JOÃO NUNES | | Perguntas & Respostas: transições e legendas. | roteiro, argumento, escrita, técnica, Fountain, guião, Perguntas & Respostas, Artigo |
Avançar para o conteúdo

Perguntas & Respostas: transições e legendas.

    (…) Tenho algumas dúvidas: quando usar FADE IN, FADE TO BACK e FADE TO BLACK ? Também já vi em guiões o uso de SUPERIMPOSE e TITLE OVER BLACK. Como se usariam num guião em português.

    Jorge

    Jorge, não se preocupe: as suas dúvidas são partilhadas por muitos leitores, o que se compreende: além da falta de informação sobre o tema, há uma grande carência de guiões em português disponíveis para consulta na net. Acho pois que se justifica a escrita de um artigo sobre este tema.

    inglourious-basterds-crop

    Estas expressões são encontradas com frequência e um guionista deve estar bem consciente das suas formas correctas de utilização. Pertencem a dois tipos diferentes de recursos técnicos, com usos e efeitos diferentes.

    Transições

    Antes de avançar, devo fazer um esclarecimento: nunca vi a utilização da expressão “FADE TO BACK” que, aliás, não faz muito sentido. Acho que deve ser uma confusão sua (talvez com o “BACK TO:” de que falo adiante) ou, então, um erro de ortografia no guião onde a referenciou 1.

    As outras duas expressões que menciona – “FADE IN.” e “FADE TO BLACK.” (atenção à pontuação – o ponto final deve ser incluído, se quisermos ser  puristas) – são o que se chama transições. São indicações dadas no guião acerca de formas específicas de passar de uma cena para a cena seguinte.

    A transição normal entre duas cenas é o corte, que costuma ser indicado como “CUT TO:” (com dois pontos). Há outras: “DISSOLVE TO:”, “BACK TO:” ou “MATCH CUT TO:”, só para referirmos algumas.

    O “FADE IN.” é tradicionalmente utilizado no início dos guiões. É um resquício do tempo em que o começo normal de um filme era um bloco autónomo com o genérico (normalmente letras brancas sobre um fundo negro), sendo a maneira normal de introduzir as primeiras imagens elas materializarem-se lentamente sobre esse genérico (por “fade in”).

    Hoje os filmes começam muitas vezes sem genérico, ou este só entra depois de uma sequência inicial, ou vai sendo sobreposto às imagens do próprio filme. As soluções são múltiplas, mas a tradição leva-nos a continuar a usar o “FADE IN.” antes do primeiro cabeçalho do guião. Se não o utilizar não vem mal nenhum ao mundo; na realidade, é uma indicação completamente inútil.

    O “FADE TO BLACK.”, por outro lado, tem uma utilização completamente diferente. Recorremos a ele quando queremos que  haja uma passagem por um fundo completamente negro entre uma cena e outra. Por exemplo, se um personagem é agredido e perde a consciência. Vejamos um exemplo concreto, retirado do meu guião para o filme “Mindelo” 2:

    INT./EXT. JEEP – ESTRADA DE SÃO VICENTE – NOITE

    Sara conduz com ar meio tresloucado.

    O jeep acelera pela estrada.

    Sara olha pelo retrovisor e vê o namorado de Maria João com ar chateado. Vira a cabeça para trás, distraindo-se por um momento.

    O jeep entra depressa demais numa curva apertada. Os pneus guincham.

    Sara, assustada, vira-se de novo para a frente, e tenta controlar o carro...

    ... mas é tarde demais.

    FADE TO BLACK.

    NEGRO

    Sobre o ecrã negro, ouvimos o SOM DE UMA TRAVAGEM BRUSCA, a que se segue a cacofonia de METAL AMOLGADO e VIDRO PARTIDO de um acidente automóvel.

    Por fim fica apenas a ouvir-se o som de UMA BUZINA DE AUTOMÓVEL a tocar continuamente, diminuindo pouco a pouco até ficar apenas...

    ... o SILÊNCIO. UM FEIXE DE LUZ rasga a escuridão. É uma porta que se abre.

