergente de líderes conservadores quando os republicanos do Tea Party chegaram ao poder, em 2010. O prazo final para registro de candidaturas no distrito do republicano, na Califórnia, encerra-se em 8 de dezembro.
Ele também manteve uma aliança instável de conveniência com a figura dominante do partido, Donald Trump, a quem criticou Trump como sendo “responsável” pela insurreição do Capitólio, em de 6 de janeiro de 2021. Três semanas depois, voou para Mar-a-Lago para ser fotografado ao lado do ex-presidente. Trump habitualmente menosprezava McCarthy como “Meu Kevin” quando se referia a ele. (Com The New York Times e Bloomberg)