Albert Fish, o devorador de crianças
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Albert Fish, o devorador de crianças


Por Bernardo de Azevedo e Souza e Henrique Saibro


“Eu gosto de crianças, elas são saborosas”. (Albert Fish)

A PERSONALIDADE

Albert Fish era um senhor. Mas um senhor cuja aparência remetia aos 70 anos de idade, quando, na verdade, em seu último crime, possuía 58 anos. Grisalho desde jovem e, aliado ao seu rosto magro e fundo, realmente dava a impressão de ser um idoso. Sempre bem arrumado e agindo, sem exceções, com educação e polidez em público, foi difícil acreditar que um aparente ancião pudesse ter torturado, assassinado e devorado (literalmente) crianças.

Aos adeptos positivistas de que há seres humanos com predisposições genéticas a práticas criminosas, Fish era um terreno bastante fértil para fins de pesquisa. Possuía uma quantidade assustadora de parentes com perturbações mentais, cujas enfermidades levavam inclusive à morte (incluindo, nessa lista fatal, seus irmãos). Sua mãe era conhecida por sofrer constantes alucinações sonoras e visuais.

Era um masoquista confesso. Obrigava seus seis filhos a assisti-lo autoflagelar-se; só cessava quando seus glúteos ficavam em carne viva e jorrando sangue. Gostava muito, também, de enfiar agulhas no seu corpo – especificamente entre o ânus e os testículos. Algumas perfuravam tão profundamente a carne que sua remoção era impossível.

Possuía um encanto desmedido à religião e a seus dogmas, assim como sacrifícios. Confessou que apreciava comer fezes humanas, além de introduzir algodões, encharcados de álcool, dentro de seu ânus para, logo após, atear fogo.

Passou a sofrer, como sua mãe, alucinações. Visualizava Jesus Cristo junto com entes angelicais. Como pensava estar em contato com o divino, arranjou uma desculpa para iniciar sua senda de crimes: enquanto não fosse reprimido por Deus, nada de grave estaria cometendo. E “Deus” nunca lhe repreendeu verbalmente.

Quando capturado, já tinha mais de 60 anos, mas se descobriu que possuía vastos antecedentes criminais. Aos 33 anos foi preso por furto e teria praticado outros delitos. Aliás, internara-se, mais de uma vez, em casas psiquiátricas. Foi taxado, pela acusação, como um “psicopata sexual”.

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Fish é capturado pela polícia

AS VÍTIMAS E O ‘MODUS OPERANDI’

Fish disse ter matado ao menos 23 e molestado mais de 400 menores. Sua forma de abordagem era a clássica de um pedófilo: aguardava, pacientemente – como um predador –, uma criança, previamente escolhida, ficar sozinha; seja por um descuido do responsável ou adquirindo sua confiança. Como fingia ser um “bom velhinho”, os infantes não desconfiavam da hediondez de seus planos, seguindo-o até casas abandonadas – locais previamente escolhidos por Fish como templos para práticas de torturas e canibalismo.

Seu apelido (Bicho-Papão) foi dado por Billy, um menino de 3 anos que estava brincando, em fevereiro de 1927, com seu amigo de 4 anos, também chamado Billy. Ambos estavam sendo cuidados por um vizinho, na época com 12 anos. Por questão de poucos minutos, o vizinho teve que entrar em sua casa e, assim que voltou, as crianças haviam sumido. Assustando, o menino avisou o pai do Billy mais novo e ambos deram início a uma busca desesperada pelos garotos. Quando finalmente acharam Billy, ele estava no terraço da cobertura do edifício, mas sem o seu amigo. Perguntado onde estava o garoto, Billy respondeu: “o bicho-papão o pegou”.

O corpo de Billy nunca foi encontrado, mas, posteriormente, Fish confessou a autoria do homicídio e ainda narrou, com extremos detalhes e muita frieza, o que fez com ele. Se você não tem estômago forte, pare de ler este texto agora. Quando o sequestrou, levou-o a uma casa abandonada, o despiu e amarrou os pés e as mãos do menino. A partir daí, deu início a um dos relatos criminosos mais horripilantes que você pode imaginar.

Fish separou ferramentas e um chicote, feito por ele mesmo, que chamava de “cat of nine tails” – basta pesquisar no Google para se ter uma ideia. Iniciou açoitando o corpo nu do menino “até o sangue escorrer pelas pernas”. Logo após, amputou as orelhas, o nariz e cortou, de orelha a orelha (já retiradas), a boca da pobre criança. Disse que, após retirar os olhos, a sua vítima faleceu.

