'Pode tocar que a taça é brasileira': a festa da Seleção no aniversário do tetra
Veja imagens exclusivas de Parreira em contato com a torcida nas arquibancadas do Rose Bowl, nos Estados Unidos, quando o Brasil pôs fim a um jejum de 24 anos para conquistar a Copa do Mundo.
Ao longo de uma carreira extremamente vitoriosa, Carlos Alberto Parreira passou por diversos momentos especiais na beira do gramado. Nenhum deles possivelmente se compara com ganhar a Copa do Mundo FIFA. Seria natural que fosse assim, claro. Mas, na dúvida, o treinador de então 51 anos tratou de escancarar naquele dia 17 de julho de 1994. Depois de aplaudir o seu capitão Dunga erguendo a taça e vê-la passando de mão em mão na tribuna, ela, enfim, foi parar nos seus braços naquela tarde ensolarada no estádio Rose Bowl, em Pasadena, na área metropolitana de Los Angeles, nos Estados Unidos. Ao descer as escadarias de volta para o gramado, passando pelo meio da torcida, é seguro dizer que Parreira poucas vezes em sua vida pública aparentou estar tão feliz.
O seu sorriso se estendia por todo o seu rosto e contagiava quem o via em um trajeto que durou praticamente três minutos. No total, 94.140 mil pessoas testemunharam aquela vitória de 3 a 2 nos pênaltis contra a Itália após empate em 0 a 0 que persistiu até o fim da prorrogação. Se pudesse, não haveria dúvida, Parreira dividiria a alegria de pôr fim ao jejum de 24 anos sem título mundial do Brasil com cada um daqueles torcedores presentes. Como não podia, compartilhou com todos aqueles que estavam ao seu redor. Todos, mesmo. Sem força de expressão. “É nossa, p...”, repetia para os compatriotas que encontrava pelo caminho nas escadas enquanto carregava a taça. “Pode tocar que é nossa, pode tocar que é nossa, pode tocar que é brasileira”, prosseguia.
Era um Parreira leve e que voltava a sentir o gosto de ser campeão da Copa do Mundo, porém, dessa vez de forma diferente: agora como um dos principais protagonistas. Na conquista anterior, em 1970, ele também era parte da comissão técnica como preparador físico. Parreira era o retrato da felicidade e também os seus atletas. Depois de uma campanha sem grandes sustos, em que tiveram de lidar com as críticas por uma suposta dependência em relação a Romário, autor de cinco gols, e pela ausência de um futebol mais virtuoso, eles queriam apenas comemorar.
A maior preocupação passava, na verdade, apenas pela faixa que fizeram dedicada ao piloto Ayrton Senna, falecido em acidente na Fórmula 1 pouco antes daquele torneio. Foi para Senna que eles dedicaram aquela taça. “Cuidado para não rasgar”, repetia Gilmar Rinaldi, goleiro reserva, no momento em que seus companheiros a abriam para mostrá-la aos fotógrafos.
Sob o olhar do tricampeão Pelé, que comemorava na tribuna de imprensa, o Brasil voltava ao topo do mundo, alcançando a primeira de três finais consecutivas que disputaria entre 1994 e 2002. Foram dois títulos e um vice-campeonato no período. O legado de Parreira e seu time tetracampeão? “A maior lição que deixamos é a necessidade de os times se defenderem tão bem quanto atacam”, afirmou em entrevista ao fim do jogo, sendo perguntado na sequência se era uma pessoa de sorte. “Como diria o Frank Sinatra: ‘it’s my way’ [é o meu jeito]”, sorriu.