    Já agora, vejamos a utilização das outras transições que, a título de exemplo, referi antes:

    • CUT TO: – transição normal de uma cena para outra, por corte simples. Alguns guionistas, como William Goldman, fazem um uso intensivo desta indicação.  Pode ser usada com muita eficácia, por exemplo, numa determinada secção de um guião, entre várias cenas curtas de uma sequência de acção, para reforçar a sensação de ritmo rápido. Hoje caiu em desuso, precisamente por ser a norma – o “default”.
    • DISSOLVE TO: – transição entre duas cenas, em que a última imagem de uma se sobrepõe gradualmente à primeira imagem da seguinte. Pode ser usada para introduzir uma sequência de sonho, ou um flashback.
    • BACK TO: – usada quando regressamos a uma cena ou situação que já tinha sido apresentada antes.
    • MATCH CUT TO: – usamos quando queremos que a primeira imagem de uma cena seja formalmente muito semelhante à última imagem da cena anterior, fazendo uma forte ligação entre ambas. Um exemplo concreto: terminar uma cena com a imagem de uma cruz na campa de uma vítima de assassinato, para fazer a ligação com a cruz formada pelas barras da prisão onde o assassino está preso.

    Quando usar as transições

    Agora, o mais importante a fixar em relação às transições: não as use. Ou, pelo menos, use-as o menos possível.

    As transições, tal como os ângulos de câmara, são um recurso narrativo da competência do realizador do filme (no caso dos ângulos, em acordo com o director de fotografia; neste caso, em colaboração com o montador). Na maior parte das vezes o seu uso será evidente, e portanto não adianta nada estar a indicá-las. Noutras vezes, a sua utilização depende das soluções de realização que o realizador encontrar, e que o guionista não tem como prever.

    Assim, devemos usar as transições com grande moderação e apenas em casos em que elas acrescentam alguma coisa à compreensão da nossa narrativa. O exemplo que dei antes, do “MATCH CUT TO:” entre a cruz no cemitério e as barras da prisão, seria justificável, pois contribui para estabelecer uma relação forte entre as duas situações: vítima e carrasco. É possível que o realizador agradecesse a sugestão e a utilizasse. Mas também é possível que não o fizesse, ou preferisse outra solução, e estaria no seu pleno direito.

    Pense no assunto desta maneira: se escrever um guião inteiro sem usar uma única transição, é provável que ninguém repare. Se o encher de transições, a torto e a direito, todos vão reparar e é provável que irrite algumas pessoas. Além de que vai ocupar muito espaço que, normalmente, seria melhor aproveitado para contar a sua história.

    Finalmente, quanto ao uso das transições em guiões portugueses, é frequente trocar “CUT TO:” por “CORTA PARA:” e  “FADE TO BLACK.” por “FADE A NEGRO.”. Já o “FADE IN.” ou o “MATCH CUT TO:” não têm, que eu conheça, tradução corrente 3. Idem para o “FADE OUT.”, “FADE TO:” e “JUMP CUT TO:”, ouras transições possíveis sobre as quais não me vou aqui alongar.

    Legendas

    O segundo grupo a que se refere – o “SUPERIMPOSE:” e o “TITLE OVER BLACK:” – já são de uso mais frequente e, como normalmente contribuem de forma importante para o entendimento da narrativa, devem ser uma preocupação do guionista.

    Em português normalmente usam-se expressões como “LEGENDA:”, “TÍTULO:” ou “CARTÃO:” e “LEGENDA SOBRE NEGRO:” e “TÍTULO SOBRE NEGRO:”. Vejamos um exemplo, retirado do meu guião para o filme “Assalto ao Santa Maria” 4 .

    EXT. PRAÇA DE CARACAS – AMANHECER

    Um GRUPO DE HOMENS, amontoado de forma compacta, está de pé num canto de uma praça arborizada da cidade.

    LEGENDA: Caracas, Venezuela

    Entre eles destacam-se os rostos fechados de Zé e Júlio, lutando para manter o lugar na primeira fila do grupo.

