A história da criação do Grau 33 - primeiro Supremo Conselho do Mundo - Maçonaria e Maçon(s)
Ritos e Rituais

A história da criação do Grau 33 – primeiro Supremo Conselho do Mundo

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A Maçonaria Operativa tinha somente dois graus: Aprendiz e Companheiro. Mestre não era grau e sim uma função que competia ao responsável pela construção. Não tinha quaisquer influências da Alquimia, Cabala, Astrologia, Rosacrucianismo, Ocultismo enfim, de qualquer segmento esotérico como tal hoje é conhecida. Não tinha templos, as reuniões como todos sabem, eram realizadas em tabernas. Durante uma reunião de maçons não se abria qualquer livro da Lei. Os símbolos eram desenhados no chão com giz ou carvão. Dois símbolos que já existiam e constam dos Old Charges eram as duas Colunas, mas que naquela época, não tinham no meio as referidas e polémicas letras J e B que geram tanta discussão e que também apresentavam outros significados simbólicos, um tanto quanto diferentes dos que hoje estão estabelecidos.

O Escocesismo ou Escocismo é caracterizado por uma série de ritos que nasceram na França a partir do ano 1649 e que tiveram um desenvolvimento bastante peculiar e sincrético, recebendo as mais variadas denominações e influências, quer filosóficas, morais, bíblico-judaicas, herméticas, rosacrucianas, templárias, políticas, religiosas e sociais, além dos modismos das épocas dos cavalheiros e gentis-homens das monarquias e reinados e também da História da Humanidade, tudo isto acontecendo um período bastante transformador de costumes.

Em 1725 foi criado o grau de Mestre e em 1738 ele foi acrescentado oficialmente aos dois primeiros graus e incorporado definitivamente à Ordem. Criaram a lenda de Hiran, a qual se sabe de sobejo não ter compromisso com a realidade histórica ou religiosa e que por sinal ninguém sabe quem foram em realidade os seus inventores, mas sabe-se que ela levou mais ou menos uns sessenta anos para tomar a redacção que hoje se conhece, bem como as suas mensagens ficarem definitivamente consagradas, uma delas “morrer para renascer”.

Se o grau de Mestre já foi um acréscimo dentro da própria Maçonaria simbólica, achar que os maçons franceses ficariam satisfeitos com ele sendo o último, seria muita ingenuidade.

Enquanto a Maçonaria Inglesa através do seu relacionamento directo com a Igreja Anglicana e com o Estado, permaneceu tradicionalmente ligada à Bíblia, a Maçonaria Francesa numa liberalidade total, aceitou e adoptou uma amálgama de doutrinas de concepções heterogéneas, o que acabou sendo o substrato para o aparecimento dos Altos Graus do Escocesismo ou Escocismo e por continuidade ao Rito Escocês Antigo e Aceito e outros ritos escoceses que já não são mais praticados. Com relação à história do Rito, no início os franceses acompanharam os Modernos das Lojas inglesas, mas começaram a acrescentar progressivamente os Altos Graus. Há quem atribua aos franceses a criação do terceiro grau, ou seja, o Grau de Mestre, mas em realidade ele nasceu na Inglaterra.

Alguns autores atribuem um desenvolvimento cronológico na criação dos Altos Graus que seria assim: seis graus até 1737, sete graus até 1747, nove graus até 1754, dez graus até 1758, vinte e cinco graus, até 1801 quando foram criados mais oito graus, perfazendo trinta e três graus. Entretanto esta cronologia é rejeitada por outros. Mas a história está aí para comprovar, pois como todos sabem os franceses foram acrescentando graus e mais graus na Maçonaria no decorrer do século XVIII.

A causa da criação dos graus acima dos três primeiros é ainda um tanto obscura e divergente entre os autores. Poderia ser de fundo político, ou por interesses pessoais ou a colação de títulos cavalheirescos e pomposos, os quais alimentariam a vaidade dos nobres, ou ainda razões espirituais ou até jesuíticas, já que o jesuitismo era ligado aos Stuarts caracterizando assim uma causa política.

