Ação humana amplifica intensidade das chuvas, revela estudo
MUDANÇA CLIMÁTICA

Ação humana amplifica intensidade das chuvas, revela estudo

Estudo do ClimaMeter mostra que a ação do homem aumentou em 15% a potência das chuvas no Rio Grande do Sul nas últimas décadas. Estado brasileiro sofre com enchentes que atingem em cheio a população. Climatologista destaca que o G20 tem papel essencial para definir metas, impulsionar a transição para fontes de energia mais sustentáveis e enfrentar os desafios climáticos globais com cooperação internacional eficaz

11/05/2024 07:04 - Modificado há 18 dias
Foto aérea da cidade de Eldorado do Sul, inundada pelas águas do Rio Jacuí, no RS. Estudo interpreta as enchentes como um evento atribuído principalmente às mudanças climáticas provocadas pela ação humana | Foto: Gustavo Mansur/SecomRS
Foto aérea da cidade de Eldorado do Sul, inundada pelas águas do Rio Jacuí, no RS. Estudo interpreta as enchentes como um evento atribuído principalmente às mudanças climáticas provocadas pela ação humana | Foto: Gustavo Mansur/SecomRS

Em uma entrevista exclusiva concedida ao site do G20, o climatologista Francisco Eliseu Aquino, chefe do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), afirmou que a tragédia que testemunhamos no Sul do Brasil foi intensificada pela crise climática. Aquino ressalta que eventos extremos como inundações e ondas de calor estão se tornando mais frequentes e intensos devido às mudanças do clima em curso.

O climatologista reforça a necessidade urgente de ações eficazes para mitigar os impactos do aquecimento global e promover a resiliência frente aos desafios ambientais. "As cidades estão sofrendo impactos diversos, complexos", destaca, ao falar da gravidade das enchentes ocorridas no estado brasileiro.

Francisco Aquino enfatiza a urgência de inserir as questões climáticas na agenda cotidiana global. Ele apresentou dados de um estudo de clima divulgado nesta sexta-feira (10) por pesquisadores da ClimaMeter — uma plataforma experimental desenvolvida pela equipe do laboratório de ciências do clima e do ambiente na Universidade Paris-Saclay, França. Seu objetivo é analisar rapidamente eventos extremos logo após sua ocorrência.

Aquino explica que os eventos climáticos extremos estão se intensificando a partir da combinação de oceanos mais quentes e uma atmosfera acelerada. Ele ressalta o papel crucial da Floresta Amazônica na regulação do sistema hidrológico da América do Sul, enfatizando a necessidade de preservação ambiental. 

“Precisamos de ações globais coordenadas. A mudança climática é uma realidade que não podemos mais ignorar", declara Aquino, que ainda alerta para os riscos econômicos associados à inação, citando o aumento dos custos de resgate e recuperação em comparação com investimentos em medidas preventivas. Ele instou os países a assumirem responsabilidade e a agirem com urgência, destacando a necessidade de acordos globais eficazes. "Temos uma janela de oportunidade única para acelerar a resiliência e mitigar os efeitos das mudanças climáticas. O papel do G20 é de grande relevância neste processo e possui condições para ajudar a traçar metas", concluiu.

Com base na análise de dados meteorológicos das últimas quatro décadas, os cientistas da ClimaMeter estimam que a influência humana tenha aumentado a intensidade das chuvas em 15% em comparação ao seu potencial natural, sendo o aquecimento global o principal responsável, segundo os pesquisadores.

Clima extremo no Sul e ações do governo federal

Cidades inteiras foram inundadas, pessoas morreram, muitas estão desaparecidas e milhares desabrigadas. Com a calamidade, o Brasil se mobilizou para ajudar o RS. A ajuda humanitária chega de todas as partes, com ações do Governo Federal e voluntários da sociedade civil. Nesta semana, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, anunciou um pacote de 50,9 bilhões de reais para auxiliar famílias, trabalhadores rurais, empresas e municípios no Rio Grande do Sul.

Governo Federal envia toneladas de donativos ao Rio Grande do Sul. Produtos foram embarcados na Base Aérea de Brasília | Foto: Lucas Leffa/SecomPR
Governo Federal envia toneladas de donativos ao Rio Grande do Sul. Produtos foram embarcados na Base Aérea de Brasília | Foto: Lucas Leffa/SecomPR

As medidas de apoio à população constam em Medida Provisória encaminhada ao Congresso Nacional pelo presidente brasileiro. O objetivo é cuidar das famílias, auxiliar na reconstrução do estado, apoiar produtores rurais e alavancar a economia. Entre as ações previstas estão o pagamento antecipado do Bolsa Família e de auxílio gás, de crédito com juros reduzidos, estruturação de projetos de logística e infraestrutura e restituição prioritária do Imposto de Renda. A Medida que vai garantir o recurso foi enviada ao Congresso Nacional e conta com 12 iniciativas econômicas que abrangem diferentes públicos, beneficiando mais de 3,5 milhões de pessoas.

Com um efetivo de 27 mil pessoas, incluindo militares das Forças Armadas, já foram realizados mais de 70 mil resgates de pessoas, com 340 embarcações, 11 aviões e 41 helicópteros. Mais de 71 mil pessoas estão em abrigos e 339 mil estão desalojadas. 126 pessoas morreram e 141 estão desaparecidas. 5,9 mil animais foram resgatados das enchentes. 1,9 milhão de pessoas foram atingidas em 441 municípios gaúchos. A maioria está concentrada na Região Metropolitana da capital, Porto Alegre.

Combate incessante às fake news 

Não bastasse a tragédia, aproveitadores da situação começaram a disseminar mentiras sobre as ações de salvamento e amparo à população do Rio Grande do Sul. Na verdade, o governo federal brasileiro tem desempenhado um papel crucial no auxílio aos gaúchos, com operações de resgates aéreos, evacuações, salvamentos e transporte de alimentos. A respeito das mentiras espalhadas, o ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República do Brasil (Secom), Paulo Pimenta, encaminhou ofício ao ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, solicitando apuração, identificação e responsabilização dos que espalham mentiras sobre a catástrofe.

“Tudo é feito para prejudicar o trabalho e impedir o sucesso da operação. Nós temos que denunciar para a Polícia Federal e para a Advocacia-Geral da União (AGU). Temos que tratar como criminoso quem saqueia, quem rouba nesse momento e também quem espalha fake news com o objetivo de atrapalhar aqueles que estão trabalhando”, declarou o ministro-chefe da Secom brasileira.

As fake news, conforme o ministro, só servem para alimentar uma narrativa negativa em relação ao trabalho de ajuda humanitária do governo, desestabilizar a ordem política e social e criar divisões na sociedade.