    LEGENDA: Dezembro de 1960

    À sua frente, estacionada, está uma pequena camioneta de caixa aberta, onde já se amontoam muitos operários.

    Zé tenta subir para a camioneta mas um CAPATAZ empurra-o e fecha a porta da caixa. Bate com a mão na caixa de madeira da camioneta, dando sinal ao motorista para pôr o motor em marcha.

    CAPATAZ

    (em espanhol)

    Hoje já chega.

    Zé olha para o homem, desalentado.

    A carrinha afasta-se deixando para trás aquela massa de trabalhadores, todos com o mesmo ar desesperado e triste.

    É um exemplo típico da utilização de um texto sobreposto num guião para identificar um local e uma época. O texto é indicado na descrição da cena e deve, pois, aparecer também sobreposto às imagens do filme. Normalmente o realizador aceita este tipo de sugestões, a não ser que exageremos, usando indiscriminadamente legendas para indicar coisas que são óbvias, ou que podem ser mostradas de outra maneira.

    Uma outra possibilidade de uso de textos sobrepostos são os  que indicam uma hora do dia, repetidos para dar noção da passagem do tempo. Um bom exemplo é a sua utilização nos episódios da série “24”, em que contribuem para o ritmo e tensão da narrativa.

    O segundo caso, da “LEGENDA SOBRE NEGRO:” ou “TÍTULO SOBRE NEGRO:” é menos vulgar, mas muito do agrado de alguns guionistas contemporâneos. Quentim Tarantino, por exemplo, gosta bastante deste recurso. No seu último filme, “Inglourious Basterds”, estas legendas sobre fundo negro são usadas como títulos dos “capítulos” em que a estória é dividida.

    Este recurso marca muito, estilisticamente, o resultado final do filme, e portanto deve ser usado com moderação. Nem todas as estórias se prestam a ele. Ao usá-lo corremos o risco de quebrar o fluxo da narrativa, e perder a conexão com o espectador. É um recurso que torna mais evidente o caráter fictício da narração cinematográfica, jogando contra a similitude de realidade que normalmente queremos conseguir.

    É claro que para Quentin Tarantino, que dirige filmes que ele próprio escreveu, é mais fácil tomar a decisão de usar este tipo de recursos. Nós, os simples mortais, devemos fazê-lo com mais prudência.

    O mais importante é que se entenda bem quando é um caso e quando é o outro. O guionista brasileiro Bráulio Mantovani, no seu guião “Cidade de Deus”, usa, por exemplo, a seguinte frase:

    Texto enche a tela: A HISTÓRIA DE CABELEIRA“.

    Não é talvez a forma mais corrente, mas não restam dúvidas sobre o que o autor pretende indicar, e isso é que é o fundamental.

    Termino com referência a outra expressão corrente – o “SUBTITLE:”. Usa-se quando um personagem fala numa língua estrangeira (em relação à língua principal do filme) e as suas palavras devem aparecer legendadas, mesmo na versão original. Dois exemplos recentes: o já referido “Inglourious Basterds” e o filme de ficção científica “District 9”.

    O primeiro, em que há personagens que falam em quatro línguas diferentes, usa intensivamente este recurso. Tem até cenas que se, em vez de legendadas, fossem dobradas perderiam completamente o sentido. É o caso da genial sequência em “italiano” antes da sessão final de cinema. Quanto ao segundo, o uso da legendagem dos diálogos dos extraterrestres, que falam sempre na sua língua nativa, é muito inteligente e eficiente.

    Em português podemos usar também a expressão “LEGENDA:” para identificar as frases que entram na legendagem desses diálogos em língua estrangeira. Não me lembro de nenhum exemplo concreto, por isso peço a ajuda dos leitores: conhecem algum guião em português em que haja esta indicação de legendagem? Como é que foi apresentada no guião?

    Notas de Rodapé

    1. se algum leitor já encontrou esta expressão, ou tem opinião diferente da minha, por favor deixe-a nos comentários
    2. filme ainda não produzido
    3. também aqui, se algum leitor quiser avançar com sugestões ou correcções, sirva-se dos comentários
    4. obra que, não sei porquê, está a tardar a ser exibida

    36 comentários em “Perguntas & Respostas: transições e legendas.”