Porem com relação às origens do Rito Escocês Antigo e Aceito existe três possibilidades, a saber:

  1. O famoso discurso do Cavaleiro Ramsay
  2. O Capítulo de Clermont
  3. O Conselho dos Imperadores do Oriente e do Ocidente

Conforme alguns autores ainda considerando as origens do Rito, referem-se a sete categorias, a saber:

  • Graus simbólicos primitivos e universais.
  • Graus de desenvolvimento dos graus simbólicos e universais
  • Graus baseados no Iluminismo do Tribunal da Santa Vingança ou Santa Vehme
  • Graus judaicos e bíblicos
  • Graus Templários
  • Graus Alquímicos e Rosacrucianos
  • Graus Administrativos e Superiores

Entre as lendas do início das origens dos Altos Graus aparece o Cavaleiro de Ramsay (André Michél – 1686-1743), homem erudito, nascido na Escócia, partidário dos Stuarts, protegido do Bispo Hercule de Fenelon, com ligações em todas as cortes da Europa, ao qual se atribui ter sido o inspirador da criação dos Graus Superiores.

O seu famoso discurso que foi escrito em 1737, mas que talvez nunca tenha sido lido em qualquer Loja, ou apresentado em qualquer assembleia de maçons, podendo até ser apócrifo segundo alguns autores, pois acredita-se que haja pelo menos quatro versões do mesmo, material este que foi distribuído fartamente em todas as lojas da França e países vizinhos. Neste documento Ramsay faz apologia que a Maçonaria seria originária dos Templários, o que não é verdade, tece comentários pela primeira vez enfatizando hierarquia na Ordem, proclama o ideal maçónico na Fraternidade e num mundo sem fronteiras, tentando impingir uma falsa antiguidade e nobreza à Maçonaria.

Fez uma proposta às lojas inglesas para acrescentarem mais três graus aos já existentes (Mestre Escocês, Noviço e Cavaleiro do Templo) A Maçonaria inglesa rejeitou. Estes três graus teriam segundo Ragon criados por Ramsay.

Fez uma proposta às lojas francesas para que se acrescentassem mais sete graus suplementares. Também não foi aceito. Mas de qualquer forma a partir daí começaram as introduções templárias e rosacrucianas e os Altos Graus começaram a aparecer. Muitos autores não aceitam este facto, rejeitam a participação de Ramsay. Entretanto, outros como Ragon apoiam-na.

Segundo Paul Naudon, o facto mais importante acontecido após o polémico discurso de Ramsay, foi a criação do Capítulo de Clermont pelo Cavaleiro de Bonneville em 1754. Os Irmãos que criaram este Corpo pretendiam continuar os mesmos princípios da Loja de Saint-Germain-en-Laye, fundada muito tempo antes, ou seja, praticar os Altos Graus, criando sete graus e opondo-se à política da Grande Loja da França, a qual seria posteriormente dissolvida em 24.12.1772.

O Capítulo de Clermont teve uma duração efémera, a sua existência foi muito curta, mas valeu pelas consequências, pois uma das suas ramificações foi a fundadora em 1758 do Conselho dos Imperadores do Oriente do Ocidente, Grande e Soberana Loja de Jerusalém, que organizou um rito de vinte e cinco graus chamado Rito de Perfeição ou de Heredon. Os seus membros, conhecedores de várias tradições místicas e gnósticas antigas, trouxeram para este Corpo Maçónico as influências templárias, rosacrucianas e egípcias, além de se dizerem herdeiros dos Ritos de Clermont e das correntes escocesas de Kilwinning e Heredon. Estava assim consagrada a influência esotérica na Ordem. Em 1762 sob os auspícios deste Conselho, foram publicados os Regulamentos e Constituição da Maçonaria de Perfeição, elaborados por nove comissários sendo concluída assim como Constituição de Bordeaux em 21.09.1762, talvez um dos poucos documentos do Escocesismo ou Escocismo que é verdadeiro.

A fundação destas potências mencionadas, não dão conta, nem ideia do processo político-maçónico dos bastidores, das desavenças internas, das histórias e estórias relatadas, das perseguições entre os Irmãos, chegando até a agressões físicas, dos interesses pessoais, das vaidades de tal forma que quando se analisa os factos chega-se à conclusão que muita coisa que acontece no presente já aconteceu no passado. Os homens continuam os mesmos. A Maçonaria mudou, mas os homens não mudaram…