Ato contínuo, Fish bebeu o sangue que escorria pelo cadáver – daí que ficou conhecido, também, como “o vampiro do Brooklin”. Após aliviar a sua sede, esquartejou o corpo da vítima. Selecionados os “cortes nobres”, levou ao forno e temperou com cebolas, cenouras, nabos, sal e pimenta. “Sua carne era melhor do que qualquer peru assado que já comi”, dizia ele.

Francis McDonnel, de 8 anos, também foi assassinado e torturado por Fish. Foi igualmente sequestrado após descuido de sua mãe. A polícia encontrou o corpo do menino em um matagal. Estava morto e totalmente espancado. Podia-se desconfiar de um algoz robusto, potente e vigoroso, mas nunca de um velho! Aliás, Fish, conhecido por sua inexplicável força física, podia ser tudo; menos fraco.

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A polícia encontra o corpo de uma das vítimas

Mary O’Connor, de 15 anos, foi outra vítima do bicho-papão. O corpo da menina foi encontrado pela polícia em uma mata próxima a uma casa em que Fish trabalhava como pintor de paredes.

Grace Budd, uma garotinha de 10 anos, é considerada a sua vítima mais conhecida, em razão de as investigações desse caso ter levado a polícia, finalmente, ao encontro de Fish.

O JULGAMENTO

Albert Fish foi levado a julgamento em 11 de março de 1935 pelo homicídio de Grace Budd. Pela Acusação estava o Promotor Elbert F. Gallagher. Pela Defesa, o advogado James Dempsey.

Durante os 10 dias de julgamento, a Defesa buscou provar a insanidade de Fish. Sob a ótica do advogado Dempsey, pessoas que cozinham e comem crianças não eram passível de ser consideradas normais. Para tanto, colocou no banco de testemunhas os seis filhos do “Bicho-Papão”, que relataram as autoflagelações do pai, principalmente as inúmeras agulhas enfiados no corpo.

Dempsey também levou ao banco das testemunhas alguns psiquiatras, os quais relataram os fetiches sexuais de Fish, tais como coprofilia e urofilia. Uma das testemunhas principais da defesa, Dr. Fredric Wertham, corroborou as autoflagelações. Segundo o psiquiatra, Fish relatou ter enfiado diversas agulhas no corpo, descrevendo todo o procedimento em detalhes. Desconfiado, Wertham solicitou um raio-X na região pélvica e constatou que pelo menos 29 agulhas se encontravam no corpo de Fish.

A estratégia da Acusação, por sua vez, consistia em afirmar que Albert Fish, apesar de psicopata sexual, era mentalmente sadio e tinha, portanto, plena ciência do que fazia. Para o Promotor Gallagher, foi um crime premeditado, pois Fish teria comprado antecipadamente os instrumentos para sequestrar e matar Grace Budd. Logo, era um desaforo pensar que aquele homem não sabia o que fazia na hora do crime.

Mas a “cartada final” do Promotor foi pedir aos funcionários da corte que trouxessem os restos mortais da vítima Grace Budd. Em meio ao plenário, Gallagher abriu a caixa e retirou o crânio da menina para que todos os presentes vissem. Mesmo com o pedido de recesso imediato formulado pela defesa, o resultado do julgamento estava “dado”.

Após tantas evidências apresentadas, o devorador de crianças foi considerado culpado por homicídio premeditado. Sadomasoquista que era, ouviu a sentença atentamente e adorou ter sido sentenciado à morte na cadeira elétrica.

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Fish ouvindo sua sentença de morte

A EXECUÇÃO

Albert Hamilton Fish foi eletrocutado na prisão de Sing Sing, em Nova York, no dia 16 de janeiro de 1936. As diversas agulhas alojadas em seu corpo ao longo de toda a vida causaram um curto-circuito, interrompendo o fluxo de eletricidade na cadeira. Foram assim necessárias duas descargas elétricas para matá-lo. Antes de fechar seus olhos completamente, Fish, referindo-se à cadeira elétrica, proferiu suas últimas palavras:

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“A emoção suprema, a única que nunca experimentei”.


REFERÊNCIAS

CASOY, Ilana. Serial killers: louco ou cruel? Rio de Janeiro: Darskide, 2014.

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Henrique Saibro

Advogado. Mestrando em Ciências Criminais. Especialista em Ciências Penais. Especialista em Compliance.

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