    1.  
      Duas dúvidas, João, e, ao final, uma certeza (hum, e me desculpe se me alongar demais):
       
      – Uma tradução corrente para "DISSOLVE TO:" não poderia ser "FUSÃO PARA:"? Por outro lado, em relação a seus usos para marcar passagens no tempo entre uma cena e outra, podemos considerá-la atualmente redundante?
       
      – Quanto à "BACK TO:" ("VOLTA PARA:"), subetende-se que saindo também de cenas de flashback?
       
      E a certeza: puxa vida, João, a gente se deixa levar pelo costume (equivocado) e acaba ficando cego ao óbvio: óbvio, "TÍTULO SOBRE NEGRO:" é o modo mais que perfeito de pontuar/nominar capítulos na narrativa. Óbvio, quando temos realmente a intenção de "quebrá-la" e, portanto, deliberar contra aquela "similitude de realidade".
       
      Então… indo rapidinho me corrigir.
       
      P.S.: Ah, você não falou da tradução para "INTERCUT:" (talvez porque não constasse na pergunta do Jorge), mas um tempinho atrás acho que vi você mesmo usar "INTERCALA:", e eu: "Meus deuses, óbvio!"

      1. Cícero,

        de acordo com tudo o que disse. Nomeadamente que:
        – DISSOLVE TO: ou FUSÃO PARA: são normalmente redundantes;
        – BACK TO: ou VOLTA PARA: podem também ser usados na saída de um flashback, se “voltarmos para” a cena anterior. Eu prefiro indicar FIM DO FLASHBACK, ou FIM DO SONHO, etc.
        – E realmente costumo usar INTERCALA COM: no lugar do INTERCUT:, geralmente em chamadas telefónicas, mas também quando andamos a “saltitar” entre duas cenas.

        O que me leva a uma consideração – talvez estivesse na hora de fazermos um esforço, portugueses e brasileiros, para encontrar uma terminologia técnica comum em português.

    2.  
      Dúvidas sanadas, obrigado, João. Agora… a respeito da consideração ao qual você foi levado, tenho alguma coisa a dizer:
       
      Olha, João, não sou do "meio", mas acho que já vi o bastante para lançar algumas opiniões: pelo menos aqui no Brasil, a disseminação de uma formato padronizado ainda está em curso, mas acho que ainda não encontrou um, hum, solo bem assentado e fértil para prosperar. O "Master Scenes", o modelo que conhecemos, sim, está ele sendo cada vez mais adotado, principalmente pelas novas gerações. Mas há pouca literatura nacional que lhe ajude a ganhar um público não-profissional, a torná-lo popular, como aquele livro do Christopher Riley, por exemplo. E, consequentemente, o que acaba faltando é um caldo de cultura para a "minúcia" da coisa, que nos obrigue (profissionais e não-profissionais) a ficar ali, pensando, discutindo e analisando exaustivamente a escrita da composição de cena a cena de um guião.
       
      Mas por que isso? Por que não damos lá muita importância ao espírito, hum, pragmático dos anglo-saxões? E continuamos a achar que formatação é coisa de somenos? Não é bem assim. Acho que aquilo com o qual estamos em falta é aquilo que os EUA já têm há pelo menos um século: 1) guionistas como categoria profissional forte (e olha que nem estou dizendo das coisas do "autoral", João, de tudo isso, aliás, que foi reforçado na Conferência Mundial), o que leva a: 2) Ok, se diretores são guionistas, eles DEVEM escrever como guionistas, e as produtoras DEVEM exigir que os guiões sejam escritos como tais para que sejam produzidos como tais.
       
      Aí todo mundo retruca: "Mas isso nunca vai acontecer, só há indústria cinematográfica nos EUA." Ah, mas pode não ser esse o verdadeiro obstáculo. Veja só um grande empecilho para isso começar a acontecer, João (no Brasil principalmente, mas creio que em Portugal se sofra do mesmo): as redes de TVs. Pegue um guião das séries televisivas dos EUA, Canadá ou da Inglaterra e ponha lado a lado com um screenplay qualquer. Você bate o olho e se pergunta: "Mas não é a mesma coisa?"
       
