Benjamin Franklin nasceu em Boston, em 1706, no seio de uma família humilde. Era o mais novo dos dezassete filhos de Josiah, um homem devoto que chegara quarenta anos antes à América, vindo de Inglaterra. Tinha uma oficina dedicada à produção de velas e sabão, na qual Benjamin começou a trabalhar. O sonho de o rapaz, com poucos estudos mas apaixonado pela leitura, poder ter uma vida melhor, motivou o pai a enviá-lo como aprendiz de impressor para a oficina de outro dos seus filhos, James, que acabara de se estabelecer por conta própria.

O jovem rapaz demonstrou sobejamente a sua capacidade para compor e imprimir textos. Apesar de ser apenas um aprendiz, não tardou a entregar-se à escrita e os seus textos satíricos rapidamente apareceram nas páginas do The New-England Couranto jornal que ali se imprimia. Ao descobrir que, por detrás do pseudónimo Silence Dogood se escondia Benjamin, James sentiu-se muito ofendido. A partir desse momento, prendeu com rédea curta o seu irmão mais novo, até que este não conseguiu pensar noutra coisa que não romper as correias e escapar.

De aprendiz a empresário

Em 1723, e com apenas algumas moedas nos bolsos, Franklin mudou-se para Filadélfia, cidade que cedo se tornou o seu novo lar. O jovem Benjamin rapidamente encontrou emprego na oficina do impressor Samuel Keimer. Em virtude dos seus conhecimentos sobre o ofício, o seu bom carácter e a sua grande inteligência, logo se revelou como o melhor impressor de Filadélfia, o que não passou despercebido ao governador Sir William Keith. Este não estava satisfeito com as duas gráficas da cidade, pelo que o encorajou a abrir a sua própria oficina, prometendo apoiá-lo financeiramente.

 

Entusiasmado com as promessas de Keith, Benjamin partiu, no final de 1724, para Londres com o objectivo de adquirir todo o equipamento necessário para lançar a sua gráfica. Ao chegar ao seu destino, no entanto, descobriu que o governador não era um homem de palavra. Longe de casa, do outro lado do oceano, na maior cidade que alguma vez pisara, Franklin viu-se sozinho e com poucos recursos, mas resolveu não se dar por vencido e procurar uma oficina onde lhe dessem emprego. Não lhe foi difícil encontrar trabalho, nem fazer bons amigos. Um deles foi o empresário Thomas Denham, que, em 1726, se ofereceu para lhe pagar a passagem de regresso a Filadélfia e empregá-lo na sua empresa. Uma vez em casa, no entanto, a repentina morte de Denham obrigou Franklin a voltar a trabalhar com Keimer. O jovem continuava a fazer progressos no seu ofício e o patrão e os seus sócios não tardaram a acolhê-lo no seu círculo e apresentá-lo a várias personalidades influentes da cidade.

Benjamin Franklin
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A imagem de Franklin estampada numa nota de 100 dólares.

A SUA PRIMEIRA GRÁFICA

Em 1728, Franklin abriu a sua primeira gráfica. Lançou no mercado o The General Magazine e o The Pennsylvania Gazette – o último viria a tornar-se na principal publicação da colónia –, os quais lhe reverteram importantes receitas. Também teve um grande sucesso com o seu Almanaque do Pobre Richard, uma publicação anual em cujas páginas se compilavam todos os tipos de frases e aforismos destinados a iluminar as classes populares e a estender as virtudes morais que ele considerava que todo o cidadão deveria reunir. A Assembleia da Pensilvânia concedeu-lhe o lucrativo cargo de impressor oficial, e passou a imprimir os boletins de voto e papel-moeda. Um ano depois, ficou também responsável pelo serviço de correios.

Franklin tornou-se, a partir dessa altura, num verdadeiro empreendedor e desenvolveu um grande talento para todos os tipos de negócios: gráficas (possuía três em três colónias diferentes), moinhos de papel (era o maior distribuidor de papel do mundo de anglófono), arrendamento de propriedades, empréstimos… Mas, aos 42 anos, decidiu deixar o mundo dos negócios e colocar-se ao serviço de seus concidadãos.

Cidadão exemplar

Franklin acreditava que qualquer pessoa devia basear a sua existência – independentemente de quais fossem as suas crenças – nas boas obras e na busca pelo bem comum. O seu sucesso nos negócios permitia-lho, e ele sentia essa obrigação. Ao longo da vida, deu infinitos exemplos do seu espírito filantrópico, convencido de que era possível construir uma sociedade melhor. Para tal, idealizou e propôs, por exemplo, um sistema de vigilância contra incêndios, sistema de iluminação pública e medidas concretas para pavimentar e melhorar o saneamento nas ruas de Filadélfia. Promoveu também a fundação da primeira biblioteca pública por subscrição, a criação de escolas para os filhos de famílias mais humildes e um sem-número de outras iniciativas.

Benjamin Franklin
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Homenagem da sua cidade adoptiva. Filadélfia celebra a figura de Benjamin Franklin com uma estátua colossal de mais de seis metros de altura e vinte e sete toneladas de peso que ocupa a parte central de um edifício que evoca o Panteão Romano. Este monumental complexo encontra-se anexado ao Instituto Franklin, museu dedicado à ciência e à investigação.

Franklin estava convencido de que deveria servir os seus concidadãos de uma forma real, pelo que, em muitos dos seus debates e conversas com os seus companheiros da Junto – um clube de artesãos comprometidos com a melhoria da sociedade –, da Sociedade Filosófica ou mesmo da política americana, o tema central girava em torno das necessidades da comunidade. Preocupou-se sempre com o crescimento das classes baixas e médias – quando morreu deixou importantes quantias destinadas a ajudar jovens empreendedores –, da mesma forma que não ignorou problemas como a educação – que considerava fundamental para o desenvolvimento da sociedade – ou a escravidão, pois foi um dos primeiros abolicionistas.