Em 1761 o Conselho de Imperadores teria fornecido através do Irmão Chaillon de Joinville, substituto Geral da Ordem e mais oito Irmãos da alta hierarquia que também teriam assinado o documento, uma patente constitucional de Grande Inspector do Rito de Perfeição ao Irmão Etienne ou Stephen Morin, autorizando-o a estabelecer e perpetuar a Sublime Maçonaria em todas as partes do mundo e investindo-o de poderes de sagrar novos Inspectores. Chegando à Colónia francesa de São Domingos (hoje Haiti), no mesmo ano pôs-se a trabalhar. Há fortes suspeitas de que este documento seja fraudado. Também segundo muitos autores, Etienne teria comercializado estes altos graus. Na realidade o Rito de Perfeição ficou muito mal trabalhado durante mais ou menos trinta anos. Foi esquecido o seu conteúdo esotérico e a sua ritualística muito mal usada. Mas de qualquer forma os americanos aceitaram muito bem o Rito, e ainda acharam que os vinte e cinco graus eram insuficientes para abranger toda a iniciática maçónica.

Morin teria entregado certificados ou carta patente a outros Irmãos e um deles foi um Irmão de nome Henry A. Francken, também de origem judaica, que teria estabelecido o Rito em Nova York. Outro grupo introduziu o Rito em Charleston em 1783.

Na mesma colónia francesa São Domingos (Haiti) alguns anos mais tarde apareceram os maçons, o Conde Alexandre François Auguste de Grasse Tilly e o seu sogro Jean Baptiste Delahogue, os quais posteriormente em 1793 se mudaram para Charleston. Grasse Tilly já tinha pensado em fundar um Supremo Conselho nesta cidade. Encontraram nos Estados Unidos, uma maçonaria bastante organizada, não havia Rito Francês e sim o Rito de York dos americanos, que era parecido com rito inglês dos Antigos.

Lá encontraram mais dois maçons, Frederik Dalcho e John Mitchel. Existem autores que afirmam que foi Dalcho quem teve a ideia de criar mais oito graus, e autores que sustentam que o último grau foi Grasse Tilly quem criou.

O grupo era formado pelos aos seguintes Irmãos: Alexandre François de Grasse Tilly (Francês), Jean Baptiste Delahogue (Francês) Frederich Dalcho (Inglês), John Mitchel (Irlandês), James Moultrie (Americano), Isac Auld (Americano), Abrahan Alexander (Inglês), Thomaz Bartolomew Bowen (Irlandês) , Moses Clava Levy (Polaco) Emmanuel de la Mota(Índias Ocidentais) e Israel Delieben (Checoslovaco).

Dos onze Irmãos apenas dois eram americanos

Assim se iniciou um trabalho de poucos Irmãos sem serem conhecidos nos Estados Unidos e especialmente no mundo maçónico da Europa, e que culminou com a criação de um Rito, calcado em cima do Rito de Heredon. ou de Perfeição. Estes onze Irmãos fundaram o primeiro Supremo Conselho do Mundo em 31 de Maio de1801 na cidade de Charleston (EUA). Só que lançaram mão de uma das maiores balelas a respeito da criação do Rito nascente que só se tornaria conhecida a partir de 4 de Dezembro de 1802 quando foi expedida uma circular comunicando o que tinha acontecido e divulgando o sistema de 33 graus e atribuindo que a sua organização teria sido feita em 1786 por Frederico II da Prússia.

A versão posterior dada pelo Supremo Conselho da França para ajudar a enriquecer a mentira, refere que Carlos Stuart, filho de Jaime III, o qual sendo considerado como chefe de toda a Maçonaria, conferiu o título de Grão-Mestre a Frederico II, o Grande, rei da Prússia (1712-1786) nomeando-o seu sucessor e como tal também chefe dos Altos Graus. Em 1782 ele teria confirmado as Constituições e Regulamentos de Bordeaux. E, daí a quatro anos ele transferiu os seus poderes para um Conselho de Inspectores Gerais e, ao mesmo tempo acrescentou mais oito graus, e em 1786 publicou a sua famosa Constituição. Pura invenção!

Entretanto esta versão não tem o menor reconhecimento entre os bons autores maçónicos e entre eles Findel, Ragon, Lindsay Rebold, Thory Clavel e tantos outros. Um deles, Rebold afirma que Frederico foi iniciado em 15.08.1738 em Brunswich e que em 1744, a Loja “Três Globos” de Berlin, fundada por artistas franceses, foi por ele elevada a categoria de Grande Loja, da qual foi aclamado como Grão-Mestre, exercendo mandato até 1747. Desta época para frente ele afastou-se da Ordem, e quando apareceram os Altos Graus ele não só não os aprovou como os combateu. Eles foram introduzidos na Alemanha pelo Marques de Bernez.