      Então, esses esforços para uma comum terminologia técnica (trazida da origem inglesa e, depois, decidida de comum acordo entre os países de língua portuguesa) vão ter resultados práticos mais rápidos, muito mais rápidos se pari-passu com os esforços para se assumir e popularizar o "Master Scenes" entre nós.
       
      (Ih, João, me alonguei muito mais que antes…rs.)

      1. Uma vez mais concordo plenamente com a sua análise. Já começa a ser norma ;-)
        Falando a sério, vou pensar numa forma de dar passos concretos no sentido dessa normalização. Talvez criando uma wiki aqui no site, em que as pessoas possam ir interagindo e definindo em conjunto essa “norma”. Ou sugerindo uma parceria ao Fernando Marés de Souza, do Roteiro de Cinema.
        Há pouco tempo fui contactado por uma editora, que vai lançar em Portugal um livro de guionismo (não me disseram qual era) e que tinham dúvidas semelhantes, por isso acho que seria útil.
        Um primeiro passo será sempre fazer um levantamento de quais os termos ingleses que deveriam ser traduzidos e normalizados. Um segundo passo seria, por exemplo, ver como os nuestros hermanos os traduziram. E depois, procurar as nossas melhores soluções, e as alternativas viáveis.
        É claro que começamos mal: em Portugal não nos conseguimos decidir entre “argumento” e “guião”; mais o “roteiro” do Brasil, e a norma começa a descaminhar desde cedo ;-)

    3.  
      É isso aí, João. Iniciativas. Pessoais e, como indispensável complemento, iniciativas de "classe". E a sua contemplaria ambos os tipos, já que você está exercendo a presidência da APAD. E já que o Fernando Marés é da diretoria da Associação dos Roteiristas daqui, e tem trânsito na dos AC (Autores de Cinema), a parceria com ele viria bem a calhar.
       
      E… Nossa, é mesmo! Não podemos esquecer dos hermanos, os daqui e os de além-mar…rs. (Inclusive… Hoje é o último dia, no Rio de Janeiro, do II Encontro de Roteiristas, que este ano agrega a participação de guionistas latino-americanos: http://www.encontroderoteiristas.com.br. Um avanço.)

    4. Muito obrigado pelo post.
      Muito brevemente só gostaria de perguntar, você usa o FADE TO BLACK. talvez por ser como eu (curtir a lingua inglesa), e usou um termo em portugues o LEGENDA: e nao o SUPERIMPOSE:, seria correcto pôr FADE TO BLACK(que pessoalmente prefiro do que pôr FADE A PRETO), e no mesmo guiao por palavras como LEGENDA: em vez de SUPERIMPOSE:   ?
      Eu gosto muito de usar o ingles como voce ja disse uma vez que gostava de usar quando pensa para si, eu gosto de usar muitas vezes termos mesmo quando falo com os meus amigos. Seria correcto por esses "FADE TO BLACK" e "SUPERIMPOSE" que se usam num guiao a ingles num guiao supostamente todo em portugues ?

      1. Perfeitamente correcto. Não há regras estritas nessas coisas, a única preocupação é que as pessoas a quem destinamos o guião saibam o que queremos dizer. Enquanto não houver um entendimento generalizado, que conduza a uma “norma” aplicada na prática, o que vale é o que funciona para nós. Até nos EUA há inúmeras variações e usos diferenciados.
        Por exemplo, já tive de alterar um guião porque o produtor não entendeu o (V.O.) e o (O.S.). Transformei tudo em (OFF) e deixei que as descrições de cada cena dessem o contexto certo.

