Com 220 pacientes já congelados e uma fila de mais de 1,4 mil pessoas interessadas, a norte-americana Alcor Life Extension é a maior empresa de criogenia humana do momento. Para quem não lembra, a criogenia - que virou moda pela primeira vez nos anos 70 - prevê um processo de conservação de corpos humanos mortos em temperaturas congelantes para que um dia possam ser trazidos de volta à vida.
Existem hoje diversas startups ao redor do mundo que trabalham com essa possibilidade. Historicamente, a primeira pessoa congelada foi o psicólogo James Bedford em 1966, em um tempo onde o método já era considerado bastante estranho. De lá para cá, porém, parece que algumas coisas mudaram.
Na prática, o sangue do falecido é substituído por um material que reduz o risco de formação de cristais de gelo após o congelamento. Depois disso, o corpo é resfriado a -196 ºC e armazenado em recipientes especiais cheios de nitrogênio líquido. Eles serão mantidos daquele jeito até que a ciência encontre uma forma eficaz de serem reanimados.
Conforme apuração do portal norte-americano Business Insider, a preservação de um corpo inteiro custa US$ 220 mil (mais de R$ 1 milhão), mas alguns pacientes preferem fazer o plano apenas para o cérebro, o que pode custar até três vezes menos. Há laboratórios que oferecem preços menores, mas dispensam os serviços de equipes médicas.
O bilionário Peter Thiel, fundador do Paypal, disse recentemente que se inscreveu para participar do programa de congelamento, embora duvide que a tecnologia realmente funcione. "Eu não espero que funcione, mas acho que é o tipo de coisa que devemos tentar fazer", afirmou.
Essa é a mesma opinião de alguns especialistas, que definem a suposta tecnologia como uma utopia. "Para mim, isso é uma ilusão. É só uma promessa”, disse Arthur Caplan, professor de bioética da Escola de Medicina da Universidade de Nova York.
Debate complexo
Para além da discussão sobre o funcionamento da criogenia, há questões igualmente complexas que devem ser debatidas pelas empresas que atuam neste setor. A ideia de trazer essas pessoas de volta à vida deve levar em conta qual será a identidade dos seres humanos ressuscitados e quais serão direitos.
Tomando como exemplo uma celebridade como a Rainha Elizabeth II, falecida em 2022, se tivesse sido preservada usando a técnica de congelamento, caso voltasse à vida ela seria monarca novamente? E os seus bens, repassados aos herdeiros, voltariam a ser de sua posse?
Além disso, como se daria a integração de uma pessoa à sociedade após um intervalo de dezenas, centenas ou até milhares de anos? "Mesmo que funcionasse, se você acordasse mil anos depois, não saberia o que estava acontecendo. Você seria uma aberracao", comenta Caplan.