Charlotte Casiraghi veste Chanel – Foto: Betina Du Toit, com styling de Tania Rat-Patron

Por Brooke Theis

“Não há nada de errado com privilégio e poder se você usá-los para o bem”, disse Jeanette Winterson em um encontro organizado pela Chanel e sua embaixadora Charlotte Casiraghi, no ano passado. Winterson estava reproduzindo uma fala de Virginia Woolf, a escritora que estava no coração daquele encontro, mas cabe perfeitamente como um reflexo do modo como Casiraghi vive sua vida; usando sua plataforma como membro da dinastia de 700 anos dos Grimaldi e seu lugar como a 11ª na linha de sucessão ao trono de Mônaco para promover o engajamento criativo.

Embora sua mãe, a princesa Caroline de Hanover, seja a filha mais velha do príncipe Rainier III e da estrela de Hollywood Grace Kelly, seu tio é o soberano governante – permitindo que Casiraghi se afaste o suficiente das exigências dos deveres reais para explorar seus próprios interesses.

Charlotte Casiraghi – Foto: Betina Du Toit, com styling de Tania Rat-Patron

“Muitas mulheres da minha família – minha mãe, minha avó, minha bisavó – eram mulheres extremamente ousadas que não queriam a vida que se esperava delas”, diz enquanto conversamos no hotel Connaught, onde ela estava hospedada em visita a Londres. “Isso me inspirou a buscar diferentes paixões.” Ela fala devagar e com equilíbrio em francês e inglês, com voz suave e profunda. Usando um jeans e uma jaqueta de tweed, com seu corte bob castanho, solto e levemente despenteado, ela aparenta uma expressão fresh, apesar de uma semana intensa e repleta de compromissos.

Tendo estudado filosofia na Sorbonne, ela estabeleceu um fórum com seu professor Robert Maggiori em 2015 dedicado à troca de ideias, chamado “Les Rencontres Philosophiques de Monaco”. “Ninguém nesta Terra pode dizer que não está interessado em questões filosóficas”, diz ela, com naturalidade. “Achei que deveria haver espaço para refletir sobre eles e debater fora das universidades.”

Charlotte Casiraghi veste Chanel – Foto: Betina Du Toit, com styling de Tania Rat-Patron

Seu projeto mais recente é desenvolver uma série de discussões literárias com a diretora criativa da Chanel Virginie Viard, inspirada nos mesmos encontros que Gabrielle Chanel promovia em sua casa na Rue Cambon, em Paris. Cada sessão reúne autoras e atrizes para discutir a obra de escritoras que tiveram um papel significativo no movimento de libertação das mulheres, motivadas pelo fato de que, como diz Casiraghi: ‘A grande maioria das mulheres no mundo ainda não tem absolutamente nenhum direito de ser educada, ter apoio financeiro ou exercer qualquer tipo de profissão criativa.’

Casiraghi aprendeu o valor de uma conversa significativa ainda jovem, com as pessoas que a cercavam, incluindo Karl Lagerfeld – um amigo próximo de sua mãe – que lhe enviou “Os Diários de Virginia Woolf” e livros de Lou Andreas-Salomé quando ela era adolescente. “Ele era um homem muito culto”, diz. “Karl sabia que eu gostava de literatura, então ele me incentivou a desenvolver esse meu lado, mais do que o resto. Ele realmente não se importava se eu gostava de moda.”

Charlotte Casiraghi veste Chanel – Foto: Betina Du Toit, com styling de Tania Rat-Patron

Enquanto crescia, ela e sua família passaram muitos verões na mansão do designer em Mônaco, La Vigie, onde Casiraghi foi fotografada para a campanha verão 2021 da Chanel. “Lembro-me de muitos momentos felizes naquele lugar; sessões de fotos que estavam acontecendo lá e muitas amizades”, reflete. “Foi estranho voltar a ser fotografada, sabendo que Karl havia tirado todas essas fotos incríveis da minha mãe, do meu pai, de nós ainda crianças naquela casa.”

Foi também no La Vigie que o casamento de Casiraghi com o produtor de cinema francês Dimitri Rassam aconteceu em 2019, no qual ela usou um vestido de alta costura Chanel, que lembra um outro usado por sua avó Grace Kelly, no filme de Hitchcock “Ladrão de Casaca”, de 1955. Hoje, a maioria dos vestidos magníficos de Kelly estão arquivados no palácio da família Grimaldi, mas Casiraghi revela que ela e sua mãe têm alguns itens dela em seus guarda-roupas. “Minha mãe tem um vestido preto Balenciaga, uma peça muito bonita, e também alguns paletós que ela comprou de um alfaiate em Londres – e tem uma saia e uma jaqueta que estão comigo.”

Casiraghi descreve seu próprio estilo como eclético, bem como suas atividades – pois ela também é uma ávida amazona e presidente da Longines Global Champions Tour, além de ser uma cineasta de sucesso, tendo fundado sua própria produtora em 2012. Seu filme “Our Lady of The Nile”, baseado no romance sobre um grupo de estudantes ruandesas em um internato católico belga, ganhou o prêmio Urso de Cristal no Festival Internacional de Cinema de Berlim de 2020.

Charlotte Casiraghi veste Chanel – Foto: Betina Du Toit, com styling de Tania Rat-Patron

Em 2018, ela também publicou um livro de ensaios com foco em diferentes emoções humanas, intitulado “Archipel des Passions”, que ela dedicou ao seu falecido pai, o piloto italiano Stefano Casiraghi.

Seria justo supor que a sobrinha do chefe de Estado monegasco enfrentaria um certo nível de escrutínio do público, como qualquer membro da realeza moderna. Mas, como suas antecessoras, Casiraghi se recusa a deixar o brilho desse holofote afetá-la. “Se você começar a pensar no impacto que sua imagem terá e como as pessoas perceberão isso, é o fim”, diz ela, citando um trecho sobre fama do escritor Andreas-Salomé. “Ela era uma mulher muito livre que realmente não se importava com reputação; não foi, de forma alguma, algo que orientou suas escolhas”, comenta. “É importante ter essa força.”

A série de Encontros Literários da Chanel está disponível para assistir agora em chanel.com.