    5. Eu por acaso também tenho dúvidas no uso do "INTERCALA COM:" e do seu uso em cenas que estão a decorrer ao mesmo tempo.
      Numa cena ao telefone, por exemplo, colocamos sempre o cabeçalho da cena de cada vez que intercala ou estabelecemos no início onde está cada personagem e depois só precisamos de indicar o diálogo entre personagens?
      E em cenas que decorrem ao mesmo tempo, como no final do "Padrinho"? Já tentei ler o guião original mas ainda não consegui. Como se estabelece essa ligação entre as cenas que estão a decorrer em simultâneo? Tem de se colocar o "INTERCUT:" em todas?
      Obrigado.

    6. Parece-me que o termo usado nos anos de ouro do cinema português para DISSOLVE TO: era ENCADEAR PARA:
      Se é mais correcto nos dias de hoje que FUSÃO PARA: isso não sei…

    7. Pingback: Flashback 2009 | joaonunes.com

    8. João Nunes eu estou começando a desenvolver o site TOP ROTEIRISTAS para ser um espaço aberto para os roteiristas se encontrarem e não estou falando de um encontro, mas de um pensamento mais profundo sobre a classe de roteiristas do Brasil. Pretendo fazer concursos para roteiristas onde quem vai escolher, votar e explicar porque escolheu os cinco melhores roteiros são os próprios roteiristas participantes. Estou me sentindo assim como quem prepara uma festa com todo carinho e atenção, mas não tem certeza se os convidados vão aparecer. Mas, enfim, vou continuar a minha proposta de união e indepência dos roteiristas e nossa relação com o mercado audiovisual, que parece estar abrindo frentes pelo qu tenho lido pela Internet. Mas eu não entrei aqui no seu site para divulgar os concursos do TOP ROTEIRISTAS (ainda que eu esteja aproveitando todos os espaços para fazer está divulgação), Eu entrei aqui porque resolvi já disponibilizar os meus roteiros no site e estou com uma dúvida sobre como posso usar INSERT: no sentido de fazer o filme rodar para trás rápido, sem que a gente possa identificar as iamgens. Não sei se uso DISSOLVE TO: ou FUSÃO PARA: ou se uso BACK TO: ou VOLTA PARA: Se você puder me dar uma luz, fico agradecida. O nome do roteiro é “NÃO FALA QUEM MATOU!”, uma experiência que estou fazendo de escrever o roteiro sem nenhum diálogo. Por isto é importante usar movimentos de câmera ou trânsições.

    9. Vinicius M. Ribeiro

      Olá, Joao.

      Estava aqui a procura de uma tradução inter-cut para a legenda de um filme que estou fazendo e caí no seu blog. A opção por ‘intercalar’ é boa, mas creio ser melhor ‘entre-corte’. O ‘entre’ dá uma dimensão melhor para a separação espacial mesmo que existe entre uma cena e outra que se desenrola em outra rede de realidade. E ‘corte’ é pelo resgate do sentido do original em ingles ´cut´; pois o que é cada enquadre de cena numa sequencia senão uma sucessão de cortes de imagens estacionadas?

      Vinicius.

      1. Olá Vinicius, é curiosa a sua sugestão (apesar de não concordar com ela ;). Isso realça o fato de não haver uma tradução consensual para muitas das expressões inglesas (e francesas) usadas no cinema. Um dos meus projetos é criar uma wiki associada ao blogue com a explicação, e tradução, da terminologia usada na nossa área. Só ainda não o fiz por falta de tempo, mas ainda chegarei lá.

    10. Olá, João.
      Boa tarde.

      Gostaria de conhecer sua justificativa para a tradução de inter-cut como ‘intercalar’. Será que para todo filme onde haja um inter-cut, lembrei-me de Os Passaros, de Hitchcock, no inter-cut ocorrido entre as cenas da explosão no posto de gasolina e a cena aérea que nos dá uma visão panorâmica, mapeada do acontecido, tirando-nos imediatamente da cena primeira.

      1. “Intercalar”, o verbo, significa “alternar, entremeter, interpolar”, e é exatamente isso que nós fazemos nestas situações: alternamos, entremetemos, interpolamos cenas umas nas outras.