As suas ideias e propostas foram sempre um reflexo da sua vontade de consenso entre as diferentes partes, de, em resumo, construir uma sociedade melhor e defender os direitos e liberdades dos súbditos britânicos nas colónias. Na sua vontade de unificar, por exemplo, promoveu a criação de algumas milícias para a defesa do território contra os perigos da incursão francesa na fronteira com o Canadá, e aceitou também liderar as tropas nesses territórios.

Ao lado das suas qualidades como empresário e cidadão, Franklin destacou-se também como sábio e cientista. De facto, quando conheceu Voltaire por volta de 1778, os que estavam presentes celebraram o seu abraço como se tivessem sido testemunhas de um encontro entre Sólon e Sófocles. No entanto, para que tal acontecesse, teriam ainda de passar algumas décadas, nas quais Franklin se entregou, de uma forma quase compulsiva, a ler, escrever e experimentar.

Conforme contava na sua Autobiografia, não se recordava de si próprio antes de aprender a ler, pois fora, desde sempre, um apaixonado pela leitura. Logo de seguida, despertaria nele o desejo de escrever. Gostaria de ter tido o talento necessário para a poesia, mas na falta dele, não tardou a dedicar-se à escrita de artigos, primeiro, e, de seguida, de panfletos e outros documentos. Era um iluminista, apaixonado pelo conhecimento. O seu gosto pela filosofia levou-o a criar um círculo de filósofos, um clube onde se pudesse dedicar a estudar e a debater sobre todos os tipos de ideias, desde que fossem úteis para a sociedade: economia, urbanismo, educação, saúde, política monetária, Direito... Nada lhe escapava.

Desde criança que sempre se interessara por experimentar e inventar máquinas. Entre a lista das suas invenções contam-se as lentes bifocais, a chamada chaminé da Pensilvânia, o pára-raios, o conta-quilómetros e as barbatanas de mergulho. O trabalho científico de Benjamin Franklin foi reconhecido pela Royal Society, bem como por outras instituições científicas do Velho Mundo. Recebeu condecorações e as suas obras foram traduzidas para várias línguas. De facto, graças às suas invenções e descobertas sobre a natureza da electricidade, quando chegou à Europa em missão diplomática era já o americano mais famoso do momento.

O americano mais europeu

Benjamin Franklin sentiu sempre uma profunda admiração pela Europa, em especial por Londres, uma cidade que o cativou desde o primeiro momento. Ali passou vários anos da sua vida e ali trabalhou e fez bons amigos, embora tenha sido também a esta cidade que tivera de regressar para tentar acalmar os ânimos e procurar alcançar o entendimento entre as colónias e a metrópole, uma missão que se revelaria de todo impossível.

Ele, que praticamente até ao último momento sentiu orgulho em pertencer à Coroa britânica, experimentou, no entanto, um processo progressivo de “americanização” que atingiu o seu ponto mais alto no início da década de 1770. Por essa altura, Franklin, que naquela época residia na metrópole, compreendeu que os súbditos britânicos das Treze Colónias nunca seriam considerados como iguais nem pelo Parlamento de Londres, nem pelos ministros, nem pelo próprio rei. Depois de ser publicamente humilhado por um dos políticos ingleses no Cockpit – um dos anfiteatros de Whitehall – aquele homem, que tanto tinha feito para evitar a ruptura, acabou por ter de assumir que não existia outra saída possível. Os americanos eram trabalhadores e dedicados, e os seus direitos e liberdades tinham de ser respeitados tal como os dos ingleses. Os seus destinos não podiam ficar nas mãos de homens que desconheciam a realidade do Novo Mundo, que ignoravam aquela gente e que desprezavam a liberdade daquelas terras.

benjamin Franklin

Uma nação de homens livres. Este relevo dedicado à independência americana decora uma das faces do pedestal da estátua de Benjamin Franklin na Old City Hall de Boston. Franklin colaborou na redacção da Declaração de Independência de 1776 e foi um dos seus signatários.

A terceira campanha mais longa de Franklin na Europa surgiu quando, já com idade avançada, foi enviado a França para negociar o apoio de Luís XVI na luta das Treze Colónias contra a Grã-Bretanha. Ali ficou hospedado, durante oito anos, na casa do conde de Chaumont em Pussy, nos arredores de Paris. Aquela época ficou marcada, além da sua actividade diplomática, pela sua relação com os grandes filósofos e cientistas do momento. Chegou até a considerar o casamento com a viúva do filósofo Claude-Adrien Helvetius, embriagado pelo ambiente efervescente dos salões parisienses.

Benjamin Franklin não testemunhou na primeira pessoa a revolução nem a guerra que as Treze Colónias travaram contra a Grã-Bretanha, mas a sua actuação como diplomata na Europa foi determinante para a independência americana. Não travou batalhas nem definiu estratégias, mas empregou as suas aptidões como diplomata para conseguir de França – que ele tanto admirava – o apoio político e financeiro necessário para que os futuros Estados Unidos vissem reconhecida a sua independência do reino da Grã-Bretanha.

Franklin regressou finalmente a Filadélfia, onde continuou a desenvolver o seu trabalho político em busca da melhoria da sociedade. Morreu em 1790; nesse mesmo ano os quakers apresentaram uma petição para a abolição da escravatura que foi apoiada pela Sociedade Abolicionista da Pensilvânia, presidida por Benjamin Franklin. Compareceram ao seu funeral cerca de 20.000 pessoas.