Petrobras perde o equivalente a uma Sabesp em valor de mercado após demissão de Prates

Petroleira engatou mais um dia de queda nesta sexta e acumula baixa de R$ 57,5 nos três últimos pregões

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São Paulo

A Petrobras perdeu R$ 57,5 bilhões em valor de mercado nos últimos três dias, após a demissão de Jean Paul Prates levantar dúvidas sobre interferências políticas na gestão da estatal. O número é maior que o valor de mercado da Sabesp (R$ 53,7 bilhões) e vem em resposta à sequência de quedas da petroleira nos pregões da Bolsa brasileira desde o anúncio da troca de comando.

Nesta sexta-feira (17), os papéis preferenciais (PETR4) recuaram mais 1,66%, fechando o dia cotados a R$ 36,69, ante R$ 41,32 no início da semana. Os ordinários (PETR3) perderam 1,83%, negociados a R$ 38,57, contra R$ 44,14 na segunda-feira.

Sede da Petrobras, no Rio de Janeiro - 04.mar.2022-Wang Tiancong/Xinhua

A demissão de Prates foi vista com preocupação –e a indicação de Magda Chambriard ao cargo não trouxe muito alívio aos investidores. Engenheira e ex-funcionária da estatal, ela comandou a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis) durante o governo Dilma Rousseff.

"Ela tem experiência de 22 anos na Petrobras e mais 12 anos na ANP, mas é considerada uma petista histórica, o que eleva a desconfiança do mercado de que ela pode ser mais maleável ao aumento dos investimentos que a ala política do governo Lula gostaria", avalia Flávio Conde, chefe de renda variável da Levante Investimentos.

O imbróglio entre a ala política –capitaneada por Alexandre Silveira, ministro de Minas e Energia, e Rui Costa, da Casa Civil– e o então presidente da estatal tinha os dividendos extraordinários como causa principal.

Prates sofreu forte processo de fritura nos últimos meses, após críticas de Silveira à sua abstenção em votação de proposta do governo para reter dividendos extraordinários referentes ao resultado de 2023, medida que havia sido negociada com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Defendida por Silveira e Costa, a retenção foi aprovada no início de março e derrubou o valor de mercado da estatal. O governo acabou recuando semanas depois e aprovou a distribuição de 50% dos dividendos extraordinários em assembleia no fim de abril.

Na assembleia, o governo não só recuou como determinou estudos para que a Petrobras distribua os 50% restantes até o fim do ano, em movimento que tranquilizou o mercado e recuperou o valor das ações da empresa.

Prates ganhou sobrevida no cargo, mas a avaliação no Planalto era de que sua manutenção não duraria muito tempo.

Os negócios da companhia afetaram a Bolsa brasileira, mas perdas da Petrobras foram contrabalançadas pelos ganhos de 1,96% da Vale, que surfou em "medidas históricas" anunciadas pela China.

O governo chinês, em esforço de US$ 138 bilhões, anunciou a flexibilização das regras de hipoteca e incentivos à compra de imóveis não vendidos de incorporadoras —a "tentativa mais agressiva até agora" para recuperar o setor, de acordo com análise dos economistas da Guide Investimentos.

O movimento deu fôlego ao minério de ferro na Bolsa de Dalian, o que impulsionou ações da mineradora na B3.

Também foi destaque no dia falas de dirigentes do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA), em momento de total atenção a qualquer pista sobre a trajetória da taxa de juros norte-americana.

A diretora Michelle Bowman, conhecida como uma das vozes mais conservadoras do colegiado norte-americano, afirmou nesta sexta que "continua disposta a aumentar a taxa básica em uma reunião futura, caso os dados recebidos indiquem que o progresso da inflação estagnou ou se inverteu".

"Depois de observar um progresso considerável na desaceleração da inflação no ano passado, ainda não observamos nenhum progresso adicional neste ano", disse Bowman em comentários para a Associação de Banqueiros da Pensilvânia.

O discurso seguem a esteira da divulgação de dados de inflação abaixo do esperado em abril. O CPI, na sigla em inglês, subiu 0,3% no mês passado, depois de avançar 0,4% em março e fevereiro. Nos 12 meses até abril, o índice teve alta de 3,4%, ante 3,5% em março.

Economistas consultados pela Bloomberg previam alta de 0,4% na base mensal e 3,4% na anual. O resultado sugere que a inflação norte-americana retomou a tendência de queda no início do segundo trimestre, o que elevou as apostas de um corte na taxa de juros em setembro.

Em resposta ao otimismo, as ações dos Estados Unidos tiveram alta durante a semana, e o Dow Jones atingiu a marca histórica de 40 mil pontos.

No cenário local, investidores repercutiram falas de Roberto Campos Neto na 2ª Conferência do BC, em Brasília.

Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o presidente da autarquia afirmou que não pode antecipar novos cortes na taxa Selic e que o BC precisa "de tempo, serenidade e calma para saber como as variáveis vão se desenrolar" até a próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), em junho.

Em resposta, as curvas de juros futuros subiram, adicionando pressão ao Ibovespa. O dólar, porém, reagiu bem à perspectiva de juros altos por mais tempo.

"Entrevista do Campos Neto agradou o mercado. Reafirmou compromisso com a meta de inflação, como tem feito, e ratificou autonomia do BC", disse Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital.

Em geral, a Selic alta torna o real mais atraente para uso em estratégias de "carry trade", em que investidores tomam empréstimos em países de taxas baixas e aplicam esse dinheiro em mercados mais rentáveis, de forma a lucrar com o diferencial de juros.

Com isso, o dólar fechou em queda de 0,54%, cotado a R$ 5,101 na venda. A divisa acumulou perdas de 1,06% na semana. Já o Ibovespa, no comparativo semanal, acumulou ganhos de 0,43%.

Com Reuters

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