        Normalmente só uso isto em chamadas telefónicas ou em situações em que saltamos várias vezes entre duas cenas que decorrem ao mesmo tempo. Muitas vezes isso é uma decisão tomada apenas na edição, e não está no guião; se nós já quisermos indicar isso no guião, a forma que uso é esta:

        INT. LOCAL A – DIA
        Cena.
        INTERCALA COM:

        EXT. LOCAL B – AO MESMO TEMPO
        Outra cena.
        INTERCALA COM:

        INT. LOCAL A
        Etc…

        Se preferir usar a sua forma, também está bem, desde que os seus leitores entendam. No entanto sugiro que adote as regras do novo acordo ortográfico e escreva “ENTRECORTE”, sem hífen.

      1. Fernando, se me conseguir indicar onde se podem baixar esses guiões/roteiros que refere, com certeza que os leitores do blogue os quererão ler e aprender com eles. Até lá temos o Tarantino, que não é mau de todo.

    11. Olá, João! Eu de novo!

      E no caso de eu optar por iniciar o filme com a tela negra, enquanto ouvimos os primeiros diálogos dos personagens?

      Você deu um belo exemplo, então basta eu montar o cabeçalho e começar a descrição por NEGRO? Como, então, eu devo indicar a aparição das imagens, revelando os personagens?

      Muuuuuito obrigado!

      1. Nesse caso deverá escrever algo como:

        TELA NEGRA

        Sobre o fundo negro ouvimos os SONS característicos de um café. Um HOMEM e uma MULHER conversam.

        HOMEM
        Tal e tal e tal…

        MULHER
        E tal e tal

        HOMEM
        Pois pois, então tal e tal

        CORTA PARA:

        INT. CAFÉ PARISIENSE – DIA

        Segue a descrição, continuação dos diálogos, e etc.

        Nota: este é um dos casos em que se justifica indicar uma Transição. Neste exemplo usei o CORTA PARA: mas poderia, por exemplo ser um FADE PARA: em que a imagem surgiria gradualmente e não por corte.

        1. Ah, entendi perfeitamente, João!

          Acabei achando um bom exemplo que você me deu no roteiro de Batman Begins. Muito obrigado!

    12. Antônio Carlos Oliveira

      Olá João… Um personagem vai revelar a outro um evento ocorrido “há tempos atrás” em uma cidade. Quero que a cena seja exibida enquanto ele narra o evento. Devo abrir o MATCH CUT?
      Posso descrever o evento e logo depois abrir o dialogo indicando o VOICE OVER? E no ponto em que quero encerrar, indicar o, CORTA PARA:

      Muito obrigado.

      1. Não usaria MATCH CUT: nessa situação, a não ser que a transição entre as duas cenas fosse feita com duas imagens similares. Esse é o verdadeiro significado de MATCH CUT: (pense, por exemplo, na transição de um osso atirado ao ar para a estação espacial no filme “2001: uma odisseia no espaço”. Os dois objectos têm uma forma similar e, através desse MATCH CUT:, mostram um salto de 200.000 anos no tempo).
        No caso que descreve, provavelmente bastará começar o cabeçalho seguinte com FLASHBACK, e usar o VOICE OVER, tal como sugere.
        O uso do CORTA PARA: no final é opcional; usa-se cada vez menos.

    13. Antônio Carlos Oliveira.

      Ola João! Tudo bom? Como faço para formatar cenas na parte do dia e noite, em um mesmo flashback narrado? Devo abrir outro cabeçalho de cena quando for mudar de espaço e tempo na ação? Sei que no diálogo devo utilizar o V.O.
      Abs.

      1. Olá Antônio,
        Dentro do flashback continue a escrever como normal. Se há razão para haver um novo cabeçalho – e uma mudança de dia para noite é razão – então faça-o. Continue apenas a indicar que se trata do flashback.
        A única alternativa é escrever como se fosse uma montagem ou sequência de cenas. Nesse caso, se a situação for adequada a isso, use as regras para as montagens, https://joaonunes.com/2007/guionismo/como-distinguir-cenas-e-sequencias/ deixando claro que é um flashback.

