"Everybody Knows This Is Nowhere" (Reprise Records, 1969), Neil Young

Por Sidney Falcão

Em 1969, em meio à efervescência da contracultura e no epicentro de uma transformação musical, Neil Young deu vida a uma obra-prima que se tornaria uma referência discográfica do rock. Lançado em maio daquele ano, Everybody Knows This Is Nowhere não apenas definiu o som característico do cantor e compositor canadense, mas também deixou uma marca indelével no cenário musical, influenciando gerações e consolidando Neil Young como uma figura incontornável no panteão do rock.

Até chegar ao álbum que moldou o seu perfil musical, Neil Young percorreu vários caminhos, desde a superação de um problema de saúde na infância até atravessar a fronteira do seu país para tentar a sorte como artista em outro.

Neil Young nasceu em 12 de novembro de 1945, em Toronto, no Canadá, mas com a separação dos seus pais, foi morar em Winnipeg, capital da província de Manitoba. Aos seis anos, contraiu poliomielite, quando uma pandemia dessa doença assolou a cidade de Ontário, no Canadá.

Influenciado por artistas que admirava desde a infância como Elvis Presley (1935-1977), Fats Domino (1928-2017), Chuck Berry (1926-2017), Little Richard (1932-2020), Jerry Lee Lewis (1935-2022) e Johnny Cash (1932-2003), Neil Young começou a carreira artística no começo de 1963, aos 17 anos, cantando e tocando no country club de Winnipeg. No mesmo ano, forma a sua primeira banda, The Squires, que grava um single, “The Sultan”.

O jovem Neil Young, à esquerda, como integrante da banda
The Squire, em setembro de 1964.


Após o fim dos Squires, em 1965, Neil Young inicia no ano seguinte a sua carreira solo com uma turnê percorrendo o Canadá. Em Toronto, integra brevemente a banda de R&B Mynah Birds, que tinha como vocalista Rick James (1948-2004), futura estrela da música pop. A banda chegou a gravar alguns singles, mas logo foi dissolvida após prisão de Rick James por deserdar da Marinha americana. Neil Young e o ex-baixista da Mynah Birds, Bruce Palmer, mudam-se para Los Angeles, nos Estados Unidos.  

Em Los Angeles, Young e Palmer reencontram o guitarrista Stephen Stills. A dupla conhecera Stills quando este integrava a The Company durante a turnê da banda no Canadá. Os três, juntamente com Richie Furay e Dewey Martin, criam em 1966 a Buffalo Springfield, uma das bandas pioneiras do folk rock e do country rock. Apesar do talento e da boa avaliação da crítica, a banda durou pouco tempo, e após três álbuns lançados, Buffalo Springfield (1966), Buffalo Springfield Again (1967) e Last Time Around (1968), a banda acabou em maio de 1968.

Com o fim da Buffalo Springfield, Neil Young retoma a carreira solo, e ainda em 1968, assina contrato com a gravadora Reprise. O primeiro e homônimo álbum solo do cantor foi lançado em novembro de 1968, trazendo na capa uma bela pintura do rosto de Neil Young, de autoria do artista gráfico Roland Diehl (1940-2006).      

No começo de 1969, Neil Young convocou três músicos do sexteto The Rockets, o guitarrista Danny Whitten, o baixista Billy Talbot e o baterista Ralph Molina para a gravação do seu segundo álbum solo. Young conheceu os músicos durante uma apresentação conjunta com os Rockets, no final de 1968, na boate Whiskey a Go Go, em West Hollywood, na Califórnia. O trio foi nomeado por Young como Crazy Horse.

Após muitos ensaios, Neil Young e o trio entraram em estúdio e, em duas semanas, gravaram as sete faixas de Everybody Knows This Is Nowhere, o segundo álbum de estúdio do cantor e compositor canadense. Young produziu o álbum e contou com a co-produção de David Briggs (1944-1995), o mesmo que havia produzido o primeiro álbum solo do cantor.

Composto por sete faixas, Everybody Knows This Is Nowhere musicalmente apresenta uma mescla de rock, folk music e country rock. Há uma crueza na sonoridade das guitarras que se tornaria uma marca no trabalho de Neil Young ao longo de sua carreira, e um grau de melancolia nos vocais.