Então como aconteceu e porquê esta grande mentira?

Simplesmente, porque o grupo de onze maçons que fundou um novo Rito não tinha o respaldo histórico e credibilidade para se impor perante o mundo maçónico da época, então foi estratégico e cómodo atribuir à fundação, do Rito Escocês Antigo e Aceito, em 1786, que ainda não levava este nome no inicio e sim Rito dos Maçons Antigos e Aceitos, atribuído a Frederico da Prússia, e ainda imputando ao Rito uma origem anterior. Frederico gozava de boa reputação política, simpático à causa da separação dos Estados Unidos da Inglaterra, inclusive enviando soldados a América para combater as forças inglesas. Só que em 1801, Frederico já tinha falecido. O interessante é que até a presente data, muitos Rituais dos Graus Superiores do Rito Escocês Antigo e Aceito mencionam o nome de Frederico II.

Estava assim fundado no dia 31 de Maio de 1801 nos Estados Unidos, o Rito Escocês Antigo e Aceito, que ainda não tinha este nome, e criado desta forma o Primeiro Supremo Conselho do Mundo tendo como primeiro Soberano Comendador John Mitchel, e ainda calcado numa mentira histórica, aceita ainda hoje em dia como se fora uma verdade intocável. Muitos rituais dos Graus Superiores citam o nome do Imperador.

Frederico da Prússia jamais foi o criador do Rito Escocês Antigo e Aceito

Entretanto, apesar deste imbróglio todo, e tudo isto pode ser comprovado, o Rito Escocês hoje é um Rito sério, bem praticado pelos seus adeptos que pautam pelos seus princípios e pela sua fé no Rito, e não pela sua confusa história. É um Rito vencedor e maioritário no Brasil.

Dos ritos escoceses e que fizeram parte do Escocesismo actualmente são praticados no mundo apenas dois, o Rito Escocês Antigo e Aceito e o Rito Escocês Rectificado.

Documentos básicos do Escocesismo ou Escocismo

  • O Discurso de Ramsay em 1738.
  • Constituição de 1762, organizada pelo Conselho de Imperadores do Oriente do Ocidente
  • A Patente de Stefhen ou Etienne Morin emitida em 27.08.1761, assinada pelo Irmão Chailon de Joinville e demais autoridades mandatárias dos Graus Eminentes.
  • Os novos Institutos Secretos e Fundamentais que foram atribuídos de forma inverídica Frederico II° e que, apesar de datarem de 1786, foram elaborados posteriormente.
  • (e) Constituições, Estatutos e Regulamentos para o Governo do Supremo . Conselho dos Inspectores Gerais também levando autoria de Frederico II . indevidamente.
  • f) As resoluções do Congresso de Lausanne em 1875.

Hercule Spoladore – Loja de Pesquisas Maçónicas Brasil – Londrina – PR

Referências

  • ASLAN, Nicola GRANDE DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO DE MAÇONARIA E SIMBOLOGIA – 04 volumes – 4° – Editora Artenova S.A. – Rio de Janeiro, 1976
  • CASTELLANI, José RITO ESCOCÊS ANTIGO E ACEITO- História, Doutrina e Prática Editora Maçónica “A Trolha” Ltda. Londrina, 1988
  • PORBER, Kurt – HISTÓRIA DO SUPREMO CONSELHO DO GRAU 33 DO BRASIL – Livraria Kosmos Editora – Rio de Janeiro, 1983
  • PROBER, Kurt – FREDERICO II, O GRANDE, E A MAÇONARIA – Editora Maçónica “ A TROLHA” Ltda. Londrina, 1994
  • Grandes Constituições Escocesas, 1966 – 2a edição
  • Supremo Conselho do Brasil para o Rito Escocês Antigo e Aceito
  • Leis que Regem o Escocismo no Brasil, 1951
  • Supremo Conselho do Grau 33 – Rito Escocês Antigo e Aceito para o Brasil

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3 thoughts on “A história da criação do Grau 33 – primeiro Supremo Conselho do Mundo

  • Ainda visitarei varias lojas e estudarei o profundo da organização no mundo

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  • Estou feliz com que estou lendo. Quero ler mais para saber mais. Paz Profunda

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  • Conheco a Ordem em vários paises. O último foi Uruguai, onde, também, seria inconcebível encontrar em “canais abertos” material como esse (excelente para iniciados, especialmente recomendado para Mestres !).

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