    14. Olá, João!

      Vi uma cena fenomenal no piloto da série Six Feet Under. Na cena o personagem do Michael C Hall está sorrindo para os presentes no velório de um cliente. Ele continua sorrindo e cumprimentando gentilmente as pessoas presentes que passam por ele. De repente, ele começa a gritar desesperadamente e um segundo depois há um corte na câmera e lá está o Michael C Hall tranquilamente cumprimentando as pessoas. Foi o caso de sua reação só ter acontecido dentro de sua mente e durante toda a série vemos esse lapso dos personagens.

      Como seria a melhor forma de transmitir essa ideia no roteiro? Creio que nem sempre a forma como um autor americano escreve pode cair bem em um roteiro em outra língua, como é o caso do Alan Ball.

      Veja como ele organiza a cena:

      INT. SLUMBER ROOM – CONTINUOUS

      Mourners pack the room. We hear snippets of conversations: “… such a shame she didn’t have one last Christmas with her grandchildren”, “… certainly has ruined the holidays for her family…”. We MOVE throught the mourners to DISCOVER DAVID.
      PUSH IN ON HIM slowly, as he chats sympathetically, fighting to keep his feelings inside. Suddenly he screams as loud as he can. People stare at him, shocked, but he just keeps screaming.

      SMASH CUT TO:

      PUSH IN ON DAVID, once again smilling and chatting with mourners; what we just saw was what’s going on inside of him.

      ======

      Eu poderia, então, indicar uma transição (CORTA PARA:) sem mudar de cena?

      Pura curiosidade, João. É uma série tão bem feita, que fiquei por cinco temporadas tentando imaginar como os roteiristas nos mostrava isso — imaginando, principalmente, pela dificuldade em encontrar os roteiros completos…

      1. Olá Junior, é realmente uma cena muito bem escrita, que nos mostra sem palavras o que vai na alma do personagem.
        Em português, eu provavelmente escreveria essa mudança assim:

        (…)

        As pessoas olham para David, chocadas, mas ele continua a gritar.

        DE REPENTE

        Voltamos a David, que está a sorrir e conversar normalmente com os enlutados; o que vimos era apenas o que se passava na sua mente.

        (…)

        O importante é que a expressão que usarmos – DE REPENTE ou CORTA ABRUPTAMENTE PARA, ou outra – deixe bem claro a mudança súbita no que estamos a ver.

    15. Uma transição que tenho uma certa dúvida é sobre o intercut. Vejo que ela costuma ser usada principalmente para cenas de chamadas telefônicas, mas posso utilizá-la em quaisquer outras cenas que não necessariamente envolvam uma conversa? E quando saber diferenciar em que devo usar o recurso do intercut, ou devo iniciar novos cabeçalhos?

      Em um roteiro em que estou escrevendo, uma das cenas se trata de um flashback da protagonista, e em um dos momentos desse flashback ele começa a se alternar entre flashes dos acontecimentos do flashback (que no momento em questão estaria a ocorrer uma apresentação musical) e flashes de volta ao presente, com a protagonista chorando ao relembrar de tudo aquilo. A alternância entre passado e presente permanece até o fim da música, nesse caso caberia um intercut nessa cena, ou deveria utilizar de outro recurso?

    16. Estou escrevendo um guião com diálogos em três idiomas, que se misturam na mesma frase (na fronteira do Paraguai e Brasil é comum falarmos mesclando o português, espanhol e guarani, como expressão). Como solução, pesquisei formatos e estou usando um cabeçalho explicativo, indicando [entre colchetes] para o espanhol, {entre chaves} para o guarani, “entre aspas” para palavras que precisam estar no idioma original para preservar o sentido e sem indicação para o português. Logo, todo meu roteiro é escrito em português. Me pareceu uma solução válida.

      1. O importante, como não me canso de mencionar, é que quem leia o guião entenda sem dificuldade a intenção do guionista e, sobretudo, o que se vai ver e ouvir na tela. Se isso for cumprido, todas as soluções são válidas.

    Deixe um comentário

    O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

    Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.