O álbum abre com “Cinnamon Girl” e seus riffs poderosos de guitarra. Além de tocar guitarra, Danny Whitten faz nesta faixa os vocais de apoio, assim como em boa parte das canções do álbum. A letra de “Cinnamon Girl” retrata a paixão do eu lírico por uma “garota canela”, com a qual ele expressa o desejo com ela viver.

Parte interna capa dupla da primeira prensagem do álbum
Everybody Knows This Is Nowhere.
 

"Everybody Knows This Is Nowhere", faixa que dá nome ao álbum, traz alguma influência do som da Buffalo Springsfield. Aqui nesta faixa, o guitarrista Danny Whitten faz os vocais de acompanhamento para Neil Young.

A canção seguinte, "Round & Round (It Won't Be Long)", foi composta por Neil Young ainda na época em que era membro do Buffalo Springfield. É uma canção country que chega a emular andamento rodopiante que se assemelha ao da valsa. Nesta faixa, além da voz de Whitten, Neil Young é acompanhado da linda voz da cantora de folk music Robin Lane. Nesta canção, Young canta versos sobre ilusão e a dificuldade do indivíduo em encarar o mundo real, preferindo construir barreiras emocionais para proteger-se da realidade da vida.

"Down By The River" fecha o lado 1 do álbum de forma épica, mas um tanto quanto repetitiva, ao longo de pouco mais de nove minutos de duração. A letra versa sobre um homem em estado emocional transtornado, que lida com a dificuldade em conviver com a solidão. Durante um passeio de barco num rio, esse homem mata a tiros a mulher que ama, e a quem ele havia convidado para o passeio.

 "The Losing End (When You're On)" dá início ao lado 2 do disco. Esta faixa apresenta uma abordagem mais country, com uma melodia suave e letras que exploram temas de desilusão e perda. A voz de Young transmite uma sensação de vulnerabilidade e tristeza, tornando a música emocionalmente impactante.

"Running Dry (Requiem For The Rockets)" é uma balada melancólica que Young teria dedicado à banda The Rockets. Trata-se de uma canção sobre redenção. Nos versos, o eu lírico expressa um pedido de perdão, de arrependimento pelos erros cometidos, pelas mentiras ditas e pelo sofrimento que fez as pessoas passarem.

Everybody Knows This Is Nowhere termina com "Cowgirl In The Sand", a faixa mais longa do disco, com pouco mais de dez minutos de duração. A canção possui uma linha melódica hipnótica e versos introspectivos que sofreram vários tipos de interpretação, desde referirem-se à promiscuidade de uma mulher até ao próprio Neil Young e a sua forma de lidar com a fama. Os solos de guitarra são executados por Neil Young, cheios de muita crueza e desprovidos de virtuosismo.

Lançado em 14 de maio de 1969, Everybody Knows This Is Nowhere alcançou o 34º lugar da Billboard 200, nos Estados Unidos, e 32º na parada de álbuns do Canadá. O álbum atingiu a marca de 1 milhão de cópias vendidas e conquistou o disco de platina. Everybody Knows This Is Nowhere gerou dois singles, “Down By The River”, lançado no mesmo dia do álbum, e "Cinnamon Girl", lançado em abril de 1970.                                                      

Enquanto Everybody Knows This Is Nowhere prosseguia bem comercialmente, em agosto do mesmo ano, Neil Young uniu-se a Stephen Stills, David Crosby e Graham Nash para um show no Auditorium Theatre, em Chicago. Dois dias depois, o quarteto se apresentou no antológico Festival de Woodstock, assim nascendo um dos maiores supergrupos da história do rock: o Crosby, Stills, Nash & Young. 

Faixas

Lado 1

  1. “Cinnamon Girl”
  2. “Everybody Knows This Is Nowhere”
  3. “Round & Round (It Won’t Be Long)”
  4. “Down by the River” 

Lado 2

  1. “The Losing End (When You’re On)”
  2. “Running Dry (Requiem for the Rockets)”
  3. “Cowgirl In the Sand” 


Neil Young – vocais principais, guitarras

Crazy Horse:

Danny Whitten – guitarras, vocais

Billy Talbot – Baixo

Ralph Molina – bateria, vocais


Ouça na íntegra o álbum
Everybody Knows This Is Nowhere


Comentários